terça-feira, 4 de abril de 2006

A ausência de estratégia nacional visível no comportamento civíco (II)

E tudo isto porque faltou uma estratégia nacional de actuação para cultivar o civismo. Sob o mote desta frase do post anterior, vou agora continuar ainda na estrada. O comportamento dos portugueses na condução diz muito da sua cultura cívica. Conduzem com agressividade, como se fosse na estrada que dissolvem as suas frustrações. São agressivos de uma forma cobarde para imporem uma firmeza que no dia a dia, fora do carro, não conseguem ter e nem sequer mostrar. São criativos na linguagem, pois até conseguiram inventar uma linguagem gestual própria, com a qual conseguem comunicar entre veículos, de forma a expressar alarvemente a consideração que nutrem uns pelos outros, bem como serve para identificarem-se e caracterizarem-se. Uns perfeitos asnos no seu melhor que têm uma interpretação própria dos códigos e das sinalizações de trânsito internacionalmente adoptadas. Qualquer sinal de trânsito em Portugal é para transgredir. Sinal de proibido estacionar? Em Portugal é estacionar. As autarquias vêem-se obrigadas a colocar “floreiras” de betão, ou pilares unidos com correntes, para fisicamente impedirem o estacionamento, pois os portugas são incapazes de respeitar qualquer sinal. É típico da cultura cívica do portuga. Poderia continuar aqui por mais duzentas páginas que não me faltaria matéria sobre o péssimo comportamento dos portugas na estrada, os tais que não podem ter nenhum veículo à frente sem que lhes dê uma gana incontrolável e doentia de ultrapassar.
Na realidade a tal desresponsabilização, a que já me referi, traduziu-se num desastre de inversão de valores, de prioridades e de conceitos. Um bom exemplo é a de uma avó, que a propósito do atraso do pagamento do rendimento mínimo ou de reinserção social, ameaçava o governo, através da televisão, de que iria tirar os netos da escola porque tinha contas para pagar da luz, água, TV CABO. Oh, Yes. Eu só coloco aqui este exemplo, para que se tenha uma percepção do que a generalidade dos portugas pensa do estado, do ensino e do que os portugueses devem ser obrigados a aturar e a sustentar. Eu sei que cada caso é um caso. Mas de tudo o que já tomei conhecimento, deixa-me preocupado (o que não serve para nada eu preocupar-me).
Eu vou tentar tocar em todos os domínios onde é visível a falta de estratégia nacional. Calmamente. A Instrução pública vai ficar para mais tarde.
O Estado dá ordenados, já referi ontem. Uma iniciativa meritória, solidária, para que muitas pessoas não caíssem, ou saíssem, de situações de miséria e exclusão. Todo o mérito à iniciativa. Mas aqui vou invocar uma terminologia que o ex-presidente Jorge Sampaio oficializou: Chico-espertice. Que é o sinete dos portugas. Eu continuo a ver pessoas no Porto e em Lisboa a dormir nas ruas, excluídas de uma inserção social. E outros que não estão na rua, incluídos, a receber um tal rendimento, mesmo que mínimo. Mas mínimo também é o ordenado dos trabalhadores em Portugal. De tal maneira que os portugas acham preferível, elas por elas, transportes à parte, ficar em casa sem trabalhar porque rende o mesmo com o subsídio do rendimento mínimo ou de inserção social. E chegamos à situação de o estado suscitar, incrementar o absentismo, pois valoriza o subsídio em detrimento do ordenado mínimo (por acaso muito mínimo). E como parece que os ordenados que o patronato tem para oferecer são quase todos mínimos, o apelo à produtividade é ficcional. Ah! Os outros portugas pagam, é claro.
(continua no episódio seguinte) ….

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