quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

HOJE

Há alguém de quem nos esquecemos. Algures. Todos os dias nos esquecemos de alguém. Um dia vão-se esquecer de nós. Aqui ou no outro lado do planeta, vamo-nos esquecendo. Um dia, teremos a factura à frente.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

AQUELE OLHAR


E que importância teve esse mito da Sétima ldade para Portugal? lsso interferiu de alguma forma nos destinos de Portugal?
- A senhora já pensou nisso diante dos painéis de São Vicente? Olhe como está aquela gente! Eu levei lá uma vez o Kane, um amigo meu que foi director da Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade de Dacar no Senegal. Ele veio aí e eu levei-o aos painéis. Expliquei-lhe rapidamente duas ou três coisas que se podem dizer dos painéis, sem erro. Número um, que é a única pintura do mundo em que uma nação tira o retrato. Não há, nunca houve em parte nenhuma, uma nação inteira a tirar e retrato. Todos os da nação, dos pescadores aos guerreiros, aos filósofos, aos juristas, aos mouros, aos judeus, uma quantidade de gente, extraordinário! Segundo, que é uma cerimónia religiosa, que ninguém hoje distingue por mais sábio que seja em coisas religiosas. Terceira coisa, é que há ali figuras históricas, aquilo é do fim do século XV, aquele rei é D. Afonso V, isso sabe-se e já com o infante se discute, se aquele sujeito do chapeirão é o infante D. Henrique ou talvez seja o D. Duarte, não se sabe bem, mas não importa. Dei-lhe duas ou três coisas desse género de explicações. Não entrei em mais pormenor nenhum para não atrapalhar e o homem ficou olhando e, depois, disse-me só uma coisa, a primeira vez que a ouvi a alguém olhando os painéis: «O olhar daqueles homens é espantoso, porque estão a olhar a realidade e o irreal do futuro!» Veja só, veio aquele senegalês, sabe, com uma definição do olhar daquela gente, que é uma coisa espantosa, muito bonita! Então é isso. A nação portuguesa sempre teve essas ideias sabe? Sétimas ldades, Espírito Santo e tal, mas ao mesmo tempo olhando bem as realidades, sabendo bem a sua matematicazinha, a sua náutica, todas essas coisas gue se têm de saber ali no concreto, no real. Podia ser muito interessante que três vezes cinco fossem dezasseis, só que não, são quinze. E, por outro lado, uma capacidade de passearem ao mesmo tempo pelos jardins do irreal e do imaginário, extraordinária!
Antónia Sousa, in "O IMPÉRIO ACABOU. E AGORA?" - Diálogos com Agostinho da Silva

domingo, 21 de dezembro de 2008

ESTIMAM-SE

Meditem nisto, pois só meditando podem analisar:

Os reguladores e os políticos conhecem intimamente os especuladores e os predadores. Não só se conhecem, como se estimam e convivem. Têm mesmo, simultânea ou sucessivamente, interesses comuns. O triângulo formado pelos políticos, os reguladores e os especuladores constitui um percurso pessoal que muitos fazem airosamente nas suas carreiras. Muitos políticos e muitos reguladores consideram que os predadores e os especuladores têm o direito de se entregar às suas actividades, de operar no mercado livre, de ter sucesso e de vencer nos negócios.
António Barreto, hoje, no Público

sábado, 20 de dezembro de 2008

FUNDO DE QUIMERA

A GENTE PORTUGUESA, AMOROSA, contemplativa sonhadora, com esse inesgotável fundo de quimera que lhe ficou da tradição religiosa,do ensino das visões místicas, do maravilhoso dos milagres e da alucinação do inferno, é notàvelmente própria para produzir de entre si engenhos excêntricos, onde a imaginação sobreleve e se imponha ao simples bom-senso, dando a realidade narrativa ao pesadelo, numa harmónica rrespondência com o feitio da alma popular, que, na sua miragem coiectiva do sebastianismo, procurou nos versejadores anónimos o estilo com que convinha fixar a sua fantasmagoria.


BRUNO SAMPAIO, in "A Geração Nova"

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

OBAMA NOMEOU UM GENERAL COM CARISMA PARA OS ASSUNTOS DOS VETERANOS. E POR CÁ?

O silêncio sobre os ex-combatentes. O esquecimento, a incúria, até mesmo a ingratidão. A semana passada morreu o Vasco. Mais um entre muitos que foi desprezado pelo país, esquecido pelo Estado, e sobretudo ignorado pelas Forças Armadas, que bem serviu. O stress de guerra e o álcool não são uma boa combinação.
O sr. Miguel Monjardino, que respeito como o faço a qualquer cidadão, escreveu no Expresso de 28.04.2007 "que a sociedade lusa não valoriza o papel dos seus militares". Presumo que o sr. Miguel Monjardino não serviu nas fileiras antes de 1975 e, como tal, nunca foi um ex-combatente. Eu já por aqui tenho escrito que o facto de não se honrar os que lutaram pelo país e as memórias dos que pereceram, como o fazem noutros países, e agora temos o exemplo da preocupação de Obama, tem consequências. E julgo que o sr. Monjardino não percebeu que nessa sociedade lusa estão os ex-combatentes e suas famílias e amigos, os esquecidos. O sr. Monjardino fala dos militares actuais, os que nunca passaram por nada parecido com que os outros passaram, e só com pré, nada de vencimentos luxuosos da actualidade. E a frase com que encerra o seu artigo tem muita acuidade: "Mais tarde ou mais cedo, o preço a pagar pelo nosso desinteresse e esquecimento será muito elevado". Mas a questão é que isto é aplicado sempre. Não pode ser só aplicado aos que serviram a partir de 1990, e os outros, os esquecidos, que se lixem. Pois é esta postura que tem um preço. Se até já nem o Lar de Veteranos Militares é para os veteranos militares, mas sim só para o QP. Os esquecidos ainda não estão todos mortos e vão lembrando, sempre, o desprezo a que foram votados. E essa lembrança tem custos. Que o sr. Monjardino não teve em conta, porque também olvidou os ex-combatentes.

domingo, 14 de dezembro de 2008

A CIÊNCIA EM PORTUGAL

Eu já perdi qualquer esperança neste país. No post anterior citei uma frase sobre o empréstimo dos filhos. Em Portugal não se pediu esse empréstimo. Tiraram-lhes, simplesmente.
Por isso peço que meditem na frase mote deste blog, que está abaixo to titulo do blog. Mas meditem nela todos os dias.
Hoje deixo um artigo para avaliarem:
A Ciência em Portugal
Miguel Mota
Publicado no “Linhas de Elvas” em 11-12-2007
Não há muito tempo, quando entrevistado por um jornal, um cientista português teve esta frase: “Queria ser professor universitário, porque era a única maneira de fazer ciência em Portugal”. Esta frase revela bem um dos clamorosos erros da política de ciência em Portugal nas últimas décadas: a destruição de toda a investigação que seja feita em instituições fora das universidades.
Os portugueses, com excepção das pessoas que trabalham em laboratórios do estado em diferentes ministérios, talvez não se tenham apercebido da fantástica destruição de boa ciência levada a cabo pelos governos das últimas décadas. Embora neste país muita gente não perceba o alto valor da ciência como cultura - como se mostra com os títulos de "Cultura e Ciência", considerando para a primeira a pintura, a literatura, o cinema e outras actividades, até a culinária - essa destruição não causou ao país apenas uma grande perda cultural mas também económica. Basta dar como exemplo o que tem sido feito aos dois primeiros desses grandes laboratórios, a Estação Agronómica Nacional, criada em 1936, e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, nascido dez anos depois e dela decalcado, duas instituições que muito projectaram o nome de Portugal no mundo, além de lhe darem grandes valores económicos. Impondo-lhes limitações de toda a espécie e culminando com o actual governo a realizar verdadeiras destruições, conseguiram reduzir enormemente a sua anteriormente boa produção científica.
Nem todos os ministros souberam ou quiseram resistir da mesma forma a essa destruição. Os que até muito a ajudaram foram os da Agricultura, todos eles incapazes de perceberem a verdade elementar de que sem o seu Ministério ter uma bem desenvolvida e de alto nível investigação agronómica nenhum país pode ter boa agricultura, daí resultando a situação vergonhosa que se encontra bem patente em qualquer supermercado, com a enormidade de produtos agrícolas importados que aqui devíamos produzir de melhor qualidade e mais baratos.
O problema é tanto mais errado porque, para além do valor cultural da ciência produzida - bem evidente nas citações dos trabalhos portugueses nas revistas científicas e livros texto de divulgação internacional - a investigação agronómica é um dos mais rendosos investimentos que qualquer governo inteligente pode fazer. Com os escassos elementos existentes - porque não se tem querido efectuar os estudos que já propus(1) - há muito mostrei como a investigação agronómica rende juros verdadeiramente astronómicos(2) . Quando propus a constituição dum Gabinete de Estudos Económicos na Estação de Melhoramento de Plantas apenas dispunha dum caso bem quantificado: a solução duma "doença" das vinhas do Douro, a maromba, resultado da investigação feita na Estação Agronómica, então ainda em Sacavém e que dava à lavoura duriense um valor anual que, ao tempo, era duas vezes todo o orçamento da Estação Agronómica. E, note-se, a solução desse problema continuou a dar ao país um valor semelhante (actualizado) todos os anos. Citei, ao tempo, os evidentes aumentos de produção de cereais das variedades lançadas pela Estação de Melhoramento de Plantas, cujo valor estimado era sempre várias vezes o que toda a Estação gastava ao estado. Ainda não havia, nessa altura um caso que cito com frequência, porque toda a gente conhece, embora a maioria lhe desconheça a origem: essa excelente uva branca de mesa 'D. Maria', "fabricada" na Estação Agronómica, em Oeiras, pelo meu infelizmente já falecido colega Eng.º José Leão Ferreira de Almeida, que a baptizou com o nome de sua mãe. O que essa variedade dá a mais, ao país, em relação às variedades que suplantou é certamente mais do que o que o estado investe na Estação Agronómica. Quantos mais casos como o da uva 'D. Maria' deixaram de contribuir para o PIB de Portugal é algo que os portugueses devem "agradecer" aos vários ministros da Agricultura e também aos da Ciência, desde que estes passaram a interferir no sector. E a destruição parece continuar até ao total desaparecimento dessa valiosa investigação e, mais uma vez, lembro a vergonhosa legislação dos finais de 2007, um verdadeiro crime de lesa ciência e de lesa economia. A única explicação que se encontra é que alguns medíocres das universidades (também lá há bons e muito bons), não sendo capazes de suportar a concorrência de melhores cientistas, têm conseguido que governos que não se importam de manter o país em baixo nível e na cauda da Europa, procedam a tais acções.
(1) Mota, M - "Da conveniência dum Gabinete de Estudos Económicos na Estação de Melhoramento de Plantas", Linhas de Elvas de 25 de Agosto de 2000.
(2) ---------- - Investigação Agronómica e Extensão Agrícola, as bases fundamentais do Desenvolvimento Rural, Vida Rural de Julho de 1999.
http://agriciencia.blogspot.com/

domingo, 7 de dezembro de 2008

O AUTÊNTICO CONSERVADOR

«O autêntico conservador é alguém que sabe que o mundo não é uma herança dos seus pais, mas um empréstimo dos seus filhos.»
J.J. Audubon (1800)

«O assalto dos merceeiros e desmiolados a tudo o que desprezam ou desconhecem, a substituição das velhas elites por gentinha insignificante vai provocar, cedo ou tarde, uma vaga de violência que permitirá a reedição do erro que foi o comunismo; ou pior, talvez de um neo-comunismo quase sem Marx, mas com muito Hitler à mistura.»
Do blog "COMBUSTÕES", ontem.
A que junto o lema, e tema, deste blog desde o primeiro post (ver abaixo do título).

sábado, 6 de dezembro de 2008

A INDIGNAÇÃO DOS CROATAS

Gostei de ver a indignação dos cidadãos croatas. Em manifestação veiculada pela internet. Mas sobretudo gostei do que disseram sobre os políticos. A coisa está-se a compor.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A SEM RAZÃO DO ORGULHO DOS QUE SE JULGAM INOVADORES

As gerações nunca aprendem na experiência alheia: só à custa do próprio sofrimento, dos própios êxitos e dos próprios insucessos, cada geração encontra, dolorosamente ou triunfalmente, os seus caminhos. Nem as circunstâncias dos tempos se repetem - embora às vezes sejam parecidas. Mas o que o conhecimento do passado proporciona à cultura de uma época é o esclarecimento das origens, da evolução, da razão de ser de formas de vida actuais, de ideias correntes, de instituições vigentes, mostrando certas constantes da Humanidade, as limitações da imaginação terrena e a sem razão do orgulho dos que se julgam inovadores.


