segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

AD UNUM

Mantenho a tradição do poema neste dia. Mas hoje, quando der início ao Jantar de Natal, erguerei o meu copo a todos os que caíram em combate pela pátria, em qualquer época. E lembrarei os ex-combatentes da guerra do ultramar, do Serviço Militar Obrigatório, que sobrevivem neste Portugal maltratado e desbaratado por políticos medíocres, que não lhes reconhecem o denodo. Ex-combatentes também desprezados pelos militares do quadro permanente, duma instituição militar que hoje já nada diz ao país, mas que temos de sustentar para manter as mordomias, que incluem terem hospitais privados para as famílias que os portugueses todos pagam.
A vós irmãos, para que este nosso e vosso sacrifício seja aceite pela memória do esquecimento, pois o Portugal por que lutaram já se perdeu. Hoje já é memória. Hoje já não há homens, nem mulheres, duma estatura tal que nunca pusessem em causa o país. Vós fostes os últimos. Hurra.
Bom Natal a todos
LADAINHA DOS PÓSTUMOS NATAIS

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

In “OBRA POÉTICA” de David Mourão-Ferreira

2 comentários:

MJ disse...

Feliz Natal!

lobices disse...

...obrigado pela visita que retribuo com um abraço