quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

PROVINCIANISMO

Hoje gostaria que analisassem, já que estamos em final de ano, este texto do Fernando Pessoa, de 1932, e intitulado "O CASO MENTAL PORTUGUÊS". Encontra-se publicado em TEXTOS DE INTERVENÇÃO SOCIAL E CULTURAL, pela Europa-América. E depois de analisarem reflictam sobre o ano que vem e sobre o que nos espera. Gostaria de vos desejar, apesar de tudo, um BOM Ano Novo.



Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir o estado presente da mentalidade, portuguesa, a palavra seria «provincianismo». Como todas as definições simples esta, que, é muito simples, precisa, depois de feita, de uma explicação complexa.
Darei essa explicação em dois tempos: direi, primeiro, a que se aplica, isto é, o que deveras se entende por mentalidade de qualquer país, e portanto de Portugal; direi, depois, em que modo se aplica a essa mentalidade.
Por mentalidade de qualquer país entende-se, sem dúvida, a mentalidade das três camadas, organicamente distintas, que constituem a sua vi da mental - a camada baixa, a que é uso chamar povo; a camada média, a que não é uso chamar nada, excepto, neste caso, por engano, burguesia, e a camada alta, que vulgarmente se designa por escol, ou, traduzindo para estrangeiro, para melhor' compreensão, por élite.
O que caracteriza a primeira camada mental é, aqui ia em toda a parte, a incapacidade de reflectir. O povo, saiba ou não saiba ler, é incapaz de criticar o que lê ou lhe dizem. As suas ideias não são actos críticos, mas actos de fé ou de descrença, o que não implica, aliás, que sejam sempre erradas. Por natureza, forma Q povo um bloco, onde não há mentalmente indivíduos; ia o pensamento é individual.
O que caracteriza a segunda camada que não é a burguesia, é a capacidade de reflectir, porém sem ideias próprias; de criticar, porém com ideias de outrem. Na classe média mental, o indivíduo, que mentalmente já existe, sabe já escolher - por ideias e não por instinto - entre duas ideias ou doutrinas que lhe apresentem; não sabe, porém, contrapor a ambas uma terceira, que seja própria. Quando, aqui e ali, neste ou naquele, fica uma opinião média entre duas doutrinas, isso não representa um cuidado crítico, mas uma hesitação mental.
O que caracteriza a terceira camada, o escol, é, como é de ver por contraste com as outras duas, a capacidade de criticar com ideias próprias. Importa, porém, notar que essas ideias próprias podem não ser fundamentais. O indivíduo do escol pode, por exemplo, aceitar inteiramente uma doutrina alheia; aceita-a, porém, criticamente, e, quando a defende, defende-a com argumentos seus - os que o levaram a aceitá-la - e não, como fará o mental da classe média, com os argumentos originais dos criadores ou expositores dessas doutrinas.
Esta divisão em camadas mentais, embora coincida em parte com a divisão em camadas sociais - económicas ou outras - não se ajusta exactamente a essa. Muita gente das aristocracias de história e de dinheiro pertence mentalmente ao povo. Bastantes operários, sobretudo das cidades, pertencem à classe média mental. Um homem de génio ou de talento, ainda que nascido de camponeses, pertence de nascença ao escol.
Quando, portanto, digo que a palavra: «provincianismo» define, sem outra que a condicione, o estado mental presente no povo português, digo que essa palavra «provincianismo», que mais adiante definirei, define a mentalidade do povo português em todas as três camadas que a compõem. Como, porém, a primeira e a segunda camadas mentais não podem por natureza ser superiores ao escol, basta que eu prove o provincianismo do nosso escol presente, para que fique provado o provincianismo mental da generalidade danação.
Os homens, desde que entre eles se levantou a ilusão ou realidade chamada civilização, passaram a viver, em relação a ela, de uma de três maneiras, que definirei por símbolos, dizendo que vivem ou como os campónios, ou como provincianos, ou como citadinos. Não se esqueça que trato de estados mentais e não geográficos, e que portanto o campónio ou o provinciano pode ter vivido sempre em cidade, e o citadino sempre no que lhe é natural desterro.
Ora a civilização consiste simplesmente na substituição do artificial ao natural no uso e correnteza da vida. Tudo quanto constitui a civilização, por mais natural que nos hoje pareça, são escrito, renegam a naturalidade original dos pés e da prosa falada.