Marcello Caetano, in "Marcello Caetano no exílio - Estudos, Conferências e Comunicações"

domingo, 23 de novembro de 2008

A FARSA

Em exibição contínua no «Teatro Portugal», com os melhores actores em hipocrisia seráfica.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

CEM OEZDEMIR

Um amigo dizia-me que não entendia em que é que o post "Que fizeste do teu irmão" continha geoestratégia. De facto é matéria difícil. Mas se conseguirem apreender a problemática da imigração, verão que tem muito de geoestratégia. O não se ter actuado em tempo, e no sítio certo, tem os custos elevados que o mundo ocidental da Europa e da América do Norte vão pagar. E a médio prazo vão perder a matriz da identidade. Cem Oezdemir é o novo líder de "Os Verdes" alemães e é de origem turca. E é um bom exemplo do que disse atrás. Honra e glória a ele. Esperando que os novos líderes da europa, de origem imigrante como ele, sejam tão competentes como Oezdemir. Mas serão eles a impor as regras. O império romano vai, definitivamente, cair. Porque os "outros" merecem derrubá-lo.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A REGRA

«A questão da fidelidade dos povos em relação ao Príncipe, é mais discutida em função da manutenção do poder do que da legitimidade da obtençãodo mesmo. E a regra é que o amor depende dos súbditos, mas impôr o receio depende do Príncipe.»
Adriano Moreira, NICOLAS MACHIAVEL: A CIÊNCIA POLÍTICA, in "10 Livros que Mudaram o Mundo".
Se as pessoas percebessem que as democracias têm principesinhos ..... !

(Este post já tinha sido publicado em março de 2006)

QUE FIZESTES DO TEU IRMÃO?


Frei Bento Domingues, no Público de Domingo, pôs em destaque esta pergunta no seu artigo.
Entendi focar aqui um trecho pela acuidade da análise de frei Bento.

2.Recebi, no entanto, um reparo bem áspero: "Deixe-se de mortos e cuide dos que, hoje, vivem mal." Esta observação não se inscreve, apenas, numa crítica à religião - que já vem do século XIX e percorreu o século XX - enquanto alienação intelectual, antropológica, psíquica e socioeconómica. A uma religião sem mundo parecia suceder um mundo sem religião. Era uma nova crença: na medida em que se forem resolvendo, de forma científica e técnica, os nossos problemas mais palpáveis, as religiões irão perdendo terreno e acabarão por desaparecer.A crítica mais certeira das falsas devoções veio, porém, do interior da própria religião, de alguns profetas do antigo Israel que Jesus Cristo radicalizou. Quem beber nessa Fonte e se aquecer a esse Lume será sempre confrontado com a mesma pergunta: "Que fizeste do teu irmão?"Quando nos referimos às religiões, pensamos, de imediato, em sistemas culturais e simbólicos, em credos, em dogmas, em ritos, em organizações mais ou menos hierarquizadas e em normas morais. Ao dizer isto, devemos ter cuidado, pois as religiões são diversas, multifuncionais e podem ser utilizadas para o melhor e para o pior: para fazer a paz e para fazer a guerra; para manter a concórdia e suscitar a revolta.A própria etimologia da palavra religião tanto pode vir de "religar" o humano e o divino e os membros de uma comunidade, como de "reler", reconsiderar, observar cuidadosamente as formas e as fórmulas que mantêm a separação do sagrado e do profano. Sob este ponto de vista, o contrário de religião é a negligência, a distracção, a falta de regras para manter o sagrado e o profano nos seus respectivos lugares.A primeira etimologia evoca um universo integrado. A segunda é tentada pelo ritualismo e até pelo fanatismo. Daí, a saborosa adivinha eclesiástica: qual a diferença entre um terrorista e um liturgista? Com o terrorista é possível negociar. Com o liturgista, nunca.3.Por causa de usos e abusos de práticas rituais e de imposições dogmáticas, há pessoas, profundamente religiosas, que preferem caminhos de meditação, de espiritualidade, de mística, em regime de isolamento ou de peregrinação. Quando, porém, se foge de manifestações exteriores, pode-se cair num intimismo alheio às questões da sociedade. Ao evitar o ritualismo e o dogmatismo, não se deve esquecer que a ritualidade faz parte do ser humano e que precisa de articular convicções em constante aprofundamento. A grande questão é esta: como alimentar a qualidade estética, a exigência ética, a profundidade contemplativa e a clarividência profética nas celebrações da fé cristã?Pode-se dizer, com razão, que as celebrações da Eucaristia - isto pode ser extensivo a todos os sacramentos - têm uma estrutura que permite articular palavra, silêncio, gesto, imagem, música, interpretação, relação entre quotidiano e festa, profundidade espiritual e intervenção profética, vencendo o reino das aparências, sem resvalar para o esotérico ou para o comício.Dizer isto não é difícil. No entanto, para promover todas essas dimensões com autenticidade, seria preciso, nas paróquias e nos movimentos, conceber e realizar programas que saibam unir formas de vida e de expressão que há muito tempo andam divorciadas. Esta é uma das tarefas primordiais da Igreja.Dir-se-á que os verdadeiros problemas de hoje dizem respeito ao genoma humano, aos organismos geneticamente modificados, à identidade sexual, às novas formas de viver em comum, à clonagem, à globalização, à regulação financeira e das telecomunicações, etc. A Igreja católica não vive ausente de toda essa nova problemática cultural que também faz parte do seu corpo. Precisa, no entanto, de escutar a voz do Espírito. É essa, aliás, a proposta do primeiro escrito cristão: não fujam, procurem, em tudo, discernir o que é bom (1 Ts 5, 19-21).

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

OS INTELECTUAIS PODEM SER INTELIGENTES MAS ISSO NÃO GARANTE QUE SEJAM ESPERTOS

Hoje, no Público, Rui Tavares publica o excelente artigo «A maldição dos intelectuais» de que destacamos este trecho:



Os intelectuais podem ser inteligentes mas isso não garante que sejam espertos. A lição que muitos teimam em não aprender é a seguinte: "Nunca, mas mesmo nunca, bajular uma categoria de pessoas para aceder ao poder com elas e depois tentar influenciá-las." O que acontece de cada vez é que a pessoa bajulada acredita nos seus dons e, naturalmente, reage mal quando o intelectual lhe vem dizer o que fazer.
Isto ocorre à esquerda e à direita. Muitos conservadores, que deveriam ser mais cautelosos, exageram na propaganda às virtudes das pessoas mais "instintivas".

JÁ FALTOU MAIS

domingo, 9 de novembro de 2008

A LUTA FINAL

É o título do excelente artigo de António Barreto, hoje, no Público, que não se deve deixar de ler.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

SE NÓS NÃO NOS QUISERMOS DEFENDER ...

aqui tinha colocado o final da última obra de Franco Nogueira. Que recomendo, sempre, para ler na íntegra. Mas o final deve ser lido com visitas periódicas. Sugiro que todas as semanas o releiam. E caso não tenham o livro, voltem sempre aqui.
Mas hoje deixo outra passagem desse livro, para que a meditação se possa ajustar à realidade actual:
Mas seria erro pensar que dentro de dez ou vinte anos a situação é idêntica à de agora. Depois de tudo mudar, apura-se que não mudou muito o que há de básico. Em qualquer caso, por mais sólidas que sejam as alianças, a maior defesa da independência nacional, a sua maior garantia está na força e na vontade dos Portugueses. Aliás, apenas um povo vigoroso e com vontade de se defender consegue contrair alianças úteis. Não há alianças que nos defendam se nós não nos quisermos defender.

Franco Nogueira, in "Juízo Final"

sábado, 25 de outubro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

DE QUE PRECISAM OS PARTIDOS

"Um partido não precisa de indivíduos com personalidade, criatividade, imaginação, dignidade: precisa de burocratas, funcionários, servos, (...) yes men, homens que não são homens, robôs que estão sempre de acordo com as ordens que recebem."As palavras são da jornalista italiana Oriana Fallaci, desaparecida há dois anos, vítima de cancro, e que, durante a sua vida profissional, entrevistou os poderosos do mundo e escreveu reportagens onde o seu espírito indomável e o seu apego à liberdade espreitavam por baixo de cada linha.
Do artigo de José Vítor Malheiros, hoje, no Público.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

GERAÇÃO ESPONTÂNEA

Também se dizia no velho Império Romano que, quando uma guerra é ganha, todos nela participaram, mas quando uma guerra é perdida, só há um culpado", lamenta.
A Xabanu Farah Diba, no Público de ontem.
Mas isto é tão português. Ainda ontem houve eleições aqui, nos Açores. E o que se dizia no velho império aqui se aplica. Como em qualquer eleição, em Portugal, desde o 25 de Abril. Os da Pide devem até ter ficado estupefactos com tantos opositores de gema, que eles ignoravam no dia anterior. Foram geração espontânea. E se formos falar dos estudantes universitários que perveteram os valores porque, então, lutavam, muito havia para escrever.

domingo, 19 de outubro de 2008

A IDEIA DE INFERNO

A minha ideia de inferno é a de um mundo onde a razão é impotente. Creio que foi Kant quem primeiro o disse.

Nuno Crato, em "Os meus medos" na Revista Sábado.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A FALTA DE AGILIDADE MENTAL POVOA MILHARES DE POSTOS DE TRABALHO OCUPADOS POR ESMOLA POLÍTICA.

A carência de agilidade mental é desastre quando existente a partir de níveis mínimos decisórios. No fundo é o lema deste blog, que está escrito debaixo do título: mais cedo ou mais tarde, esta mistura explosiva de ignorância e de poder vai rebentar-nos na cara. E parece que está a rebentar por todo o lado. Aqui, ali e no mundo. Só que nós conhecemos esses carentes aqui e ali, embora não conheçamos os de todo o mundo. Mas os daqui conhecemos muito bem.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

PORQUE NÃO SE OUVEM AS VOZES ATINADAS, E ATEMPADAMENTE?

Antes das crises estoirarem há sempre vozes de pessoas mais avisadas, que, por aqui e por ali, vão alertando para as tempestades que se podem aproximar. Mas ninguém os ouve, não lhes dão atenção. E as tempestades acontecem. Ontem o Dr. Medina Carreira, mais uma vez, disse, publicamente, o que pensava do estado do país. Foi na SIC Notícias, no Jornal das 21(O video dessa entrevista esta na SIC online). Há anos que ele, entre outros, chama a atenção para os erros do país. Eu tenho-o citado. Hoje só peço que no Google pesquisem Medina Carreira. Há muito material. Ouçam e leiam. Por favor, façam isso. Informem-se, actualizem-se.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A TAL DE GANÂNCIA

Excelente reflexão de Rui Tavares, hoje, no Público. Destaco:
Não tenho qualquer razão para defender os executivos, mas não - a culpa da crise não está na "ganância dos executivos". Os executivos não são mais gananciosos do que qualquer outra pessoa em circunstâncias semelhantes. As suas empresas agem no interior de um sistema legal. Quem fez as leis ou - mais exactamente - quem revogou as leis que nos protegiam? Políticos. Quem elegeu os políticos? Nós. Quem convenceu a maioria dos eleitores de que regular o mercado era indesejável? Os mesmos que agora querem pôr as culpas na "ganância dos executivos". Por sinal, os mesmos que durante anos proclamaram (por outras palavras) que a "ganância dos executivos" iria resultar na prosperidade de todos.Já ouviram algum deles dizer: "Andei nos últimos anos a defender ideias que agora se revelaram desastrosas"? Bem me parecia. Falar da "ganância" é fácil e inconsequente, porque jamais se poderá abolir a ganância. Podemos no máximo taxá-la com um imposto fortemente progressivo. Isso é que era falar.

