sexta-feira, 29 de abril de 2011

A DEBILIDADE DA PALAVRA

Quer nos EUA quer na Europa, a crise económica e financeira tem presença evidente na debilidade da palavra com que, mudados agora os tempos, lideravam os consensos ou intervinham com poder e resultados. Ao mesmo tempo que os europeus, aos quais pertence governar em época de debilidade efectiva, os americanos estão ainda a sofrer essa debilitação, mas nos dois casos a referência a efeitos colaterais vindos do exterior faz parte do discurso oficial, prejudicando a capacidade de ver e assumir que partilham a crise do Ocidente em decadência.






In «A debilidade partilhada» no DN, por Adriano Moreira, aqui.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A SOCIEDADE PORTUGUESA ESTÁ FRACTURADA

Em Portugal vive-se a política como se vive o futebol: com paixão e nenhuma racionalidade. O meu clube ou partido é o melhor e está absolutamente certo, é a atitude comum da maioria dos cidadãos. Que denotam uma incapacidade democrática porque são incapazes de entender o outro, e de perceber que a riqueza democrática está no convívio das diversidades em prol do bem comum e na persecução de uma boa gestão da res publica. Há uma tendência ditatorial para imporem os seus pontos de vista, para ditarem as regras que gostariam que os outros fossem obrigados a cumprir. Ao acharem-se donos de verdades absolutas e prenhes de certezas blindadas comportam-se como potenciais ditadorezinhos demonstrando, em simultâneo, uma ignorância política e democrática.
Nos últimos tempos apercebi-me, e os comentários de hoje aos discursos de ontem, bem como às reacções pífias de ontem, reforçaram essa minha percepção, que a sociedade portuguesa está fracturada radicalmente. Tal como o está no futebol. Temo, por isso, que estejamos a rumar para uma mini guerra civil onde os custos vão ser muito pesados, incluindo a perda numerosa de vidas humanas.

domingo, 24 de abril de 2011

O EXERCÍCIO CÍVICO DA CIDADANIA

O exercício da democracia não pode ser feito sem partidos ou qualquer outra forma de associação cívica para exercer a cidadania de forma organizada. O problema das democracias ocidentais, e não só ocidentais, na actualidade, é que os partidos têm a identidade actual forjada no pós guerra mundial, e consubstanciada sobretudo pelas gerações universitárias da década de sessenta. Criaram casulos que permitiram que os partidos fossem tomados a partir do interior, por pessoas sem idoneidade, ou por grupos com interesses obscuros ou, simplesmente, por oportunistas ambiciosos prontos a venderem-se a quem mais pagasse. Este é o drama da vulnerabilidade da democracia, que é o uso das regras democráticas para se usurpar o poder democrático para fins contrário à boa gestão da «res publica». Na década de 80 iniciou-se, em grande escala, uma alteração no equilíbrio mundial, na ordem mundial, com a difusão da informática e a queda do muro de Berlim. São dois vértices que impunham uma renovação de estratégias, objectivos e práticas, agora com uma identidade forjada a partir destes vértices e com o abandono da visão partidária do pós guerra. Infelizmente tal não aconteceu e os partidos e as democracias viram-se embrulhados num vórtice de evoluções tecnológicas, sociais e económicas que os deixaram mais frágeis, e cada vez mais sujeitos a pessoas menos preparadas para cargos governativos e submetidas ao jugo das pressões partidárias e económicas. As populações, por várias razões, alhearam-se no empenho do exercício da cidadania. O resultado está à vista. Estamos à beira, com uma margem de segurança já muito estreita, de um colapso social e político com custos enormes de vidas humanas, representando um retrocesso social e político sobre o alcançado após duas grandes guerras no século XX. Mas sem organização associativa para o exercício da cidadania não há democracia que resista. Tem é de haver formas de não deixar que as regras democráticas possam ser pervertidas a partir do âmago da democracia.