A artificialidade, porém, é de dois tipos. Há aquela acumulada através das eras, e que, tendo-a já encontrado quando nascemos, achamos natural; e há aquela que todos os dias se vai acrescentando à primeira. A esta segunda é uso chamar "progresso» e dizer que é "moderno» o que vem dela. Ora o campónio, o provinciano e o citadino diferençam-se entre si pelas suas diferentes reacções a esta segunda artificia1idade.
O que chamei campónio sente violentamente a artificialidade do progresso; por isso se sente mal nele e com ele, e intimamente o detesta. Até das conveniências e das comodidades do progres¬so se serve constrangido, a ponto de, por vezes, e em desproveito próprio, se esquivar a servir-se delas. E o homem dos «bons tempos», entendendo-se por isso os da sua mocidade, se é já idoso, ou os da mocidade dos bisavós, se é simplesmente párvuo.
No pólo oposto, ó citadino não sente a artificialidade do progresso. Para ele é como se fosse natural. Serve-se do que é dele, portanto, sem constrangimento nem apreço. Por isso o não ama nem desama: é-lhe indiferente. Viveu sempre (física ou mentalmente) em grandes cidades; viu nascer, mudar e passar (real ou idealmente) as modas e a novidade das invenções; são pois para ele aspectos correntes, e por isso incolores, de uma coisa continuamente já sabida, como as pessoas com quem convivemos, ainda que de dia para dia sejam realmente diversas, são todavia para nós idealmente sempre as mesmas.
Situado mentalmente entre os dois, o provinciano sente, sim, a artificialidade do progresso, mas por isso mesmo o ama. Para o seu espírito deserto, mas incompletamente desperto, o artificial novo, que é o progresso, é atraente como novidade, mas ainda contido como artificial. E, porque é sentido simultaneamente como artificial é sentido como atraente, e é por artificial que é amado. O amor às grandes cidades, às novas modas, às «últimas novidades», é o característico distintivo do provinciano.
Se de aqui se concluir que a grande maioria da humanidade civilizada é composta de provincianos, ter-se-á concluído bem, porque assim é. Nas nações deveras civilizadas, o escol escapa, porém, em grande parte, e por sua mesma natureza, ao provincianismo. A tragédia mental de Portugal presente é que, como veremos, o nosso escol é estruturalmente provinciano.
Não se estabeleça, pois seria erro, analogia, por justaposição, entre as duas classificações, que se fizeram, de camadas e tipos mentais. A primeira, de sociologia estática, define estados mentais em si mesmos; a segunda, de sociologia dinâmica, define estados de adaptação mental ao ambiente. Há gente do povo mental que é citadina em suas relações com a civilização. Há gente do escol, e do melhor escol - homens de génio e de talento - , que é campónio nessas relações.
Pelas características indicadas como as do provinciano, imediatamente se verifica que a mentalidade dele tem uma semelhança perfeita com a da criança. A reacção do provinciano, às suas artificialidades, que são as novidades sociais, é igual à da criança às suas artificialidades, que são os brinquedos. Ambos as amam espontaneamente, e porque são artificiais.
Ora o que distingue a mentalidade da criança é, na inteligência, o espírito de imitação; na emoção, a vivacidade pobre; na vontade, a impulsividade incoordenada. São estes, portanto, os característicos que iremos achar no provinciano; fruto, na criança, da falta de desenvolvimento civilizacional, e assim ambos efeitos da mesma causa - a falta de desenvolvimento. A criança é, como o provinciano, um espírito desperto, mas incompletamente desperto.
São estes característicos que distinguirão o provinciano do campónio e do citadino. No campónio, semelhante ao animal, a imitação existe, mas à superfície, e não, como na criança e no provinciano, vinda do fundo da alma; a emoção é pobre, porém não é vivaz, pois é concentrada e não dispersa; a vontade, se de facto é impulsiva, tem contudo a coordenação fechada do instinto, que substitui na prática, salvo em matéria complexa, a coordenação aberta da razão. No citadino, semelhante ao homem adulto, não há imitação, mas aproveitamento dos exemplos alheios, e a isso se chama, quando prático, experiência, quando teórico, cultura; a emoção, ainda quando não seja vivaz, é contudo rica, porque complexa, e é complexa por ser complexo quem a terá; a vontade, filha da inteligência e não do impulso, é coordenada, tanto que, ainda quando faleça, falece coordenadamente, em propósitos frustes mas idealmente sistematizados.
Percorramos, olhando sem óculos de qualquer grau ou cor, a paisagem que nos apresentam as produções e improduções do nosso escol. Nelas verificaremos, pormenor a pormenor, aqueles característicos que vimos serem distintivos do provinciano.