JUMENTO

É um excelente blog sobre o nosso país, e não só. Encontra-o aqui.

Dois destaques:


(de 6.10.2008) - Daquilo que conheço na Administração Pública nunca a teia corrupta esteve tão consolidada, nunca deteve tantos lugares de chefia, nunca teve tanto poder, ao ponto de serem os honestos a recear o poder do corruptos.
(de 19.09.2008) - A educação católica que terminou no crisma ter-me-ia levado ao PCP que é a organização política que mais se assemelha à Igreja Católica Apostólica Romana, os dogmas têm a mesma importância, a infalibilidade do Papa é quase tão grande como a do Jerónimo de Sousa, a comissão de quadros foi decalcada da Congregação para a Doutrina da Fé, a Igreja muda os padres das paróquias com os mesmos critérios com que o PCP mandou o presidente da CM de volta para a sacristia, o PCP tem tantos textos sagrados como a Igreja tem evangelhos, o líder do PCP é escolhido em segredo pela mesma maioria com que Bento XVI contou graças aos cardeais que nomeou para o conclave que o elegeu, por fim, quer o Papa quer Jerónimo de Sousa prometem-nos o Céu, a única diferença está no timming, o Jerónimo promete-o para antes da morte, enquanto Bento XVI assegura-nos uma eternidade de prazer casto no post mortem.

domingo, 12 de outubro de 2008

PORQUE SERÁ QUE AINDA NÃO OUVI RUÍDO NA BANCA OFFSHORE?

E as grandes fortunas que se estão consolidando neste momento, comprando na bolsa em baixa? E onde estava o dinheiro que falta na liquidez bancária, e que aparece, confortável, para estas compras gigantescas aproveitando as baixas cotações?
E as megas fusões que estão a surgir? E os monopólios mundiais estão a fortalecer-se. Sim, porque o dinheiro não se escoou por um bueiro ignaro. Ele anda por aí, sempre pronto a reproduzir-se à custa do sacrifício de milhões de pessoas.
E a propósito cito Frei Bento Domingues, do Público de hoje:
Agora, fala-se, debate-se e escreve-se abundantemente sobre a crise, assegurando uns que o pior já passou e outros que o pior está para vir. Continuam, no entanto, por explicar, de forma adequada, as causas reais que cegaram tantos economistas, gestores, conselheiros e reguladores - muito bem pagos e premiados, servidos pela melhor tecnologia - a ponto de não conseguirem ver o desastre que estavam a provocar.Repetiu-se, até à saciedade, que era preciso menos Estado e mais iniciativa privada, pois ele só servia para complicar e empatar. Seja como for, o Estado acaba de receber a maior consagração que se poderia imaginar e a economia de mercado, na sua expressão neoliberal, perdeu a aura fictícia da sua auto-regulação.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

INSULARIDADE (III)

A humidade é terrível. Tem-se ouvido cada coisa por cá, que só a humidade justifica. Que os estudantes universitários, mas da Universidade de cá, claro, que fossem assíduos e bem comportados não deviam ser penalizados pela escala de 0 a 20: deveriam passar, automaticamente, só por irem lá pastar na universidade. Isto é muita insularidade adensada. Para já não falar das selecções de futebol. E não é ficção, tudo isto é Real.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A ABREVIAÇÃO

Ora, a única razão que pode «incitar» quem ainda dispõe de algum trabalho a proporcioná-lo é conseguir pagá-lo a preço miserável, e fazê-lo aceitar por infelizes vitimados pela «insegurança». Criar emprego talvez, mas primeiro criar essa insegurança! Ou, melhor ainda, ir procurá-Ia onde ela existe, em determinados continentes.
Evidentemente, entre as massas cuja insegurança foi pla­neada a sangue frio, só uma pequena percentagem de indiví­duos beneficiará desses empregos em saldo que não os farão sair da miséria. Para os outros só resta a insegurança. E o seu cortejo de humilhações, de privações, de perigos. A abrevia­ção de umas tantas vidas.
O lucro, claro, lucrará.
Viviane Forrester, in "O HORROR ECONÓMICO". Chamo a atenção que este livro é de 1996. Escrito 14 anos antes desta crise. Do agudo da crise, porque ela já, então, pulsava.
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Michele Sindona foi o homem escolhido por Paulo VI para consultor financeiro do Vaticano; o homem escolhido, após uma longa amizade com o papa, para aliviar a Igreja da sua alta posição no mundo dos negócios em Itália. O plano era vender a Sindona alguns dos principais valores adquiridos por Nogara. A Vaticano SARL a distanciar-se do lado inaceitável do capitalismo. Teoricamente ia abraçar a filosofia contida na mensagem que Paulo VI dera ao mundo em 1967 na Encíclica Populorum Progressio:
«Deus destinou a terra e tudo o que ela contém para o uso de todos os homens e de todos os povos, de forma a que os bens da criação corram em justa proporção para as mãos de toda a gente, segundo as regras da justiça que é inseparável da caridade. Todos os outros direitos, sejam eles quais forem, incluindo os da propriedade privada e do comércio livre lhe devem ser subordinados: não devem pôr obstáculos à sua realização, mas devem pelo contrário incentivá-la e é um dever social urgente e grave restabelecê-los nos seus objectivos originais.»
David Tayllop, in "EM NOME DE DEUS". De 2006.

INSULARIDADE (II)

Ontem foi tema interessante dos noticiários a questão do hóquei juvenil e da discriminação a que os Açores foram sujeitos pela Federação. É certo que movida por motivos financeiros. Mas é a insularidade. Quem defende os interesses dos Açores? Dos que vivem nos Açores? Outra questão nunca defendida é a discriminação salarial e de categoria profissional que as empresas nacionais fazem aos trabalhadores seus, mas que laboram nos Açores. Ninguém os defende, ninguém zela pelos seus interesses. É pura discriminação, que fere preceitos constitucionais. Mas decorre da insularidade.
Mas depois há o seu contrário. O Campeonato Regional de Ralis tinha, atribuído pelo Governo Regional, um prémio para o vencedor anual do campeonato. Mas só se fosse nascido nos Açores. Julgo que isso já foi corrigido. E houve um ano que, julgo eu, não foi entregue. Discriminação inversa. Mas muito aplaudida por alguns círculos locais. (Este ano o Campeonato foi ganho pelo Ricardo Moura, que felicito, e a quem desejo que voe mais alto, noutros campeonatos, para não ficar confinado a esta insularidade desportiva). Só que esta insularidade, o auto isolamento, tem custos. A realidade do ensino dos cidadãos surdos, que eu conheço bem, é vitima de uma autonomia, que os segregando dos modelos evoluídos aplicados no Continente e na Madeira, lhes provoca insucesso. É fruto da insularidade. E também de uma mediocridade. E como referi no INSULARIDADE (I) o auto isolamento não conduz a nada de bom para quem vive nos Açores.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

INSULARIDADE (I)

A insularidade, em si, não é um mal. O isolamento que pode incrementar já é, então, mau. Mas o pior é o isolamento imposto a partir do interior da insula. Esse é que é fatal. Quando é o próprio núcleo insular que não quer comunicar, que impede o desenvolvimento, a formação, o embeber as novidades que estão para lá da insula, isso é fatal. O empobrecimento do espírito por vontade própria é castrador para o desenvolvimento.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O MEDO SEGURO

Encontramo-nos, actualmente, numa situação paradoxal: vivemos numa das sociedades mais seguras e prometedoras da História e mais obcecada com a segurança. Parece que quanto mais seguros estamos, objectivamente, mais inseguros nos encontramos e mais protecção exigimos. Vivemos um tempo de incertezas que nos tornam vulneráveis sob o ponto de vista social, económico e afectivo.
(...)
Enquanto houver guetos de pobres e condomínios fechados de ricos, é de ter medo. Para evitar o medo omnipresente, é preciso reorganizar o espaço urbano, público, onde todos se possam encontrar e enriquecer a diversidade cultural. Juntos, não teremos medo.
Frei Bento Domingues, no seu artigo "Sociedades do Medo", ontem, no Público.

SOBREESTENDIDO

A América pensa (e continua a agir) como uma "hiperpotência". É uma ilusão. A tecnologia militar não chega. Sem peso político, sem uma clara hegemonia económica e sem um exército praticamente inesgotável (e dinheiro para o pagar) existem limites que é mortal passar. E a América "sobreestendida" e dependente de 2008 passa, dia a dia, esses limites.
VPV, no Público de 03.10.2008.

3 LIÇÕES DA, E PARA, A CRISE

O Prof Luís Campos e Cunha explica com clareza a crise financeira actual. No seu artigo «O MEDO» publicado no Público de 3 de Setembro de 2008.

sábado, 4 de outubro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

UNA NUEVA ARQUITECTURA DE SEGURIDAD EUROPEA

Gorbachov deu uma entrevista ao diário espanhol «EL PAÍS», no dia 9 de Setembro corrente. Uma pequena amostra.
R. Ahora, Rusia actuará con responsabilidad, pero no acepta­rá que sus intereses nacionales sean ignorados. Europa tiene que revisar su posición. Las adminis­traciones de Clinton y de Bush empezaron unos juegos geopolíti­cos que han abierto nuevas lí­neas de división en el continente. Siento que EE UU no haya sido un buen consejero de Europa en estos años. Los europeos debería­mos decir a.los amigos estadouni­denses que reconocemos sus lo­gros y su poder, pero que no acep­tamos su liderazgo. No aceptare­mos instrucciones de política in­ternacional o económica. Las directríces que dio el FMI a Rúsia a principio de los noventa fueron un desastre.
P. ?Hacia dónde habría que ir entonces?
R. Europa debería impulsar una nueva arquitectura de seguri­dad europea con la constitución de un Consejo de Seguridad conti­nental. Un directorio en.el que estén representadas tódas las na­ciones europeas y, por ejemplo, con poderes para acciones de mantenimiento de la paz. Asi sal­dríamos de una situación en la que EE UU domina la agenda. Algo asi estaba sobre la mesa en 1990, pero Occidente creyó que había ganado y decidió no cumplir sus promesas. No sólo EE UU. Es la primera vez que lo digo, pero Alemania también tie­ne que asumir sus responsabilida­des. Cumplíó los tratados bilate­rales con la !JRSS, pero en el foro de la OTAN apoyó la expansión.

(...)

