sexta-feira, 29 de setembro de 2006

HISTÓRIAS DESTAS NUNCA TERMINAM BEM

Sem comentários.
Ontem no Público.
«Uma geração enganada
Rui Ramos*

Há-de ser duro, aos 50 ou aos 60 anos, ver desmoronar-se o mundo em que se viveu. Mas é talvez ainda mais duro, aos 20 ou aos 30 anos, ver desmoronar-se o mundo em que se ia viver. É o que está a acontecer a muitos dos portugueses mais novos. Esta semana, os sinos oficiais continuaram a dobrar pelo mundo para o qual foram criados e preparados. Era um mundo em que qualquer curso universitário significava um emprego e em que havia empregos vitalícios. Um mundo em que as regalias eram regularmente acrescentadas e em que as reformas vinham cada vez mais cedo. Para os jovens actuais, esse foi o mundo dos avós e dos pais. Já não vai ser o deles. Cada novo anúncio das várias comissões de reforma e revisão nomeadas por este Governo faz empalidecer a fotografia da vida como era há cinco ou dez anos. Tudo parece que foi há muito tempo.Acontece que estas mudanças não chegaram gradualmente ou com aviso prévio. As notícias apareceram em catadupa, de repente, em meados de 2005, depois de garantida a maioria absoluta de José Sócrates. Até aí, o país (lembram-se?) andou convencido de que só tinha um problema, chamado Santana Lopes. Nesses tempos, era preciso ser um leitor fiel de Medina Carreira para perceber que o mal não estava apenas no primeiro-ministro e que a eleição de Fevereiro de 2005 nunca poderia ser o fim de todas as dificuldades. Agora, até os modelos que então nos venderam são vistos a nova luz. Só agora sabemos que, afinal, os escandinavos, os espanhóis e os irlandeses não andam prósperos apenas porque puseram muita gente na escola, mas porque sofreram "ajustamentos" dolorosos há dez ou há vinte anos. Não era isso que nos tinham contado. Não espanta, por isso, que muita gente nas gerações mais novas tenha sido apanhada em contramão, desprevenida, com as qualificações e atitudes desadequadas para o mundo que surgiu em Portugal nos últimos meses. Essa falta de preparação nota-se, por exemplo, no ensino superior, nessa forma mais benigna de abandono escolar que é a fuga aos cursos "difíceis". Difícil, segundo parece, é por definição todo o curso que tenha a ver com "matemática". Percebe-se porquê: em 2005, os exames de Matemática do 9.º ano produziram 70 por cento de negativas. Em parte por causa disso, as áreas de licenciatura mais produtivas continuam a ser aquelas em que os lamentos sobre a saturação do "mercado" são maiores. Não se trata de um simples caso de imprevidência ou irracionalidade. Os estudantes e as suas famílias reagiram simplesmente aos estímulos que lhes foram administrados. E esses estímulos passaram todos, até há pouco tempo, por um sistema de ensino em que a inclusão era mais importante do que a qualidade, e a auto-estima mais importante do que o esforço disciplinado.Em poucas áreas os equívocos foram maiores do que no ensino. Em Portugal, inquéritos à origem social dos estudantes e contas sobre o rendimento previsível dos licenciados levaram sistematicamente à ideia de que um diploma era um "privilégio": para os bem-aventurados, era uma forma de se reproduzirem; para os outros, um meio de ascenderem. Era de facto assim. Mas a partir daí imaginou-se que a questão era expandir esse "privilégio" administrativamente, da maneira mais barata e expedita. A facilidade passou a ser encarada como um princípio de justiça social. A mínima referência à qualidade levava a suspeitas de "elitismo". Gerações sucessivas atravessaram um sistema de ensino calafetado em geral contra qualquer forma de avaliação externa, onde a aquisição de competências e de conhecimentos foi frequentemente secundária em relação a objectivos de suposta inclusão social. Durante anos, enquanto o Estado, sempre em expansão, absorveu metade dos licenciados, tudo correu mais ou menos bem, por entre discussões inconclusivas acerca das "reformas estruturais". Foi assim quase até ao Verão de 2005. Então, subitamente, o mundo mudou. Agora, talvez demasiados jovens estejam condenados a descobrir que passaram pelo equivalente escolar das fábricas de têxteis e de calçado mais obsoletas. Pedem-lhes agora para competir num "mercado global". Hão-de perceber, da pior maneira, que o sistema de ensino não os habilitou verdadeiramente para nada que não fosse o mundo que acabou. Que vão fazer? Ou antes: que podem fazer?Houve em Portugal gerações que gozaram a festa. Haverá um dia gerações que já não vão esperar festa nenhuma. Mas há, neste momento, gerações que foram convidadas para uma festa que acabou antes de eles chegarem. Histórias destas nunca terminam bem.
*Historiador»

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

PODEMOS CONTINUAR DURANTE ALGUM TEMPO, MAS, MAIS CEDO OU MAIS TARDE, ESTA MISTURA EXPLOSIVA DE IGNORÂNCIA E DE PODER VAI REBENTAR-NOS NA CARA.

