É o que está claro no artigo de Costa Martins «Guerra surda EUA-UE: um legado envenenado», publicado no Público de 4 de Setembro passado. Eis um trecho.
(...)os EUA definiram como estratégia o controlo das grandes plataformas petrolíferas internacionais para, através do preço do petróleo, condicionarem a competitividade dos produtos da UE (considerada como o seu principal adversário no âmbito económico--financeiro) e travarem o desenvolvimento da China e da Índia, que começava a despertar com visibilidade.Depois do fracasso da invasão do Iraque, foi, recentemente e de forma concertada, anunciado um pretenso ataque ao Irão e, nos bastidores, foi, com o apoio dos EUA segundo tudo indica, decidida uma acção militar da Geórgia, na Ossétia do Sul, e elaborado um acordo entre os EUA e a Polónia, para a instalação de mísseis neste país.
Entretanto, Bush declarou pretender lançar mão da exploração do petróleo nacional para satisfação das necessidades energéticas dos EUA, que, dessa forma, eliminariam a sua dependência relativamente ao petróleo externo, criando, assim, condições para que a economia norte-americana não fosse afectada negativamente pela desestabilização das zonas petrolíferas externas, enquanto outras economias seriam profundamente prejudicadas - particularmente a da UE, por ser bastante dependente do petróleo e gás da região caucasiana e do Médio Oriente.
Uma acção militar da Geórgia na Ossétia do Sul, envolvendo a morte de um número palpável de cidadãos russos, para mais sendo alguns deles militares, levaria, obviamente, a uma intervenção militar da Rússia.
A Administração Bush pensou que uma vigorosa acção diplomática dos EUA, apoiados na NATO, e uma eventual movimentação de forças navais da NATO nas águas territoriais da Geórgia levariam a que a Rússia circunscrevesse a sua intervenção à região da Ossétia do Sul e que uma tal situação permitiria que a Geórgia - entretanto fortemente armada pelos EUA - respondesse militarmente aos russos, originando uma profunda e duradoura desestabilização da zona, por onde passam importantes oleodutos e gasodutos que transportam petróleo e gás caucasiano que abastecem uma boa parte da energia de que a UE necessita.
Se a UE acompanhasse a posição dura pretendida pelos EUA (via NATO), agravada pelo acordo já previamente preparado pelos EUA e pela Polónia para a instalação de mísseis neste país, acintosamente assinado durante o desencadear da crise criada com a acção militar da Geórgia na Ossétia do Sul, provocaria um endurecimento da reacção da Rússia, que, provavelmente, incluiria o corte do fornecimento de gás russo à Europa.
A determinação na acção diplomática e a rapidez na actuação de Sarkozy, em representação da UE, foi determinante para evitar uma maior deterioração nas relações da UE e da própria NATO com a Rússia.Mas o acordo assinado pelos EUA e pela Polónia para a instalação de mísseis neste país constitui um legado envenenado da Administração Bush à próxima Administração americana e à UE (via NATO), perturbador da segurança e cooperação na Europa e da própria coesão e unidade da UE.
Qualquer tentativa de implementação do acordo constituirá um sério factor de perturbação no relacionamento da Rússia com os EUA, com a NATO e com a UE, e do próprio entendimento entre os seus membros, originando conflitos internos que terão tendência a agravar-se e a dificultar seriamente a concretização dos objectivos do Tratado de Lisboa, parecendo lógico interrogarmo-nos se não haverá ligação entre o acordo agora assinado e a inesperada atitude assumida pela Polónia aquando da assinatura do Tratado de Lisboa!
E num agravamento das relações da UE com a Rússia estará sempre presente um eventual corte do fornecimento de energia russa (particularmente gás) à Europa.(...)
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