Se puede confiar en una Rusia responsable si se la trata como un socio a la par. Tenemos experiencia, historia, potencial para competir en el mundo. No bailaremos al ritmo de la música de otros. Da igual que sea jazz u otra. Rusia tiene su propria música.


quarta-feira, 24 de setembro de 2008

AGNÓSTICOS DA TEOLOGIA DE MERCADO

Ontem, aqui, no DN, o prof. Adriano Moreira publicou um excelente artigo, como sempre, para ler na integra.
Dele aqui um trecho:
É digno de registo que os anúncios e as análises narrativas da economia real, das suas insuficiências, dos alarmes, e das consequências negativas, de regra são benevolentes ou simplesmente nunca incluem a responsabilidade dos programadores, das tecnocracias supranacionais, da suficiência técnica e científica das instâncias de apoio à governação, dos reguladores dispensados de assumir erros de intervenção em benefício da contribuição para a análise fria dos desastres. A mão invisível é a mais notada dinamizadora da narrativa global, e a conjuntura, de preferência externa, assume a sua parte no que toca aos inconvenientes domésticos. As intervenções da ONU parecem cada vez mais heréticas em relação à teologia de mercado, quando, em nome das "numerosas pessoas" carentes, exigem política, coordenação de políticas, responsabilidades políticas assumidas, mais atenção às realidades do que às teorias de apoio.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

VISÕES

Num artigo também publicado no Journal of Public Economics, deparei com uma visão bastante mais crua sobre o assunto. Francesco Casellia e Massimo Morelli, professores em Harvard e em Ohio, consideram duas dimensões na qualidade de um político: honestidade e competência. Como os cidadãos competentes têm maiores probabilidades de sucesso numa carreira privada do que os incompetentes, é de esperar que os mais inaptos se sintam mais atraídos por uma carreira política. Ou seja, os profissionais capazes têm mais a perder ao abandonar o sector privado. Considerando a outra dimensão, a da honestidade, mais motivos existem para preocupações. Sendo incontestável que ninguém enriquece, honestamente, com a política, também não deixa de ser verdade que é possível auferir grandes dividendos se os cargos forem exercidos desonestamente. Isto significa que, em termos comparativos, os corruptos têm mais a ganhar com uma carreira política.
De Luís Aguiar-Conraria, no blog «A destreza das dúvidas». A ler tudo aqui .

domingo, 21 de setembro de 2008

PRAGA. COME-SE BEM NO PASSEPARTOUT

Praga é sempre uma cidade a visitar. Mas para alternar com a comida checa, que é boa, embora não faça o nosso estilo, há que escolher um restaurante que nos agrade ao apetite e seja acolhedor. Recomendo o Passepartout. Aqui têm o site: http://www.passepartout.cz/ . Especialmente recomendo o “soufflé à la pistache” para sobremesa. Divinal.
O NOSTRESS também é um restaurante recomendável.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

DEMOCRACIAS NÃO CONVENCIDAS

Um dos problemas de implantação de um sistema democrático em qualquer país é que este tem de ser consequência de um desejo sincero do seu povo. Por isso, democracia no Iraque, ou em muitos países africanos, deixa sempre a sensação de um arremedo e de uma farsa. Quando a democracia é imposta por forças ou coacção externas nada parece. Nem será o mesmo.
Por outras palavras, o acto democrático de eleger um governo tem de partir de uma população cujo único compromisso seja para com a política. Se o compromisso é, antes de tudo, com o grupo étnico a que pertence, ou com o deus da religião que professa, então não pode haver votação politicamente válida nem governo verdadeiramente democrático.
Luís Campos e Cunha, hoje no Público, no interessante artigo "Democracia e Deus".

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A AMBICIONADA DEMOCRACIA DIRECTA. MAS IMPROVÁVEL PELO ANDAR DA CARRUAGEM

A ideia de que a democracia directa é inviável e que os cidadãos devem delegar nos representantes a defesa dos seus interesses é desmentida pela corrupção da função dos representantes: de representantes passam a soberanos, alheios aos interesses e vontade de quem os elegeu. A corrupção funcional destruíu a virtude formal da democracia representativa e tornou-a obsoleta. Por isso, agora queremos escolher os candidatos e não apenas os representantes da ementa partidária escolhidos exclusivamente pelos caciques locais, regionais, nacionais. Mas essa é apenas uma medida do novo sistema político que desejamos reforme a democracia. Não é a democracia o problema, mas a forma obsoleta que nos governa.
Outra das medidas da democracia directa é o escrutínio dos representantes pelos eleitores. Além das poucas oportunidades formais que a democracia representativa consente, existe a cidadania activa. Isto é, o cidadão intervém para além do domingo quadrianual que lhe é formalmente autorizado
Daqui retirado do blog «PORTUGAL PROFUNDO». Com a devida vénia.
E não deixem de ler no mesmo blog, aqui, o inevitável. "A economia compensa o desvario político, aproveitando o excesso de oferta de trabalho com salários mais curtos."

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

LEMBRANDO O FIM DA 1ª GUERRA

Para a Rússia, o pior não foi o colapso da URSS, a derrota do comunismo (em que muito pouca gente acreditava), o caos da economia ou mesmo a pilhagem do Estado por umas centenas de cleptocratas, que hoje se passeiam a salvo por aí. O pior foi a humilhação nacional, a arrogância com que o Ocidente tratou o império e se ingeriu durante anos na sua política interna. Putin acabou com isso e o seu sucesso vem, no essencial, da força e da dignidade que ele conseguiu devolver à Rússia. O que significa que nunca permitirá que a NATO estabeleça um "cordão sanitário" do Báltico ao mar Negro, ao longo das fronteiras da Rússia. Para Putin e Medvedev, as loucas viagens da sra. Rice e do sr. Cheney são puras provocações. É preciso que a América compreenda rapidamente esta verdade básica.
VPV, no Público de 13 de Setembro de 2008.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

terça-feira, 9 de setembro de 2008

PENSAR GEOESTRATÉGIA

É o que está claro no artigo de Costa Martins «Guerra surda EUA-UE: um legado envenenado», publicado no Público de 4 de Setembro passado. Eis um trecho.
(...)os EUA definiram como estratégia o controlo das grandes plataformas petrolíferas internacionais para, através do preço do petróleo, condicionarem a competitividade dos produtos da UE (considerada como o seu principal adversário no âmbito económico--financeiro) e travarem o desenvolvimento da China e da Índia, que começava a despertar com visibilidade.Depois do fracasso da invasão do Iraque, foi, recentemente e de forma concertada, anunciado um pretenso ataque ao Irão e, nos bastidores, foi, com o apoio dos EUA segundo tudo indica, decidida uma acção militar da Geórgia, na Ossétia do Sul, e elaborado um acordo entre os EUA e a Polónia, para a instalação de mísseis neste país.
Entretanto, Bush declarou pretender lançar mão da exploração do petróleo nacional para satisfação das necessidades energéticas dos EUA, que, dessa forma, eliminariam a sua dependência relativamente ao petróleo externo, criando, assim, condições para que a economia norte-americana não fosse afectada negativamente pela desestabilização das zonas petrolíferas externas, enquanto outras economias seriam profundamente prejudicadas - particularmente a da UE, por ser bastante dependente do petróleo e gás da região caucasiana e do Médio Oriente.
Uma acção militar da Geórgia na Ossétia do Sul, envolvendo a morte de um número palpável de cidadãos russos, para mais sendo alguns deles militares, levaria, obviamente, a uma intervenção militar da Rússia.
A Administração Bush pensou que uma vigorosa acção diplomática dos EUA, apoiados na NATO, e uma eventual movimentação de forças navais da NATO nas águas territoriais da Geórgia levariam a que a Rússia circunscrevesse a sua intervenção à região da Ossétia do Sul e que uma tal situação permitiria que a Geórgia - entretanto fortemente armada pelos EUA - respondesse militarmente aos russos, originando uma profunda e duradoura desestabilização da zona, por onde passam importantes oleodutos e gasodutos que transportam petróleo e gás caucasiano que abastecem uma boa parte da energia de que a UE necessita.
Se a UE acompanhasse a posição dura pretendida pelos EUA (via NATO), agravada pelo acordo já previamente preparado pelos EUA e pela Polónia para a instalação de mísseis neste país, acintosamente assinado durante o desencadear da crise criada com a acção militar da Geórgia na Ossétia do Sul, provocaria um endurecimento da reacção da Rússia, que, provavelmente, incluiria o corte do fornecimento de gás russo à Europa.
A determinação na acção diplomática e a rapidez na actuação de Sarkozy, em representação da UE, foi determinante para evitar uma maior deterioração nas relações da UE e da própria NATO com a Rússia.Mas o acordo assinado pelos EUA e pela Polónia para a instalação de mísseis neste país constitui um legado envenenado da Administração Bush à próxima Administração americana e à UE (via NATO), perturbador da segurança e cooperação na Europa e da própria coesão e unidade da UE.
Qualquer tentativa de implementação do acordo constituirá um sério factor de perturbação no relacionamento da Rússia com os EUA, com a NATO e com a UE, e do próprio entendimento entre os seus membros, originando conflitos internos que terão tendência a agravar-se e a dificultar seriamente a concretização dos objectivos do Tratado de Lisboa, parecendo lógico interrogarmo-nos se não haverá ligação entre o acordo agora assinado e a inesperada atitude assumida pela Polónia aquando da assinatura do Tratado de Lisboa!
E num agravamento das relações da UE com a Rússia estará sempre presente um eventual corte do fornecimento de energia russa (particularmente gás) à Europa.(...)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

SINTO-ME ASSIM




Enleado para os céus.


sexta-feira, 5 de setembro de 2008

CLARISSIMO

A economia portuguesa não é dinâmica nem inclusiva. Não é inclusiva, porque deixa muita gente de fora dos benefícios do crescimento, nem é dinâmica, como sabemos. Os grandes grupos económicos não são hoje muito diferentes de há 20 ou 50 anos.
(...)
Argumenta Phelps que uma sociedade justa exige uma economia que funcione bem e esta requer que seja dinâmica e amplamente inclusiva. Mais ainda, como veremos, o dinamismo de uma sociedade não conflitua com a capacidade de inclusão das pessoas, mas, pelo contrário, é complementar. Por último, a exigência moral de uma economia dinâmica e a exigência de uma economia inclusiva decorrem dos mesmos princípios morais de justiça.

Luís Campos e Cunha no seu artigo «Economias dinâmicas e inclusivas», hoje no Público.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

SINTO-ME ASSIM


NUVENS

Que os pássaros da preocupação voem sobre a tua cabeça, isso não consegues mudar.
Mas que eles construam ninhos no teu cabelo, isto podes prevenir.


PROVÉRBIO CHINÊS

domingo, 31 de agosto de 2008

O EVIDENTE

Mas porque será que os actuais dirigentes dos países não conseguem ver, e já não falo em antever, o óbvio, o que está à frente dos olhos? Desde logo por que são medíocres. E depois porque não entendem nada de história. Podem saber, mas, porque são medíocres, não a entendem.

Hoje destaco um trecho do artigo de VPV, ontem, aqui, no Público.

A Rússia nunca teve fronteiras "naturais". Por isso, foi desde o princípio expansionista e criou um império (hoje uma "federação") do Báltico ao mar Negro e da Ucrânia ao Pacífico. Mesmo assim ambicionou sempre chegar aos Dardanelos, para garantir o acesso ao Mediterrâneo. Com o colapso da URSS, a Rússia, pelo menos por um critério "histórico", ficou cercada. Basta notar - coisa que raramente se nota e não se diz - que, na II Guerra, Hitler só, de facto, invadiu 10 por cento do território russo. Tirando por muito pouco tempo na campanha de 1941 e, em 42, na campanha do Cáucaso e do Volga, o exército nazi quase não passou da Ucrânia, da Bielorrússia, da Crimeia e, como é óbvio, da Polónia. Não admira que a Rússia considere ainda a sua antiga "zona de segurança", seja ela independente ou não, interdita a qualquer influência estranha.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

O FIM PROGRAMADO DA DEMOCRACIA

Um site para visitar e ler com muita atenção, aqui. É francês. Para quem não souber francês, vale bem a pena fazer um esforço para traduzir. E ao que parece até é fácil na net.
Um trecho para aperitivo:


La mondialisation (ou "globalisation") n'est pas négative en elle-même. Potentiellement, elle peut permettre l'établissement d'une paix mondiale durable et une meilleure gestion des ressources. Mais si elle continue d'être organisée au bénéfice d'une élite et si elle conserve son orientation néo-libérale actuelle, elle ne tardera pas à engendrer un nouveau type de totalitarisme, la marchandisation intégrale des êtres vivants, la destruction totale de la nature, et des formes inédites d'esclavage.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

AS INTERVENÇÕES

Um artigo interessante, aqui, de Raymond Plant, Professor no King’s College, Universidade de Londres e par da Câmara dos Lordes, intitulado «Soberania e intervenção» e publicado no Diário Económico.

sábado, 23 de agosto de 2008

LUCIDEZ DE ANÁLISE

É algo que os agentes políticos da actualidade não têm. Infelizmente. E, com isso, todos perdemos. Aqui deixo um trecho de "Juízo Final", livro sempre a revisitar, de Franco Nogueira, que ilustra a diferença entre agilidade mental e a mediocridade que constitui o horizonte que nos limita.

