sábado, 13 de junho de 2009

A CRISE É DE COMPETÊNCIAS

Vejam o início de um artigo da autoria do sr. J. de Faria Machado, publicado na «ILLUSTRAÇÃO CATHOLICA» no dia 2 de Março de 1918, no numero 244 - Anno V.




Vivemos positivamente aos encontrões. A crise é de competencias, Ninguem se prepára para a lucta da vida, mas todos se dispõem a vencer . A diffusão do ensino egualou as ambições mas como foi, e é ministrado incompetentemente, desgraçadamente, longe de preparar homens, impulsionou arrivistas, e repercutindo os seus effeitos na grande massa, tem funestas consequencias. O ensino não educou, confundiu. Foi ao campo, à officina e arrancou lhe braços, desviou vocações, torceu destinos. A instrucção ficou á superficie, como uma nodoa, alastrando ambições. A burocracia foi tomada d'assalto e relegado para o canto inutíl, a industria e o trabalho profissional.
O homem do campo já remediado empurrou o filho para longe da sua esphera d' acção, desligou-o da tradição, que foi durante seculos a força propulsora da nossa industria rural. Desligou-o da terra, apartou-o do seu meio e do seu destino e em vez de o educar para o amanho da terra onde poderia prosperar, enriquecer, cultivando intelligentemente, dominando a rotina, atirou-o para o Iyceu, Arrastou sete annos de cabulagem e á custa d'empenhos. de suplicas, de subserviencias, lá foi até Coimbra onde reeditou a mesma calamitosa illustração d' empenhoca e fez-se Bacharel. Um dia encontrou-se com o tradicional canudo cheio de cartas e com o espírito vazio d'ideas, muito cheio de palavra pomposas mas inteiramente despido d'aptidôes. E como não podia advogar, ingressar na magistratura, concorrer a qualquer emprego, o que necessitava, estudo, conhecimentos, illustração, lançou-se abertamente na politica e começou a sua vida aos encontrões. Como não podia selientar-se pelo talento impoz-se pela população. Foi o instrumento cego do cacique, perseguiu, tripudiou, e quando não pode ser intelligente foi cruel, quando era preciso ter criterio mostrou simplesmente ferocidade, Podendo ser um homem foi um capacho.
Mas prosperou, subiu. Aos encontrões a tudo e a todos, minando intrigas, odiento, servil, correu a hierarchia politica e um dia o acaso, os seus serviços, as suas tranquibernias, fizeram-o notar dos chefes - foi Ministro. Sem um plano, sem uma idêa, cortou largo nas reformas nacionaes, legislou á toa, governou ao acaso, não teve escrupulos, não teve receios e ... , venceu.


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Agora digam lá se não andamos, sempre, ano após ano com os mesmos amargos.



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