sexta-feira, 16 de julho de 2010

AS CRIANÇAS DAS GRANDES METRÓPOLES URBANAS.

Tenho constatado, nos últimos anos, que as crianças das grandes urbes, que vivem fechadas em apartamentos, estão alheadas da realidade. Têm um percurso estranho. Vivem entre o apartamento e a creche, e depois a escola, num circuito fechado. Quase blindado. Todo o seu mundo é virtual, entre a televisão e o computador. A sua realidade é plasmada num ecrã. Depois as suas relações sociais são, basicamente, as do ecrã. A ternura e a violência vêem-lhes através ecrã. A educação dessas crianças é descartada dos pais para a escola, e desta para os pais. A escola não instrui, bem como deseduca, pois só trabalha para estatísticas determinadas pelos respectivos ministérios. A sua realidade periférica do mundo é o hipermercado. O seu mundo, de consumo, está nas prateleiras do hipermercado. Não têm noção da realidade da produção. Não têm contacto com a terra, com os ribeiros, com os animais e os vegetais. Hoje já há quintas didácticas para que possam fazer visitas de estudo para verem uma vaca, uma ovelha, uma galinha, uma couve, etc., sem que sejam plastificadas numa embalagem do hipermercado. E os programas de tv para crianças? São feitos por adultos, já fruto desta realidade, para esta realidade de crianças. Quando fazem aquelas perguntas de se já viram uma vaca, é porque eles acham isso extraordinário, porque eles mesmo nunca viram a não ser no ecrã. E não faz sentido fazer esses programas com essas perguntas para as crianças de fora das metrópoles urbanas, porque essas conhecem a realidade para além da urbe.
E os pais dessas crianças. Cansados delas? Cansados da vida que têm? Sempre na busca, com afã, do inatingível? Conversam com os filhos e têm tempos lúdicos com eles? Ou compram-lhes coisas para os manterem calados e dão-lhes a comer plasticfood para os manterem sossegados e inertes. Assumem-se como pais virtuais e dão conselhos e exemplos virtuais para explicarem a vida. Está tudo no Google. Quando não podem resolver a vida como aparece no ecrã é que começa o desatino. A vida, no dia a dia do cidadão comum, nunca é virtual.
Um bom exemplo são os que são contra o serviço militar e se declaram pacifistas. E depois jogam no PC coisas violentíssimas com batalhas tremendas, matando que se fartam. Guerreiros indomáveis no ecrã, temeratos na vida real. Lutam com abnegação no ecrã e temem defender-se na rua. Por isso se fecham, nos apartamentos, com medo da rua, esperando (e rezando) que alguém os defenda do mundo real.
Talvez um dia volte a este tema por causa da demografia, da defesa, da integridade.

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