Comecemos por não deixar de ver que o escol se compõe de duas camadas - os homens de inteligência, que formam a sua maioria, e os homens de génio e de talento, que formam a sua minoria, o escol do escol, por assim dizer. Aos primeiros exigimos espírito crítico; aos segundos exigimos originalidade, que é, em certo modo, um espírito crítico involuntário. Façamos pois incidir a análise que nos propusemos fazer, primeiro sobre o pequeno escol, que são os homens de génio e de talento, depois sobre grande escol.
Temos, é certo, alguns escritores e artistas que são homens de talento; se algum deles o é de génio, não sabemos, nem para o caso importa. Nesses, evidentemente, não se pode revelar em luto o espírito de imitação, pois isso importaria a ausência de originalidade, e esta a ausência de talento. Esses nossos escritores e artistas são, porém, originais uma só vez, que é a inevitável. Depois disso, não evoluem, não crescem; fixado esse primeiro momento, vivem parasitas de si mesmo, plagiando-se indefinidamente. A tal ponto isto é assim, que não há, por exemplo, poeta nosso presente - dos célebres, pelo menos - que não fique completamente lido quando incompletamente lido, em que a parte não seja igual ao todo. E se em um ou outro se nota, em certa altura, o que parece ser uma modificação da sua «maneira», a análise revelará que a modificação foi regressiva: o poeta ou perdeu a originalidade e assim ficou diferente pelo processo simples de ficar inferior, ou decidiu começar a imitar outros por impotência de progredir de dentro, ou resolveu, por cansaço, atrelar a carroça do seu estro ao burro de uma doutrina externa, como o catolicismo ou o internacionalismo. Descrevo abstractamente, mas os casos que descrevo são concretos; não preciso de explicar, porque não junto a cada exemplo o nome do indivíduo que mo fornece.
O mesmo provincianismo se nota na esfera da emoção. A pobreza, a monotonia da emoção nos nossos homens de talento literário e artístico, salta ao coração e confrange a inteligência. Emoção viva, sim, como aliás era de esperar, mas sempre a mesma, sempre simples, sempre simples emoção, sem auxílio crítico da inteligência ou da cultura, A ironia emotiva, a subtileza passional, a contradição no sentimento - não as encontrareis em nenhum dos nossos poetas emotivos, e são quase todos emotivos. Escrevem, em matéria do que sentem, como escreveria o pai Adão, se tivesse dado à humanidade, além do mau exemplo já sabido, o, ainda pior, de escrever.
A demonstração fica completa quando conduzimos a análise à região da vontade. Os nossos escritores e artistas são incapazes do meditar uma obra antes de a fazer, desconhecem o que seja a coordenação, pela vontade intelectual, dos elementos fornecidos emoção, não sabem o que é a disposição das matérias, ignoram que um poema, por exemplo, não é mais que uma carne de emoção cobrindo um esqueleto de raciocínio. Nenhuma capaci¬dade de atenção e concentração, nenhuma potência de esforço meditado, nenhuma faculdade de inibição, Escrevem ou artistam ao sabor da chamada «inspiração», que não é mais que um impulso complexo do subconsciente que cumpre sempre submeter, por uma aplicação centrípeta da vontade, à transmutação alquímica da consciência. Produzem como Deus é servido, e Deus fica mal servido. Não sei de poeta português de hoje que, construtivamente, seja de confiança para além do soneto.
Ora feitos estes reparos analíticos quanto ao estado mental nossos homens de talento, é inútil alongar este breve estudo, tratando com igual pormenor a maioria do escol. Se o escol do escol é assim, como não será o não escol do escol? Há, porém, um característico comum a ambos esses elementos da nossa camada mental superior, que aos dois irmana, e, irmanados, define: é a ausência de ideias gerais e, portanto, do espírito crítico e filosófico que provém de as ter. O nosso escol político não tem ideias excepto sobre política, e as que tem sobre politica são servilmente plagiadas do estrangeiro - aceites, não porque sejam boas, mas porque são francesas ou italianas, ou russas, ou o quer que seja. O nosso escol literário é ainda pior: nem sobre literatura tem ideias. Seria trágico, à força de deixar de ser cómico, o resultado de uma investigação sobre, por exemplo, as ideias dos nossos poetas célebres. Já não quero que se submetesse qualquer deles ao enxovalho de lhe perguntar o que é a filosofia de Kant ou a teoria da evolução. Bastaria submetê-lo ao enxovalho maior de lhe perguntar o que é o ritmo.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