Ao arrepio das aparências, são mais do que incertos os tempos neste final de século e de milénio. Proliferação possível da capacidade de produzir armas nucleares, surto de novos centros de poder económico, crescimento financeiro e industrial de vários países, crises de energia e ameaças aos pontos de abastecimento – são factores cujas consequências estão longe de esgo­tadas. Não convém que nos façamos ilusões. Em qualquer momento podem surgir novos centros de decisão nuclear. Um Japão, uma Alemanha reuni­ficada, podem converter em potencial militar o seu imenso potencial econó­mico e industrial. Estaria então profundamente alterado o equilíbrio bipolar que, mediante a dissuasão recíproca pelo terror, administrou a paz pre­cária até esta última década do século e até ao colapso da União Soviética. Haverão de multiplicar-se, agora que se diluiu a bipolaridade, os desafios tanto ao poder dos Estados Unidos como ao que restar da União Soviética. Não cabe fazer futurologia, decerto, mas parece útil para todos que os homens de Estado não percam de vista que nada há de mais frágil, nada há de mais fluido, nada há de mais misterioso do que a fronteira entre a paz e a guerra. Esta última é, como disse alguém, a política conduzida por outros meios; e também se dirá que a paz pode ser – e quase sempre é – a guerra conduzida por outros meios que não os militares. Pode surgir a ruptura da paz em qualquer instante; e podem desencadear-se acontecimentos que arrastam a outros e escapam à vontade e controle dos homens. A desin­tegração da União Soviética, o drama dos Balcãs, o enredo do Médio Oriente, legitimam todos os temores. Não pensemos que a afirmação de que a guerra nuclear significa uma catástrofe sem limites garante por si a paz. E ninguém pode prevenir uma súbita descoberta tecnológica que altere a situação existente. Nenhum de nós, ninguém em seu juízo deseja a guerra, e todos devemos acalentar e exprimir a esperança na paz. Mas para colabo­ração na paz ou sustentáculo na guerra, todos os portugueses estarão de acordo em que Portugal deve alinhar as suas pedras, todas as suas pedras, bem colocadas e bem afeiçoadas.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

QUEM OUVIU A REACÇÃO DO GUSTAVO LIMA ENTENDE A INJUSTIÇA QUE A COMUNICAÇÃO SOCIAL FAZ COM AS REFERÊNCIAS AOS ATLETAS.

Os ignorados atletas são agora crucificados por palavrosos que nunca praticaram nenhum desporto, a não ser a de dar uso à má língua, destilando o fel do mau carácter de que são compostos.
Os meus parabéns a todos os atletas olímpicos. Todos os resultados foram bons. Eles conquistaram o passaporte para irem a Pequim. Foram por mérito próprio. Enquanto os jornalistas que lá foram, talvez mais do dobro que o número dos atletas, não foram lá por mérito pessoal de resultados esforçados a correr ou a lutar em estádios desportivos.
E isto já farta. Sempre a denegrirem os atletas, quando o máximo que os portugueses conseguem é estar no sofá a beber minis com tremoços e a deseducar os filhos.

O TRIUNFO DA MEDIOCRIDADE É A CONSTANTE DOS TEMPOS ACTUAIS

Such lamentations can be heard on both poles of the po­litical spectrum. One reason so many Western intellectuals supported Stalin and Mao, or indeed, to a somewhat lesser degree, Hitler and Mussolini, was their disgust with demo­cratic mediocrity.
Ian Buruma & Avishai Margalit, in " OCCIDENTALISM, The West In Eyes Of Its Enemies"
Nada que eu não ande por aqui a expor há muito tempo. O mérito aos medíocres tem sido o grande problema de Portugal e a causa/consequência dos seus males nos últimos 30 anos. Embora seja um problema que afecta quase todos os países ocidentais.

AINDA A PROPÓSITO DO POST ANTERIOR

Do que eu disse no post anterior, queria aqui realçar com o que disse Luís Nunes, treinador de trampolins, e que li no Público, aqui, e que destaco:

A falta de condições dos atletas em Portugal é, segundo o chefe da equipa olímpica portuguesa de trampolins, reflectido nos resultados dos Jogos Olímpicos. Para Luís Nunes este desnível torna irrealista esperar grandes resultados da equipa portuguesa.
"Em Portugal continuamos a brincar um bocadinho ao desporto. Continuamos a ter a sorte de ter uns cogumelos, como alguém disse, atletas que aparecem de vez em quando e que fazem resultados óptimos em alguns desportos", considerou Luís Nunes em conferência de imprensa na Aldeia Olímpica de Pequim.Por isso, conclui o técnico, é irresponsável pôr tantas expectativas em cima da equipa olímpica quando falta seriedade ao desporto nacional. Um exemplo simples é a inexistência da carreira nacional de treinador. “Seria impensável deixarmos de ser professores e deixar os nossos lugares nas escolas para nos dedicarmos exclusivamente aos trampolins. Só se fosse para rir", explicou.O treinador queixou-se dos media, por aumentarem as expectativas das pessoas e pôr os portugueses à espera de medalhas. "Foi escrito, foi dito pelos media que os trampolins são uma das modalidades que não se deve descartar em termos de atingir resultados de excelência. Quem escreveu, quem disse, quem inventou isso deveria ser responsabilizado", afirmou Luís Nunes que treina Ana Rente, Diogo Ganchinho, ambos a representarem Portugal em Pequim. Na quarta-feira, em declarações ao jornal PÚBLICO, o chefe da missão olímpica portuguesa, Manuel Boa de Jesus afirmou que "temos portugueses entre os 16 melhores do mundo, em masculinos e femininos. Qualquer um deles pode ir a uma final".Luís Nunes pediu hoje calma e afirmou que o objectivo da participação portuguesa deve ser "exequível", realçando que com as condições de treino existentes, Portugal não é favorito em trampolins e que se os principais adversários "fizerem o seu melhor e nós fizermos o nosso melhor, eles ganham" "É verdade que estamos entre os melhores do mundo, mas dentro do sistema que está implementado em Portugal estamos longe de ter as mesmas condições que os outros ginastas têm nos outros países", disse. "Quando colocamos as fasquia lá em cima, a falar em números de medalhas a conquistar -- tudo bem, é um discurso ambicioso que fica bem - mas pode depois dar nisto", alertou ainda o chefe da equipa de trampolins.

domingo, 17 de agosto de 2008

PORQUE É QUE SENDO O FUTEBOL O ÚNICO DESPORTO APOIADO, NÃO CONSEGUIU IR ÀS OLIMPÍADAS?

Os atletas portugueses não me desiludiram nas suas prestações nas olimpíadas em Pequim. Muito pelo contrário. E sempre em modalidades que o Estado não apoia. Porque só o futebol e a choldra que se movimenta à sombra do futebol é que é merecedora de apoios milionários. Como a dos tais estádios que iremos pagar com os nossos impostos por mais 20 anos, senão for mais. E o futebol são só escândalos atrás de escândalos, sempre sem consequências. Mas a selecção portuguesa de futebol nunca faz nada. Nem sequer se qualifica para as olimpíadas.
Só que depois temos os jornalistas a falarem em desilusão e decepção quando escrevem ou falam sobre os nossos atletas nas olimpíadas. Mas de quê? Eles fizeram o suficiente para serem qualificados, e o futebol não. Desilusão são os jornalistas que passam anos sem nunca se referirem a essas modalidades, das quais só se lembram aquando das olimpíadas. E depois forçam uma pressão psicológica sobre os atletas, que é indecente.
E Francis Obikwelu pediu desculpa aos portugueses. De quê? Ele está entre os 20 melhores do mundo. Já os jornalistas portugueses que escrevem as barbaridades sobre eles, e durante anos ignoram os atletas portugueses, nunca estão entre os melhores 100 mil do mundo. Nem nunca estarão. Mas enfim, estamos em Portugal e não se pode esperar nada melhor. É a vida.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

MANIFESTO SOBRE A PÁTRIA

Foi publicado no nº2, de Agosto de 1957, da revista «57», de que era Director António Quadros. Que tem um blog que lhe é dedicado, sempre com o link aqui ao lado. António Quadros é a pessoa, talvez única, que tenho pena de não ter conhecido pessoalmente e com ele privado. Do Manifesto escolhi e destaquei algumas passagens para aqui vos deixar à reflexão:

Aboliram a palavra do vocabulário e fecharam-na no recôndito mais profundo do subconsciente. Conhecem-na tanto como a receiam. Sabem que está lá, no seu lugar de exílio, sempre estranhamente viva, sempre estranhamente desperta. Dir-se-ia uma palavra mágica que eles têm medo de pronunciar, não vá ela pôr em movimento insuspeitadas forças. Se a encontram ao acaso de uma leitura, logo a repudiam com um frémito de ódio, de vergonha ou apenas de intranquilidade.
Disse-a Camões e eles deixaram-no morrer na miséria Disse-a António Vieira e eles condenaram-no. Disse-a Bruno e eles tentaram assassiná-lo. Disse-a Junqueiro e eles ridicularizaram-no. Disse-a Pascoais e eles sorriram de indulgência. Disse-a Leonardo e eles taparam os ouvidos. Disse-a Fernando Pessoa e eles não quiseram entender.
(…)
Porque a pátria não é intrusão do passado no presente, não é sentimentalismo atávico, não é resistência do hábito, não é cómoda posição de reacionários (sic) , não é «o conceito mais bestial e menos filosófico». A pátria é apenas a realidade e quem vira costas à realidade em nome de ideais abstractos, cai em utopias ingénuas , como a do «cidadão do mundo», como a dos estetas que explicam as suas frustrações por não viverem em Paris e não falarem francês, como a dos políticos que a todo o momento repetem a pergunta de um provinciano a Sócrates: é preferível ter nascido em Tebas ou em Atenas?
(…)
A pátria é a realidade. Todos têm uma pátria e é possível que um dia a pátria do homem seja o universo. Mas esse dia vem tão longe, é uma utopia tão distante que todo aquele que, nos nossos dias, pretenda desligar-se do condicionalismo do espaço e do tempo e agir e pensar como se não houvesse fronteiras, mais não consegue do que sair da sua pátria de origem e instalar-se numa pátria de adopção onde será sempre um intruso, onde será sempre um homem dividido e impedido de se realizar plenamente.
(…)
Porque esta é a ditosa pátria nossa amada e ao seu serviço aqui colocamos o nosso corpo, a nossa alma e o nosso espírito.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

SE OS COMBATENTES NÃO SÃO PRESTIGIADOS, ENTÃO DE CERTEZA QUE A PÁTRIA ESTÁ DOENTE.

