quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A POBREZA DE ESPÍRITO É A QUE MAIS NOS AMASSA

Já várias vezes tocamos, por aqui, na questão da pobreza. Agora nos últimos dias reacendeu-se a questão. E cada vez mais premente. O país está num caos. Somos o único país da EU que regrediu, enquanto os outros progridem. Milhões de Euros desbaratados. E esse é outro tema. Mas centremo-nos na pobreza. O injectar dinheiro directo nos pobres não os retira da pobreza. O Rendimento Mínimo Garantido, ou agora Rendimento de Inserção Social (RIS) foram, e é, mais um foco de incremento de pobreza do que resolução de problemas. Havia, e há, todas as razões para se criar meios de se gerar riqueza, de fazer o país progredir. Mas falhou-se redondamente. Estádios de futebol, projectos sobre projectos milionários para obras que nunca foram ou serão feitas. Projectos mal concebidos, cadernos de encargos trouxas e custos de obras que sempre derrapam, normalmente para mais do dobro. Esta é a miséria portuguesa.
Mas depois, por causa de tudo isto, temos baixos salários, pouca qualificação, crianças carentes, com fome e pouco cuidadas. Para não falar, mais uma vez, no desastre que é a instrução pública e da perversidade de todos os seus actores. Injectar dinheiro para não passarem fome não resolve o problema. Ficam dependentes e subservientes dessa migalha. Acomodam-se a isso. E responsabilizam sempre o estado para os manter, mesmo que em péssimas condições. As crianças vão à escola não para se qualificarem, mas sim para que os pais não percam o RIS. Adolescentes grávidas que ficam dependentes do RIS, e que continuam a engravidar. O estado até dá casas. Que depois não podem manter em condições. Continuam sempre a empobrecer. E não vão trabalhar porque, e com razão, os salários são tão baixos que o RIS consegue igualá-los, desvalorizando, assim, o trabalho. Tudo vai empobrecendo. E acalentados pela mediocridade instalada por todo o lado, que, porque medíocres, não são capazes de nada solucionar, vai-se resvalando para o abismo. A classe média também vai empobrecendo. Também já vai ao banco alimentar. Somos todos pobres. Porque incapazes de nos organizarmos e termos um governo eficaz; porque não conseguimos anular os medíocres que nos sufocam; porque não conseguimos contrariar uma inacção que nos deixa letárgicos, como se já estivéssemos debilitados pela fome; porque, estúpidos, admiramos a corrupção e os que enriquecem e se “nobilitam” através dela; e porque estamos prenhes de pobreza de espírito.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

ONDE NOS LEVA O PASSAR DOS ANOS?

