domingo, 28 de fevereiro de 2010

TAL E QUAL, COMO SEMPRE, ONTEM E HOJE.

Não sei é se chega a amanhã. Transcrevo hoje um pequeno texto de Fernando Pessoa, O Fracasso, contido nas «Páginas de pensamento político, vol. I». Reflictam bem nele.


O FRACASSO
O observador imparcial chega a uma conclusão inevitável: o país estaria preparado para a anarquia; para a república é que não estava. Grandes são as virtudes [de] coesão nacional e de candura particular do povo português para que essa anarquia que está nas almas não tenha nunca verdadeiramente transbordado para as coisas!
Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos - porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos - tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regime a que, por contraste com a monarquia que o precedera, se decidiu chamar República.
A monarquia havia abusado das ditaduras; os republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a cortes constituintes, ou a qualquer espécie de cortes. A lei do divórcio, as leis de família, a lei de separação da Igreja do Estado - todas foram decretos ditatoriais, todas permanecem hoje, e ainda, decretos ditatoriais.
A monarquia havia desperdiçado, estúpida e imoralmente, os dinheiros públicos. O país, disse Dias Ferreira, era governado por quadrilhas de ladrões. E a república que veio multiplicou por qualquer coisa - concedamos generosamente que foi só por dois (e basta) - os escândalos financeiros da monarquia.
A monarquia, desagradando à Nação, e não saindo espontaneamente, criara um estado revolucionário. A república veio e criou dois ou três estados revolucionários. No tempo da monarquia, estava ela, a monarquia, de um lado; do outro estavam, juntos, de simples republicanos a anarquistas, os revolucionários todos. Sobrevinda a república, passaram a ser os republicanos revolucionários entre si, e os monárquicos depostos passaram a ser revolucionários também. A monarquia não conseguira resolver o problema da ordem; a república instituiu a desordem múltipla.
É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República? Não melhorámos em administração financeira, não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na monarquia era possível insultar por escrito impresso o Rei; na república não era possível, porque era perigoso, insultar até verbalmente o Sr. Afonso Costa.
(…)
Este regime é uma conspurcação espiritual. A monarquia, ainda que má, tem ao menos de seu o ser decorativa. Será pouco socialmente, será nada, nacionalmente. Mas é alguma coisa em comparação com o nada absoluto que a república veia [a] ser.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A TRIPLA INCAPACIDADE

Não posso deixar de chamar a atenção para o "Documento de Grupo de Reflexão da SEDES: Estabilidade e crescimento 10-13" que pode ser aqui consultado na íntegra.
Dele este destaque meu:
A evolução, nos últimos anos, não deixa dúvidas. Efectivamente, o produto registou um crescimento anual médio de apenas de 0,3% (2001 a 2009); a dívida pública bruta aproxima-se dos 80% e a total, directa e indirecta, terá subido de 88% para 100% do PIB (de 2005 a 2009) e o endividamento externo líquido de 38% para 104% do PIB (entre 2000 e Junho de 2009); o nível de fiscalidade ronda já os 38% do PIB (2008), correspondendo-lhe um dos mais elevados esforços fiscais da União Europeia, para o nosso nível de desenvolvimento; a taxa de desemprego, da ordem dos 4% em 2000, situava-se nos 7% em 2005 e excede os 10% actualmente.

Estes indicadores reflectem a tripla incapacidade do nosso sistema político e social para: (1) compreender todas as consequências de viver sem moeda própria e em mercado único, com a perda dos instrumentos alfandegário, monetário e cambial de intervenção do Estado; (2) promover a criação de condições estruturais que permitam a adaptação da economia portuguesa às novas realidades de um mercado global, livre e altamente competitivo; (3) rever as políticas orçamentais que têm contribuído para a desaceleração do nosso crescimento económico na última década e a crescente dependência financeira.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

LIBERDADE, POR ONDE ANDAS?

Já por aqui temos focado o tema da liberdade de voto de deputados. Hoje encontrei, aqui, um blog novo, que abre com esse tema. Aguardemos pela evolução do blog.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O EURO RESISTIRÁ?