Já me tenho por aqui repetido sobre a injustiça que é o tratamento e a consideração votada aos ex-combatentes. Ou seja, consideração nenhuma e tratamento insultuoso, porque me lembro sempre daquela importância ofensiva que é um tal de subsídio aos que estiveram no ultramar, como complemento às suas reformas. Degradante. Sobretudo se comparado com as reformas chorudas de politicas incompetentes e que nunca fizeram nada pela pátria.
Houve uma cerimónia, na Liga dos Antigos Combatentes, com os condecorados com A Torre e Espada, a propósito dos 200 anos desta condecoração. Sobre ela “passo a palavra” ao general Chitas Rodrigues. E o destaque azulado é da minha responsabilidade.


Este é o editorial de “O COMBATENTE” nº344, assinado pelo Tenente General Chitas Rodrigues

CRITÉRIOS CENSURÁVEIS OU CENSURA CRITICÁVEL?

Um batalhão de fotógrafos, imprensa e televisão compareceu na sede da Liga dos Combatentes no dia 13 de Maio. Visitava a Liga dos Combatentes, por ocasião do Bicentenário da Ordem da Torre e Espada Valor Lealdade e Mérito, Sua Excelência o Presidente da República.
A Liga iria homenagear os cidadãos portugueses condecorados com a Ordem da Torre e Espada e entregar-lhes o Diploma de Membros Honorários. Presentes, para além de alguns convidados, 15 portugueses, a quase totalidade dos cidadãos vivos agraciados e quinze instituições em cujo estandarte reluz a Ordem da Torre e Espada.
Entre os presentes, o General Ramalho Eanes e o Dr. Jorge Sampaio, Grandes Colares da Ordem.
Cerimónia única, de grande dignidade, evocativa de valores históricos e dos feitos dos nossos maiores.
Os órgãos de comunicação social (CS) trabalharam e tudo registaram. Qual foi o destino do produto final desses trabalhadores? Devem sentir-se frustrados! Nada verteu para o papel, o ouvido ou o olhar do cidadão!
Como compreender os critérios de uma CS que omite noticias (imprensa e rádio) ou fá-lo de maneira ofensiva da instituição que a recebe em sua casa (ver noticiários televisivos do dia!), referentes a uma cerimónia de comemoração dos 200 anos da Ordem da Torre e Espada, a que preside Sua Excelência o Presidente da República e onde estiveram presentes três dos quatro Presidentes da República pós 25 de Abril e a esposa do quarto, Jaime Neves, Marcelino da Mata, Lousada e tantos outros. Cerimónia rara onde se reuniu o conjunto de cidadãos que, ostentando a Ordem da Torre e Espada, a condecoração mais prestigiada do país, se perfilam entre os que mais influenciaram a História de Portugal nos últimos 50 anos e alguns deles influenciaram mesmo a História da Humanidade.
Quais os objectivos de certa CS que insiste em trazer aos portugueses os valores do medíocre e do acabrunhante e omite os feitos dos que da lei da morte se libertaram?
Como diz José António Saraiva, no Sol de 17/5/08, acerca da CS "um tema destes 'não' fazer manchete na imprensa dita 'séria' cobre-nos de ridículo e ilustra bem o estado do país".
Se o país vai mal como a dita CS revela sistematicamente aos portugueses, deve-se certamente a muitos de nós, mas em muito maior percentagem a uns do que a outros.
E aos critérios censuráveis ou à censura criticável de alguma CS, começa a dever-se bastante quanto ao actual estado anímico dos portugueses Honra ao Prof. Doutor João Carlos Espada que, na sua crónica do Expresso de 17/5/08, escolheu o tema para testemunhar a importância da Ordem e a dignidade e significado da cerimónia.
Honra à generalidade da imprensa regional do Portugal Profundo.
Estranho nos pareceu o silêncio ensurdecedor que caiu sobre a visita de Sua Excelência o Presidente da República à Liga dos Combatentes com a finalidade referida, sabido que, como diz o editorial do DN de 20 de Maio de 2008 "Cavaco decidiu mostrar o país que faz bem. Pôr os holofotes que ele sabe que o seguem, no que Portugal tem de melhor. Uma bela ideia."
Caros Combatentes e Membros da Liga dos Combatentes:

Só o fogo ardente
Abate o corpo
Que não a alma
Do Combatente!...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

AUTONOMIA CRÍTICA

O mundo está a transformar-se, e para pior. E esse pior já é bem conhecido. Os filmes vão-se reexibir.
Prepara-se a negação do próprio conceito de fenómeno cultu­ral. Os seus constituintes: conceitos como autonomia, espontanei­dade, critica, sofrem cassação. Autonomia: porque o sujeito, em vez de tomar decisões conscientes, integra-se, por obrigação e gosto, no preexistente; porque o espírito, que segundo a ideia tradicional de cultura deve criar a sua própria lei, experimenta a todo o instante a sua impotência perante as exigências avassaladoras do mero Ser. A espontaneidade retrai-se: porque o planeamento da totalidade subordina a emoção individual, pré-determina-a, rebaixa-a ao esta­tuto de aparência e deixa de tolerar aquele jogo de forças do qual se espera uma nova e livre totalidade. A crítica acaba por extinguir-se, uma vez que no decurso dessa actuação, modelo crescentemente inspirador da esfera cultural, o espírito crítico causa entraves como areia na engrenagem. Ele sugere qualquer coisa de antiquado, arm­chair thinking, irresponsável e sem préstimo. A relação intergeracio­nal inverte-se de forma bizarra: a juventude apela ao princípio da realidade e os mais velhos afundam-se nas delícias dos mundos inte­ligíveis.
Theodor W. Adorno, in " Sobre a Indústria da Cultura"

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

FUNDAMENTALISMOS NÃO RELIGIOSOS, EMBALAGENS DE REFRIGERANTES E COISAS AFINS.

Confesso que os fundamentalismos que varrem este mundo me irritam, e solenemente. Comecemos pela ASAE e similares na Europa, e não só. Tão comichosas que são com a higiene de embalagens e formatações das mesmas, como é que permitem aquelas embalagens de refrigerantes que têm uma forma de abrir que a tampa de abertura é impulsionada para dentro da embalagem ficando em contacto com o líquido? Tampa essa que está em contacto com o exterior e que pode estar contaminada com milhentas hipóteses de contaminação. Sendo a leptospirose a mais comum das perigosas contaminações possíveis. Essas ASAE tão lestas a fechar qualquer estabelecimento por isto e por aquilo, rendem-se ao poder de grandes multinacionais e fecham os olhos? E os organismos de defesa do consumidor? Que silêncio.
E depois as embalagens obrigatórias, sem a consequente implementação de selecção de resíduos. Outro fundamentalismo. De uma maneira geral quase tudo é aproveitável, reciclável. E se se agisse em conformidade diminuiria muito o esforço sobre a extracção de matérias primas. Para onde caminhamos? Que mundo estamos a tentar construir? Ou a destruir. Que Cisne Negro desviará a rota? E quando? E se em vez de um for um bando deles?

segunda-feira, 21 de julho de 2008

EVIDÊNCIA

Numa sociedade miserável, o que se redistribui é sempre a miséria. Em 30 anos, Portugal chegou até onde a realidade e a "Europa" lhe permitiram chegar. Embora com erros, com desperdício, com ineficácia, a Segurança Social, o Serviço de Saúde e mesmo o "sistema educativo" redistribuem mais do que nunca se redistribuiu em toda a nossa a história. Se a desigualdade continua é porque os 20 por cento de pobres não ganham o que deviam ganhar e não porque os 20 por cento de portugueses mais ricos paguem ao Estado menos do que deviam pagar. A desigualdade continua porque o país não produz, não exporta, não investe e não poupa; porque se endivida; e porque o Estado o desorganiza, corrompe e abafa. Isto é a evidência. Infelizmente, de quando em quando, convém repetir a evidência.
VPV, no Público de 18.07.2007

domingo, 20 de julho de 2008

NAS NOSSAS VIDAS PARTICULARES

Mas, se não podemos ser muito optimistas, não tombemos, por outro lado, no absoluto pessimismo. Ao lado de motivos de desânimo, há também motivos de esperança. O homem é e será sempre o homem; capaz do mal, mas também do bem; de matar e de salvar; de destruir e de construir. Há forças, poderes, factores aleatórios, correntes vitais e espirituais que nos ultrapassam e cuja direcção nos não é permitido perscrutar, a não ser por hipótese. Perante o nebuloso futuro deverá importar-nos principalmente o exprimirmos e projectarmos os valores que poderão tornar melhores os dias do porvir: os valores da verdade e de amor, de liberdade e de justiça, de espiritualidade e de beleza, que teremos de assumir estóica e corajosamente nas nossas vidas particulares, antes de os expandirmos e divulgarmos, seja sob que orientação acharmos preferível. E termino com mais uma esplêndida citação de Sampaio Bruno, esse pensador ainda tão mal conhecido dos próprios portugueses: " Tudo o que existe tem de passar, mas as gerações sucedem-se e é maravilhoso que, sendo tudo o mesmo, tudo é diverso."
António Quadros, numa carta a Afonso Cautela. Encontra-se no blog que lhe é dedicado, cujo link está aí ao lado, pelo que podem, e devem, sempre visitar esse blog.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A DEBILIDADE DAS LIDERANÇAS ACTUAIS É MUITO PREOCUPANTE

Afirmou o Prof. Adriano Moreira, ainda há pouco, logo pelo início da sua intervenção para o «I Fórum Açoriano Franklin D. Roosevelt», organizado pela FLAD. Numa muito interesssante comunicação: "A Reforma da Nato e as Relações Transatlânticas".
Antes, também o Prof. Medeiros Ferreira fez uma brilhante intervenção.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

TODO O MUNDO É COMPOSTO DE MUDANÇA

Foi até o pretexto para romper o Bloco Central. Mas logo a baixa do preço do petróleo e o dinheiro europeu vieram dispensar complicações. Pouco se fez e tudo correu bem. Só que, entretanto, o mundo mudou, e também neste país onde nada acontece algo vai ter de acontecer. Há quem não queira ver: uns por optimismo, outros por pessimismo. Abençoados.
Rui Ramos, ontem, no Público.

SURPRESA?

Foi este segundo caminho que Portugal percorreu, obviamente. E onde é que esse caminho nos levou? O próprio Constâncio o antecipou nesse discurso de Fevereiro de 2000: "Se e quando o endividamento for considerado excessivo, as despesas terão que ser contidas, porque o sistema financeiro limitará o crédito. O equilíbrio restabelece-se espontaneamente, por um mecanismo de deflação das despesas, e não têm que se aplicar políticas de ajustamento. A ressaca após um forte endividamento pode ter consequências recessivas." Esta recessão - que tecnicamente ainda não o é - adivinhava-se há oito anos e nada de relevante fizemos para a evitar. Surpreendidos com quê, afinal?
Do editorial do Público, de hoje, por Paulo Ferreira.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

ACERCA DE OFENSA

Excelente enunciação sobre o que é ofender feita por Luís Campos e Cunha, hoje, no Público, no seu artigo "QUERER NÃO É PODER":

Quarto tipo de reacções: ataques pessoais a mim próprio que sou Presidente da SEDES. A esses não vou responder mas refiro tão só que não ofende quem quer, ofende quem pode. E esses que tentaram, não podem, embora queiram: ser atacado, por certas pessoas e de certa maneira, faz currículo.

RESIGNAÇÃO? APATIA?

