SEMPRE ATRÁS DO
PREJUÍZO
Portugal
é um país que é gerido andando sempre atrás do prejuízo. Nesta crise concreta
que hoje se vive (16/03/2020) percebe-se bem que se andam a tomar medidas com
duas semanas de atraso. Um bom gestor, quer privado, quer gestor da coisa pública,
deve gerir à frente do prejuízo. Desde Dezembro que se andava a ver o exemplo
da China. A propósito, repare-se no caso de Macau que ao 4º (quarto) infectado
encerrou tudo e todos. Conteve a disseminação do vírus e há muitos dias que não
regista novos casos. De seguida tivemos o exemplo da Itália que relaxou a tomar
medidas, que são sempre constrangedoras e impopulares, e pagou, e está a pagar
um preço muito elevado. Em Portugal levou-se muito tempo a tomar medidas, e a
assobiar para o lado. Está-se a ver o resultado. Como é costume pensaram
primeiro no dinheiro. Não se fechar por causa do turismo, da restauração, e
etc.. Os negócios em questão. Com aquela falta de visão de estratégia. Se
fechassem cedo podiam continuar com o negócio mais tarde. Mais tarde vão ter
mesmo que fechar, radicalmente, com a agravante de depois faltar clientela, ou
por terem morrido, ou por que, desconfiados, deixarão de frequentar e consumir.
Tudo isto pelo eterno defeito dos últimos 40 anos em que só se governa em
navegação à vista, ou seja, em função dos resultados eleitorais. Para tal não
convém tomar medidas impopulares e desmotivadoras dos negócios partidários. Mas
a factura vai chegar, e vai ser pesada. Aguardem.
Depois
temos a gestão da crise em si. Em Espanha já estão em quarentena, tendo as
forças policiais e militares em acção no terreno. Em Portugal, há muito em
crise sem ajuda nenhuma do covid19, será algo difícil de implementar com
eficácia. Porque não há respeito nenhum à autoridade. Foi um trabalho,
constante, ao longo de anos, o minar o respeito à autoridade do estado. A
justiça em muito contribuiu para tal, protegendo o bandido e perseguindo os
polícias, desautorizando-os. Temos agora esta problemática com alguns juízes da
Relação de Lisboa que, com certeza irá trazer alguma luz ao tema. Só luz,
porque consequências não haverá, pois desde logo quem julga quem? Alguns
ministros que passaram pelo MAI não perceberam qual era o papel da GNR,
confundindo-a com a polícia. Desastre após desastre, nunca esquecendo a
descapitalização das instituições, o que muito desmoraliza. Só foram pródigos em
soltar os cordões à bolsa para a criação da Alta Autoridade para a Protecção
Civil, bem como para programas tecnológicos associados, caríssimos e
ineficientes, a fazer fé nos jornais ao longo dos anos. E não se percebe porque
é que esta alta autoridade não foi extinta de imediato a seguir aos incêndios
de Pedrógão e adjacentes. Depois temos as forças armadas. Que em tempos
funcionavam como reserva moral da nação. Hoje já não. O que preocupa o sempre
esclarecido professor Adriano Moreira. Alguns generais, há pouco tempo,
escreveram uma carta ao Presidente da República, chamando a atenção para a falência
das forças armadas, por múltiplas razões. Mas falida a reserva moral, de que os
muitos casos que pululam no seio delas, e não só Tancos, que além da questão
factual expõe o exército ao ridículo, que podem clamar? Com tudo isto, e
reconhecendo-se uma natural indisciplina de cidadania aos portugueses, alguém
acha que as forças militares e paramilitares podem impor alguma autoridade
delegada do ESTADO? E isto vai resultar em quê? Desastre.
