terça-feira, 10 de outubro de 2006

E MAIS SOBRE CORRUPÇÃO

«O mal está na cumplicidade instituída entre o Estado e os "negócios", que ninguém acha criminosa e nunca aparece nos jornais.Quem observar a circulação de uma certa "classe" de "facilitadores" (um nome de resto abertamente usado) do Governo ou do partido para a banca ou para empresas que dependem do Estado ou são parcialmente do Estado e, em sentido contrário, do sector privado ou semiprivado para o Governo, percebe como, em grosso, as coisas funcionam. Não há segredo, nem mistério no caso. E, melhor ainda, não há qualquer ilegalidade visível. O ministro assina o despacho ou fabrica o decreto não para favorecer o banco A, ou o consórcio B ou a empresa C, mas porque de facto pensa que o despacho ou decreto são a única maneira de servir a pátria. Quem vai provar o contrário? E quem se vai sobressaltar se por acaso esse benemérito, devolvido à condição comum, receber do Estado uma enorme encomenda no escritório (se, por exemplo, for advogado) ou aparecer num conselho de administração qualquer? Não é o homem competente?Suponho que tudo isto, de uma maneira ou de outra, sempre aconteceu. Acontece com certeza nas democracias da "Europa": em Itália, claro, em França, em Inglaterra, em Espanha e por aí fora. Só que em Portugal esta espécie de corrupção chegou a um grau inaceitável. Não existe vigilância (uma verdadeira vigilância) nem do Estado, nem da concorrência (que também aproveita), nem dos media (que não investigam nada). A regra é a velha regra nacional do "quem apanhou apanhou e quem não apanhou que apanhasse". »
VPV, Público de 07.10.2006.

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