sexta-feira, 19 de março de 2010

JÁ NÃO CHEGA

«Riqueza em Portugal já não chega para pagar dívidas ao estrangeiro.»
É o titulo da notícia, aqui, do Diário Económico.

segunda-feira, 15 de março de 2010

TEMPOS SIMILARES







Em Março de 2007 já publiquei a capa desta revista. Repito hoje porque se deve reflectir na data da revista e na legenda da foto. Vivemos tempos de crise, de que temos uma boa imagem no artigo citado no post anterior.
São tempos para reflexão. Reflictam mas não me citem o passado. O que fomos, fomos. Mas já não somos. Discursos sobre pseudo glórias não nos levam a lado nenhum. Fazem-se demasiados discursos sobre como fomos grandes, sem que nunca se diga qual a escala de grandeza por onde se pautam nessas afirmações.
Temos de reflectir no que somos, hoje. Porque estamos na situação em que estamos. Não serve só falarmos de medidas de austeridade. Deve-se exigir as razões da má gestão e pedir responsabilidades a quem tomou medidas erradas. Ou continuamos a pactuar com as impunidades e os enriquecimentos ilícitos? E para que é que eu estou para aqui preocupado com estas questões? Para nada. A maioria dos portugueses preocupa-se é com os resultados do futebol e com a cor do carro dos jogadores. Ah!, e também com o que comem ao almoço antes dos jogos. Que deve ser algo importante, por as televisões estarem sempre a falar nisso, mas eu não percebo a importância do tema.
Tenho receio pelo futuro. É um tema constante por aqui. Temo que os mais novos irão pagar um preço demasiado elevado pela estupidez das gerações anteriores. Não só económico. O preço mais caro será pago pelo mau uso, actual, da democracia.

E FOI DITO

Por Rui Moreira, no JN de 13.03.2010, no excelente artigo «DAR O DITO POR NÃO DITO». A ler aqui. Um retrato real deste governo.

segunda-feira, 8 de março de 2010

SUCESSO OU FELICIDADE?

Pode ser um problema que se ponha. Hoje em dia a educação e a instrução das crianças, dos jovens, tem muito a componente do sucesso. Nenhuma componente para a felicidade. E aqui estou sempre a referir-me à civilização ocidental, tal como é aceite este conceito. Circula muito na net um mail, com várias variantes, com o tema «Como é que nós sobrevivemos?». E esta sobrevivência tem a ver com os cuidados e cautelas que hoje existem, e que há uns 30 e mais anos não existiam. As pessoas eram mais pobres, com menos utensílios para consumir, mais solidárias e mais livres. Isto pode parecer estranho. Mas as crianças, há 30 e muitos anos atrás, eram mais soltas na sua criação. O espaço público não lhes estava vedado e, no meio das suas obrigações, que incluíam estudar e trabalhar, tinham tempo para brincar. Eu disse trabalhar? Disse. Trabalhar ainda não era um estigma para a juventude. Corria-se, pulava-se, esfolava-se e ria-se. Depois também não se tinha competição na escola. Se alguém tinha um 14, ainda bem. Se alguém tinha um 10, ainda bem, também. Ter negativa é que era triste, e não fazia a alegria dos outros a infelicidade de alguém. Os professores também ainda não eram ignorantes. Não se buscava um tal de sucesso com avidez, nem cupidez. Vivia-se a vida. E era-se feliz, sem que se buscasse essa felicidade na extremidade de qualquer arco-íris. Talvez para as raparigas esses tempos ainda não fossem tão bons, porque não lhes era dada a liberdade que os rapazes tinham. Hoje esse problema não se põe para elas.
Mas hoje qual é a existência das crianças e dos jovens? Tiraram-lhes a liberdade. Já não brincam. Há por aí uns gurus da educação, com padrões estereotipados, que deturparam os objectivos da educação. As crianças têm de ser sempre vigiadas. A segurança impõe isso. Deixou-se chegar a insegurança e a ineficiência da justiça ao actual estado. Não usam o espaço público, a não ser em manifestações de manada, e para serem cool, sempre na perspectiva do pai, ou da mãe, ou de ambos se ainda estiverem casados. Depois a criança tem de ter sucesso. Ou seja, tem de vir a ter um percurso para ganhar muito dinheiro, para ter um muito bom carro, para exibir, uma muito boa casa, que na prática pouco usa, por só lá dormir, uma casa no Algarve, onde se esfalfa para lá chegar no seu muito bom carro, para voltar ainda mais cansado do que foi. E tem de ter uma parafernália de objectos eléctricos e electrónicos para exibir às visitas, mesmo que pouco proveito tire deles, e é quando os sabe manejar em pleno. E para alcançar esse sucesso tem de competir. Mesmo que não queira nem lhe apeteça. Tem de competir. Que é o que os paizinhos fazem com as suas crianças, competem com os outros pais. E competem na escola, na música, no ballet, na ginástica, na natação, na esgrima, no coro da igreja e na má educação. Competem. Não brincam. Sempre fechados em casa, onde são feitos prisioneiros da segurança, do conforto, e da competição. Têm tudo ao seu dispor para se poderem valorizar, no seu sucesso, lá em casa. Têm uma vida vazia de existência. Vivem um mundo virtual. Começam mal e acabam pior. Podem ganhar dinheiro, mas não se realizam. Podem ter sucesso, mas não passam de uns patifezinhos. E depois serão incapazes de se relacionarem de forma estável e não virtual. Irão sempre reproduzir, nos filhos, que entretanto terão no acaso, ou para fazerem parte do sucesso exibicionista, já no limite biológico para o fazerem, os mesmos modelos idiotas com que foram criados. Em cidades frias de humanismo, egoístas, onde só se pode subsistir na rua integrando um bando. Aqueles cujos pais não tiveram sucesso, ou dinheiro, esses estão mesmo na rua. Não competem, lutam. Têm de sobreviver. Para isso, lutam. Os de sucesso, egoístas, pouco lhes importam os da rua. Eles, formatados, vão tentar ter tudo. A qualquer preço. Carro, casa, filhos, posição, marido/mulher com influência e um par. No fundo, infelizes. Prisioneiros dum sistema que alimentam. Estragando uma sociedade que só podia evoluir com homens livres.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O PERIGO DA HISTÓRIA ÚNICA

