segunda-feira, 16 de julho de 2007

E AFINAL, ... ATÉ É FÁCIL :):):):):):):)

De um texto de Fernando Pessoa, escrito em 1919, intitulado «Como Organizar Portugal», destaco as seguintes passagens:
(...)
Repararam que a força da Alemanha provinha, não da valentia notável dos componentes individuais dos seus exérci­tos, não da perícia especial dos seus chefes militares, mas de ser na guerra o que era na paz, e na disciplina particular da vida guerreira o que era na geral de toda sua vida – uma nação plenamente organizada, coerindo dinamicamente em virtude de uma aplicação inteligente e estudada dos princípios de organização.


(...)


Se é fácil, porém, falar em organizar, menos fácil é, ao que parece, organi­zar deveras, ou, pelo menos, indicar como se organize. Nem se pode conceber época mais inapta para tomar sobre si o encargo intelectual que a palavra «or­ganização» comporta. Os homens do nosso tempo, destituídos por completo do senso das realidades, extraviados, por hipotéticos «direitos», «justiças» e «li­berdades», da noção científica das coisas, não logram, nem mesmo em teoria, visionar a construção da prática. Um século, ou mais, de «princípios de 891, um século, ou mais, de «liberdade, igualdade, fraternidade» tornou o geral dos europeus, salvo os alemães, obtuso para aquelas noções concretas, com as quais seguramente se constrói o futuro.


(...)


É evidente que o problema da organização se divide em três partes, uma das quais compete ao teórico, e as outras duas ao prático. Temos, primeiro, a determinação do plano ou norma segundo o qual se vai organizar; temos, de­pois, a colocação, nos lugares que lhes competem, dos homens competentes que hão-de efectivar, na prática, essa organização; temos, por último, a coordenação dinâmica dos esforços desses homens, a maneira especial de pôr a organização em marcha. A primeira parte é de pura teoria; a segunda e a terceira pertencem já à prática. Para a primeira não há senão regras; para a segunda e a terceira não há outra regra senão a realidade, nem outra norma, na segunda parte, senão a intuição na escolha dos homens, e na terceira, o espírito prático de coordenação de esforços.

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