Eu continuo a achar que as pessoas que pululam pela política são medíocres e ignorantes. Por isso entendi repetir a colocação do trecho que deu o mote a este blog.
«Mas há outra razão: a ciência é mais do que um corpo de conhe­cimento; é uma maneira de pensar. Prevejo o que será a América no tempo dos meus filhos ou dos meus netos – quando os Estados Uni­dos forem uma economia de serviços e de informação; quando prati­camente todas as grandes indústrias se tiverem deslocado para outros países; quando tremendas forças tecnológicas estiverem nas mãos de uns quantos e ninguém que represente o interesse público as conseguir sequer entender; quando as pessoas tiverem perdido a capacidade de planificar o que lhes diz respeito ou de interrogar quem detiver o poder; quando, com os nossos cristais fechados na mão e consultando nervosamente os nossos horóscopos, com as nossas faculdades criticas reduzidas, incapazes de distinguir entre o que nos agrada e o que é verdadeiro, regressarmos, quase sem dar por isso, à superstição e à ignorância.A estupidificação da América manifesta-se no lento declínio do conteúdo dos meios de comunicação, extraordinariamente influentes, nos excertos de material gravado de 30 segundos (agora reduzidos a 10 segundos ou menos), inseridos nas peças noticiosas da rádio e da televisão, na programação que se rege pelo menor denominador co­mum, nas apresentações crédulas sobre pseudociência e superstição, mas sobretudo numa espécie de celebração da ignorância. No momento em que estou a escrever, a videocassete mais alugada na América é Dois Malucos à Solta. Beavis and Butthead continua a ser popular (e influente) entre os telespectadores jovens. A lição que se pode tirar daqui é que o estudo e a aprendizagem – não só da ciência, mas de tudo – são de evitar e até indesejáveis.Criámos uma civilização global na qual os elementos fundamentais – os transportes, as comunicações e todas as outras indústrias, a agricultura, a medicina, a educação, as diversões, a protecção do meio ambiente e até a instituição democrática fundamental das eleições­ – dependem profundamente da ciência e da tecnologia. Também dispu­semos as coisas de tal modo que quase ninguém compreende a ciência e a tecnologia. Isto é uma receita para a catástrofe. Podemos continuar durante algum tempo, mas, mais cedo ou mais tarde, esta mistura explosiva de ignorância e de poder vai rebentar-nos na cara
In “Um Mundo Infestado de Demónios” de Carl Sagan.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

E SOBRE ESPANHA VERSUS PORTUGAL HÁ SEMPRE QUEM DIGA ALGO

E para não ser sempre eu, que já sabem o que penso, aqui está outra opinião:
«Para os espanhóis é Marrocos e não Portugal quem ocupa a qualidade de país vizinho. Não se retire destas palavras qualquer crítica ou recriminação. É simplesmente a realidade. E uma boa dose de realidade é o que tem faltado a vários governantes portugueses nos últimos anos quando chega a hora de falar para Espanha ou de Espanha. Desde Santana Lopes, que, em 2004, na XX Cimeira Ibérica, acabou a ser convenientemente colocado pelo primeiro-ministro de Espanha ao nível dos presidentes das comunidades autónomas daquele país, a Jorge Sampaio, que não arranjou melhor local do que Espanha para se pronunciar sobre a falta de liberdade nos media portugueses, ou a José Sócrates, que achou por bem declarar que a sua prioridade era "Espanha, Espanha, Espanha"..., temos andado numa espécie de "cantando e rindo" nesta matéria.É sem dúvida excelente para os dois Estados que os seus governos e povos mantenham boas relações. Mas isso não quer dizer, antes pelo contrário, que estejam de acordo em tudo e muito menos que não exista a consciência de que cada um destes Estados tem interesses específicos e estratégias próprias. E é sobre esta última matéria, as estratégias, que muito há que dizer presentemente sobre a Espanha. E pouco há a dizer de bom. »
Helena Matos, Público de 23.09.2006

terça-feira, 26 de setembro de 2006

LONGE DE LISBOA E PORTO, LONGE DO CORAÇÃO

Numa separata do jornal SOL, de 23.09.2006, deparei com um artigozinho laudatório sobre um hotel em Arouca. Que continha o item “como ir”. E então lá saiu a asneira. Dizia-se que de Lisboa era caminho X e do Porto caminho Y. E de Bragança como é? Vai ao Porto primeiro? E de Castelo Branco? Vai a Lisboa primeiro? Claro que não. Só que quem não mora nas zonas do grande Porto e da grande Lisboa não conta para nada neste país. São as escolas, as maternidades, as fábricas que vão fechando e a desertificação que se vai instalando (até à chegada dos espanhóis que vão reactivar a vida nessas áreas daqui a uns anos, mas largos).
Já há uns seis anos atrás, no portal do Sapo, eu deparei com algo parecido. Falavam de um acontecimento qualquer cultural, de que já não me lembro qual. E diziam mais ou menos isto: « Vá lá, saia de casa este Domingo, pois só fica a duas horas de Lisboa». O acontecimento a duas horas de Lisboa era só, nesse Domingo, para os de Lisboa? O resto dos cidadãos não era merecedor de ver tal actividade, incluindo os do local do acontecimento? Claro que não. Mas é esta a visão centralista de quem está em Lisboa. Eu chamo a atenção que é de quem está lá e não quem é natural de Lisboa. Mandei um mail a protestar. Os asnos nem me responderam. Ou seja, o habitual desprezo por quem não está em Lisboa. No que os políticos protagonizam, pactuam, condescendem, etc., etc..
E tudo isto na embalagem do post de ontem.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

OS AÇORES ESTÃO MUITO, MUITO LONGE.

E estão longe não pela distância ditada pelos cerca de 1700 KM que os separam do Continente. Estão longe de serem compreendidos por quem está no Continente, açorianos incluídos. E quando se reclama é, quase sempre, com patetices. Também com o nível de “reclamantes” políticos que por aqui pastam outra coisa não era de esperar. Mas há desconsiderações constantes que nunca se afloram. E são a vários níveis. Dou só o exemplo de empresas que, para a mesma função, pagam menos a funcionários seus, só porque estes estão nos Açores. Se se transferissem para o Continente eram logo e automaticamente aumentados. E este é só um dos muitos exemplos, que julgo que só os das cimenteiras é que entraram em luta por tal discriminação. Estes casos entram na área da inconstitucionalidade. Mas também há o inverso. Por cá paga-se um tal de subsídio de insularidade a alguns funcionários públicos que estão efectivamente na insula. Os outros funcionários e todos os trabalhadores da actividade privada, como não o recebem, devem estar num continente. E os Açores estão muito longe até de atingirem um desenvolvimento sustentado. Os “reclamantes” preocupam-se mais em garantir os interesses instalados e, assim, sorverem algumas migalhas, as quais fazem com que possam ostentar um nível para o qual não têm bases, e permite também que as respectivas esposas se pavoneiem e possam competir com outras esposas do jetinho cá do quintal.

