sexta-feira, 23 de março de 2007

O MÉRITO DA REFLEXÃO

No Público
Qualificações
18.03.2007, Vasco Pulido Valente

A um ano da eleição para a presidência do partido (Março, Abril de 2008), o PSD já anda num enorme frenesim. Fora Marques Mendes não há nenhum candidato declarado. Mas parece que Luís Filipe Menezes, Rui Rio, Aguiar Branco, António Borges (que, segundo consta, ainda continua vivo) e o próprio Marcelo pensam em se candidatar. Não se pode imaginar uma colecção mais triste. Mesmo um país pequeno e habituado à mediocridade merecia melhor. Para se aspirar a primeiro-ministro é talvez preciso um passado, uma obra, uma reputação nacional e, se não for pedir muito, uma ideia ou outra com alguma pertinência e algum sentido. Em vez disso, no PSD basta um pouco de popularidade local ou uma forma qualquer de fama, merecida ou imerecida, para um indivíduo se julgar apto a pastorear a Pátria.Esta desgraça não é privativa do PSD. Toda a gente se queixa da qualidade do pessoal político e toda gente percebe que, de ano em ano, as coisas pioram. Tivemos Cavaco, que não é, coitado, um grande espírito. Tivemos Guterres, que fugiu do "pântano". Tivemos Barroso, que tratou de si. Tivemos Santana, que nem dele sabia tomar conta. E hoje temos Sócrates, um aparatchik, autoritário e pardo. Donde vieram eles? Cavaco de onze meses no Ministério das Finanças. Guterres directamente da máquina do PS (nunca esteve antes no Governo). Barroso de secretário de Estado da Administração Interna e ministro dos Estrangeiros. Santana de secretário de Estado da Cultura. Sócrates de ministro do Ambiente. Por outras palavras, nenhum deles fez, como seria de esperar, uma carreira normal: do Parlamento para secretário de Estado, de secretário de Estado para ministro; e da periferia do poder (a Cultura, o Ambiente) para o centro do poder (Segurança Social, Saúde, Educação, para começar, e a seguir Administração Interna, Estrangeiros, Finanças). Chegaram os cinco a primeiro-ministro sem uma experiência séria e pessoal do "monstro" que iam dirigir e com um absoluto desconhecimento do país. Cada um via Portugal e os portugueses pela sua pequena fresta (das Finanças, dos Estrangeiros, da Cultura ou do Ambiente). Não passavam os cinco de amadores, sem maneira de avaliar ou de medir o que lhes diziam e, como é óbvio, só nos deixaram sarilhos.Surpreendentemente, esta sociedade obcecada com a segurança e a "excelência" não exige qualquer espécie de qualificação política ao primeiro-ministro. Não ocorreria a ninguém ser operado por um estagiário. Mas ninguém se importa de ser governado por um conspirador de sótão, um secretário de Estado da Cultura ou um ministro do Ambiente.

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