sábado, 2 de setembro de 2006

VIVÊNCIA PORTUGUESA

Diogo Vaz Pinto escreveu, aqui, um texto de que destaco:
«Parece-me, contudo, que aquilo que com maior força se retira do artigo não se liga tanto a passar crédito ou não a esta geração que mal ou bem se mistura muito com as mais velhas, acho que o tal fascínio pelo curto prazo é uma observação relevante e clara a partir de uma amostragem de comportamentos em escala absurda que nos permite retirar derivações muito variadas e que podem apontar-nos uma crise na cultura juvenil... Quem quiser perceber um pouco sobre as fraquezas tão evidentes nos hábitos desta geração que adoptou uma cultura marcada por tendências demasiado agressivas da moda tem que frequentar os espaços de encontro onde se verifica que há um caminhar no sentido da anulação da individualidade que procura encontrar resultados que supostamente todos desejam mas que no fundo são fórmulas ideais pré-fabricadas que se enfiam na cabeça de todos nós e acabam por nos ditar qual o estilo próprio que devemos assumir para nos afirmarmos... Não sei se percebem o que quero dizer mas a ideia que tenho é que de facto já não se sentem as escolhas, as opções nem as diferenças. Esta geração ruma ao sabor de um vento que sopra daqui e depois dali, troca as voltas a qualquer jovem que se sente na necessidade de estar sempre de olhos abertos para apanhar o quanto antes a mudança de sentido para estar à frente na linha da afirmação individual (em grupo)... Isto descaracteriza a pessoa e é verdade que as amizades são hoje contruções muito impessoais e que não respondem talvez nem minimamente às carências de afectividade, companheirismo ou identificação que todos desejamos e tentamos forçar... Mas esta força consegue alguns resultados - junta um conjunto de pessoas com os mesmos interesses mas muito viradas para si mesmas e talvez seja fácil de notar que a principal característica que se verifica nesta geração é um egoísmo (im)pressionante, uma atitude anti-social que consegue vingar num meio muito social, ou seja, há uma esfera de relações muito pouco coesas mas que se mantêm sempre e que permitem comportamentos perversos como aceitáveis e "normais" pela sua ocorrência constante e que já não provoca revolta e consequências graves... Tudo se desculpa.Os pais... Bem esses não têm nada a dizer, a não ser quando têm (casos raros mas ainda há alguns resistentes). A verdade é que o divórcio, mesmo dentro do casamento, acontece pela falta de regularidade dos ambientes fortuitos para a formação tanto dos pais como dos filhos,... Os pais divorciam-se um do outro (mesmo mantendo o casamento e o mesmo tecto) e divorciam-se dos filhos... Mas continuam a responder às necessidades que eles próprios (os filhos) impõem a si mesmos - toda um exteriorização de consumos e comportamentos que seguem as tais modas... E os filhos recebendo os subsídios de educação dos pais educam-se entre os amigos e aprendem a ser o que todos querem ser - estrelas... Estrelas no grupo de amigos, estrelas na televisão, estrelas do mundo da noite... Estrelas...É claro que estamos a falar de estrelas viciadas em comportamentos de desorientação, de uma facilidade absurda em se associarem a comportamentos extremos e que passam à história como supostas fases de crescimento... Mas ninguém cresce... Essa história de aprender com os erros é a maior desculpa da nossa geração que segue de erro em erro e acaba sempre sorrindo e achando que como aquilo já está para trás são maiores, mais vividos e melhores... Mas mudam de fases e há tempo para todas as fases chegarem até eles... Acontece que um dia chega uma fase mais extrema e muitos ficam agarrados a essa...Mesmo quando nada agarra o jovem ele anda por aí nesse vício da velocidade furiosa da vida, essa alucinante realidade da metamorfose do instante e o que acontece não é que se juntem os elementos positivos de cada momento fazendo-se uma aprendizagem construtiva no plano pessoal, não, as relações nascem e morrem de acordo com o soprar do vento, é sempre tudo feito segundo um contador que aprecia os facilitismos e todos apontam para a estrada e o caminho do que menos esforço exige e mais simples parece... Pois o que acontece é que as pessoas se perdem no caminho, tornam-se sinais que marcam a berma da estrada e neste lodo, neste lamaçal lá surge no meio do pântano uma flôr de lótus... Aqueles que salvam a cara dos outros e se afirmam pela diferença e capacidade superior, mas essa é a excepção...No fundo e digam o que disserem o futuro em Portugal é incerto e periclitante... Esta geração não está pronta para herdar um país que precisa de ultrapassar uma crise e enfrentar uma situação em que as pessoas estão habituadas a uma vida de confortos e vícios pagos pelo endividamento... Portugal precisa de uma consciência, uma vontade de mudar realmente e mais que isso Portugal precisa de regressar aos valores de austeridade e largar os comportamentos que não garantem nenhum tipo de felicidade mas que se mascaram como necessidades... è precisao deixar os luxos e a mania das despendas... Rocks in Rios e concertos, casinos, discotecas a cobrar consumos mínimos exagerados, roupas que custam muito mais do que valem, futebóis e outras merdas que fazem parte da cultura de entretenimento e lazer portuguesa têm que ser abortados... Temos que voltar ao que interessa, à formação, à ideia de que uma boa conversa em casa com um grupo de amigos e vá lá umas bebidas pode ser muito melhor que andar na passarele que se monta por esse país fora para uns oportunistas ganharem rios de dinheiro à custa da falta de educação dos hábitos dos portugueses... O desporto, as artes, a verdadeira cultura têm que renascer da falta de ocupação dos tempos livres com estas merdas que se afirmaram à custa de um nível de vida que tem uma qualidade vazia mas que parece cheio de charme e encanta as massas...Há que procurar os homens e mulheres que ainda se lembram de como era possível e fácil encontrar a diversão no antes deste carnaval de luxos...A mim não me parece que a minha geração esteja disposta a renunciar a esses privilégios não merecidos... Parece-me que já os sentem como direitos e por viverem agarrados ao curto prazo querem é o estoiro, o gasta tudo, não deixes para aproveitar amanhã o que podes aproveitar hoje... Não se enganem, não se deixem levar pela crença nesta miudagem da qual eu faço parte... Cada um vai meter as unhas e os dentes ao pano para ficar com a sua parte, de forma egoísta cada um vai puxar para si e o pano vai rasgar e não vai restar nada para ninguém... Parece-me que os novos, os bons serão os nossos filhos que vão herdar um mundo em que os valores morais serão novamente tesouros da alma e serão reanimados pela vontade e sobretudo pela necessidade...É verdade que esta geração não tem um plano para o futuro e é verdade que os nossos pais são melhores que nós e é verdade que nós estamos muito ligados ao hoje, ao logo à noite, aquela roupa para impressionar aquela gaja com as tetas grandes e que não se deixa apanhar por qualquer um... É verdade que nos podíamos chamar todos Zé Maria ou outra merda queque qualquer... Porque não interessa a originalidade a não ser que seja uma originalidade a curto prazo, se não nos seguirem não vale a pena ter uma ideia nova, o que queremos é o mar de gente à nossa volta, a aplaudir, a querer igual, a imitar...»

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