quarta-feira, 21 de abril de 2010

E a Alemanha veio ao de cima desde a reunificação.

Conectando algumas opiniões dissipa-se o nevoeiro.:

Eu detesto teorias da conspiração, mas esta preocupação, para não dizer perseguição, das agências de rating à economia portuguesa, que representa apenas 1% na economia europeia, faz pensar que o que está verdadeiramente em causa é o euro. Depois da Grécia, segue-se Portugal. A seguir virá provavelmente Espanha, depois a Irlanda, quem sabe a Itália... Como se tem visto, o euro está a acusar esta instabilidade e tem-se vindo a depreciar face ao dólar.
É claro que parte da responsabilidade cabe à própria União Europeia. A resistência da Alemanha, por razões de política interna, em apoiar a Grécia está na base da turbulência. Frases vindas de Berlim como "não vamos deixar a Grécia afogar-se, mas em vez de soltar já a bóia de salvação, vamos primeiro procurar que chegue a terra sozinha" são de uma enorme irresponsabilidade. Depois, a ideia de envolver o FMI no apoio aos gregos transmite uma imagem de impotência e incapacidade da União Europeia para ajudar os membros do euro a resolver os seus problemas, sendo necessário recorrer a ajuda externa. O que daí decorre, obviamente, é que o bloco europeu não é capaz de defender a sua moeda, pelo que o ataque ao euro vai certamente prosseguir, testando os limites da resistência da eurolândia.
NICOLAU SANTOS, no Expresso de 27 de Março

Ou me engano muito ou mandar a Grécia para os braços do FMI é um verdadeiro 'golpe de misericórdia'. Como os gregos não parecem ter o discernimento de concluírem eles próprios que não podem continuar no euro, e os alemães querem evitar o que não deixaria de ser considerada uma falta de cortesia, mandando-os embora, ou me engano muito, ou o FMI acabará por resolver o problema.
DANIEL BESSA Texto publicado na edição do Expresso de 27 de Março de 2010


O ministro das Finanças da Alemanha (e a seguir Angela Merkel) propôs que países da eurozona que não cumprissem as suas obrigações de rigor pudessem ser expulsos dela. A ministra das Finanças de França verberou a política macroeconómica da Alemanha: salários baixos e exportações altas prejudicam a França e os outros parceiros do euro. Porque o eixo franco-alemão não sobreviveria a confrontação constante os desequilíbrios existentes terão de ser corrigidos. Será difícil e a cigarra vai ganhar um pouco mais à formiga. Entretanto, o vice-primeiro-ministro grego, furioso com tiradas moralistas de Berlim, acusou os alemães de nunca terem devolvido o ouro roubado ao Banco da Grécia durante a ocupação nazi. A culpa ainda não está expiada.
José Cutileiro
Texto publicado na edição do Expresso de 20 de Março de 2010

O general inglês lorde Ismay, primeiro secretário-geral da NATO, a quem perguntaram para que servia a organização, respondeu: Para ter os americanos dentro, os russos fora e os alemães em baixo. (…) Os americanos já não estão tão dentro da Europa Ocidental quanto Ismay entendia ser prudente que estivessem. Os russos, por sua vez, já não estão tão fora dela quanto Ismay gostaria de os ver. (…) E a Alemanha veio ao de cima desde a reunificação. (…)… convém lembrar que o projecto europeu começou com a Alemanha de rastos e desenvolveu-se enquanto ela ganbava forças. A questão que se põe é - como vai a construção europeia adaptar-se a uma Alemanha forte? Ou, melhor, como vai uma Alemanha forte adaptar-se à construção europeia? Não sabemos ainda.

José Cutileiro
Texto publicado na edição do Expresso de 27 de Março de 2010




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