Um trecho do artigo "SALVAÇÕES" de VPV, publicado hoje no Público:
E há dia a dia na televisão a tristeza do país, que chora resignadamente a sua vida e fala em emigrar. O pessimismo português não degenerou numa visão apocalíptica da Pátria, nem sequer, como é costume, numa subespécie de messianismo. Ninguém espera do futuro nada de bom? Ninguém. E o medo voltou? Voltou. Só que não se manifesta. Portugal não reage às desgraças que lhe anunciam ou que já sofre. Parece que deixou de se interessar por si e que aceitará, inerme, o que vier. Venha o que vier será sempre tão mau (e tão inconcebível) que não vale a pena pensar nisso.
(...)
Portugal assiste ao seu fracasso (ou ao fracasso deste particular regime) com a mesma equanimidade com que o Ocidente assiste ao aquecimento do planeta, o fim próximo do petróleo, à expansão islâmica ou à real probabilidade de guerra.

terça-feira, 8 de julho de 2008

SÓ O INCERTO É CERTO

A nossa incapacidade de realizar previsões em ambientes sujeitos a Cisnes Negros (*), aliada à generalizada falta de consciência desta reali­dade, leva a que determinados profissionais, apesar de acreditarem ser especialistas, na verdade não o são. Com base no seu registo empírico não sabem mais sobre o seu objecto de estudo que a maioria da popu­lação, mas são muito melhores a dissertar sobre o mesmo – ou, pior, confundir-nos com modelos matemáticos complexos. Há também uma forte probabilidade de que usem gravata.
Nassim Nicholas Taleb, in "O CISNE NEGRO"
Da badana destaco a critica do "The Guardian": « O Cisne Negro é um estudo fascinante de como somos engolidos pelo inesperado.»
(*) Cisne Negro: acontecimento atípico, de impacto extremo e previsibilidade retrospectiva.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O DESCALABRO DE UM PAÍS

Não vou comentar para não nublar as palavras do Prof. Medina Carreira no programa Negócios da Semana da SIC Noticias. Oiçam com muita atenção este programa, aqui.

terça-feira, 1 de julho de 2008

SOBRE O DEVER

Escreve Helena Matos um excelente artigo, hoje no Público, aqui, intitulado «Os juízes não vão ao futebol?». Excelente e a não perder.
Dois trechos a destacar:

A esta mesma hora gostaria de saber onde estão e o que têm para dizer aqueles que, há treze anos, se opuseram à construção da barragem de Foz Côa. A barragem do Sabor tornou-se mais ou menos inevitável desde que se suspendeu Foz Côa. Na época ninguém fez contas aos custos económicos e ambientais da suspensão da barragem de Foz Côa. Um desses custos está agora aí na construção da barragem do Baixo Sabor e no quase apagamento do que aconteceu em Foz Côa.
(...)
Afinal quando foi a última vez que ouvimos um líder político falar de dever e deveres? De brio? E mais raramente ainda o que aconteceu à noção de responsabilidade dos altos cargos da administração pública?

sábado, 28 de junho de 2008

SÉCULO XXI

Mas o mais surpreendente é o facto de grande parte da população deste “Portugal Profundo” viver, de forma atávica, ainda em certa harmonia com o espírito destes lugares e enquadrada numa cosmovisão religiosa do mundo, absolutamente natural para ela. Esta ligação com os lugares é mantida através de tradições, cultos e lendas, mantendo-se ain­da vivos imensos vestígios de uma integração arcaica do ho­mem no cosmos, o que constitui um tesouro inestimável num mundo em fase acelerada de dessacralização (diríamos mesmo bestialização) da vida humana. Todavia, o homem é um ser reli­gioso por natureza (mesmo os sistemas chamados ateus têm os seus ídolos e as suas mitologias) pelo que, actualmente, e como reacção natural, emergem violentamente as chamadas patolo­gias do sagrado sob a forma de superstições religiosas alimen­tadas por líderes 'muito pouco religiosos', e por grupos es­piritualistas que seduzem o homem-exterior em lugar de pro­porcionarem a emergência da alma interior, o que é natural­mente doloroso para os hábitos entrópicos da personalidade. Com clarividência e alguma ironia, Carl Gustav Jung afirmou, em 1944: "Na realidade, não hesitamos em fazer as coisas mais absurdas a fim de escaparmos à nossa própria alma. Pratica-se a ioga indiana de qualquer escola, seguem-se regimes alimenta­res, aprende-se de cor a teosofia, rezam-se mecanicamente os textos místicos da literatura universal - tudo isto porque já não se consegue conviver consigo próprio e porque falta fé em que algo de útil possa brotar de nossa própria alma. Pouco a pouco esta última tomou-se aquela Nazaré da qual nada de bom se pode esperar, vai-se portanto procurá-la nos quatro cantos da terra: quanto mais distante e exótico, melhor". O eminente psicólogo colocou bem o dedo na ferida: o homem do terceiro milénio tem de restabelecer o diálogo com o seu inconsciente, tem de trazer à consciência o seu mundo mítico a fim de se auto-realizar, ou seja, deve levar a bom termo o seu processo de individuação abrindo-se à sua interioridade e dimensão espiri­tual. Por isso, André Malraux afirmou: "o século XXI será espiritual ou não será!".
Paulo Alexandre Loução, in "Portugal - Terra de Mistérios"

sábado, 21 de junho de 2008

O PROBLEMA ACTUAL DA UNIÃO EUROPEIA

O problema da União Europeia é o desfasamento que existe entre os políticos e as populações. A tentativa feita de aprovarem o Tratado de Lisboa à revelia das populações pode redundar no fracasso, a prazo, da União. Se as populações não estiverem envolvidas nos objectivos da União, mais tarde ou mais cedo, o preço vai ser pago. Não consultarem as populações nem auscultarem os seus anseios, determina, sem sombra de dúvidas, que não há sintonia entre as políticas e as aspirações das populações. E que não há confiança das populações nos seus políticos. Por isso estes fogem, como o diabo da cruz, das consultas populares. Mas, a prazo, augura-se o colapso “desta” Europa artificial. E é artificial porque não corresponde às perspectivas das populações europeias. Em boa verdade, sem consulta geral, não se sabe bem o que a população europeia pensa sobre a União Europeia e o que pretende para o futuro dessa União

sexta-feira, 20 de junho de 2008

HÁ FRASES ELUCIDATIVAS DOS DESASTRES

Uns dias depois do início do Euro 2008 ouvi um jornalista, de televisão (o que faz a sua diferença), dizer, em directo, por causa de haver muitos jornalistas não portugueses à volta da selecção portuguesa, que « o mundo estava rendido aos pés de Portugal». Claro que presunção e água benta cada um toma a que quer, mas elucida como há derrotas pré anunciadas. A de ontem só pecou por tardia. Mas a parvoíce dos declamadores de baboseiras vai continuar. Hoje, dia dos discursos de redenção, não vão faltar frases imbecis. Mas um estado que tende, rapidamente, para estado exíguo, nunca tem ninguém rendido a seus pés em nenhum aspecto. Só a mediocridade nacional tem essa capacidade de visão.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A MEDIOCRIDADE É A CONSTANTE DA EQUAÇÃO PORTUGUESA ACTUAL

O grande problema nacional é a mediocridade e a resignação à mediocridade.

José Saramago, em entrevista ao Público de 15.06.2008.

terça-feira, 17 de junho de 2008

DE GARGALHAR! OU ENTÃO DE CHORAR.

Helena Matos há muito que me habituou a excelentes artigos. Hoje, no Público, o seu artigo "A GARGALHADA" está acutilante. Destaco os seguintes trechos:
Ninguém se levantou, ninguém pediu a palavra para dizer ao secretário de Estado que os presentes, ou pelo menos alguns deles, não consideram que a integração nas escolas comuns seja benéfica para todas as crianças deficientes. Não aconteceu nada daquilo que seria previsível numa democracia. Simplesmente os presentes desataram a rir. Este riso é o mais claro sintoma do descrédito que se instalou na sociedade portuguesa.
(...)
Agora que o sortilégio se quebrou, os outrora beatíficos assistentes riem. Não por falta de educação. Muito menos por desprezo. Riem com aquele riso que se cruza com o choro e que nos diz que já não há nada a fazer.
(...)
Entretanto os cidadãos estão presos entre as gargalhadas de uns e as milícias dos outros. Mas ao contrário do que José Sócrates declarou na Assembleia da República, o Estado não está frágil. O Estado simplesmente esvaziou-se das suas funções tradicionais, o que levou a que os mais fracos não só ficassem ainda mais fracos, como a que se instaurasse um sentimento de impunidade. Este é o Estado que não só não consegue ter uma justiça credível, como fez da negação do crime uma verdade oficial. Um Estado que reduziu os cidadãos à condição de contribuintes. Um Estado que não consegue ter um discurso adulto e claro sobre o papel das suas forças armadas. O Estado que detesta as pequenas e médias empresas, mas que adora atribuir estatutos PIN à meia dúzia dos seus eleitos. O Estado que Sócrates sentiu frágil é o Estado forte que faz andar as suas forças policiais de café em café a ver se alguém está a fumar, mas que depois é de facto incapaz de impedir um bloqueio de estradas. Até há algumas semanas seria mais provável que o Estado português se assanhasse para apurar a cor das facas, a qualidade do carvão, o tipo de grelhadores e a marca dos detergentes usados no churrasco feito pelos camionistas para celebrar o fim do bloqueio do que com o bloqueio propriamente dito. O Estado não só não está frágil, como tem usado e abusado da sua força contra os cidadãos. O que era e é frágil, muito frágil mesmo, são as ideias que residem na cabeça de quem nos tem governado. Na verdade nem são ideias. São simplesmente castelos erguidos pela propaganda. A realidade murcha-os e o sopro duma gargalhada fá-los ruir.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

UMA FRASE A MEDITAR

Os factos estão a confirmar o aviso que a utopia das sociedades afluentes e consumistas fez esquecer. Mas a mensagem da mansidão dificilmente será reverenciada se os factos confirmarem os alarmes.
Adriano Moreira, DN, 10 de Junho de 2008.
A geoestratégia terá de ter sempre em conta os avisos bem ponderados.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

PORTUGAL TERRA DE MILAGRES

No entanto, o que é isso tudo junto, se se confirmar que houve milagre lá para os lados de Vitorino de Piães, Ponte de Lima, a terra de Ana Maria, a funcionária de junta de freguesia que o país todo viu entrevada nas televisões devido a lombalgia e cervicalgia degenerativas. Agora o presidente da junta - haverá em Portugal alguém mais importante do que um presidente da junta? - diz-se desconfiado, porque lhe disseram que a senhora "já anda, conduz e vai à missa". Milagre? Conto do vigário? Efabulação mediática? Abuso de poder?Nada disso.
Hoje, do editorial do Público, por José Manuel Fernandes.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A DESESPERANÇA DA JUVENTUDE

Muitas vezes temos por aqui divagado sobre o futuro, se é que o futuro seja algo sobre que possamos divagar, sobre os anseios e frustrações da juventude. É um tema recorrente. Ontem o Presidente da República referiu que um país onde as instituições não sejam fiáveis, que não cresça e não inove, criando riqueza e oportunidades para todos, que não tenha uma escola de onde saiam elites capazes de integrar a sociedade do conhecimento e lidar com as tecnologias mais avançadas, nem confia no seu próprio futuro, dificilmente vencerá. Mas ele foi 1º Ministro durante anos e teve um Ministro da Educação que foi o Couto dos Santos. Já o devia ter entendido então.
E lembrei-me de Lawrence Grossberg. Da Actual do Expresso, de Sábado passado, de um texto de António Guerreiro, destaco um trecho significativo:
Hoje, as pessoas não só acham que não vale a pena gastar dinheiro com os jovens como há mesmo uma ideia bastante difundida de que são potencial­mente criminosos. A imagem idealizada da juventude dissociou-se dos próprios jo­vens.» E acrescenta: «O futuro entrou em colapso, desapareceu ou já só existe como imagem catastrófica. Os estudantes, e os jo­vens em geral, têm um grande receio, quan­to ao seu futuro, coisa que não acontecia na minha geração. E esta luta pelo futuro con­some tudo. O problema, hoje, é o da sobrevi­vência, não há espaço nem tempo para a imaginação.»

sábado, 7 de junho de 2008

ESTA ATÉ DÓI

'A penalização por não participares na política, é acabares a ser governado pelos teus inferiores'.