Tenho dúvidas. Assim como tenho muitas dúvidas, diria imensas dúvidas, sobre a viabilidade da Uníão Europeia. Sobretudo por causa da qualidade medíocre dos agentes políticos actuais. Não têm craveira intelectual, nem moral, para ousarem ter uma visão estruturada para conduzir a Europa, a União, numa senda correcta. Trancrevo aqui um trecho duma notícia do Diário Económico de hoje. Onde também citam Soros, que diz que o Euro vai ser posto à prova muito mais que a Grécia. Aqui o pequeno trecho:
A União Europeia foi criada colocando a carroça à frente dos bois: definindo objectivos e calendários limitados mas politicamente atingíveis, sabendo de antemão que não seriam suficientes e que, mais tarde ou mais cedo, exigiriam novos passos. Mas, por motivos vários, este processo acabaria por ser travado. A UE tal como se apresenta está agora inerte.

O mesmo se aplica ao euro. A crise de 2008 serviu para relembrar as falhas na sua construção, uma vez que os seus membros tiveram que salvar os seus respectivos sistemas bancários de forma independente. A crise da dívida grega veio a acentuar ainda mais o problema. Se os países membros não conseguirem dar os próximos passos em frente, então o euro pode desmoronar.

CEM ANOS DEPOIS. UM OLHAR LÚCIDO.

Do Jornal regional de Mafra, O CARRILHÃO, transcrevo o editorial de 15 .02.2010 da autoria de Isabel Vaz Antunes, de que gostei muito. Talvez o melhor texto, até à data, que li a propósito das comemorações do centenário. Tenho lido muito lixo com muita baboseiro. Sei do que falo.


CEM ANOS DEPOIS

No ano em que se contam cem anos sobre a implantação da república, muita tinta irá correr sobre essa fase da nossa história. O melhor cenário será o de alguma tranquilidade no registo dos factos. O pior cenário será o de discussões aguerridas por quem defende um regime contra o outro, como se estivéssemos a reviver esses acontecimentos.
Provavelmente teremos de concluir que o nosso rei não merecia ser assassinado. Primeiro, porque ninguém merece ser assassinado. E depois, porque não faltam informações sobre o alto nível da sua cultura, a sua delicadeza de artista e, o que é mais importante, a sua preocupação com o reino e as suas qualidades diplomáticas.
Provavelmente, teremos de concluir que as pessoas de que o rei se fez rodear para governar não o fizeram da melhor maneira – dirão um dia os historiadores se por se tratar de más escolhas ou se por as guerrinhas partidárias não permitirem coisa nenhuma.
Provavelmente, teremos de concluir também que o maior problema terá sido o facto de as diversas facções que lutaram pelo poder considerarem, muitas vezes, mais importante o partido do que o País. Só assim se explica que, em cerca de dezasseis anos (entre 1910 e 1926), tenha havido quarenta e cinco governos!
Provavelmente, os de alma republicana dirão que a coroa era uma despesa que o reino não tinha de suportar. E os de alma monárquica responderão que, em comparação com a coroa vizinha, a de Espanha, os gastos de pelo menos uma das presidências que tivemos, em deslocações, comitivas, recepções, foram muito, muito superiores.
Provavelmente, os de alma monárquica acrescentarão que o facto de haver uma monarquia permite que os herdeiros do trono sejam preparados desde o berço para o desempenho das suas funções. Que um rei está fora das guerras partidárias e, portanto, numa situação, naturalmente, mais propícia para que todos se revejam nele, o que não acontece com um presidente proposto por um partido. E os de alma republicana responderão que não, o povo é soberano, o povo tem de escolher e o lugar mais importante da nação não pode ser ocupado por uma pessoa que simplesmente foi bafejada pela sorte de nascer num determinado berço.
Enfim, provavelmente, os monárquicos que lerem este texto dirão que é notória aqui a defesa da república e os republicanos olharão desconfiados, pensando que um dia destes O Carrilhão sai a terreiro a defender um referendo para o povo se pronunciar sobre o regime de governação.
Mas bom, bom será se, independentemente das nossas convicções (que, a este respeito, muitos de nós teremos dificuldade em construir) tivermos a lucidez para aproveitar o que de melhor encontramos em cada regime para traçar o perfil dos governantes que queremos. Que os partidos recusem fabricar a promoção da mediocridade e apostem mais em ser escolas de políticas pela promoção de Portugal e menos, muito menos, dos partidos. Menos promoção pessoal e mais promoção de valores, em que a honestidade seja a rainha. Políticos menos dependentes dos partidos para fazerem carreira, que surjam nas listas pelas capacidades e qualidades demonstradas no desempenho das suas funções profissionais. E que sejam suficientemente desprendidos do poder para baterem com a porta quando a máquina partidária criar uma pressão que afecte a verticalidade das suas convicções.
O mundo, com todos os defeitos, está em processo de aperfeiçoamento. Aos poucos terá de ser. E cada um de nós tem uma fatia de responsabilidade nesse processo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ZONA EURO ESTÁ A PRAZO?