AQUI

MEDINA CARREIRA DISSE TUDO, EM ENTREVISTA

O DR. Medina Carreira disse tudo o que havia para dizer sobre Portugal em meia hora. Está dito. Ponto final. Pode ver aqui, com calma, no site da RTP. Ouvir e analisar. Meditar sobre o assunto. Ninguém pode é ignorar o estado do país. Poder, até podem, mas depois não se queixem.

quinta-feira, 4 de março de 2010

NADA DE NOVO

Um excelente poema de uma boa amiga, datado de 1999. Já publicado no seu blog, O JARDIM DA ASPÁSIA.


CARTA @ AMIG@

Olá, Amig@, resolvi escrever-te
só para dizer... que não há nada de novo.

Olha, saí, meti-me no carro
e chegando ao semáforo seguinte
vi o mesmo pedinte
com que há anos deparo.
Dei-lhe uma moeda de vinte.

Na fila de trânsito,
vi as mesmas caras agressivas
por dentro dos vidros embaciados.
Sorrisos não vi, nem expressões vivas:
só olhares cansados.

Também quis entrar no café,
mas era tal a fumaça lá dentro
que achei melhor adiar o momento
e fugi dali a sete pés.

Deu-me para comprar o jornal,
mas também não sei para quê:
já ontem, na TV, disseram tudo igual.

Parece que o principal
é que caiu um avião no Mar do Norte.
Mas olha, tiveram sorte:
dos noventa só morreram vinte e tal,
incluindo um doente de Sida, por sinal,
a quem já tinham lido a sentença de morte.

Os pais do rapaz até deram graças
por ele ir de repente
e não o verem mais pela casa
a morrer lentamente.
Das famílias dos outros vinte e tal
é que não sei o que disseram,
não vinha no jornal,
talvez não tenha sido tão sensacional.

Como vês, vai tudo normal.

Passei ali pelos arredores
e lá estavam os arrumadores
à porta do Centro Comercial
a arrumarem os senhores doutores.
Também estavam uns ciganos vendedores
discutindo com eles um espaço vital
para estenderem no chão uns cobertores
onde exporem o material.
Mas apareceu um carro da polícia
e debandaram todos por igual.

Enfim, virão tempos melhores.

De saúde, olha, vou assim-assim,
uns dias pior, outros menos mal.
Que se há-de fazer? É fatal.

E assim cheguei ao fim.
Como vês, não há nada de especial.
Fica bem, ou, pelo menos, tu também, menos mal.

Beijinhos da

L.

