A minha afilhada Ana, que é uma alma boa e generosa, pura e cândida, escreveu-me da Argentina, onde está a fazer um ano lectivo da sua licenciatura numa versão parecida com o Erasmus, a relatar-me uma sua experiência. Deixo-vos o relato. Puro. Como ela.
.
http://www.untechoparamipais.org.ar/espanol/index.php
É no que ando metida este ano.
Tenho visto mais miséria do que nunca, mas vejo também uma enorme vontade de vida. Continuo a achar o mesmo, que a pobreza e desgraça não são tudo o que devemos ver, apesar de ás vezes ser tão chocante que quase nos cega. Mas nestas mesmas realidades existe a enorme esperança e vontade de viver daqueles que não têm quase nada, isso também deve ser visto e, do meu ponto de vista, esse deverá ser o grande ensinamento que devemos levar para o nosso quotidiano.
Este ano tenho visto muita coisa horrível. Poderia levar daqui uma revolta contra a forma como vivemos, a forma como se faz e discute politica sem se falar daqueles que continuam sem ter onde morar, das crianças que continuam sem ir a escola, das famílias que nem sempre têm o que comer.
Mas esta organização mostra-me mais que isso, mais que o esquecimento da sociedade, mais do que a desgraça destas pessoas. Mostra que jovens por toda a América latina acreditam num futuro melhor, mostram as famílias que não desistem.
Construir uma casa de raiz foi algo incrível: cavar, por estacas no chão, levantar paredes e fazer um tecto. Trabalhar com as mãos e saber o peso das coisas. Mas foi mais que tudo isto.
Ao ser recebida no seio de uma família, e juntos construir a sua casa, pude falar sobre as diferentes realidades em que vivemos. O estado em que vivem é triste. São imigrantes, moram entre dois bairros sociais, uma estação de tratamento de gás e um campo de tiro. Ele é cantoneiro, trabalha noites inteiras para receber dois euros, ela toma conta de uma senhora idosa e ganha pouco mais que isto ao dia. Têm filhos.
Apesar de nem sempre terem o que comer e de, durante as obras, levarmos a nossa própria comida, fizeram pratos típicos dos seus países, ofereceram tudo o que tinham em casa. Depois do segundo dia com eles, criou-se um enorme carinho, que ganhamos entre todos, e abateu-se uma tristeza sobre os voluntários. Como é possível que se viva assim? Como é que é termos tanto e eles tão pouco? E foi a própria família que nos animou, mostrou a felicidade de estarem juntos, de apesar de que tudo nas suas vidas ser difícil, que conseguem sempre alimentar os seus filhos, que quando tudo parece pior aparecem pessoas como nós que os ajudam. Não nos olhavam com despeito, apontavam para nós como exemplos que os seus filhos deveriam seguir.
A Esther e o Helder continuam a sorrir, cantar e a contar aquele momento em que os conhecemos como uma coisa positiva.
Aquela miséria pode-me marcar, mas a marca dos sorrisos daquela gente por ter um tecto marcou-me mais!
Depois disto voltamos ao mesmo bairro para construir mais casas, pintar as que já construímos, começar actividades de apoio à comunidade, e em tudo isto tivemos a colaboração de todos os que ajudamos da primeira vez.
Continuo a achar que a miséria não é um fim. É um início.
Sei que é importante que alguém discuta economia e politica. Que alguns de nós têm de governar países e que isto é mais abrangente que o individuo que parece esquecido. A mim continua a interessar-me mais a vida de uma ou duas famílias que conheço, pois o que me mostram continua a ser mais relevante. Todos têm um papel igualmente importante na sociedade em que vivemos.
É no que ando metida este ano.
Tenho visto mais miséria do que nunca, mas vejo também uma enorme vontade de vida. Continuo a achar o mesmo, que a pobreza e desgraça não são tudo o que devemos ver, apesar de ás vezes ser tão chocante que quase nos cega. Mas nestas mesmas realidades existe a enorme esperança e vontade de viver daqueles que não têm quase nada, isso também deve ser visto e, do meu ponto de vista, esse deverá ser o grande ensinamento que devemos levar para o nosso quotidiano.
Este ano tenho visto muita coisa horrível. Poderia levar daqui uma revolta contra a forma como vivemos, a forma como se faz e discute politica sem se falar daqueles que continuam sem ter onde morar, das crianças que continuam sem ir a escola, das famílias que nem sempre têm o que comer.
Mas esta organização mostra-me mais que isso, mais que o esquecimento da sociedade, mais do que a desgraça destas pessoas. Mostra que jovens por toda a América latina acreditam num futuro melhor, mostram as famílias que não desistem.
Construir uma casa de raiz foi algo incrível: cavar, por estacas no chão, levantar paredes e fazer um tecto. Trabalhar com as mãos e saber o peso das coisas. Mas foi mais que tudo isto.
Ao ser recebida no seio de uma família, e juntos construir a sua casa, pude falar sobre as diferentes realidades em que vivemos. O estado em que vivem é triste. São imigrantes, moram entre dois bairros sociais, uma estação de tratamento de gás e um campo de tiro. Ele é cantoneiro, trabalha noites inteiras para receber dois euros, ela toma conta de uma senhora idosa e ganha pouco mais que isto ao dia. Têm filhos.
Apesar de nem sempre terem o que comer e de, durante as obras, levarmos a nossa própria comida, fizeram pratos típicos dos seus países, ofereceram tudo o que tinham em casa. Depois do segundo dia com eles, criou-se um enorme carinho, que ganhamos entre todos, e abateu-se uma tristeza sobre os voluntários. Como é possível que se viva assim? Como é que é termos tanto e eles tão pouco? E foi a própria família que nos animou, mostrou a felicidade de estarem juntos, de apesar de que tudo nas suas vidas ser difícil, que conseguem sempre alimentar os seus filhos, que quando tudo parece pior aparecem pessoas como nós que os ajudam. Não nos olhavam com despeito, apontavam para nós como exemplos que os seus filhos deveriam seguir.
A Esther e o Helder continuam a sorrir, cantar e a contar aquele momento em que os conhecemos como uma coisa positiva.
Aquela miséria pode-me marcar, mas a marca dos sorrisos daquela gente por ter um tecto marcou-me mais!
Depois disto voltamos ao mesmo bairro para construir mais casas, pintar as que já construímos, começar actividades de apoio à comunidade, e em tudo isto tivemos a colaboração de todos os que ajudamos da primeira vez.
Continuo a achar que a miséria não é um fim. É um início.
Sei que é importante que alguém discuta economia e politica. Que alguns de nós têm de governar países e que isto é mais abrangente que o individuo que parece esquecido. A mim continua a interessar-me mais a vida de uma ou duas famílias que conheço, pois o que me mostram continua a ser mais relevante. Todos têm um papel igualmente importante na sociedade em que vivemos.
Sem comentários:
Enviar um comentário