Um excelente artigo de José Eduardo Agualusa intitulado "EÇA DE QUEIRÓS E AS ASAS DO PORTUGUÊS", publicado na revista LER nº 69, deste mês. Artigo que deve ser lido na íntegra. Mas relevo aqui três passagens desse artigo:
Hoje debruço-me sobre Portugal de uma varanda mais vasta - a Eternidade - e de novo me aflige o desdouro. Não que Portugal esteja pior do que há cem anos; está todavia mais pequeno. Já nem é bem um país – é um resumo.
(...)
Hoje erramos em ponto pequeno, e ainda por cima por imitação. Além disso, sendo minúsculos, ainda guardamos a memória do tempo em que fomos grandes, e isso é pior do que ser pequeno sem jamais ter sido grande. É um destino em tudo idêntico ao da bela mulher que envelhece. (*)
(...)
Há tempos passeava eu, placidamente, era um fim de tarde lento e melancólico, junto aos fortes portões do Paraíso, quando vi chegar um português. Via-se pela alma que fora um homem sem maldade. Também se via, olhando melhor, que fora inteiramente sem maldade, não por um esforço de vontade, mas por pura preguiça. São Pedro recebeu-o com um fatigado abraço - lembrem-se que findava o dia - e estendeu-lhe um par de asas. O português protestou: «E que farei eu com essas asas?» São Pedro, encolhendo os ombros magros: «Ora, filho, voa!» O português recuou, aterrado: «Ah não! Isso é que não pode ser! Fique lá o senhor com as asas que eu se vim para aqui foi para descansar.» E assim vamos nós.
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Hoje erramos em ponto pequeno, e ainda por cima por imitação. Além disso, sendo minúsculos, ainda guardamos a memória do tempo em que fomos grandes, e isso é pior do que ser pequeno sem jamais ter sido grande. É um destino em tudo idêntico ao da bela mulher que envelhece. (*)
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Há tempos passeava eu, placidamente, era um fim de tarde lento e melancólico, junto aos fortes portões do Paraíso, quando vi chegar um português. Via-se pela alma que fora um homem sem maldade. Também se via, olhando melhor, que fora inteiramente sem maldade, não por um esforço de vontade, mas por pura preguiça. São Pedro recebeu-o com um fatigado abraço - lembrem-se que findava o dia - e estendeu-lhe um par de asas. O português protestou: «E que farei eu com essas asas?» São Pedro, encolhendo os ombros magros: «Ora, filho, voa!» O português recuou, aterrado: «Ah não! Isso é que não pode ser! Fique lá o senhor com as asas que eu se vim para aqui foi para descansar.» E assim vamos nós.
(*)Sobre este tema da memória do termos sido, já tenho, recorridamente, divagado por aqui. O último, alguns postes abaixo, foi "O passado cabe todo num livro de 600 páginas"
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