quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A SEM RAZÃO DO ORGULHO DOS QUE SE JULGAM INOVADORES

As gerações nunca aprendem na experiência alheia: só à custa do próprio sofrimento, dos própios êxitos e dos próprios insucessos, cada geração encontra, dolorosamente ou triunfalmente, os seus caminhos. Nem as circunstâncias dos tempos se repetem - embora às vezes sejam parecidas. Mas o que o conhecimento do passado proporciona à cultura de uma época é o esclarecimento das origens, da evolução, da razão de ser de formas de vida actuais, de ideias correntes, de instituições vigentes, mostrando certas constantes da Humanidade, as limitações da imaginação terrena e a sem razão do orgulho dos que se julgam inovadores.


Marcello Caetano, in "Marcello Caetano no exílio - Estudos, Conferências e Comunicações"

domingo, 23 de novembro de 2008

A FARSA

Em exibição contínua no «Teatro Portugal», com os melhores actores em hipocrisia seráfica.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

CEM OEZDEMIR

Um amigo dizia-me que não entendia em que é que o post "Que fizeste do teu irmão" continha geoestratégia. De facto é matéria difícil. Mas se conseguirem apreender a problemática da imigração, verão que tem muito de geoestratégia. O não se ter actuado em tempo, e no sítio certo, tem os custos elevados que o mundo ocidental da Europa e da América do Norte vão pagar. E a médio prazo vão perder a matriz da identidade. Cem Oezdemir é o novo líder de "Os Verdes" alemães e é de origem turca. E é um bom exemplo do que disse atrás. Honra e glória a ele. Esperando que os novos líderes da europa, de origem imigrante como ele, sejam tão competentes como Oezdemir. Mas serão eles a impor as regras. O império romano vai, definitivamente, cair. Porque os "outros" merecem derrubá-lo.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A REGRA

«A questão da fidelidade dos povos em relação ao Príncipe, é mais discutida em função da manutenção do poder do que da legitimidade da obtençãodo mesmo. E a regra é que o amor depende dos súbditos, mas impôr o receio depende do Príncipe.»
Adriano Moreira, NICOLAS MACHIAVEL: A CIÊNCIA POLÍTICA, in "10 Livros que Mudaram o Mundo".
Se as pessoas percebessem que as democracias têm principesinhos ..... !

(Este post já tinha sido publicado em março de 2006)

QUE FIZESTES DO TEU IRMÃO?


Frei Bento Domingues, no Público de Domingo, pôs em destaque esta pergunta no seu artigo.
Entendi focar aqui um trecho pela acuidade da análise de frei Bento.