domingo, 24 de setembro de 2006

PORTUGAL PROPICIA A FALÊNCIA DE QUALQUER PROJECTO

Só 4 casais. E mesmo assim não resultou em Vila de Rei o projecto de reanimação demográfica daquele concelho. É notícia no SOL de ontem. Um casal já regressou ao Brasil, outro mudou-se para a Sertã e os outros pensam em ir-se embora. O projecto faliu. Mas esta falência projecta bem o desastre que é o desenvolvimento sustentado para o interior (quer continental quer insular). Isto tem a ver com o que por aqui venho dizendo a propósito do encerramento de escolas e maternidades. Em Espanha a realidade é diferente. Mas por cá a incompetência generalizada ao longo de décadas gerou a desertificação humana, e não só, do interior. A falta de perspectiva de futuro impele ao abandono.

sábado, 23 de setembro de 2006

MORDOMIAS NA EPUL

Hoje, no EXPRESSO, vem noticiado que há pelo menos 15 directores muito bem pagos e inamovíveis, e que são excedentários de certeza. E que custam muito por ano. Eu venho dizendo que este país só existe para manter as mordomias dos funcionários públicos e dos militantes dos partidos políticos. Os portugueses amocham e não se revoltam. De que se queixam? Merecem ser escravos, pois é o destinos dos acomodados.

20% PREFEREM SER ESPANHÓIS

Esta percentagem, hoje no SOL, refere-se só aos que não têm medo/vergonha de responder e aos timidos. Porque se formos a contar com estes decerto que a percentagem seria de 70%. E a malta até quer o rei e tudo. Isto só demonstra que a cambada que nos governa é incompetente e que só serve para manter as mordomias dos funcionários públicos e dos militantes dos partidos politicos que escravizam os trabalhadores portugueses. Daí preferirem perder a independência e viverem melhor. Ou seja, num país a sério.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

SABIAMOS? MUITOS NÃO SE APERCEBEM.

«Já sabíamos o que é a demagogia dos partidos políticos em relação às suas juventudes, todos conhecemos histórias de dirigentes juvenis profissionais (que tanto eram estigmatizados pelo actual Presidente da República, e com toda a razão), ninguém desconhece que tais jovens dirigentes juvenis profissionais são deputados, controlam gabinetes governamentais, são essenciais para os banhos de multidão em que os líderes políticos se convencem de que são populares, e sem eles é difícil ganhar congressos partidários
Miguel Júdice, Público de 22.09.2006

QUEM DIZ QUE O DINHEIRO NÃO DÁ FELICIDADE É UM CRETINO ABSOLUTO

É certo que há quem tenha dinheiro e não seja feliz. Mas quem não tem dinheiro para ter uma vida digna e sustentável nunca pode ser feliz. E numa época em que cada vez se cava mais o fosso entre que o têm e quem não têm, mais se acentuam as ”infelicidades”.
Há quem enriqueça cada vez mais e quem comece a passar fome, quando há dez anos atrás vivia razoavelmente. A sociedade em Portugal está, actualmente, dividida. De um lado há os que vivem bem, muito bem, com empregos fixos para toda a vida e bem pagos à sombra do Estado. Do outro os miseráveis que estão a ser encurralados num caminho inseguro, de degradação do poder de compra e consequente fome. É melhor extinguir o país do que obrigar os seus cidadãos a terem uma vida miserável só para garantir as mordomias dos militantes dos partidos políticos e dos funcionários públicos.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

EXCELÊNCIA E COMPETIVIDADE

Portugal tem que passar a integrar efectivamente as redes internacionais de excelência e competitividade. Só sobrevive ao desafio global quem souber consolidar mecanismos de sustentabilidade estratégica de valor, e aqui os actores do conhecimento no nosso território têm que apresentar dinâmicas de posicionamento.
(...)
O investimento é a porta do futuro. Não o investimento a qualquer preço. O investimento no conhecimento, nas pessoas, na diferença. Um acto de qualificação positiva, mas de clara universalização.

Francisco Quesado, Público de 19.09.2006

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

VÃO DIZENDO, POR ALI E ALI.

A ideia de que o Ocidente deve promover a democracia ou a justiça é uma ideia colonial. Quando fala na "defesa da civilização" Bush repete à sua maneira os sermões da esquerda sobre o desespero e a pobreza das massas muçulmanas. Parece que "o homem branco" voltou a carregar o seu "fardo" e se prepara outra vez para reformar a terra. Felizmente, o "homem branco" já não quer reformar a terra, quer petróleo. Interessa ao islão (ou parte dele) vender petróleo e comprar tecnologia, interessa ao Ocidente comprar petróleo e vender tecnologia: e é bom que as coisas fiquem por aqui. Isto implica evidentemente inverter a política de Bush e Blair: da ingerência para a não-ingerência e de uma total tolerância interna (como em Inglaterra) para duras regras de cidadania. A confusão alimenta o terrorismo, a clareza contribui para o isolar e conter.

VP, Público de 15.09.2006


Quem lê livros não ignora que o nosso amável Portugal nunca deixou de protestar contra a corrupção: dos regimes, dos governos, do rei, da corte, da Igreja, dos partidos, dos políticos, dos padres, dos juízes, da administração central, das câmaras, da banca, da indústria, do comércio e da polícia. Uma sociedade pequena e pobre (e, por cima, católica) gera necessariamente corrupção. O número, o anonimato e a distância reforçam o rigor; a estreiteza, a convivência e a proximidade criam o mundo paralelo dos "compadres". Escrevi um dia que Portugal só "funcionava" pela corrupção. Caiu o céu. Infelizmente, é assim.

VP, Público de 16.09.2006

Não há uma solução política para a crise do Darfur. Depois de tanta morte e destruição, todas as partes deveriam ter já percebido que só um acordo político, em que todas as partes interessadas participem, pode conseguir que a paz chegue à região.Há 12 anos, a ONU e o mundo não cumpriram as suas obrigações para com o povo ruandês, num momento de necessidade. Podemos agora, em consciência, assistir passivamente e com indiferença à tragédia que se agrava no Darfur?