O passar dos anos leva-nos sempre a olhar para a nossa juventude. À idade dos sonhos, da esperança e da crença na vida. Todos nós sonhávamos com uma vida. Julgávamos que iríamos ter uma vida que objectivássemos. Todos tínhamos quimeras para além dos amores idílicos. Eu ainda passei a minha juventude no tempo da dita “outra senhora”. E acho esta expressão aberrante. Que raio de senhora. Vivi a minha juventude no fim da 2ª República. Com sonhos e com amores. Como todos os da minha geração. Que era uma geração insatisfeita. Com a República, não com o país. Mas tínhamos esperança num futuro melhor, até já íamos vivendo melhor.
Depois veio o 25 de Abril e esta 3ª República. Uma explosão energética de esperança. Eu acreditei piamente que iríamos ter um país melhor, não rico, mas melhor. Muitos acreditaram. Muitos viveram em esperança. Mas depois começou-se a perceber que muitos queriam acreditar que iríamos ter um país rico e que isso é que era o melhor. De repente destapou-se uma caixa de Pandora. A cupidez saltou no seio dos portugueses. O civismo e a solidariedade eram inexistentes. Passaram todos a tentar ser ricos à custa de qualquer coisa ou à custa de qualquer valor. A grande maioria, como é óbvio, não o conseguiu, bem pelo contrário. Mas admira secretamente, ou mesmo publicamente, os que enriqueceram, sabe Deus como, mas sempre apoiados no erário público, no compadrio, no tráfico de influências, na corrupção, em que todos colaboram nem que seja pela omissão gerada pelo seu silêncio. A subserviência reinstalou-se há muito. Só que se antes ela era imposta, permitia a manutenção de uma dignidade enclausurada. Hoje, num país que se julga livre, essa subserviência ou é cobarde ou interesseira à espera de colher dividendos. Em melhor análise é cobarde e interesseira ao mesmo tempo.
Os portugueses expuseram-se como cidadãos sem carácter. Como cidadãos predispostos a qualquer coisa para alcançarem algo. Nem que seja para trepar por cima doutros. Só que neste caldo ambiental de cidadania tosca só os piores de todos, os mais medíocres se safam. Porque são os piores de todos. Despidos de escrúpulos, de barreiras morais, minaram para destruir o país a um ponto tal que ele ficasse indolente e lerdo, de forma a que o possam sugar do interior, tal como o fazem aqueles insectos que sugam os sucos das suas presas. É neste estado e sugado por medíocres que o país se encontra. E por culpa de todos nós.
Passados todos estes anos onde estão os sonhos? Diluídos na agrura. Mas a ESPERANÇA onde ficou? Perdida ao longo destes meandros todos. E que se diz à juventude de hoje? Que esperança temos nós onde eles possam reflectir? Nenhuma. Nenhuma. As gerações anteriores tinham esperança, e nela nos embebemos. Mas nós onde claudicámos?
No espaço que demos aos medíocres sem carácter.
Os medíocres conseguiram ocupar os lugares todos. Ignorantes, incompetentes, mesmo imbecis, mas estão lá. Só se escolhem uns aos outros. Quantos mais medíocres mais úteis são uns aos outros. Protegem-se, e essa é sem dúvida a sua força. Mas nunca deixam de ser medíocres.
De que resulta que Portugal é um país medíocre.
E os sonhos e os amores? Os sonhos são a alma da nossa descrença e os amores são memórias fotográficas, das que restaram, criando uma ilusão de vida, que teria sido tão amarga como a real, pois os medíocres sempre se encarregaram disso.
E nós cá andamos a cuidar dos medíocres. Devíamos expulsá-los do templo à chicotada, mas em vez disso apaparicamo-los, chamamos-lhes doutores mesmo que só tenham o 11 º ano ou uma licenciatura comprada, veneramo-los, atenciosamente, acatamo-los e tememo-los.
Um país livre? Cheio de medrosos e merdosos?
O olhar para a nossa juventude, já nos magoa. Não porque a perdemos ou porque ficou lá para trás. Mas porque desiludimos. A nós próprios e aos que vieram depois de nós. Afinal os portugueses não passam de uma cambada de sacanas, tentando viver da Chico-espertice (o presidente Sampaio homologou o conceito num seu discurso). E que tentam sempre sacar alguma vantagem, mesmo lambendo os medíocres que os pisam.
Os nossos sonhos, hoje, já não são futuro, já são passado.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

E AGORA VÃO FALAR A VERDADE?


Sobre isto escrevemos em Novembro de 2006, aqui. O título foi “A CARICATA APREENSÃO DE ARMAS EM S. MIGUEL”. Que achámos ridícula. E de facto foi tudo isto. E agora que o processo foi mandado arquivar por inconsequente, e as armas daquele “arsenal bélico” já devolvidas ao proprietário, o que resta? Resta repor a verdade. Houve tanta celeridade em fazer alarido, em fazer exposição mediática exagerando a perigosidade de uma colecção de canivetes e de meia dúzia de armas de colecção, que denotou o ridículo da ignorância de quem deu corpo ao alarido. Só não se viu celeridade, mesmo nenhuma, em repor a verdade, ou pelos menos em noticiar o arquivamento do processo. Denota-se que não houve pudor nenhum em tentar enxovalhar o bom nome de uma pessoa. Tentar. Porque quando uma pessoa é de honra limpa, as tentativas não atingem. De referir que ainda há pouco tempo foi agraciado com a medalha de prata por serviços distintos em cerimónia militar pública no quartel dos Arrifes, pela mão do Comandante Operacional do Exército, General Pina Monteiro. Para todos nós, o visado, a família e os amigos fica a mágoa da bestialidade dos jornalistazecos (nunca confundir com os Jornalistas). O Sr. Coronel continua bem, dedicando-se à História Militar dos Açores. Porque é um Homem de bem. Continua com a sua missão. O que é uma mais valia para os Açores.
Quanto à velhacaria que lhe fizeram, quem o fez que se penitencie ou pela inveja, ou pelo desdém, ou pela cobardia, ou pela deficiência de carácter, mas que não se sinta obrigado a pedir desculpa pessoalmente. Porque se o fez por uma das características que enunciei atrás, entende-se que não tenha estatura moral para pedir desculpa pessoalmente.
E os jornalistazecos vão repor nos jornais onde vomitaram disparates, a verdade?

