domingo, 20 de abril de 2008

O PASSADO CABE TODO NUM LIVRO DE 600 PÁGINAS, ENTALADO NUMA PRATELEIRA.


Um amigo meu não gostou da frase com que terminei o post anterior. Pode-se não gostar, mas é a realidade para onde nos encaminhamos. O nosso passado sobrevive nos discursos de circunstância, para fatalmente referirem que “nós já fomos” isto e aquilo. Fomos, mas nunca que somos ou seremos. Falta a crença. E falta muito o querer. Sobretudo a um povo que vive acossado entre manobras de vigaristas sem escrúpulos.
Por isso o passado já só vive nas páginas de livros e nas saudades nostálgicas de alguns. Que até chegam a ter saudades de si próprios, do que foram face ao que se transformaram, nuns acomodados. E a juventude desligou-se da memória do país. Não lê, não estuda e até já tem professores que são ignorantes. O que era previsível. A ignorância vai reproduzindo-se. E o tal livro cada vez mais entalado na prateleira. E se a juventude não tem memória colectiva, também não tem valores pátrios nem futuro colectivo. Irá ficar, bem como o país, à mercê das contingências externas, mas sem referências que a permitam posicionar-se face a essas contingências. Dramático? Não. A evolução dos povos determina que há sempre uma decadência algures no percurso. Já somos um país velho e sem garra. Se esvaímos a boa seiva, naturalmente que a árvore tenderá a definhar. É da natureza. A não ser que haja um bom tratamento “botânico” por “agrónomo” credível, a árvore definhará sem remissão. Ficará o livro com uma memória encerrada nas suas páginas.

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