segunda-feira, 15 de maio de 2006

UMA SEMANA DE TELEVISÃO VARRE TODA A HISTÓRIA

Os meus amigos são preciosos. Um não me deixou falhar a entrevista do Prof Hespanha à Pública de ontem. Destaco a parte final:
«P. Há um momento na História em que isto tenha começado a ser assim?
R. Acho que não. É uma História muito recente, não vejo raízes muito profundas para isto. O nosso pessimismo não tem álibi histórico. Estabeleceu-se um modo de vida caracterizado pela irresponsabilidade, mas é uma irresponsabilidade de quem manda.
P. Tivemos uma oportunidade no 25 de Abril que deu...
R. Deu nisto. Deu irresponsabilidade. De quem? Quando se ouve falar de falta de produtividade nos media o que lá está dito subliminarmente é que é porque se trabalha pouco, porque há muitos feriados, porque há muitas baixas. Mas não se diz que nos países bem organizados os portugueses são considerados os melhores trabalhadores e não andam a chorar porque há poucos feriados.
P. O problema está em cima.
R. Quando quem manda não sabe mandar. Irresponsabilidade é quando cai uma ponte e ninguém é responsável, quando faltam os deputados mas com umas justificações manhosas já está tudo sossegado...
P. Não há uma explicação histórica para este pessimismo, este insucesso?
R. Não. É uma criação de hábitos contemporâneos. É do momento. Já vivi em Portugal, no 25 de Abril, momentos de grande esperança. No dia seguinte a um clube português ganhar, Portugal está cheio de força. Acho que não há continuidade de um pessimismo ao longo da História. Até porque a memória hoje é muito volátil, está sujeita a um bombardeamento intensíssimo. Uma semana de televisão varre toda a História. »

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