Kofi Annan, Público de 17.09.2006

O imperativo de superar os equívocos do multiculturalismo, no relacionamento com os muçulmanos na Europa, resulta da comprovação de que o propósito dos islamitas radicais é ressuscitar os tempos do enfrentamento militar entre o Islão e o Ocidente. O seu Calcanhar de Aquiles e a nossa vantagem flagrante advêm do fato de que os últimos séculos de convivência não podem ser ignorados. Comprovam que podemos (e devemos) coexistir pacificamente, o que não significa ignorar divergências e dificuldades.Em fins de 2005, na colaboração habitual que mantém em jornais europeus, Francis Fukuyama advertia para a necessidade da Europa reconhecer o que então denominou de "Jihad dentro de casa". A degolação ritual do holandês Theo Van Gogh (nome fácil de guardar pela associação, ainda que indevida, ao grande pintor), ocorrida em Novembro de 2004, por muçulmano nascido e educado na Holanda, correspondeu ao primeiro grande choque com uma realidade - que muitos ainda hoje parecem não ter levado em conta, inclusive responsáveis governamentais -, embora tivesse sido antecedido pelo atentado de 11 de Março daquele ano, em Madrid. Talvez devido a questões de ordem interna, este último se não passou em brancas nuvens, também não mereceu maior atenção. Contudo, os atentados bombistas de 7 de Julho do ano seguinte, em Londres, tiveram o mérito de repor o tema em seu devido lugar. Resumindo a questão em termos apropriados, escreve Fukuyama: "países como Holanda e Grã-Bretanha precisam de inverter as políticas multiculturalistas contraproducentes, que criaram refúgio para o radicalismo, e têm de reprimir aos extremistas."

António Paim, Público de 18.09.2006


Até agora, a Europa reagiu como se esta "aliança" não acrescentasse nada às ameaças que já existem de atentados terroristas. Por estranho que pareça, a ideia de que o risco diminui consoante as manifestações de compreensão de cada Estado por este tipo de grupos mantém-se inabalável. Numa cultura em que predomina a convicção de que tudo quanto aconteceu nos últimos cinco anos não é senão a violência do Ocidente a abater-se em ricochete sobre as suas próprias cidades, torna-se difícil aceitar a evidência de que o terrorismo não distingue entre colonialistas arrependidos e colonialistas por arrepender.

Diogo Pires Aurélio. DN de 19.09.2006

Cumprindo a habitual relação do previsto com os factos, aconteceu a outra coisa, isto é, aquilo que não constava nem das previsões, nem dos projectos, nem das promessas. O resto do mundo comprovou a lei da reflexividade utilizando a ciência e a técnica dos antigos poderes hegemónicos, mobilizou o capital de queixas para a retaliação e não para enriquecer a sabedoria da governança mundial, estruturou uma heterodoxia de combate, desactualizou a polemologia clássica fazendo do terrorismo global o conceito emblemático da entrada no novo milénio. Não faltam comentários no sentido de que esta nova era, de início muito convencionalmente marcada pelo 11 de Setembro, criaria também uma habitualidade das sociedades civis envolvidas pela fria táctica de sacrificar em primeiro lugar inocentes, isto para destruir ao mesmo tempo a relação de confiança dos cidadãos com os governos, e o modelo contratualizado da sociedade civil.