domingo, 10 de fevereiro de 2008

GEOESTRATÉGIA NÃO É SÓ POSICIONAMENTO

Como alguns aprendizes de feiticeiro vão por aqui debitando. Rowan Williams, por ou sem o querer, demonstra-o. E para mim, mais uma vez, fica evidente que quem não se quer defender, sucumbe. A Europa adormeceu à sombra da protecção dos EUA, e no embalo do primado do direito. Que é bonito, assenta-lhe bem. Mas se outros não considerarem esse primado do direito europeu, como reagirão os europeus? Já uma sociedade envelhecida, amolecida, apática e com uma juventude desnorteada. Reagirão? A partir daqui um exercício teórico sobre geoestratégia e geopolitica, mas feito com a análise das estratégias em curso na actualidade. Para quem gosta, claro.
Como achega um pequeno trecho, logo no início, de "Eurico, o Presbítero" de Alexandre Herculano:
«A civilização, porém, que suavizou a rudeza dos bárbaros era uma civilização velha e corrupta. Por alguns bens que produziu para aqueles homens primitivos, trouxe-lhes o pior dos males, a perversão moral

sábado, 9 de fevereiro de 2008

PENSAR PORTUGAL

A propósito dessa foto 2 posts atrás, não resisto a revisitar António Quadros. Uma das pessoas que pensou Portugal. O link do blog que lhe é dedicado está aí ao lado.

O finalismo e o a-finalismo do nosso sistema educativo

(…) ao estudar, o fim do aluno é hoje «passar o exame», «ter o diploma» - e nada mais. O seu objectivo é quase unicamente utilitarista. Pretende o diploma porque o diploma dá acesso a posições social e economicamente compensadoras. Daí a sua total obediência, para não dizer escravização, à ciência do professor, que pode ser falsa, incompleta, desactualizada, pervertida e burocratizada, mas que não constitui para o aluno mais do que «o obstáculo que é preciso transpor», sem análises nem afirmações de personalidade que estariam deslocadas. Por sua vez, o professor, uma vez instalado na sua posição liceal ou universitária, limita a sua acção ao ensino de um conjunto de conhecimentos especializados, sujeitando inteiramente o aluno, ou a uma preguiça que o impede de actualizar-se constantemente no seu ramo de saber, ou a uma incapacidade intelectual para transcender o «conhecimento do compêndio», ou à especifica direcção cultural do seu espírito (…) observa-se que, ao longo dos anos da sua aprendizagem, o aluno apenas estudou para os sucessivos exames com que pretenderam medir a sua memória e a sua inteligente maleabilidade às atitudes culturais e espirituais mais diversas; e que esta diversidade heteróclita, acumulada nos anos cruciais da sua evolução mental, o levaram a deter-se cepticamente à beira dos grandes problemas da existência, não os vivendo heroicamente, mas, pelo contrário, substituindo, em todas as ocasiões, a verdade pela utilidade e pelo interesse.(…) o aluno universitário sabe mais do que o liceal – mas não sabe melhor. Ao obter, finalmente, o seu diploma de curso superior, o licenciado olha para trás e lamenta o tempo que perdeu em todas as matérias que fogem à sua especialização. Essas matérias assemelham-se às peças de «puzzle»: mas nunca as conseguiu reunir e agora já é tarde. Não se lhe apresentaram como «necessárias», como harmoniosamente ligadas, como tendendo, com a lógica indestrutível dos acordes diferentes, mas unidos, de uma sinfonia, para um mesmo objectivo.Licenciado, pode vir a ser um bom especialista, um bom profissional. Como homem, porém, será o que os caprichos da sua existência extra-univertária dele fizeram: família, cultura literária, influência de formas artísticas, amigos, formação religiosa ou política…E como estes factores sociais sofrem da mesma crise, espelhando a errada formação escolar básica, o resultado é a vida, em todos os seus planos antropológicos, cosmológicos ou teológicos, se reduzir à vida de cada um; cada homem passa a considerar-se o princípio e o fim de todas as coisas, a razão do «ego» domina as outras, a existência é um campo de batalha, não entre o bem e o mal, mas entre o «eu» e os «outros».

