Estive de férias durante 2 semanas, na Páscoa. Durante a primeira, no dia em que me dirigia a Mértola, a encantadora, ouvi a notícia de que iam encerrar os tribunais de Mértola, Fronteira e de mais quatro ou cinco concelhos. No outro dia tinha programado passar em Fronteira. Alguém da família queria lá ir visitar o Centro de Ciência local, que irá ter, segundo percebi, o melhor telescópio em funcionamento em Portugal. Pensei ir almoçar, em Mértola, à Casa Amarela, do outro lado do rio. Estava fechada. Em definitivo. Almocei no local do costume, no Migas, junto à praça. E meditei sobre Mértola. Qual o futuro de Mértola? Ficar-se por ser Museu? Quem vai ficar em Mértola? Um Lugar sem hospital, sem grandes escolas, agora sem tribunal. As minas já se foram. A terra está lá, mas não me apercebi de grande vigor agrícola. Não vi industrialização nenhuma e o turismo pareceu-me, como desde há anos, tímido. Não sei se também vão ter de ir nascer a Espanha, mas sempre era mais seguro e confortável. O estado fecha quase tudo no interior. Curiosamente só não fecha as repartições de finanças. Onde cobra os mesmos imposto pelas taxas dos impostos que cobra aos de Lisboa, onde tem tudo para os cidadãos, embora nos seja licito duvidarmos da qualidade desse “tudo”. Mas lá em Mértola, como em todo o interior, pagam pela tabela, mas não têm tudo. Já quase não têm nada. Li no Expresso uma frase de um serigrafista a viver em Serpa, que agora não recordo o nome e nem tenho o Expresso à mão, que associei a isto. Ele dizia, mais ou menos, que tinha lutado tanto pelo poder local e que actualmente o poder local se tinha tornado um cancro. Isso é verdade para os grandes centros. Mas para Mértola, Fronteira, Arraiolos, Monforte, Barrancos e outras tantas já não é verdade. A edilidade é a última réstia de esperança de sobrevivência para aquelas povoações. Só eles as podem defender da extinção. O governo central, o que governa o país, não o fará, pois não tem estratégia nenhuma para Portugal, nem julgo que saibam o que é isso, e muito menos o que é geoestratégia. Só por isso se pode perceber que um ministro tenha optado pela medida de enviar as grávidas da raia a parir em Espanha. Para além de menosprezarem o orgulho nacional, não percebem as implicações geoestrtégicas que medidas destas vão ter a médio e a longo prazo, ou mesmo a curto prazo se o ritmo de desertificação humana se mantiver num nível insustentável, até para autarquias bem dinâmicas. Sem contar com a humilhação das nossas cidadãs que em Espanha, apesar de muito bem tratadas, se sentirão sempre estrangeiras, estranhas ao meio. O que é que pode levar os jovens a ficar? A casar-se, constituir família, contribuir para o desenvolvimento? Já lá não há nada. Só lhes resta um emprego na autarquia, e para ambos. Senão emigram. Não há alternativa. O país empurra-os para fora. Hoje achei piada ao Presidente da República quando no seu discurso, entre outras coisas interessantes, nomeadamente quando falou dos festejos do 25 de Abril, se referiu à questão da saída para o estrangeiro dos jovens qualificados. Já
aqui me tenho referido a esta problemática. Só não percebi a parte que o Presidente não percebeu. Se em Portugal quem tem diplomas trouxas, ou exibe, tendo só a quarta classe, diplomas de frequência de pós-graduações que exibem nos gabinetes, onde a palavra frequência é minúscula face a todo o resto do texto, são os individuas que gerem a coisa pública ou as empresas propriedade da coisa pública, não entendo as dúvidas do Presidente face à fuga dos jovens devidamente credenciados e, pior ainda, competentes, que é palavra arredada da coisa pública. Mas hoje celebramos o quê? O encerramento das maternidade? O encerramento dos tribunais de Fronteira e de Mértola? O estado de desânimo que implantaram no país? Mais de uma vez disse que quem tiver mais de 30 anos que fuja de Portugal enquanto é tempo. E parece que já não há muito tempo.
Ah! Na segunda semana rumei até Espanha. Fui-me deprimir, comparando o percurso da Espanha com o de Portugal. Erros nossos, má fortuna.