sábado, 14 de outubro de 2006

ASTRONOMIA. UM SINAL POSITIVO

Não resisto a transcrever a notícia vinda no Público de ontem, porque há oásis no meio do deserto português:


«Astronomia portuguesa sofreu um Big Bang desde a década de 90
Teresa Firmino

Artigos publicados por astrónomos a trabalhar em Portugal têm mais citações do que a média mundial, revela estudo a apresentar hoje na Fundação Gulbenkian
Até 1990, a comunidade de astrónomos em Portugal praticamente não existia, ao ponto de nesse ano só ter publicado três artigos em revistas astronómicas internacionais. Dezasseis anos depois, vive-se uma espécie de Big Bang. O número de artigos publicados por ano oscila entre 72 e 74, desde 2003, revela um estudo que será apresentado hoje num encontro internacional na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.O número de artigos não chega para mostrar a evolução estrondosa, porque esses artigos poderiam não ter relevância. Há que ver o número de citações internacionais que cada artigo recebe em artigos de outros cientistas. A surpresa é que é superior à média mundial."O índice de citações dos artigos publicados por astrónomos e astrofísicos residentes em Portugal, portugueses e estrangeiros, é bastante elevado. Ultrapassa a média mundial", sublinha Miguel Avillez, presidente da Sociedade Portuguesa de Astronomia (SPA). "A nossa média é de 11,9 citações por artigo, enquanto a média mundial é de 10,8 citações por artigo."Neste estudo, a SPA contabilizou os artigos publicados nas revistas de astronomia e astrofísica mais importantes (Astrophysical Journal, Astronomical Journal, Astronomy & Astrophysics, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e Icarus). Viu que foram publicados 528 artigos, desde 1990, que foram citados 6313 vezes até ao último sábado, segundo os dados do Instituto para a Informação Científica (ISI), nos Estados Unidos, reconhecido como a referência para a recolha de dados sobre a produção científica mundial."Comparando com as outras áreas científicas, a astronomia e a astrofísica fica em terceiro lugar no índice de impacto por artigo, imediatamente atrás da biologia molecular e da imunologia", refere Miguel Avillez, baseando-se ainda nos dados do ISI. O número de artigos tem vindo a subir desde 1990, ano em que Portugal assinou um acordo de pré-adesão ao Observatório Europeu do Sul (ESO), organização europeia de astronomia com telescópios no Chile. "A partir de 1995, começou a haver para cima de 15 artigos por ano e veio a crescer até 74 artigos em 2003, mantendo-se agora estável", sublinha Miguel Avillez. O pico de citações foi em 2000, com 1140.Alguns factores são apontados para o Big Bang da astronomia portuguesa ou, nas palavras de Miguel Avillez, esta "evolução quase vertiginosa". "Foi fundamentalmente importante para o desenvolvimento da astronomia e astrofísica o acordo de pré-adesão ao ESO, que definiu a criação de um grupo de investigadores e financiamento para projectos e infra-estruturas." Por causa desse acordo, que se materializou na adesão de Portugal ao ESO como membro de pleno direito em 2000, a maioria dos astrónomos em Portugal foi fazer o doutoramento no estrangeiro. E teve acesso aos telescópios do ESO. A adesão plena de Portugal à Agência Espacial Europeia, em 2000, abriu por sua vez o mundo dos telescópios espaciais aos investigadores portugueses. Para Miguel Avillez, o tipo de atitude e de formação dos astrónomos também contribuiu para todos estes números. "O doutoramento é visto como um processo de aprendizagem e como o trabalho de toda uma vida, e as relações internacionais mantêm-se muito grandes."Ter começado uma área praticamente de raiz e ser uma comunidade muito jovem (a maioria com menos de 40 anos) também ajudou. "Não têm os vícios do sistema." Foi uma "surpresa", refere o cientista, ter ocorrido uma evolução tão rápida. "Quando o Estado português definiu a astronomia e astrofísica como áreas prioritárias, e injectou dinheiro, houve um crescimento muito rápido, em pouco mais de sete ou oito anos."Quantos são, afinal, os astrónomos a trabalhar no país? Cerca de 50: 28 com lugares permanentes em universidades e institutos politécnicos e cerca de 20 com uma situação precária de emprego (têm bolsas de pós-doutoramento). Estes dados, e outros, vão ser apresentados no encontro Astronomia e Astrofísica em Portugal - Impacto e Perspectivas Futuras. O caso português tem chamado a atenção no estrangeiro, razão por que será o presidente da Sociedade Europeia de Astronomia, Joachim Krautter, a relatar os dados do estudo sobre o impacto científico da astronomia portuguesa a nível internacional. Irão fazer parte do livro branco da astronomia portuguesa
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