Outra
lição a tirar é gerir-se só em função do dinheiro. Sem se ter atenção aos centros
de decisão. Tenho ouvido a muito políticos profissionais, que nunca trabalharam
na vida verdadeiramente, empregarem chavões sobre a mobilidade laboral, as exigências
da globalização, rentabilidade do investimento, eficácia de meios, com muita
utilização da palavra alavancagem, que dita por eles que nada sabem de física,
nem são capazes de calcular as forças intervenientes nos extremos da alavanca,
nem as distâncias ao ponto de apoio. Com isso deixou-se na mão da China a incumbência
de produzir muita coisa, sobretudo miudezas, para abastecer o mundo. Só que
agora a China teve de travar a produção por ser, também ela, vitima desta
pandemia. E de repente faltam as máscaras de protecção e demais material
hospitalar. E outras coisas, que não se fabricam já na Europa. E agora, já que
não pensaram antes, como vão resolver? É o nacional desenrascanço? Eu lembro-me
de um jornal regional, de uma região que me é muito querida, publicar, muito
ufano, há já uns largos anos, que determinado empresário tinha ido para a
Chinar montar uma fábrica de seringas. Seria muito mais rentável, ao que
parecia. Diminuía-se a empregabilidade em Portugal, mas o empresário teria
muito mais rentabilidade. Mas ficámos dependentes, de miudezas, da China. E
agora. Isto faz-me lembrar a Manutenção Militar, que antigamente tinha uma
capacidade de abastecer o país, em caso de grave crise, que impedia carência
grave na população. Extinguiram-na. Muitos não descansaram enquanto não o
fizeram. O Laboratório Militar esteve na calha para ser extinto. Antes desta
crise já tinha demonstrado a sua importância na crise de medicamentos
oncológicos. Mas os políticos têm objectivos que a razão não entende. Ou então
entende …, mas isto é Portugal.
Leio
os jornais e vejo que ninguém liga às instruções dadas. No aeroporto são
ajuntamentos para além do recomendável e saem sem haver controlo sanitário e
consequente quarentena. Os turistas, que vão e vêm, sem passarem cartuxo. Li
algures que são bruscos e até malcriados, quando lhes chamam a atenção para as
recomendações e ditames das autoridades. Há aqueles que impedidos de
desembarcar em Lisboa, o fizeram em Cádis, e vieram para Lisboa de autocarro.
Não percebi o circo. Mais valia tê-los deixado desembarcar de vez para
o aeroporto. É só encenações. Mas enfim, o poder é cénico. A juventude tem uma
falta de respeito por tudo isto que nos faz temer, bastante, pelo futuro.
Conclui-se que há muita dificuldade em se impor autoridade. Paciência, veremos
no que isto vai dar.
Mas, nesta crise, estamos muito atrasados
na imposição de medidas drásticas. (O eleitorado, a que não se pode
desagradar). Devíamos já fazer o que a Espanha está fazendo, sem estar à espera
de chegar aos números a que a Espanha já chegou, para então se actuar. O
Presidente convocou ontem o Conselho de Estado para Quarta-feira. Porque não
para hoje? Porque perder ainda mais dois dias? Por causa dos incêndios de Pedrógão,
que citámos antes, o Presidente Marcelo publicou um artigo em 2018 em que
disse:« Se formos capazes de fazer reviver até 2023 o que importa que reviva,
Portugal será diferente. Se não formos capazes perdemos uma oportunidade
histórica e condenamos alguns portugáis a serem muito
ignorados, muito esquecidos, muito menosprezados e isso significa que falhámos
como país.» Estamos já em 2020, não antevejo essa capacidade de fazer reviver o
que importa, pelo que acho que falhámos. Espero bem que, como pessimista
militante que sou, estar bem enganado e que os anseios do Senhor Presidente se
concretizem. Mas a gestão desta crise não realça isso. E nunca esquecendo o seu
discurso de Ano Novo no Corvo. Voltarei à análise do artigo e do discurso
noutra ocasião.
Devo realçar aqui, e hoje, sem tecer
loas, que os Governos Regionais da Madeira e dos Açores se adiantaram ao da
República em medidas que conduzissem a eficácia. Não sei qual o resultado que
vai advir, mas reconheço o mérito, e destaco que nos Açores são 9 ilhas com
dificuldades acrescidas para se gerir a questão. Mas na condicionante actual o
Governo Regional, e restante administração pública, estão a cumprir bem ao seu
nível. Gostaria de vir a dizer mais tarde que a
incúria não foi fatal para muitos.
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