AM, DN de 19.09.2006

A LER COM ATENÇÃO

Os intocáveis
João Teixeira Lopes
O fim do contrato social do pós-Segunda Guerra Mundial e da regulação de tipo keynesiano, a partir de meados da década de 70, em particular após os choques petrolíferos, leva, por parte do capitalismo, a uma aceleração sem precedentes do tempo de circulação do capital: flexibilidade e volatilidade, cariz cada vez mais efémero dos produtos e mercadorias, estonteante velocidade dos fluxos financeiros, inovação tecnológica, automação, dispersão geográfica para zonas onde o trabalho é mais fácil de controlar...
Aliás, o grande sacrificado das grandes mutações é, precisamente, o trabalhador. As dificuldades económicas apontam-lhe a pistola: os salários têm de descer; o trabalho tem de passar de estável a precário; os despedimentos têm de ser facilitados ao limite; a organização colectiva do trabalho despedaçada, em nome da drástica e "urgente" necessidade de diminuição dos custos de trabalho e do aumento de produtividade, num cenário de competitividade global. Conhecemos, no concreto, o que tudo isto significa nos dias de hoje: códigos do trabalho amigos dos empresários; aumento do desemprego; empresas de trabalho temporário que contratam ao mês, ao dia ou mesmo à manhã; diminuição drástica do tempo de lazer e aumento disfarçado ou às claras da jornada de trabalho; disseminação, em todos os níveis de qualificação, de uma enorme violência psicológica, correlata pós-moderna do chicote esclavagista: ninguém ousa reclamar o pagamento das horas extraordinárias, nem, tão-pouco, sair à hora legalmente estipulada - o medo sobressai como nota dominante, impedindo solidariedades profissionais e/ou de classe ou a mera reivindicação de direitos elementares.
Nada disto seria possível sem um magma ideológico poderosíssimo, que consegue impor como pensamento dominante a selvajaria organizada através da disseminação do medo. Inevitabilidade e fatalidade, em suma, de uma nova era em que os domínios subtraídos ao lucro (serviços públicos) e a redistribuição (baseada em impostos progressivos e na taxação das grandes fortunas e das mais-valias) pertencem a um passado longínquo e cujos defensores seriam trogloditas fossilizados. Mas o pior desta constelação hegemónica é a culpabilização do próprio trabalhador e/ou desempregado: não há trabalho, os salários não aumentam, os direitos recuam? A culpa é individual (de cada trabalhador em si) ou colectiva (os trabalhadores em geral). Acresce, por isso, a uma enorme vulnerabilidade social (o trabalhador de hoje pode ser o desempregado ou o pobre de amanhã), uma gigantesca pressão individual subjectivamente vivida como depressão, pânico, autodepreciação.
Atente-se na repercussão e tratamento mediáticos de um relevante estudo do Instituto de Emprego e Formação Profissional. A ideia que por todo o lado perpassou foi a de que os desempregados inscritos nos centros de emprego, esses grandes malandros, não aceitam metade das ofertas de emprego! Ora, uma leitura um pouco mais atenta do relatório permite-nos facilmente concluir que: a) tal volume de ofertas resume-se a pouco mais de nove mil (quando os inscritos ultrapassam os 430 mil!); b) as razões assentam, principalmente, no desajustamento entre as qualificações dos trabalhadores e as ofertas empresariais (que tal contratar por tuta e meia um operário qualificado ou um quadro superior?), na mobilidade geográfica (morar no Porto e ir trabalhar para Castelo Branco...) e nas baixas remunerações, em geral inferiores ao próprio subsídio de desemprego!!!
Daí que importe falar agora na outra parte da relação. A burguesia nacional, desde os tempos do capitalismo mercantil e da política de transporte dos Descobrimentos, revelou-se, com raras excepções, mais propensa ao saque, ao lucro imediato e à exploração do que ao investimento produtivo, à inovação, à qualificação e ao risco. Os nossos maiores patrões prosperam nas grandes superfícies (hipermercados, centros comerciais), nas telecomunicações e na especulação imobiliária. Pouco mais. E lucram, desmedidamente, com um Estado que obriga os trabalhadores aos maiores sacrifícios e a uma violência social cada vez maior, fazendo, tantas vezes por eles, o trabalho sujo, como tem feito o Governo Sócrates (as promessas de criação de 150 mil empregos?; as anunciadas alterações à arbitrariedade patronal plasmadas no Código do Trabalho?; as novas regras de subsídio de emprego que penalizam os jovens?; a constante retórica do "privilegiado", que faz com que o velho desconfie do jovem, o trabalhador do público do privado, o precário do por ora estável?; o desinvestimento no ensino superior, que todos os anos tem menos dinheiro no Orçamento do Estado?).
Um Estado que não lhes cobra devidamente os impostos, isenta boa parte das suas mais-valias e favorece as fugas para os paraísos fiscais. Um Estado que assiste, impávido, sem sequer se questionar, a uma mais-valia potencial de 680 milhões de euros na Galp por parte do grupo Amorim, em apenas oito meses e a um lucro superlativo de 85 milhões de euros da Sonae no primeiro semestre deste ano. Mas nos centros comerciais, só para retomar o paradoxo, um quarto dos trabalhadores não tem direito a subsídio de refeição, mais de metade está em situação de precariedade (muitos sem contrato), trabalhando mais de doze horas. No entanto, ousar combater a exploração e os exploradores, que, de forma legal, com a cumplicidade do Estado e de forma ilegal, amiúde, roubam muita da riqueza que criam para si, é um crime de lesa-majestade que agita, em uníssono, os novos e velhos cães de guarda. Sociólogo
No Público de 14.09.2006. Voltarei a este artigo que transcrevo na íntegra, sobretudo para realçar o meu último destaque a azul.

VOLTEI DA CIVILIZAÇÃO

Fui só ali ao lado, a Espanha, mas já é uma diferença que, para quem se lembra bem do que era a dicotomia Portugal/Espanha na década de 60 do século XX, dá para desanimar ainda mais. Como é que nós nos fomos pôr nas mãos desta matilha que nos vai desgovernando. Onde é que os portugueses andam com a cabeça? E apetece-me citar a citação que Luís Filipe Borges, no SOL, fez de seu avô: « Netinho, eu sou daqueles que acreditam que estes políticos ainda hão-de transformar Portugal naquilo que a nossa pátria já foi, há muito, muito tempo … uma terra inóspita e selvagem, onde não vivia ninguém
A saga das maternidades e das escolas continua. Ontem vi na tv uma reportagem de crianças que têm, agora, de fazer 25 km para irem à escola. Uma delas, ainda muito pequenina, queixou-se da viagem e que tinha vomitado. Que martírio não será ir à escola para esta criança? Os pais vão ter de abandonar a aldeia e ir viver de vez para a sede de concelho, Freixo Espada-à-Cinta, ou ainda melhor, ir de vez para o Porto ou Lisboa. São as duas únicas localizações viáveis para a mediocridade dos nossos políticos.

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

PASSE SOCIAL

Na sequência do post de ontem, hoje abordo a questão do passe social para os transportes públicos. Só existem, que eu saiba, em Lisboa e no Porto. Os outros portugueses não têm direito a tal mercê. Os sucessivos governos não querem saber dos portugueses que não estão na zona urbana da Grande Lisboa ou do Grande Porto. Assim também provam que o desenvolvimento do interior não lhes interessa, e como tal não lhes interessam os cidadãos. Não são necessárias nem as escolas nem as maternidades. As populações que se desloquem para o litoral, pressionem, e desenvolvam esse terror que é a selva da urbanização em Portugal. E a consequente péssima qualidade de vida que têm os cidadãos que se agridem nessa selva, vivendo num constante sobressalto de insegurança.

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

TENHO DE ME REPETIR

A maternidade de Mirandela encerrou. Este tema já é recorrente por aqui. Mas insisto. Se a exploração financeira das maternidades do interior é deficitária, por via da desertificação demográfica, o encerramento delas mais não faz do que incrementar essa desertificação demográfica, bem como aumentar a pressão sobre o litoral com todos os inconvenientes. Isto é a demonstração cabal de que os sucessivos governos, do antes e do depois, não foram competentes para terem uma política de desenvolvimento sustentado para o país. E por isso Portugal está como está. Já não temos nenhuma grande cidade de fronteira. Mas do lado de lá, em Espanha, elas existem e com pujança. Espero que possam fazer a análise da diferença desse resultado entre Portugal e Espanha. Não é difícil.

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

O MUNDO É, CADAVEZ MAIS, UM LUGAR INCERTO.

A distância entre a eloquência dos discursos a propósito dos conflitos do Médio Oriente e a minguada capacidade de oferecer recursos para uma intervenção pacificadora não tranquiliza quanto à existência de um plano fiável de contingência para a falência do diálogo energético. Uma situação de incerteza agravada pelo facto de as sedes de meditação e anúncio deslizarem para instâncias sem relação com a ordem jurídica internacional, contribuindo para o descrédito dessa ordem sem fornecerem uma janela de visibilidade para a confiança.

