sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

LUCIDEZ REFLEXIVA

Próprio do intelectual, no mais autêntico sentido da palavra, foi sempre opor a reflexão - liberdade do pensamento que se pensa pensando o próprio e o alheio -, à pressão das forças ou dos poderes dominantes no tempo e no lugar. Para sermos mais rigorosos, deveremos antes dizer: à pressão da dialéctica das forças ou dos poderes dominantes. Efectivamente, há uma dialéctica impositiva que atrai muitas pessoas a rejeições e opções, mas que a lucidez reflexiva, quando não a sabedoria arcaica ainda vivaz no inconsciente colectivo, mostra processar-se tangencial ao pleno movimento do homem, do cosmos e do espírito.
(...)
Nos países ibéricos ou ibero-americano, tal dialéctica de irreflexões ou des-razões, provocada pelo desequilíbrio de uma educação que deixou de estar vinculada à filosofia para se enfeudar à política, enquanto esta se absolutizou como fim, foi a responsável pelo estado de guerra total ou virtual em que passámos a viver a partir de meados do século XVlll.
Dois trechos retirados do prólogo de «O ESPÍRITO DA CULTURA PORTUGUESA», de 1966. Uma grande obra de um GRANDE português: António Quadros. Ao lado está um link para um blog que lhe é dedicado. Recomendo a leitura, na integra, desse prólogo. E depois o livro todo, obviamente. Só estes dois trechos dão para uma reflexão sobre a política e sobre a instrução pública. E podemos aquilatar do desastre que foi o tratamento displicente da disciplina de filosofia no ensino.

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