domingo, 14 de dezembro de 2008

A CIÊNCIA EM PORTUGAL

Eu já perdi qualquer esperança neste país. No post anterior citei uma frase sobre o empréstimo dos filhos. Em Portugal não se pediu esse empréstimo. Tiraram-lhes, simplesmente.
Por isso peço que meditem na frase mote deste blog, que está abaixo to titulo do blog. Mas meditem nela todos os dias.
Hoje deixo um artigo para avaliarem:
A Ciência em Portugal
Miguel Mota
Publicado no “Linhas de Elvas” em 11-12-2007
Não há muito tempo, quando entrevistado por um jornal, um cientista português teve esta frase: “Queria ser professor universitário, porque era a única maneira de fazer ciência em Portugal”. Esta frase revela bem um dos clamorosos erros da política de ciência em Portugal nas últimas décadas: a destruição de toda a investigação que seja feita em instituições fora das universidades.
Os portugueses, com excepção das pessoas que trabalham em laboratórios do estado em diferentes ministérios, talvez não se tenham apercebido da fantástica destruição de boa ciência levada a cabo pelos governos das últimas décadas. Embora neste país muita gente não perceba o alto valor da ciência como cultura - como se mostra com os títulos de "Cultura e Ciência", considerando para a primeira a pintura, a literatura, o cinema e outras actividades, até a culinária - essa destruição não causou ao país apenas uma grande perda cultural mas também económica. Basta dar como exemplo o que tem sido feito aos dois primeiros desses grandes laboratórios, a Estação Agronómica Nacional, criada em 1936, e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, nascido dez anos depois e dela decalcado, duas instituições que muito projectaram o nome de Portugal no mundo, além de lhe darem grandes valores económicos. Impondo-lhes limitações de toda a espécie e culminando com o actual governo a realizar verdadeiras destruições, conseguiram reduzir enormemente a sua anteriormente boa produção científica.
Nem todos os ministros souberam ou quiseram resistir da mesma forma a essa destruição. Os que até muito a ajudaram foram os da Agricultura, todos eles incapazes de perceberem a verdade elementar de que sem o seu Ministério ter uma bem desenvolvida e de alto nível investigação agronómica nenhum país pode ter boa agricultura, daí resultando a situação vergonhosa que se encontra bem patente em qualquer supermercado, com a enormidade de produtos agrícolas importados que aqui devíamos produzir de melhor qualidade e mais baratos.
O problema é tanto mais errado porque, para além do valor cultural da ciência produzida - bem evidente nas citações dos trabalhos portugueses nas revistas científicas e livros texto de divulgação internacional - a investigação agronómica é um dos mais rendosos investimentos que qualquer governo inteligente pode fazer. Com os escassos elementos existentes - porque não se tem querido efectuar os estudos que já propus(1) - há muito mostrei como a investigação agronómica rende juros verdadeiramente astronómicos(2) . Quando propus a constituição dum Gabinete de Estudos Económicos na Estação de Melhoramento de Plantas apenas dispunha dum caso bem quantificado: a solução duma "doença" das vinhas do Douro, a maromba, resultado da investigação feita na Estação Agronómica, então ainda em Sacavém e que dava à lavoura duriense um valor anual que, ao tempo, era duas vezes todo o orçamento da Estação Agronómica. E, note-se, a solução desse problema continuou a dar ao país um valor semelhante (actualizado) todos os anos. Citei, ao tempo, os evidentes aumentos de produção de cereais das variedades lançadas pela Estação de Melhoramento de Plantas, cujo valor estimado era sempre várias vezes o que toda a Estação gastava ao estado. Ainda não havia, nessa altura um caso que cito com frequência, porque toda a gente conhece, embora a maioria lhe desconheça a origem: essa excelente uva branca de mesa 'D. Maria', "fabricada" na Estação Agronómica, em Oeiras, pelo meu infelizmente já falecido colega Eng.º José Leão Ferreira de Almeida, que a baptizou com o nome de sua mãe. O que essa variedade dá a mais, ao país, em relação às variedades que suplantou é certamente mais do que o que o estado investe na Estação Agronómica. Quantos mais casos como o da uva 'D. Maria' deixaram de contribuir para o PIB de Portugal é algo que os portugueses devem "agradecer" aos vários ministros da Agricultura e também aos da Ciência, desde que estes passaram a interferir no sector. E a destruição parece continuar até ao total desaparecimento dessa valiosa investigação e, mais uma vez, lembro a vergonhosa legislação dos finais de 2007, um verdadeiro crime de lesa ciência e de lesa economia. A única explicação que se encontra é que alguns medíocres das universidades (também lá há bons e muito bons), não sendo capazes de suportar a concorrência de melhores cientistas, têm conseguido que governos que não se importam de manter o país em baixo nível e na cauda da Europa, procedam a tais acções.
(1) Mota, M - "Da conveniência dum Gabinete de Estudos Económicos na Estação de Melhoramento de Plantas", Linhas de Elvas de 25 de Agosto de 2000.
(2) ---------- - Investigação Agronómica e Extensão Agrícola, as bases fundamentais do Desenvolvimento Rural, Vida Rural de Julho de 1999.
http://agriciencia.blogspot.com/

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