AM, aqui.

VÃO DIZENDO, ALI E ACOLÁ.


Ao contrário do que se costuma dizer, o mundo do futebol não é um mundo à parte: é um mundo que revela, como nenhum outro, a aflitiva indigência em que caiu Portugal.
CCS, aqui.

Ora este é um interesse público estruturante do Estado de Direito e sobrepõe-se de largo ao da presença de Portugal em competições internacionais e ao da salvaguarda dos prejuízos para os clubes e para os adeptos, em muito que isso pese àquelas futebolísticas entidades e por mais que colida com as enormidades que andam a perpetrar.


VGM, aqui.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

HIPOCRISIAS

Este tema da sexualidade é um tema muito candente por cá. Mas é sempre bom apreciar-se a opinião de alguém, que eu considero, com bom senso, noutro lado do mundo. Do post do Jorge Gajardo Rojas, do Chile, com toda a consideração, transcrevo o seguinte post:
LA PILDORA DEL DIA DESPUES EN QUE QUEDAMOS?
«Voces y manos al Cielo por repartir la pildora del dia despues a adolecentes de 14 años.Hace 10 años la sexualidad de los adolecentes chilenos empezaba a los 18 años.Ahora en algunos segmentos a los 12años.En algunas culturas las mujeres deben llegar virgenes al matrimonio.En otros se extirpan parte de los organos sexuales femeninos para no incentivar la presunta infidelidad.El problema adolecente chileno es lejos la falta de trabajo y una de sus consecuencias la droga.No es bueno imponerlos codigos morales personales o de una clase al resto del pais.Creo la Iglesia Catolica no tiene una respuesta como enfrentar el tema de la sexualidad en los jovenes.Un sacerdote una vez me dijo una gran verdad:"No puedo dar consejos a los que se casan porque nunca he estado casado".Los modelos parenterales influyen,pero los hijos quieren ver coherencia entre lo que se dice y se practica.El enfocar el problema de la prostitucion con medidas punitivas y moralistas es malo.Es signo de subdesarrollo.Todas las civilizaciones la han tenido,luego hay que reconocer la realidad y legalizarla.Con inicio de actividades y boleta incluida.El otro día vi en una cola del supermercado condones.El Condon previene en parte el VIH.Porque es malo fomentar su uso?.El 100% creo de las parejas chilenas usan anticonceptivos,la vida es dura y no se pueden tener los hijos que se quisieran,tendriamos que cambiar el modelo economico.Este condiciona las conductas de nuestra sociedad chilena.Entonces porque colocamos a los adolecentes en un nimbo como si el transito a ser adulto se diera por decreto,no tenemos mucha autoridad moral para negarle lo que practicamos,lo demás es hipocresia

terça-feira, 5 de setembro de 2006

MULTICULTURALISMO. O INSUCESSO.

Um bom artigo, aqui, sobre este tema. Destaco um trecho.
« ... Amartya Sen questiona os resultados do multiculturalismo - a palavra que tem estado na moda nos últimos anos na Europa e que caracteriza o modelo britânico de integração das suas vastas comunidades de imigrantes. Começa por elogiá-lo. A ideia pós-colonial de considerar toda a gente que chegava ao país, vinda sobretudo dos países da Commonwealth, como cidadãos com os mesmos direitos sociais, culturais e até políticos de que gozam os britânicos era boa e deu os seus frutos. Mas ninguém reparou que estava a ser distorcida quando deixou de distinguir entre a liberdade cultural, que é central à dignidade das pessoas, e a celebração e defesa de qualquer forma de tradição ou herança cultural, diz Sen. O prémio Nobel, cujo mais recente livro se intitula precisamente Identity and Violence, considera que esta distorção se deve a duas confusões. A primeira entre conservadorismo cultural e liberdade cultural. A segunda, a que faz da religião a principal ou mesmo a única marca definidora da identidade de uma pessoa, transformando essa identidade numa prisão. Em suma, diz Sen, o fracasso do multiculturalismo foi ter-se transformado numa "pluralidade de monoculturas separadas", negando aos membros de uma comunidade a possibilidade de escolha. Isto equivale a dizer que a identidade cultural e religiosa termina onde começam os direitos e liberdades individuais de cada um - o princípio fundador das sociedades democráticas liberais

EXTINÇÕES.

Já é muito tarde, mas começam a raciocinar e a chegar a conclusões. Mas já é muito tarde. As injustiças geradas entre os portugueses já fizeram estragos, sem soluções visiveis ou, pelo menos, não se vê vontade de solucionar. Há os portugueses de primeira, de várias corporações, e os outros, os trabalhadores por conta de outrem, ou seja, o sector privado.
Mas atente-se aqui neste trecho:
«O Governo resolveu actualizar, aliás em montantes geralmente despiciendos, alguns encargos da ADSE, o "subsistema de saúde" específico dos funcionários públicos, suscitando a ira dos seus beneficiários. Mas o remédio para os problemas daquele serviço deveria ser bem mais radical. Tratando-se de um serviço constitucionalmente problemático, financeiramente oneroso e socialmente iníquo, a solução está em extingui-lo.De facto, o sistema de saúde privativo dos funcionários públicos começa por ser constitucionalmente duvidoso (para dizer o menos). Tendo sido criado ainda nos anos 60 do século passado, no contexto profissional-corporativo do Estado Novo, a ADSE manteve-se como sistema obrigatório após a criação do SNS, apesar de isso contrariar a vocação universal e geral deste (assim o define a Constituição). Tal como os demais regimes privativos de segurança social e de saúde de base profissional, a ADSE constitui um resquício do corporativismo, sendo, portanto, anómala num sistema de serviços públicos universais de segurança social e de saúde, cuja criação após a Constituição de 1976 deveria ter levado à sua extinção como esquemas alternativos obrigatórios, ou à sua transformação em regimes suplementares facultativos

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

SOLUÇÕES, SOLUÇÕES, PARECE QUE É ALGO QUE NÃO HAVERÁ

Vai-se dizendo, por aqui e por aí.