António Quadros, in «A Angústia do nosso tempo e a crise da universidade»

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

É A LEI DO ETERNO FUGIR, UNS A NÃO VEREM OUTROS A NÃO SABEREM, TODOS A NÃO SEREM. VIVA PORTUGAL.

Este título é o remate de um artigo do José António Barreiros, no seu blog "A Revolta Das Palavras". Aqui. Mas vale bem a pena ler os três artigos neste blog dedicados ao regicídio.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O DESASTRE DA INSTRUÇÃO PÚBLICA


É um tema recorrente neste blog. Já muito clamei contra as equivalências. Atentem nesta foto e digam-me lá se não tenho razão.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

DANÇA LENTA

Corre na net como tendo sido escrito por uma menina em New York, num hospital .....
Que seja ou não. Aqui fica DANÇA LENTA.

Alguma vez você já observou crianças num carrossel?
Ou ouviu a chuva batendo no chão?

Alguma vez já seguiu o vôo errático de uma borboleta?
...ou fixou o olhar no sol no crepúsculo?

É melhor você diminuir o passo.
Não dance tão depressa......o tempo é curto, a música vai acabar...

Você corre através de cada dia voando?
Quando você pergunta “Como vai?” Você escuta a resposta?

Quando o dia finda, você fica deitado na cama, com os próximos afazeres rolando por sua cabeça?

É melhor você diminuir o passo.
Não dance tão depressa......o tempo é curto, a música vai acabar...

Você disse alguma vez a uma criança: “Vamos deixar para fazer isto amanhã?”
E na sua pressa, não viu a tristeza dela?

Perdeu contato, deixou uma boa amizade morrer porque você nunca tinha tempo para ligar e dizer “Oi” ?

É melhor você diminuir o passo.
Não dance tão depressa......o tempo é curto, a música vai acabar...

Quando você corre tão depressa para chegar a algum lugar,
você perde metade da satisfação de chegar lá.

Quando você se preocupa e se apressa em seu dia todo,
é como se fosse um presente que não foi aberto... um presente jogado fora!

A vida não é uma ... corrida...

Leve-a mais devagar...

... Ouça a música...

... Antes que a canção ACABE!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A LEITURA GEOESTRATÉGICA IMPLICA PERCEPÇÃO TRIDIMENSIONAL

Recomendo, e muito, a leituta do artigo "Leituras Equívocas" de Adriano Moreira, publicado no DN de 29-01-2008. Aqui fica um trecho:
As leituras respectivas da conjuntura parecem estar a revelar-se equívocas: equívocas quanto à sustentabilidade do unilateralismo assumido pela antiga liderança americana, que dá sinais de uma relação fragilizada entre as capacidades humanas e financeiras disponíveis para apoiar a dimensão dos objectivos assumidos; equívocas quanto à sustentabilidade de que o reassumido nacionalismo do Kremlin necessita para concretizar o conceito estratégico que mais vai revelando pelas acções do que por uma clara enunciação.O resultado inquietante é que as intervenções desenvolvidas por cada uma dessas potências, que foram responsáveis pelo equilíbrio da guerra fria, não podem isolar-se do globalismo estrutural. Ambas terão de reconhecer que as suas decisões soberanas não evitam que esse globalismo, para o qual contribuíram decisivamente, se tenha convertido num condicionamento severo da sua circunstância. Pelo que de novo se cruzam e embaraçam os trajectos que assumiram, pelo que toca ao perigo para a paz geral que nasce das leituras equívocas a servirem de promessa às políticas nacionalistas.