(Leonor 1999)

quarta-feira, 3 de março de 2010

QUERIDA PÁTRIA

Um ex-combatente o escreveu. Está publicado aqui, no blog dos ex-combatentes da Guiné, e não só. Todos os ex-combatentes, estou certo, se revêem neste poema. E com mais certeza subscrevem o que ele expressa. A opinião sobre os políticos actuais é, de certeza absoluta, a mesma.


QUERIDA PÁTRIA

Ó meu querido País
Que tanto te tenho amado
Eu tanto por ti sofri
Só por ti eu ter lutado …

Querida Pátria Portuguesa
Dos tempos que por ti lutei
Passando fome e sede
E por ti também chorei …

Portugal minha Pátria
Que linda Bandeira é
Por ela também lutei
Fui para a guerra prá Guiné …

SANGUE SUOR E LÁGRIMAS
Sacrifícios sem igual
Gritos de raiva e de dor
Pra defender Portugal …

Sangue colorindo o chão
Tanto sangue derramado
Foi essa nossa missão
Por ter Portugal honrado …

Foi sangue nos combates
Lá na guerra derramado
Mas eu cumpri o que jurei
Pela Pátria ser Soldado …

Suor tanto suor
Em caminhadas a pé
Suor e tanto suor
Pela Pátria na Guiné …

Suor pelo clima
Naquele perigo então
Foi o sangue e o suor
Pra defender a Nação …

Lágrimas de sofrimento
Para a Pátria defender
Eram lágrimas de tristeza
Por camaradas morrer …

Lágrimas na juventude
Por nossa Pátria amar
Naquela guerra maldita
Lá naquele Ultramar …

Por ti Pátria lutei
E jurei por ti morrer
Como tantos camaradas
Na Guiné a combater …

Até fome eu passei
Sacrifícios sem igual
Com camaradas cantei
O Hino de Portugal …

Em matas eu caminhei
Em picadas percorri
Por ti Portugal lutei
Cansado não desisti …

Angola Guiné Moçambique
O sofrimento constante
Lutando por ti ó Pátria
E tu Pátria distante …

Dias e noites caminhei
No cacimbo e ao calor
Só Deus sabe o que passei
Lutei por ti com amor …

Por ti eu não tinha medo
Naquela guerra metido
Quando à Pátria regressei
Senti meu dever cumprido …

Naquela guerra metido
Rapazes da mesma idade
Foram anos que perdemos
Sem gozar a mocidade …

Hoje velhos combatentes
Cansados mas a combater
A Pátria nos desprezou
E só nos quer ver morrer …

Cansadinhos vamos vendo
Os heróis que na verdade
É quem anda a roubar
A matar e é cobarde …

Ó nossa Pátria querida
Não fomos heróis e lutámos
Com traumas hoje vivemos
Tristes mas ainda te amamos …

Hoje velhos combatentes
Temos Lutas a travar
Porque a Pátria que amamos
Essa nada nos quer dar …

Sucessivos governantes
Prometem e nada dão
Querem tudo para eles
São abutres da Nação …

Nesta Pátria os heróis
São os que jogam à bola
Que lutam pelo País
De calção e camisola …

Os heróis deste País
Com fortunas lá na terra
São heróis que jogam bola
E nós não fomos na guerra …

Nós não fomos heróis
Mas com bravura lutámos
Pela Pátria demos tudo
E traumatizados ficámos …

Nós não fomos heróis
Da guerra que não se esquece
A Pátria nada nos dá
A Pátria nem nos conhece …

Governantes que prometem
Só porque não nos quer ver
Sabem pois ser mentirosos
Não sabem o que é combater …

Não sabem o que é a guerra
Atacam bem de palavras
Não conhecem os heróis
E mesmo as espingardas …

Não vivemos em paz
E com a idade a avançar
Exigimos o que é nosso
Estamos sempre a lutar …

Nós que estamos cansados
Devíamos de descansar
E a Pátria que defendemos
Ela nos está a matar …

A Nossa familia sofre
Por nos ver a nós sofrer
A familia é a mesma
Que nos viu ir combater …

Estes nossos governantes
Que nos tentam iludir
Mandam outro para a guerra
Mas eram eles a ir …

Muitos de nós na miséria
Com ompostos a pagar
Para abutres do governo
Que ganham sem trabalhar …

Somos nós ex-combatentes
Camaradas da Nação
E os que não nos conhece
Sabem que temos razão …

Somos Nós deste País
Que mal nos tem tratado
ORGULHOSOS COMBATENTES
POR TER PORTUGAL HONRADO …

Albino Silva
Soldado Maqueiro
N.º 011004/67
CCS/BCaç 2845
GUINÉ 68/70
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