Platão

quinta-feira, 5 de junho de 2008

POLÍTICA

A política foi primeiro a arte de impedir as pessoas de se intrometerem naquilo que lhes diz respeito. Em época posterior, acrescentaram-lhe a arte de forçar as pessoas a decidir sobre o que não entendem.
Paul Valéry, in "Olhares Sobre o Mundo Moderno"

sexta-feira, 30 de maio de 2008

O NOSSO PATRIOTISMO

O patriotismo emocional é um fogo de palha, que ora se inflama à notícia de um efeito desportivo, ora se afunda por completo ao aceitar sem um assomo de resistência as leis, os actos de governação, as propostas polí­ticas, culturais ou estéticas mais radicalmente avessas aos interesses nacio­nais, à vontade de regeneração segundo a identidade portuguesa ou às tra­ves mestras da nossa estrutura cultural.
O patriotismo familiar, habitual e espontâneo não é suficiente para fundamentar uma convicção patriótica resistente, coerente e à prova de todos os exteriores, modas e ideologias deformadoras. Ele exige na verdade, ao seu nível e para além dele, a religação àquilo a que poderíamos chamar o patriotismo racional de elites conscientes do significado dos valores que nele se representam. A comunhão colectiva do patriotismo, para não degenerar em fanatismo, em psicologia de rebanho ou em vacuidade sentimen­tal à flor da pele, depende da capacidade intelectual de uma geração para formular a sua própria patriosofia: religação a um centro axiológico, inte­lectual e criacionista do qual derivem, como em círculos que se esbatem quanto mais dele se afastem, as formas mais ou menos despertas de tal convicção.O que na realidade se esbateu ou desapareceu quase por completo entre nós não foi o patriotismo emocional que, por ser insuficiente, é muitas vezes manipulado por ideólogos e demagogos de má fé, foi a relação fun­damental da substância e dos princípios da identidade pátria com a sua razão teleológica em movimento, relação que um dia corporizou no projecto áureo português, centro vital e motor de tradição lusíada, e que aguarda a reactivação ou a renovação sempre possíveis desde que se cumpram as imprescindíveis condições.
António Quadros, in "PORTUGAL, Razão e Mistério - I"
O muito que eu devo a este português, que nunca conheci. Infelizmente, julgo que a grande maioria dos portugueses não conhece nada da sua obra. O que faz de todos nós um povo paupérrimo.

NINGUÉM

Ninguém, das dezenas de pessoas que por este blog passou, colocou um comentário ao facto de um bébé de 15 dias ter ido para Lisboa sem a sua mãe, para o hospital D. Estefânia. Eu já sabia que a fome, as guerras, as misérias e os desplantes servidos a acompanhar o jantar pelos telejornais, estupidificam as populações. Mas não esperava que retirassem a capacidade de se indignarem. Estava enganado. Já se perdeu essa capacidade. Paciência. É a vida.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

HOJE, UM BÉBÉ ...

Foi para Lisboa, para o Hospital da Estefânia. Tem 15 dias. A mãe não foi, por falta de capacidade económica, e a ajuda da assistência social é insuficiente para estar em Lisboa. Um bebé de 15 dias foi sem a sua mãe. Quando, no continente, criticarem algumas coisas nas ilhas, e algumas até serão justas, pensem primeiro no que é a insularidade, sobretudo num país como o nosso. Em que os deputados se auto-aumentam nas despesas de representação. Mas representam o quê?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

E PORQUE É QUE NÃO SE FALA DE QUEM CONDUZIU O PAÍS PARA O DÉFICE EXCESSIVO?


Todo o mundo fala dos sacrifícios que o país tem de fazer, em reduzir o défice, etc.. Mas dos culpados que, por políticas totalmente erradas e desajustadas da realidade, conduziram o pais para esse beco, ninguém fala. Todos assobiam para o lado como se não fosse nada com eles. É a vida, foi a única resposta que ouvi sobre o assunto. Podem fazer asneiras que o povo só pode julgar nas eleições. E asneira feita, paciência. Culpados? Que é isso? E o país não se revolta? “Gentinha morna”, como nos classificou Mercia Eliade, no seu «Diário Português».

sexta-feira, 23 de maio de 2008

ESBOROAR

É, quanto a mim, o termo que melhor define o Portugal actual. As pontes caem. O interior despovoa-se. Não há nenhuma estratégia nacional seja para o que for. E internacional é melhor nem falar. A ignorância passou a ser apanágio do ensino. Dos professores e dos alunos. Não temos frota. Não temos governantes capazes. Não se faz manutenção eficaz das estruturas existentes. Já não temos vergonha. Temos 1/5 da população mergulhada na pobreza absoluta. E mais 2/5 a caminho dela. Os ministros mentem e os portugueses já acham normal. Portugal está em guerra civil nas estradas. Mas não com a corrupção. Os monumentos, parcos e serôdios estão no desmazelo. Um tribunal, relativamente novo tem de ser abandonado por que pode desmoronar. Não há culpas, e nunca responsáveis. Os orçamentos é que derrapam. O país está a esboroar-se. É o termo certo. ESBOROAR. E só me lembrei de um pai chinês que desfazia em pó, esboroando, com as suas mãos, os materiais com que a escola, que sepultou o seu filho, tinha sido construída. O que falta para os pais portugueses fazerem o mesmo?

quinta-feira, 22 de maio de 2008

O CAMINHO

Andamos sempre a deambular à volta da grandeza ou da pequenez de Portugal. No fundo o máximo que podemos aspirar é discutir se somos ou não o último dos 25. Que caminhos percorremos até aqui chegar? VPV deu uma excelente resposta a esta deambulação no seu último artigo no Público Domingo passado:
Um dia, em 1977 ou 1978, Diogo Freitas do Amaral, um jovem patriota de grande fervor, disse que um povo - como o nosso -, que tinha descoberto o caminho marítimo para a Índia, era com certeza capaz de descobrir o caminho para o desenvolvimento. Nunca me esqueci desta frase, porque, no fundo, se descobrimos o caminho marítimo para a Índia, foi precisamente porque não descobrimos o caminho para o desenvolvimento.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

NOS TEMPOS DO ABSURDO

Continuando na linha que venho desenvolvendo não posso deixar de colocar aqui um trecho de uma entrevista, no Expresso do passado Sábado, a D. Manuel Martins.

A forma de actuar da Igreja mudou...
Hoje, a nossa Igreja é um arquipélago. Vive-se para a liturgia, não é evangeliza­dora. Acho que a Igreja não está a «funcionar», a comportar-se como Jesus quer. Já ninguém sai da missa «incomo­dado» na sua consciência com a litur­gia... A Igreja perdeu a capacidade de «sujar» as mãos com a vida dos homens. A Igreja deveria manifestar-se mais. Por vezes, acredita mais no Belmiro de Azevedo e outros, anda pendurada em dependências... A Igreja evangeliza por sinais e a nossa, em Portugal, não tem dado sinais.

Que sinais são precisos?
Que a Igreja seja pobre. Gostava de uma Igreja que não condenasse, que dialogas­se, que derrubasse muros, que comungas­se os problemas do mundo, que ouvisse os clamores das pessoas e lhes soubesse responder. Quero uma Igreja que apren­da com o mundo e descubra uma maneira nova de estar.

Como é que a Igreja deveria estar no mundo?
No ano 2000 (Ano do Jubileu do Cristianismo), os bispos queriam dar um sinal; Achei que deveríamos ter encerrado as igrejas para fazer uma reflexão de renovação. Senão enquista-se, torna-se empresa. Gostava, que os pobres notassem que a Igreja está incomodada com a sua situação... Os bispos deveriam reunir-se para reflectir os problemas que existem, como deveríamos sensibilizar as comunidades. Mas nas assembleias episcopais vão discutir mais um catecismo, mais uma edição da Bíblia. O arcebispo de Braga (presidente g Conferência Episcopal) lamenta-se que o Governo quer a Igreja na sacristia; só quando se sente que «tocam» na Igreja é que se diz alto que não está bem... É preciso que Igreja se converta ela mesma à dignidade humana. Nas homilias fala-se dos marginais, mas não se faz nada com eles.

E porquê tanta inacção?
Preferimos andar «nisto», que não incomoda da ninguém... As pessoas da Igreja já perderam capacidade de protesto. Por exemplo perante a lei de trabalho que querem colocar em vigor, não percebo como é que a Igreja se cala, diante de uma agressão tão grande aos direitos da pessoa humana! É iníquo a Igreja calar-se. Dói-me que a Igreja ande entretida com coisas outras e não se empenhe numa questão tão importante para a vida da população, do país. Antes de tudo, é preciso que a Igreja se converta a ela mesma. A Igreja tem de estar num esforço permanente de reconversão. Depois Ela tem de sair para a rua, para que povo note que está ao serviço do Homem. Toda esta descoberta da dignidade funda-se na democracia, que passa pela vivência e pelo testemunho de uma descoberta de valores e estamos muito longe de qualquer coisa a que se possa chamar de democracia

terça-feira, 13 de maio de 2008

SEMPRE CONSTANTE

O tempo é constante mudança. A percepção que temos desse tempo, da intuição dessa constância e da inflexibilidade dessa mudança é que nos predispõe para o futuro. Se distinguimos o suficiente, então vamos na onda. Senão, vamos empurrados pelas vagas sucessivas das ondas. Arreigados a um conservadorismo de tempos estáveis, seremos arrastados pela avalanche determinada pelo fluir das pressões acumuladas, e resultantes dos egoísmos de partilha. Eterno é o tempo, mas constante nessa eternidade é a mudança. Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar. Assim se badalava na década de 60. Mas ignorámos. Era mais cómodo. Diria mesmo que era mais aconchegante, mais fetal. Não ousámos e nem lutámos pela defesa de princípios. Agora parece que já ninguém tem coragem para o fazer. Defenderam princípios, mas quiseram enriquecer. Ou simplesmente enriqueceram descurando os princípios. O eterno antagonismo. Princípios e enriquecimento não são compatíveis.

(Como não fazem comentários, apesar de por aqui passarem a ler, julgo que estes temas não são agradáveis. Julgo que futebol facilitaria mais.)

E hoje volta a citar uma excelente dissertação, "DIÁLOGOS ABSURDOS - O silêncio traduzido em gritos pelos monstros de Samuel Beckett", de Sara Massa. Espero que seja a última citação dela. A próxima será a minha crítica sobre a excelente dissertação.
As personagens beckettianas revelam-se através do seu próprio discurso, na primeira pessoa (segundo um modelo autodiegético), de modo fragmentário e de difícil compreensão, estendendo o seu discurso por tempos e espaços indefinidos, e esquecendo-se, ainda que propositadamente, de agir. A verdade é que todas parecem estar conscientes do absurdo que está subjacente à nossa existência e, por conseguinte, buscam, incessantemente, mas com naturalidade, o silêncio e o nada. O que Beckett nos mostra é, em última análise, um reflexo daquilo que realmente somos, mas aquilo que mais nos espanta ao lê-lo, hoje, é a dificuldade que a humanidade manifesta em se rever naquelas personagens monstruosamente belas.
É hora de nos olharmos com coragem neste espelho que são as obras de Samuel Beckett. Só quem se conhece pode conhecer os outros e pode permitir-se sonhar compreender melhor o mundo. Deixarmo-nos esquecer, alienarmo-nos das reflexões mais sérias e, por isso, mais exigentes sobre a natureza e responsabilidade humanas, e ignorarmos que a nossa dignidade reside única e exclusivamente na capacidade de pensar o tempo é o mesmo que desumanizarmo-nos, embrutecermo­ -nos, deixarmos de ser um belo monstro, para nos transformarmos em mais um dos autómatos amontoados nas sucatas deste planeta. Não o faremos. Tentaremos compreendere-nos). Beckett acredita que temos de continuar. Continuemos...