Estas palavras, que adiante transcrevo, escritas por D. António Ferreira Gomes na Carta de Despedida, aquando da sua saída da diocese de Portalegre e Castelo Branco, são acutilantes. E são pertinentes hoje. E interrogo-me sobre o que se passa em Portugal para que nunca se ouçam as vozes atinadas, continuando o país sem rumo na mão de timoneiros inábeis, incompetentes e pindéricos. Que povo é este que não consegue distinguir o trigo do joio?
Ouçamos, então, o eco das palavras de D. António:
«É preciso uma religião para o povo? Decerto, mas é preciso sobretudo uma verdadeira Religião para os económica, social e politicamente poderosos, porque esses podem pecar mais opressiva e nefastamente e importa-lhes saber que da Justiça de Deus têm de esperar maiores castigos». ( …)
«O nosso problema é um problema de classes dirigentes. Que pode efectivamente pensar o povo senão que os seus dirigentes devem ter razão? Razão no que fazem, não no que dizem, se as duas coisas discordam. Não façamos uma religião, uma mora ou uma civilidade "para o povo": desacreditaríamos esses valores e chamaríamos sobre nós o vergonhoso labéu da hipocrisia». (…)
«não é só a propriedade que dá base ao patronato; a religião, a cultura, a ciência, a técnica, a autoridade fornecem outros tantos tipos de patronato em que o domínio humano se exerce, se porventura existe a capacidade». E isto porque «o patronato não é tanto um direito quanto uma fonte de responsabilidades». (…)
«Não confiemos na aparente "harmonia horizontal" das nossas gentes sofredoras, paradas e passivas, não vá acontecer que, na sua passividade, estejam acumulando a sensação de sofrimento injusto, de serem vítimas de qualquer entidade malévola e misteriosa, que os persegue sem causa. Se tal acontecesse, quando a tensão fosse bastante alta, ai daquele ou daquilo que lhes fosse apontado como causa dos seus males!... Todos sabemos como são as cóleras dos fleumáticos, e ninguém ignora também que nunca faltam os falsos profetas» (…)
«Ouvimos à nossa volta invocar a liberdade, a civilização, a democracia, a honra, a tolerância, a bondade natural. Tudo abstracções, meras formas, que podem ser admiráveis se lhes metermos dentro o conteúdo cristão, como podem ser a própria expressão do vazio. Nada há de mais perigoso que os valores cristãos invertidos, que as nossas verdades enlouquecidas: conservam o grande apelo do Evangelho, ao qual se rendem as almas nobres, que podem chegar a fazer o mal por amor do bem»
«O nosso problema é um problema de classes dirigentes. Que pode efectivamente pensar o povo senão que os seus dirigentes devem ter razão? Razão no que fazem, não no que dizem, se as duas coisas discordam. Não façamos uma religião, uma mora ou uma civilidade "para o povo": desacreditaríamos esses valores e chamaríamos sobre nós o vergonhoso labéu da hipocrisia». (…)
«não é só a propriedade que dá base ao patronato; a religião, a cultura, a ciência, a técnica, a autoridade fornecem outros tantos tipos de patronato em que o domínio humano se exerce, se porventura existe a capacidade». E isto porque «o patronato não é tanto um direito quanto uma fonte de responsabilidades». (…)
«Não confiemos na aparente "harmonia horizontal" das nossas gentes sofredoras, paradas e passivas, não vá acontecer que, na sua passividade, estejam acumulando a sensação de sofrimento injusto, de serem vítimas de qualquer entidade malévola e misteriosa, que os persegue sem causa. Se tal acontecesse, quando a tensão fosse bastante alta, ai daquele ou daquilo que lhes fosse apontado como causa dos seus males!... Todos sabemos como são as cóleras dos fleumáticos, e ninguém ignora também que nunca faltam os falsos profetas» (…)
«Ouvimos à nossa volta invocar a liberdade, a civilização, a democracia, a honra, a tolerância, a bondade natural. Tudo abstracções, meras formas, que podem ser admiráveis se lhes metermos dentro o conteúdo cristão, como podem ser a própria expressão do vazio. Nada há de mais perigoso que os valores cristãos invertidos, que as nossas verdades enlouquecidas: conservam o grande apelo do Evangelho, ao qual se rendem as almas nobres, que podem chegar a fazer o mal por amor do bem»
Pacheco de Andrade, in "O Bispo controverso - D. António Ferreira Gomes, percurso de um homem livre".
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