PÓSTUMOS NATAIS

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito


In “OBRA POÉTICA” de David Mourão-Ferreira

Todo o poema aqui

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O QUE É SIMPLES É INFINITAMENTE SUBTIL

Para mim existe uma realidade, uma imensa verdade viva; e para a compreender, tem que haver total simplicidade de pensamento. O que é simples é infinitamente subtil, o que é simples é muito delicado. Existe uma grande delicadeza, uma infinita subtileza e delicadeza, e se usarem as palavras apenas como um meio de chegar a essa delicadeza, a essa simplicidade de pensamento, então receio que não irão compreender o que quero transmitir. Mas se usarem o significado das palavras como uma ponte para atravessar, então as palavras não se tornarão uma ilusão na qual a mente se perde.


Jiddu Krishnamurti, Ojai, California, 10ª Palestra - 29 de Junho de 1934

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

QUAL A DISTÂNCIA QUE NOS SEPARA DA GRÉCIA?

Um facto interessante que observámos nos últimos dias foi o impacte que a percepção das dificuldades financeiras da Grécia teve no ambiente económico em Portugal e não só.
Para ler na íntegra, aqui o artigo CRIME E CASTIGO de João Ferreira do Amaral no Diário Económico.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

INSATISFAÇÃO

(…) A maior parte das pessoas no mundo está aprisionada numa espécie de insatisfação, e está constantemente à procura de satisfação. Isto é, a sua procura de satisfação é uma procura de um oposto. Ora a insatisfação, o descontentamento, surge do sentimento de vazio, do sentimento de solidão, de tédio, e quando têm esta insatisfação procuram preencher o vácuo, o vazio na vossa vida. Quando estão insatisfeitos estão constantemente à procura de algo que substitua isso que lhes causa insatisfação, algo que sirva de substituto, algo que lhes dê satisfação. Voltam-se para uma série de consecuções, uma série de sucessos, para preencher o vazio doloroso na vossa mente e no vosso coração. É isto o que a maior parte de vocês está a tentar fazer. Se houver medo, procuram coragem que esperam que lhes dê contentamento, felicidade.
Nesta procura do oposto, estão a ser destruídos sentimentos profundos. Estão a tornar-se cada vez mais superficiais, cada vez mais vazios, porque todo o vosso conceito de satisfação, de felicidade, é um conceito de substituição. O anseio, o desejo ardente da maior parte das pessoas é pelo oposto. No vosso desejo ardente de consecução perseguem ideais espirituais, ou procuram ter títulos mundanos conferidos, e ambos significam exactamente a mesma coisa. (…)

Jiddu Krishnamurti, A Arte de escutar, palestra a 1 de Janeiro de 1934 em Adyar

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

POR AQUI E POR ALI

O pessimismo que deriva da falta de perspectiva está a alastrar, perigosamente, na sociedade portuguesa. As pessoas estão confusas, sentem que vão de mal a pior, muitas estão desempregadas, as empresas em que trabalhavam fecharam, vivem de reduzidos subsídios e desistem de arregaçar as mangas e, com alguma imaginação, procurar novos trabalhos.
(…)
O pessimismo nacional, a renúncia de viver e de lutar, é assim uma doença que alastra na sociedade portuguesa, e que se vai tornando endémica, tanto nos grandes centros como nos campos e nas aldeias. Num passado recente, com uma abastança maior, embora artificial, porque veio de fora e dos fundos europeus, deu-se um amplo alargamento das classes médias - hoje a caminho, em muitos casos, da pauperização - que explica, em boa parte, este fenómeno
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Mário Soares, in DN 15.12.2009

