O exercício da democracia não pode ser feito sem partidos ou qualquer outra forma de associação cívica para exercer a cidadania de forma organizada. O problema das democracias ocidentais, e não só ocidentais, na actualidade, é que os partidos têm a identidade actual forjada no pós guerra mundial, e consubstanciada sobretudo pelas gerações universitárias da década de sessenta. Criaram casulos que permitiram que os partidos fossem tomados a partir do interior, por pessoas sem idoneidade, ou por grupos com interesses obscuros ou, simplesmente, por oportunistas ambiciosos prontos a venderem-se a quem mais pagasse. Este é o drama da vulnerabilidade da democracia, que é o uso das regras democráticas para se usurpar o poder democrático para fins contrário à boa gestão da «res publica». Na década de 80 iniciou-se, em grande escala, uma alteração no equilíbrio mundial, na ordem mundial, com a difusão da informática e a queda do muro de Berlim. São dois vértices que impunham uma renovação de estratégias, objectivos e práticas, agora com uma identidade forjada a partir destes vértices e com o abandono da visão partidária do pós guerra. Infelizmente tal não aconteceu e os partidos e as democracias viram-se embrulhados num vórtice de evoluções tecnológicas, sociais e económicas que os deixaram mais frágeis, e cada vez mais sujeitos a pessoas menos preparadas para cargos governativos e submetidas ao jugo das pressões partidárias e económicas. As populações, por várias razões, alhearam-se no empenho do exercício da cidadania. O resultado está à vista. Estamos à beira, com uma margem de segurança já muito estreita, de um colapso social e político com custos enormes de vidas humanas, representando um retrocesso social e político sobre o alcançado após duas grandes guerras no século XX. Mas sem organização associativa para o exercício da cidadania não há democracia que resista. Tem é de haver formas de não deixar que as regras democráticas possam ser pervertidas a partir do âmago da democracia.
domingo, 24 de abril de 2011
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