Para se delinear um programa, deveríamos pensar no que não podemos fazer. Porque eu só vejo políticos convertidos em keynesianos e que não têm uma ideia do que ele disse, quando o disse e porque o disse. Para eles, keynesianismo é gastar primeiro e pagar depois. O problema é que quem paga somos todos nós quando eles fizerem parte da história como maus exemplos.Segundo, deveríamos pensar como nos queremos apresentar aos investidores internacionais quando a crise estiver a passar. Se, daqui a um ano, a economia internacional estiver a recuperar, como queremos atrair investidores, que indicadores lhes queremos mostrar para os convencer a confiar na nossa economia, que desequilíbrios serão aceitáveis? Para além dos subsídios e das isenções de impostos que são custosos e de duvidosa eficácia, que País queremos apresentar? Certamente, que vamos ter um País endividado como nunca esteve; um Pais que será visto (já é visto) como um País de alto risco. Basta ver a pressa com que se lançam concursos e se fecham contratos de grandes projectos, cujos custos sofrerão grandes derrapagens porque os estudos técnicos foram feitos sob pressão eleitoral.
O que dói é que, para Portugal, esta crise tem aspectos que nos são particularmente favoráveis. A queda dos preços do petróleo e dos bens alimentares, que justificaram os nossos problemas há um ano, beneficiam-nos, agora, mais do que a outros países. Do ponto de vista orçamental, em 2007, de facto Portugal era apresentável, o que também nos poderia ter favorecido. O mesmo não direi dos resultados orçamentais de 2008 que provaram que a casa ainda não estava arrumada, apenas apresentável: podíamos receber amigos mas não podíamos convidar visitas de cerimónia.
Além disso, não tínhamos tido uma bolha imobiliária como a Espanha ou a Irlanda, nem sequer algo parecido. E, muito importante, não tínhamos activos tóxicos, nem comprados aos Estados Unidos, nem de produção nacional. O nosso sistema bancário tinha concedido muito crédito, nomeadamente à habitação, mas tinha feito uma notável avaliação de risco, pelo que não produziu activos tóxicos em montantes relevantes. O Banco de Portugal tem aqui um quinhão dos louros, pese embora estar na moda ser bater no supervisor.Por tudo isto, daqui a um ano, quando a crise - esperemos - estiver passada, Portugal poderia estar numa posição relativa melhor do que aquela que tinha à partida. Mais uma vez, não estou a dizer que a crifi [crise financeira] poderia ter efeitos de pequena monta, apenas que fariam menores estranhos na nossa economia do que em outras congéneres se outra política tivesse sido seguida.Lamentavelmente, os factores que minorariam os efeitos da crise, em Portugal, foram esmagados por políticas incorrectas e atabalhoadas. Foi pena, mas já é tarde.
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Luís Campos e Cunha, no Público em 03.04.2009
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