quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

ONDE NOS LEVA O PASSAR DOS ANOS?

O passar dos anos leva-nos sempre a olhar para a nossa juventude. À idade dos sonhos, da esperança e da crença na vida. Todos nós sonhávamos com uma vida. Julgávamos que iríamos ter uma vida que objectivássemos. Todos tínhamos quimeras para além dos amores idílicos. Eu ainda passei a minha juventude no tempo da dita “outra senhora”. E acho esta expressão aberrante. Que raio de senhora. Vivi a minha juventude no fim da 2ª República. Com sonhos e com amores. Como todos os da minha geração. Que era uma geração insatisfeita. Com a República, não com o país. Mas tínhamos esperança num futuro melhor, até já íamos vivendo melhor.
Depois veio o 25 de Abril e esta 3ª República. Uma explosão energética de esperança. Eu acreditei piamente que iríamos ter um país melhor, não rico, mas melhor. Muitos acreditaram. Muitos viveram em esperança. Mas depois começou-se a perceber que muitos queriam acreditar que iríamos ter um país rico e que isso é que era o melhor. De repente destapou-se uma caixa de Pandora. A cupidez saltou no seio dos portugueses. O civismo e a solidariedade eram inexistentes. Passaram todos a tentar ser ricos à custa de qualquer coisa ou à custa de qualquer valor. A grande maioria, como é óbvio, não o conseguiu, bem pelo contrário. Mas admira secretamente, ou mesmo publicamente, os que enriqueceram, sabe Deus como, mas sempre apoiados no erário público, no compadrio, no tráfico de influências, na corrupção, em que todos colaboram nem que seja pela omissão gerada pelo seu silêncio. A subserviência reinstalou-se há muito. Só que se antes ela era imposta, permitia a manutenção de uma dignidade enclausurada. Hoje, num país que se julga livre, essa subserviência ou é cobarde ou interesseira à espera de colher dividendos. Em melhor análise é cobarde e interesseira ao mesmo tempo.
Os portugueses expuseram-se como cidadãos sem carácter. Como cidadãos predispostos a qualquer coisa para alcançarem algo. Nem que seja para trepar por cima doutros. Só que neste caldo ambiental de cidadania tosca só os piores de todos, os mais medíocres se safam. Porque são os piores de todos. Despidos de escrúpulos, de barreiras morais, minaram para destruir o país a um ponto tal que ele ficasse indolente e lerdo, de forma a que o possam sugar do interior, tal como o fazem aqueles insectos que sugam os sucos das suas presas. É neste estado e sugado por medíocres que o país se encontra. E por culpa de todos nós.
Passados todos estes anos onde estão os sonhos? Diluídos na agrura. Mas a ESPERANÇA onde ficou? Perdida ao longo destes meandros todos. E que se diz à juventude de hoje? Que esperança temos nós onde eles possam reflectir? Nenhuma. Nenhuma. As gerações anteriores tinham esperança, e nela nos embebemos. Mas nós onde claudicámos?
No espaço que demos aos medíocres sem carácter.
Os medíocres conseguiram ocupar os lugares todos. Ignorantes, incompetentes, mesmo imbecis, mas estão lá. Só se escolhem uns aos outros. Quantos mais medíocres mais úteis são uns aos outros. Protegem-se, e essa é sem dúvida a sua força. Mas nunca deixam de ser medíocres.
De que resulta que Portugal é um país medíocre.
E os sonhos e os amores? Os sonhos são a alma da nossa descrença e os amores são memórias fotográficas, das que restaram, criando uma ilusão de vida, que teria sido tão amarga como a real, pois os medíocres sempre se encarregaram disso.
E nós cá andamos a cuidar dos medíocres. Devíamos expulsá-los do templo à chicotada, mas em vez disso apaparicamo-los, chamamos-lhes doutores mesmo que só tenham o 11 º ano ou uma licenciatura comprada, veneramo-los, atenciosamente, acatamo-los e tememo-los.
Um país livre? Cheio de medrosos e merdosos?
O olhar para a nossa juventude, já nos magoa. Não porque a perdemos ou porque ficou lá para trás. Mas porque desiludimos. A nós próprios e aos que vieram depois de nós. Afinal os portugueses não passam de uma cambada de sacanas, tentando viver da Chico-espertice (o presidente Sampaio homologou o conceito num seu discurso). E que tentam sempre sacar alguma vantagem, mesmo lambendo os medíocres que os pisam.
Os nossos sonhos, hoje, já não são futuro, já são passado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem!!
E, infelizmente, é o retrato real do país que iremos deixar aos nossos filhos.

andorinha disse...

Assino por baixo, amigo.
Tristes tempos os nossos...

Beijo.