«Não existe uma classe dirigente tradicional como em Inglaterra e, parcialmente, em França. A República jacobina e a ditadura do dr. Salazar deram cabo dela. Num país pobre, dependente e corporativo, o liberalismo (económico) é uma utopia. A classe média do sector público, que ocupa uma posição estratégica decisiva, não permitirá nunca uma verdadeira reforma do Estado. Os "negócios" (com uma ou outra meritória excepção) vivem directa ou indirectamente do favor oficial. Nenhuma política centralizadora (em nome da ordem, da eficiência ou da racionalidade) passará a resistência das clientelas partidárias da província

VPV, aqui.

«O fim de O Independente não representa apenas o fim de um ciclo: revela sobretudo o triunfo de um regime que destrói qualquer tipo de alternativa. Ou se se preferir, a impossibilidade de fugir ao pensamento único e ao "consenso mole" (para usar uma expressão de Francisco Louçã) em que nos enterrámos

CCS, aqui.

domingo, 3 de setembro de 2006

RAPINAR


A maternidade de Mirandela vai fechar. Fica naquela área só a de Bragança. Já vi que para algumas zonas daquela área Espanha é uma solução mais prática. Estes encerramentos, como já disse, são uma consequência da inexistência, ao longo de décadas, de politicas de desenvolvimento sustentado para o interior. A desertificação demográfica foi o resultado. Agora há que entender, também, que sem condições que permitam às pessoas ficarem não há forma de se fixar populações nem incentivar o desenvolvimento. As autarquias irão torrar dinheiro a fazer rotundas por onde não passarão mais de 20 carros por dia. Este é o cenário que as actuais politicas perspectivam para os próximos anos.
Mas não se iludam. Não é só o interior. Ontem soube-se de uma criança, vitima de queimaduras graves, que teria de ser transferida do Porto para um hospital da Galiza. Nem o Porto, nem Coimbra e nem Lisboa tinham capacidade de resposta. Mas em qualquer região de Espanha há resposta. Há que entender que em Espanha, qualquer que seja o partido no poder, sempre se trabalha para o bem comum e para o desenvolvimento do país. Em Portugal nunca o fazem e os aparelhos partidários, que se mascaram de Estado, só têm como objectivo rapinar o mais que podem.
Depois até achei piada quando altos responsáveis se coçaram todos quando confrontados que os 140 soldadinhos portugueses para o Líbano irão ficar sob comando directo espanhol. Não têm problema. O problema existe é no cotejo que se faz com Espanha, o que dá complexos de inferioridade no lado de cá. E o sistema venal português sabe-o muito bem e tenta evitar a todo o custo que a população interiorize essa diferença. Daí o controle que a informação, sempre disposta a agradar ao poder e aos senhores que mandam no poder, a quem está sujeita, executa sobre as noticias dos vizinhos.
Mas é para lá que nos socorremos para partos, para os queimados, para os estudantes universitários, etc., etc., etc.. O espanhóis até são muitos bonzinhos para nós. Nunca mais nos invadirão. Nós tratamos de nos submetermos por carências várias, e porque nunca fomos capazes de nos governarmos como deve ser. É uma fatalidade, ou melhor, uma burrice deste povo. Cuja vocação é sujeitar-se a ser governado por idiotas.