2.Recebi, no entanto, um reparo bem áspero: "Deixe-se de mortos e cuide dos que, hoje, vivem mal." Esta observação não se inscreve, apenas, numa crítica à religião - que já vem do século XIX e percorreu o século XX - enquanto alienação intelectual, antropológica, psíquica e socioeconómica. A uma religião sem mundo parecia suceder um mundo sem religião. Era uma nova crença: na medida em que se forem resolvendo, de forma científica e técnica, os nossos problemas mais palpáveis, as religiões irão perdendo terreno e acabarão por desaparecer.A crítica mais certeira das falsas devoções veio, porém, do interior da própria religião, de alguns profetas do antigo Israel que Jesus Cristo radicalizou. Quem beber nessa Fonte e se aquecer a esse Lume será sempre confrontado com a mesma pergunta: "Que fizeste do teu irmão?"Quando nos referimos às religiões, pensamos, de imediato, em sistemas culturais e simbólicos, em credos, em dogmas, em ritos, em organizações mais ou menos hierarquizadas e em normas morais. Ao dizer isto, devemos ter cuidado, pois as religiões são diversas, multifuncionais e podem ser utilizadas para o melhor e para o pior: para fazer a paz e para fazer a guerra; para manter a concórdia e suscitar a revolta.A própria etimologia da palavra religião tanto pode vir de "religar" o humano e o divino e os membros de uma comunidade, como de "reler", reconsiderar, observar cuidadosamente as formas e as fórmulas que mantêm a separação do sagrado e do profano. Sob este ponto de vista, o contrário de religião é a negligência, a distracção, a falta de regras para manter o sagrado e o profano nos seus respectivos lugares.A primeira etimologia evoca um universo integrado. A segunda é tentada pelo ritualismo e até pelo fanatismo. Daí, a saborosa adivinha eclesiástica: qual a diferença entre um terrorista e um liturgista? Com o terrorista é possível negociar. Com o liturgista, nunca.3.Por causa de usos e abusos de práticas rituais e de imposições dogmáticas, há pessoas, profundamente religiosas, que preferem caminhos de meditação, de espiritualidade, de mística, em regime de isolamento ou de peregrinação. Quando, porém, se foge de manifestações exteriores, pode-se cair num intimismo alheio às questões da sociedade. Ao evitar o ritualismo e o dogmatismo, não se deve esquecer que a ritualidade faz parte do ser humano e que precisa de articular convicções em constante aprofundamento. A grande questão é esta: como alimentar a qualidade estética, a exigência ética, a profundidade contemplativa e a clarividência profética nas celebrações da fé cristã?Pode-se dizer, com razão, que as celebrações da Eucaristia - isto pode ser extensivo a todos os sacramentos - têm uma estrutura que permite articular palavra, silêncio, gesto, imagem, música, interpretação, relação entre quotidiano e festa, profundidade espiritual e intervenção profética, vencendo o reino das aparências, sem resvalar para o esotérico ou para o comício.Dizer isto não é difícil. No entanto, para promover todas essas dimensões com autenticidade, seria preciso, nas paróquias e nos movimentos, conceber e realizar programas que saibam unir formas de vida e de expressão que há muito tempo andam divorciadas. Esta é uma das tarefas primordiais da Igreja.Dir-se-á que os verdadeiros problemas de hoje dizem respeito ao genoma humano, aos organismos geneticamente modificados, à identidade sexual, às novas formas de viver em comum, à clonagem, à globalização, à regulação financeira e das telecomunicações, etc. A Igreja católica não vive ausente de toda essa nova problemática cultural que também faz parte do seu corpo. Precisa, no entanto, de escutar a voz do Espírito. É essa, aliás, a proposta do primeiro escrito cristão: não fujam, procurem, em tudo, discernir o que é bom (1 Ts 5, 19-21).

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

OS INTELECTUAIS PODEM SER INTELIGENTES MAS ISSO NÃO GARANTE QUE SEJAM ESPERTOS

Hoje, no Público, Rui Tavares publica o excelente artigo «A maldição dos intelectuais» de que destacamos este trecho:



Os intelectuais podem ser inteligentes mas isso não garante que sejam espertos. A lição que muitos teimam em não aprender é a seguinte: "Nunca, mas mesmo nunca, bajular uma categoria de pessoas para aceder ao poder com elas e depois tentar influenciá-las." O que acontece de cada vez é que a pessoa bajulada acredita nos seus dons e, naturalmente, reage mal quando o intelectual lhe vem dizer o que fazer.
Isto ocorre à esquerda e à direita. Muitos conservadores, que deveriam ser mais cautelosos, exageram na propaganda às virtudes das pessoas mais "instintivas".

JÁ FALTOU MAIS

domingo, 9 de novembro de 2008

A LUTA FINAL

É o título do excelente artigo de António Barreto, hoje, no Público, que não se deve deixar de ler.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

SE NÓS NÃO NOS QUISERMOS DEFENDER ...

aqui tinha colocado o final da última obra de Franco Nogueira. Que recomendo, sempre, para ler na íntegra. Mas o final deve ser lido com visitas periódicas. Sugiro que todas as semanas o releiam. E caso não tenham o livro, voltem sempre aqui.
Mas hoje deixo outra passagem desse livro, para que a meditação se possa ajustar à realidade actual:
Mas seria erro pensar que dentro de dez ou vinte anos a situação é idêntica à de agora. Depois de tudo mudar, apura-se que não mudou muito o que há de básico. Em qualquer caso, por mais sólidas que sejam as alianças, a maior defesa da independência nacional, a sua maior garantia está na força e na vontade dos Portugueses. Aliás, apenas um povo vigoroso e com vontade de se defender consegue contrair alianças úteis. Não há alianças que nos defendam se nós não nos quisermos defender.

Franco Nogueira, in "Juízo Final"