Ver aqui, no Público de hoje, uma interessante notícia a propósito do que George Soros, já várias vezes referenciado neste blog, disse no Finantial Times.
Destaco a parte final da notícia:

O questionamento da solidez da actual forma da zona euro não é no entanto um exclusivo de George Soros. Há dez dias, o banco de investimento suíço Société Générale lançou um alerta no mesmo sentido.

Num relatório do banco elaborado por um dos seus analistas de topo, afirmava-se que os países do Sul da Europa estão encurralados numa moeda sobreavaliada e sufocados pela sua baixa competitividade, uma situação que acabará por levar à cisão da zona do euro.

O analista em questão, Albert Edwards, dizia que o problema de países como a Portugal, a Espanha e Grécia “é que anos de taxas de juro desadequadamente baixas resultaram num sobreaquecimento e inflação rápida”, e que mesmo que os Governos “consigam cortar os seus défices orçamentais, a falta de competitividade no interior da zona euro necessita de anos de deflação relativa (e provavelmente absoluta). Qualquer ajuda dada à Grécia apenas atrasa a inevitável ruptura da zona euro”.

Na altura, a agência Bloomberg lembrava que em 1996 Edwards enfureceu os governos asiáticos, ao prever a derrocada das divisas de muitos países da região, e que de facto aconteceu um ano depois – no que ficou conhecido como a crise asiática.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

DEMOGRAFIA É A CHAVE DOS PROBLEMAS DA EUROPA

Já venho, há algum tempo, a referir-me à problemática da demografia. Convém recordar, aqui, o que por aqui se foi aludindo. E hoje acrescento este artigo do jornal regional de Castelo Branco, RECONQUISTA, de 28.01.2010, da autoria de Agostinho Gonçalves Dias. O futuro é sempre uma incógnita. Mas está estranho percepcionar a incógnita da equação.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

FERNANDO NOBRE À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Do blog “CAUSA MONÁRQUICA”, com a devida vénia, retirei duas passagens do post em que relatam a comunicação de Fernando Nobre, no Funchal, no III Congresso Nacional dos Economistas.


Os números dizem 18% de pobres… Não me venham com isso. Não entram nestes números quem recebe os subsídios de inserção, complementos de reforça e todos outros. Garanto que em Portugal temos uma pobreza estruturada acima dos 40%, é outra coisa que me envergonha…” disse ainda

Quando oiço o patronato a dizer que o salário minimo não pode subir…. algum de nós viveria com 450 euros por mês? Há que redistribuir, diminuir as diferenças. Há 100 jovens licenciados a sair do país por mês, enfrentamos uma nova onda emigratória que é tabu falar. Muitos jovens perderam a esperança e estão à procura de novos horizontes… e com razão”, salientou Fernando Nobre.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

EL POPULISMO

Do excelente artigo “MADUROS PARA EL POPULISMO”, que devem ler aqui, de Maruja Torres, e publicado no EL PAÍS semanal de 14 de Fevereiro de 2010, apresento aquí duas passagens:

