terça-feira, 13 de maio de 2008

SEMPRE CONSTANTE

O tempo é constante mudança. A percepção que temos desse tempo, da intuição dessa constância e da inflexibilidade dessa mudança é que nos predispõe para o futuro. Se distinguimos o suficiente, então vamos na onda. Senão, vamos empurrados pelas vagas sucessivas das ondas. Arreigados a um conservadorismo de tempos estáveis, seremos arrastados pela avalanche determinada pelo fluir das pressões acumuladas, e resultantes dos egoísmos de partilha. Eterno é o tempo, mas constante nessa eternidade é a mudança. Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar. Assim se badalava na década de 60. Mas ignorámos. Era mais cómodo. Diria mesmo que era mais aconchegante, mais fetal. Não ousámos e nem lutámos pela defesa de princípios. Agora parece que já ninguém tem coragem para o fazer. Defenderam princípios, mas quiseram enriquecer. Ou simplesmente enriqueceram descurando os princípios. O eterno antagonismo. Princípios e enriquecimento não são compatíveis.

(Como não fazem comentários, apesar de por aqui passarem a ler, julgo que estes temas não são agradáveis. Julgo que futebol facilitaria mais.)

E hoje volta a citar uma excelente dissertação, "DIÁLOGOS ABSURDOS - O silêncio traduzido em gritos pelos monstros de Samuel Beckett", de Sara Massa. Espero que seja a última citação dela. A próxima será a minha crítica sobre a excelente dissertação.
As personagens beckettianas revelam-se através do seu próprio discurso, na primeira pessoa (segundo um modelo autodiegético), de modo fragmentário e de difícil compreensão, estendendo o seu discurso por tempos e espaços indefinidos, e esquecendo-se, ainda que propositadamente, de agir. A verdade é que todas parecem estar conscientes do absurdo que está subjacente à nossa existência e, por conseguinte, buscam, incessantemente, mas com naturalidade, o silêncio e o nada. O que Beckett nos mostra é, em última análise, um reflexo daquilo que realmente somos, mas aquilo que mais nos espanta ao lê-lo, hoje, é a dificuldade que a humanidade manifesta em se rever naquelas personagens monstruosamente belas.
É hora de nos olharmos com coragem neste espelho que são as obras de Samuel Beckett. Só quem se conhece pode conhecer os outros e pode permitir-se sonhar compreender melhor o mundo. Deixarmo-nos esquecer, alienarmo-nos das reflexões mais sérias e, por isso, mais exigentes sobre a natureza e responsabilidade humanas, e ignorarmos que a nossa dignidade reside única e exclusivamente na capacidade de pensar o tempo é o mesmo que desumanizarmo-nos, embrutecermo­ -nos, deixarmos de ser um belo monstro, para nos transformarmos em mais um dos autómatos amontoados nas sucatas deste planeta. Não o faremos. Tentaremos compreendere-nos). Beckett acredita que temos de continuar. Continuemos...

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigada!
Sara