Os regimes políticos, com variações específicas, estão sempre num processo de tensão entre as promessas e os problemas suscitados pelo incumprimento, sendo que o valor da confiança, entre a população e as instâncias do poder, responde com variações que vão da sustentação do esforço ao total abandono do apoio. Os regimes democráticos vivem esse processo de uma maneira mais visível talvez porque a liberdade de expressão não consente a limitação das manifestações de discordância.
(...)
O FMI, descuidado de ter maneiras, desembaraçou-se a dar conselhos políticos, sem indicar o método. É tempo de o Conselho de Estado ser chamado a acompanhar o Presidente da República na avaliação da inquietante circunstância que envolve o Estado e a sociedade civil, e na definição da acção presidencial mais eficaz no sentido de evitar o progresso da erosão da harmonia e bom funcionamento dos órgãos de soberania, do bom desempenho dos aparelhos de intervenção, e da visível quebra da confiança pública.

Adriano Moreira, in DN 15.12.2009

As notícias sobre o crescente entendimento de que o único remédio para eliminar a ameaça das armas de destruição maciça é eliminar essas armas, admitindo com lucidez que nenhum poder é confiável no sentido de que as manterá apenas com intenção preventiva, são notícias animadoras. Designadamente porque a alegada função preventiva significa que serão eventualmente usadas logo que a prevenção se demonstre ineficaz, uma inquietação sempre presente nesta época de incerteza na qual nenhuma perspectiva é tranquilizante.
A dúvida mais presente em relação ao processo é a traduzida no comentário de Frederico da Prússia sobre os projectos de paz perpétua, ao lembrar que faltava apenas o acordo das potências. A dúvida prussiana continua nesta data agravada, não apenas pela falta de certeza da adesão dos Estados, mas também pela eventual intervenção dos cisnes negros, desafiadores de todas as racionalidades, agora na figura de poderes atípicos no exercício do terrorismo global, com a companhia de soberanias enlouquecidas pela indiferença entre conseguir impor os seus objectivos ou promover o desastre geral. A permanência da reserva prussiana, é tanto mais inquietante quanto é visível que, não obstante a já habitual insistência sobre as interdependências, a versão da capacidade de exercer o unilateralismo, com a inerente proeminência, anda recordada por todas as latitudes.


Adriano Moreira, in DN 01.12.2009


O PALHAÇO
Para ler na íntegra.

Mário Crespo, no JN de 14.12.2009


Nunca tirei uma foto com o Pai Natal

Aquiles, hoje.

Também não acredito que estes políticos que por aí pululam levem o país por bom caminho.

Aquiles, hoje
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sábado, 12 de dezembro de 2009

VAMPIROS. É PARA LÁ QUE ME REMETE A ACTUAL SITUAÇÃO

Cada vez mais este tema do Zeca Afonso, OS VAMPIROS, se adequa à corrupção generalizada que há em Portugal. Vejam aqui, e ao vivo, o Zeca a cantá-lo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