sábado, 23 de abril de 2011

UMA CRISE ANTECIPADAMENTE ANUNCIADA

Hoje é Sábado de Páscoa. Amanhã dia da ressurreição. Mas para este país não há ressurreição. A crise não vai levar a uma renovação do país. O país está com demasiadas feridas, para além das dívidas que estes governos fizeram. Eu diria que o país está ferido de morte. Criaram-se demasiadas assimetrias. Há muitas diferenças de tratamento para com os cidadãos. Há cidadãos de primeira, de terceira e de quarta. Isto vai fazer com que a aplicação das medidas de austeridade leve a revoltas e a ódios. Há cidadãos que partem já em desvantagem, não têm defesas nenhumas para aguentar a crise. Estes políticos actuais, por quem não se pode ter respeito nem consideração, continuam a candidatar-se para governar o país, com capacidade que demonstraram não ter, e não vão ter. Porque se tivessem não tinham conduzido o país para o buraco. O futuro não é auspicioso. Temo que Portugal acabe por mergulhar numa guerra civil. E tudo será inútil porque esta crise já tinha sido anunciada há vários anos, porque viam que a rota era para o abismo. E viram e denunciaram isso Medina Carreira, Hernâni Lopes, Vitor Bento, Silva Lopes, Braga de Macedo, e muitos mais em jornais, revistas, rádios e televisões. E alguns escreveram livros que estão publicados. Este primeiro-ministro, enquanto conduzia o país para esta situação, chamava-os de catastrofistas e bota abaixistas. Viu-se quem tinha razão. E não vamos ressurgir. Vai-nos faltar muita coisa, sobretudo a juventude que se sente ludibriada e que está a abandonar o país. Vão-nos faltar cérebros muito em breve. Foi um crime o que fizeram a Portugal. E aos portugueses.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

AGORA TODOS VAMOS PAGAR A FACTURA DAS NOSSAS NEGLIGÊNCIAS CÍVICAS

Retomo hoje a escrita neste blog, passados 3 meses. Com este comentáro que fiz num outro blog


A história do nosso país, desde 1850 (+/-) versa em continuo sobre maus políticos, desastrosos gestores da res (coisa) pública. Também de um povo incapaz de fazer as melhores opções, quase sempre pela ignorância. Este é o povo de que todos falamos como se não fizéssemos parte dele, e que criticamos as opções eleitorais deles, como se não fossemos também culpados pelas nossas opções ou pelas nossas demissões. Somos todos bons treinadores de bancada incapazes de fazer uma boa jogada no campo, ou mesmo de perceber as regras na sua plenitude. Sempre fomos nos acomodando, ninguém se quer aborrecer, sempre criticamos no café ou na paragem do autocarro, mas nunca intervimos civicamente nem solidariamente. Somos todos, MAS TODOS, uns acachapados. Tentamos sempre viver sem esforço cívico, esperando que a coisa corra bem. Nunca corre. Analisem a história, desde 1850. Vivemos sempre com a corda na garganta e nunca fazemos nada para mudar a estrutura do país e sairmos desse ciclo vicioso. Só houve um período mais longo sem o espectro da bancarrota, que infelizmente foi um período ditatorial, que sem ser dos piores do século XX, não deixou de ter custos tremendos. A pergunta que se põe sempre é se aprendemos alguma coisa com a história. Pois não aprendemos. Se sairmos desta crise é uma questão de tempo para voltarmos às mesmas asneiras. Não temos emenda. Nós todos. Não é só criticar e ficar de fora. Estamos todos dentro. Quando eu critico os portugueses, incluo-me. Nós não nos esforçámos para fazer o país melhor. Nós todos deixámos que alguns dirigissem o barco sem estarem habilitados para o fazerem. Nós todos aceitámos passivamente que a corrupção grassasse. Nós todos ficámos no aconchego de um doce embalo a ver tudo a ruir ao longo de anos na educação, na justiça, etc., e nada fizemos para travar a queda. Os avisos foram sendo feitos e ninguém quis ouvir. Agora todos vamos pagar a factura das nossas negligências cívicas. Mas está tudo na história.