Pero me estoy liando porque hoy quería hablarles de las posibilidades que tiene nuestro país de elegir en fecha no demasiado lejana a un político populista, o lo que conocemos como populista, uno capaz de gobernar hala¬gando los bajos instintos de los votantes, cumpliendo promesas desastrosas pero llamativas, y actuando por lo general con la inte¬ligencia de un koala.
(…)
Nos hemos ido acostumbrando a la desaparición de la inteligencia y de la delicadeza en el discurso público. Las mentiras más burdas han endurecido nuestras entendederas Y se nos ha agriado el paladar.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

HÁ TEXTOS CALADOS

Há um livro interessante de ler. Que não implica concordância com o autor. Mas que se deve ler com espírito crítico. E refiro-me aqui, e hoje, “ÀS MINHAS MEMÓRIAS DE SALAZAR” de Marcello Caetano. É muito interessante, e nada inédita, as suas impressões sobre Humberto Delgado. Nas páginas 254 e 255 da Edição da VERBO, 1977. A história do século XX ainda não está feita. Anda, por enquanto, a ser manipulada ao sabor dos interesses das correntes em voga. É preciso muita paciência de investigação para tirar a espuma da demagogia da superfície da verdade. Será preciso que não haja ninguém vivo dos nascidos antes de 1980 para que se possa fazer luz sobre essa parte da história de Portugal. Não sei se valerá a pena, nessa altura, pois Portugal deve estar, então, um estado muito exíguo e sem peso da historiografia portuguesa. Nada de anormal, pois tudo tende a ter um fim. No meu tempo de vida vi nascerem estados, desaparecerem outros, fundirem-se outros e desintegrarem-se ainda outros. É a dinâmica humana.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

VIVEMOS NUM MUNDO DE FICÇÃO

Recomendo a leitura deste post. Vale a pena reler.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

CIVISMO. A NOSSA DEBILIDADE

Não vou comentar o que se passa em Portugal. Anda por aí sobejamente documentado. E explicado. Há numerosos e bons conhecedores das questões em causa a opinar e a comentar. A crise é grave. E a falta de vergonha também. Poderia dizer que a actual situação de Portugal não faz sentido. Mas há o problema do deficit de civismo, de rigor público e de patriotismo dos portugueses. E é esse deficit que faz todo o sentido para o torpor do momento. No enquadramento actual a situação só pode piorar. Para melhorar era preciso dar uma volta radical à política, e nos políticos portugueses. Mas o tal deficit não tem capacidade para tal e, assim, inibe que os portugueses possam demonstrar que têm “tomates”. Já tiveram. Já. Mas hoje os portugueses já conjugam tudo no passado. Não têm futuro. Vivem do passado sem serem capazes de viabilizar um futuro. A ignorância e a iliteracia, conscientemente provocada e alimentada por todos os governos desde a década de 80, tem agora, e daqui para a frente, os seus resultados. Passar sem saber, equivalências de esmola, e professores já fruto destes resultados, só podia conduzir ao deficit. Não há luz ao fundo túnel. Nós nem temos túnel, pois o que temos é um poço.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

OPINAR, SÓ OPINAR.

Os novos tempos, que exigem uma nova definição de um conceito estratégico nacional, mas resistem a deixar ver os contornos dos desafies do futuro que nos visita, ou até já vive entre nós, todavia fizeram saber que os combatentes não são dispensáveis, e que as forças armadas continuam a ser exigidas para participar na implantação e manutenção da paz pelo direito.
Ninguém, no exercício das responsabilidades efectivas do poder político, no espaço europeu e fora dele, sabe com segurança dizer a respeito da nova ordem mundial nada de mais rigoroso do que opinar que acabou a antiga.
Da alocução do Prof. Adriano Moreira proferida aquando a inauguração do monumento aos combatentes. Este trecho, que aqui destaquei, considero-o uma das boas definições do conceito de geoestratégia.