QUE O SALÁRIO MÍNIMO SEJA INFERIOR À PRESTAÇÃO DO RENDIMENTO DE INSERÇÃO SOCIAL É UM DESASTRE

É uma catástrofe esta inversão de valores. Quem trabalha recebe menos do que quem está em casa sem fazer nenhum. E além de não fazerem nada, pois não são obrigados a um serviço cívico, ainda desmoralizam quem trabalha. Um desempregado recebe muitas vezes um valor inferior a essa prestação do Rendimento de Inserção Social (RIS), antigo Rendimento Mínimo Garantido, mas tem a obrigação de procurar emprego. Há pensões de reforma, e muitas, que são muito inferiores à pensão do RIS. Isto é um escândalo. Uma pessoa trabalha uma vida, descontando para a segurança social por toda essa vida de trabalho, e recebe uma miséria face ao que recebe um pensionista do RIS, que se calhar nunca descontou nada. Os do RIS limitam-se a viver à conta dos que trabalham e a segurança social paga mais a estes do que aos trabalhadores que descontaram uma vida inteira. Há pessoas a despedirem-se dos empregos alegando que o RIS é mais compensador, pois não têm de pagar transportes e comem em casa. Nem vou aqui contar casos que conheço. Mas a injustiça do RIS está a provocar uma fractura na sociedade portuguesa. Há uma revolta grande em pagar impostos para serem esbanjados no RIS. Devo aqui reconhecer que o propósito que criou o RMG era salutar e prenhe de solidariedade, mas não passou de uma quimera pois a realidade não tem nada de solidariedade. Onde está a solidariedade para com os reformados? Para com os deficientes? E para com aqueles que trabalham? Que ainda têm de ouvir na ida para o trabalho o imbecil ocioso dizer: «É preciso que alguém trabalhe pra mim receber o rendimento mínimo». Que encorajamento e valor se dá ao trabalho? E que dizer daquela mãe (ou avó), que face a um atraso do vale do RIS não mandou os filhos para a escola, ameaçando que só o faria quando lhe pagassem?
Pergunto eu: temos de pagar impostos para os políticos esbanjarem, entre outras coisas, no RIS, fazendo-se passar por bonzinhos à custa do suor de quem, efectivamente, trabalha?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A IMPRENSA TAMBÉM CONTRIBUI PARA O MAL

Traduzo aqui um artigo de Elvira Lindo, publicado no EL PAÍS de 2 de Dezembro. O artigo decorre de uma detenção errada de um homem por assassínio e violação de uma enteada. E a origem do erro foi uma avaliação e análise errada de médicos.
Peço desculpa aos que aqui me lêem, e à autora, pela minha tradução do castelhano para português, embora julgue que está uma tradução fiel, apesar de livre.

A FURIA


Às vezes penso que temos entendido que a liberdade é esse direito que nos permite vociferar, assinalar um culpado e linchá-lo. Foi isso que ocorreu com o pobre homem que, por levar a sua enteada à escola, passou a entrar algemado numa esquadra.

Graças a uma falta de discrição em cadeia, dos médicos, da polícia, da justiça e dos média, reconhecemos nessa imagem o rosto do assassino, e a turba mais primitiva correu às portas do carro celular a desfrutar da execução moral. Como já não nos alimentamos para além das legendas de fotos e dos títulos, como já estamos a deixar de ler essa letra pequena em que se apreciam os matizes e as verdades, olhamos para o indivíduo e sentenciamo-lo: assassino, apodrece na prisão.


Falo no plural, sim, quero falar-lhes no plural, porque hoje mais do que nunca os periódicos constroem também os leitores, que podem participar activamente no fundo de uma notícia, e se até há dois dias os média digitais se inundavam de explosões implacáveis contra esse rapaz, ontem a culpabilidade era arremessada com a mesma intensa raiva contra a classe médica, a justiça, os média e o feminismo, ou «el hembrismo», como se lia ontem em várias dessas mensagens; uma expressão que me inquieta pelo que tem de fúria submersa. Não sei qual é o filtro que têm as opiniões dos leitores, sendo que às vezes me dá a impressão que nenhum. Sei, isso sim, que o filtro que tenho quando escrevo se chama educação.


Desejaria que o imperdoável erro cometido contra um inocente venha a servir para conter a ira, porque escrever uma mensagem num média digital deveria ser algo importante. Em alguns países a publicação de uma carta pode incluir um currículo profissional, e é prestigioso para um periódico que as cartas tenham elevação. Ontem, as únicas cartas memoráveis foram as que se limitaram a pedir perdão.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

PORTUGAL VAI FALIR?

Há essa possibilidade no horizonte. Iniciei este blog com um texto onde está inserida a frase que dá mote a este mesmo blog: «Esta mistura explosiva de ignorância e poder ainda nos vai rebentar na cara». É esta sentença que elucida o Portugal actual. Se os portugueses não sabem escolher nem fomentar elites, produzirão o colapso do país. E já têm pouco tempo.