quarta-feira, 6 de agosto de 2008

AUTONOMIA CRÍTICA

O mundo está a transformar-se, e para pior. E esse pior já é bem conhecido. Os filmes vão-se reexibir.
Prepara-se a negação do próprio conceito de fenómeno cultu­ral. Os seus constituintes: conceitos como autonomia, espontanei­dade, critica, sofrem cassação. Autonomia: porque o sujeito, em vez de tomar decisões conscientes, integra-se, por obrigação e gosto, no preexistente; porque o espírito, que segundo a ideia tradicional de cultura deve criar a sua própria lei, experimenta a todo o instante a sua impotência perante as exigências avassaladoras do mero Ser. A espontaneidade retrai-se: porque o planeamento da totalidade subordina a emoção individual, pré-determina-a, rebaixa-a ao esta­tuto de aparência e deixa de tolerar aquele jogo de forças do qual se espera uma nova e livre totalidade. A crítica acaba por extinguir-se, uma vez que no decurso dessa actuação, modelo crescentemente inspirador da esfera cultural, o espírito crítico causa entraves como areia na engrenagem. Ele sugere qualquer coisa de antiquado, arm­chair thinking, irresponsável e sem préstimo. A relação intergeracio­nal inverte-se de forma bizarra: a juventude apela ao princípio da realidade e os mais velhos afundam-se nas delícias dos mundos inte­ligíveis.
Theodor W. Adorno, in " Sobre a Indústria da Cultura"

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