sábado, 2 de setembro de 2006

VIVÊNCIA PORTUGUESA

Diogo Vaz Pinto escreveu, aqui, um texto de que destaco:
«Parece-me, contudo, que aquilo que com maior força se retira do artigo não se liga tanto a passar crédito ou não a esta geração que mal ou bem se mistura muito com as mais velhas, acho que o tal fascínio pelo curto prazo é uma observação relevante e clara a partir de uma amostragem de comportamentos em escala absurda que nos permite retirar derivações muito variadas e que podem apontar-nos uma crise na cultura juvenil... Quem quiser perceber um pouco sobre as fraquezas tão evidentes nos hábitos desta geração que adoptou uma cultura marcada por tendências demasiado agressivas da moda tem que frequentar os espaços de encontro onde se verifica que há um caminhar no sentido da anulação da individualidade que procura encontrar resultados que supostamente todos desejam mas que no fundo são fórmulas ideais pré-fabricadas que se enfiam na cabeça de todos nós e acabam por nos ditar qual o estilo próprio que devemos assumir para nos afirmarmos... Não sei se percebem o que quero dizer mas a ideia que tenho é que de facto já não se sentem as escolhas, as opções nem as diferenças. Esta geração ruma ao sabor de um vento que sopra daqui e depois dali, troca as voltas a qualquer jovem que se sente na necessidade de estar sempre de olhos abertos para apanhar o quanto antes a mudança de sentido para estar à frente na linha da afirmação individual (em grupo)... Isto descaracteriza a pessoa e é verdade que as amizades são hoje contruções muito impessoais e que não respondem talvez nem minimamente às carências de afectividade, companheirismo ou identificação que todos desejamos e tentamos forçar... Mas esta força consegue alguns resultados - junta um conjunto de pessoas com os mesmos interesses mas muito viradas para si mesmas e talvez seja fácil de notar que a principal característica que se verifica nesta geração é um egoísmo (im)pressionante, uma atitude anti-social que consegue vingar num meio muito social, ou seja, há uma esfera de relações muito pouco coesas mas que se mantêm sempre e que permitem comportamentos perversos como aceitáveis e "normais" pela sua ocorrência constante e que já não provoca revolta e consequências graves... Tudo se desculpa.Os pais... Bem esses não têm nada a dizer, a não ser quando têm (casos raros mas ainda há alguns resistentes). A verdade é que o divórcio, mesmo dentro do casamento, acontece pela falta de regularidade dos ambientes fortuitos para a formação tanto dos pais como dos filhos,... Os pais divorciam-se um do outro (mesmo mantendo o casamento e o mesmo tecto) e divorciam-se dos filhos... Mas continuam a responder às necessidades que eles próprios (os filhos) impõem a si mesmos - toda um exteriorização de consumos e comportamentos que seguem as tais modas... E os filhos recebendo os subsídios de educação dos pais educam-se entre os amigos e aprendem a ser o que todos querem ser - estrelas... Estrelas no grupo de amigos, estrelas na televisão, estrelas do mundo da noite... Estrelas...É claro que estamos a falar de estrelas viciadas em comportamentos de desorientação, de uma facilidade absurda em se associarem a comportamentos extremos e que passam à história como supostas fases de crescimento... Mas ninguém cresce... Essa história de aprender com os erros é a maior desculpa da nossa geração que segue de erro em erro e acaba sempre sorrindo e achando que como aquilo já está para trás são maiores, mais vividos e melhores... Mas mudam de fases e há tempo para todas as fases chegarem até eles... Acontece que um dia chega uma fase mais extrema e muitos ficam agarrados a essa...Mesmo quando nada agarra o jovem ele anda por aí nesse vício da velocidade furiosa da vida, essa alucinante realidade da metamorfose do instante e o que acontece não é que se juntem os elementos positivos de cada momento fazendo-se uma aprendizagem construtiva no plano pessoal, não, as relações nascem e morrem de acordo com o soprar do vento, é sempre tudo feito segundo um contador que aprecia os facilitismos e todos apontam para a estrada e o caminho do que menos esforço exige e mais simples parece... Pois o que acontece é que as pessoas se perdem no caminho, tornam-se sinais que marcam a berma da estrada e neste lodo, neste lamaçal lá surge no meio do pântano uma flôr de lótus... Aqueles que salvam a cara dos outros e se afirmam pela diferença e capacidade superior, mas essa é a excepção...No fundo e digam o que disserem o futuro em Portugal é incerto e periclitante... Esta geração não está pronta para herdar um país que precisa de ultrapassar uma crise e enfrentar uma situação em que as pessoas estão habituadas a uma vida de confortos e vícios pagos pelo endividamento... Portugal precisa de uma consciência, uma vontade de mudar realmente e mais que isso Portugal precisa de regressar aos valores de austeridade e largar os comportamentos que não garantem nenhum tipo de felicidade mas que se mascaram como necessidades... è precisao deixar os luxos e a mania das despendas... Rocks in Rios e concertos, casinos, discotecas a cobrar consumos mínimos exagerados, roupas que custam muito mais do que valem, futebóis e outras merdas que fazem parte da cultura de entretenimento e lazer portuguesa têm que ser abortados... Temos que voltar ao que interessa, à formação, à ideia de que uma boa conversa em casa com um grupo de amigos e vá lá umas bebidas pode ser muito melhor que andar na passarele que se monta por esse país fora para uns oportunistas ganharem rios de dinheiro à custa da falta de educação dos hábitos dos portugueses... O desporto, as artes, a verdadeira cultura têm que renascer da falta de ocupação dos tempos livres com estas merdas que se afirmaram à custa de um nível de vida que tem uma qualidade vazia mas que parece cheio de charme e encanta as massas...Há que procurar os homens e mulheres que ainda se lembram de como era possível e fácil encontrar a diversão no antes deste carnaval de luxos...A mim não me parece que a minha geração esteja disposta a renunciar a esses privilégios não merecidos... Parece-me que já os sentem como direitos e por viverem agarrados ao curto prazo querem é o estoiro, o gasta tudo, não deixes para aproveitar amanhã o que podes aproveitar hoje... Não se enganem, não se deixem levar pela crença nesta miudagem da qual eu faço parte... Cada um vai meter as unhas e os dentes ao pano para ficar com a sua parte, de forma egoísta cada um vai puxar para si e o pano vai rasgar e não vai restar nada para ninguém... Parece-me que os novos, os bons serão os nossos filhos que vão herdar um mundo em que os valores morais serão novamente tesouros da alma e serão reanimados pela vontade e sobretudo pela necessidade...É verdade que esta geração não tem um plano para o futuro e é verdade que os nossos pais são melhores que nós e é verdade que nós estamos muito ligados ao hoje, ao logo à noite, aquela roupa para impressionar aquela gaja com as tetas grandes e que não se deixa apanhar por qualquer um... É verdade que nos podíamos chamar todos Zé Maria ou outra merda queque qualquer... Porque não interessa a originalidade a não ser que seja uma originalidade a curto prazo, se não nos seguirem não vale a pena ter uma ideia nova, o que queremos é o mar de gente à nossa volta, a aplaudir, a querer igual, a imitar...»

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

TODO O PORTUGUÊS QUE COMPRA CASA, PAGA SEMPRE DUAS: A SUA E OUTRA QUE O GOVERNO SE ENCARREGA DE DAR A UM QUALQUER CIDADÃO QUE LHE DÊ JEITO

É assim mesmo. O cidadão trabalha, paga impostos, compra a sua casa, com juros, normalmente, e vê os seus impostos irem para pagar casas para uns.
Claro que eu entendo que todo o cidadão deve poder habitar. Mas se não puder pagar, que arrende. Que o Estado intervenha nesse sentido, também entendo. Mas que os faça pagar renda de acordo com a capacidade de esforço do orçamento familiar. Nem que seja um Euro, se o esforço orçamental da família não der para mais. Agora dar casas? De mão beijada? Sem esforço? À custa do esforço dos outros que têm que comprar a sua própria casa? E qual a lição a tirar? Que em Portugal ninguém precisa de se esforçar, porque se for preciso o Estado dá uma casa, dá um ordenado.
Em Portugal os cidadãos ainda não perceberam para que servem os impostos. Ainda não perceberam que os aparelhos partidários, em nome do Estado, ou mascarando-se de Estado, que é o mais correcto de dizer, vão esbanjando o dinheiro dos impostos que deveriam servir só para fins comuns a todos os cidadãos. E nunca para subsidiar parcelas de cidadãos. A subsídio dependência é um dos entraves ao desenvolvimento do país. E a nossa economia é prenhe de medíocres por causa disso mesmo.