domingo, 7 de junho de 2009

O QUE SOMOS NA EUROPA?

Esta é uma questão nebulosa. Já que hoje estamos el eleições com a Europa queria aqui deixar duas reflexões.Espero que estes dois textos vos permitam amadurecer as vossas reflexões. Sou um pessimista nato. E vejo o país tomado por gente medíocre, que mais não faz do que se perpetuar no poder. E usufruir. Legislam em função dos seus interesses privados. Legislam de forma a bloquear o acesso à governança a outros que não eles, e de forma democrática, ou melhor, usando o sistema democrático para isso. E não estou a ver solução imediata para os fazer saltar da toca. Estão acantonados. E o país adiado. Só não sei se aguenta muito ser adiado. Estou descrente. Mas eis aqui as duas reflexões:

Uma, o artigo de José Eduardo Franco «O MITO DA EUROPA EM PORTUGAL», Publicado na revista NOVA ÁGUIA, nº1, 1º semestre, 2008.

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A Europa tornou-se, desde o Marquês de Pombal, um tema omnipresente e recorrente política e ideológica. A Europa tornou-se para nós menos um continente com um território geograficamente delimitado e mais uma ideia e acima de tudo um mito.
A obsessão pela Europa, por uma Europa culta, por uma Europa do progresso que precisamos de imitar, seguir e copiar se, por um lado nos tem mobilizado, por outro tem-nos gravemente paralizado e abatido a auto-estima colectiva. A Europa tornou-se para nós modelo e limite.
O século XIX desmascarou, pela voz dos intelectuais dominantes, a nossa decadência extrema e lamentou o nosso grave afastamento da Europa, lançando-nos para a última carruagem do comboio do progresso europeu.
O Portugal do século XX andou boa parte do tempo preocupado com a Europa, ora para a tentar imitar, ora para a evitar com o Estado Novo e com a sua censura aos ventos do pensamento avançados que sopravam da lado de lá dos Pirinéus.
A nossa Democracia recuperou a velha obsessão pela Europa, a velha obsessão pombalina, acreditando que resolverá todos os nossos problemas se nos entregar ao sedutor projecto de um continente unido.
Mas a distância entre nós e a Europa parece não querer esbater-se tão rapidamente como se esperava. Quase todos os dias vemos indicadores, estatísticas nos jornais que acusam a nossa triste lonjura da Europa na Educação, nos salários, na saúde, etc. Europa, a Europa, a Europa, quando seremos como tu! E o sentimento de crise toma conta de nós. Ou melhor, nunca mais nos largou! Somos o país-sempre-em-crise, o país-caudada-Europa. Porquê? Porque não somos iguais aos nossos pares europeus, não somos iguais à Europa?! Dessa ideia de Europa que nem sempre somos capazes de concretizar nem definir, uma ideia mais abstracta do que concreta, mas que condiciona e fere de depressão a nossa autoestima nacional.
Urge exorcizar o mito da Europa-sempre-melhor-do-que-nós que nos possui e nos atormenta desde o tempo do iluminismo, quando através da propaganda de Pombal ganhámos o complexo terrível de país-cauda-da-Europa. Se é evidente que a ideia de Europa, carregada de imaginário (como carregada de imaginário é a ideia de que no tempo dos Descobrimentos fomos a vanguarda da Europa), tem a virtualidade de nos inquietar e de procurarmos mais e melhor, tem também inoculado a perigosa doença real de lançar-nos numa insatisfação permanente, de nos minar a auto-estima, de nos criar uma consciência de crise que nos tolhe a capacidade de empreendedorismo que também precisamos de estimular.
Precisamos de exorcizar esse mito platónico de uma Europa ideal impossível de alcançar e voltarmos a acreditar em nós próprios, de valorizar aquilo que temos e fazemos de bom, e em alguns casos até melhor do que essa Europa que idealizamos, para ousarmos ir mais longe e vencer a batalha do futuro, à nossa maneira e com as nossas possibilidades, sem desejos doentios de imitações. De facto as imitações nem sempre são o melhor remédio. Melhor que imitar a Europa importa recriar as nossas potencialidades empreendedoras como país europeu virado para o Atlântico, recuperando a nossa herança histórica de povo ecuménico capaz de criar universalidade e de potenciar riqueza nas relações entre povos e culturas diferentes.
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A outra feflexão é do incontornável livro «JUÍZO FINAL» de Franco Nogueira. Por mais voltas que dê, este livro está-me sempre na mira quando derramo o olhar sobre o futuro actual de Portugal.
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Ainda em António José Saraiva: «É confrangedor assistir entre os intelectuais portugueses à falta de confiança nas próprias raízes, ao complexo que os faz humilharem-se perante qualquer mirabolância insignificante vinda lá de fora» (A. J. S., Vida Mundial, 7-V-71). Em seguida, os Portugueses são excessivamente impressionáveis e crédulos, e sempre prontos a aceitar, a acreditar, a tomar como ponto de fé e como verdades o que os outros lançam no mundo, tendo em conta os seus interesses e não os de Portugal, e os ideais que os outros inventam e propagam tendo em mente os seus interesses e não os de Portugal. É assim, para citar apenas alguns exemplos mais recentes historicamente, que muitos portugueses acreditaram sucessivamente que o futuro de Portugal estava com Napoleão, e depois com a Santa Aliança, e depois com a Sociedade das Naçõess, e depois com as Nações Unidas, e depois com a paz e a solidariedade universais, e assim até ao infinito. Aderem por isso aos modelos estrangeiros, e seguem-nos, julgando que são modernos e avançados, jogando os interesses nacionais num só «cesto», como se este fosse eterno. Por outro lado, não atentam suficientemente na sua história, e não parecem capazes de identificar os interesses nacionais permanentes e vitais, e por isso não descobrem no que os outros propõem aquilo que pode prejudicar tais interesses. Nem tão-pouco vêem por detrás do que os outros dizem ou fazem, aquilo que os outros escondem; e dir-se-ia que tomam tudo como novo e definitivo, porque os tempos lhes aparecem novos e outros. Finalmente, os Portugueses querem sempre beneficiar de tudo, e estão prontos a apoiar uma política, para retirar os seus benefícios, e a política contrária a essa, para retirar outros benefícios, mas sem querer fazer sacrifício por qualquer das duas.
Erros históricos são aqueles de que um povo apenas toma consciência ao cabo de duas ou três gerações. Todas as elites portuguesas, em todas as épocas, os têm cometido. E mais tarde, outras elites, ainda que do mesmo tipo, procuram corrigi-los.
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Mas eu pergunto, depois de Franco Nogueira, quanto mais tarde essas outras élites?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

OS PIRATAS DE UNS SÃO A GUARDA-COSTEIRA DE OUTROS

De autoria do etíope K' NAAN, no artigo "OS PIRATAS DO DESESPERO", no «Courrier Internacional» de Maio deste ano, transcrevo o seguinte:


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Nessa época, os pescadores locais denunciavam já as embarcações que entravam ilegalmente nas águas somalis e roubavam todo o peixe. Ao mesmo momento, foi encetada uma prática mais sinistra e desprezível. A empresa suíça XXXX e a italiana XXXXX fizeram um acordo com Ali Mahdi que as autorizava a depositar contentores de resíduos nas águas somalis. Estas firmas pagavam aos senhores da guerra três dólares [pouco mais de 2 Euros] por tonelada, quando, na Europa, desembaraçar-se de uma tonelada de desperdícios custa à volta de mil dólares [758 Euros].
O «tsunami» de 2004 rebentou vários contentores, cujo conteúdo se espalhou pela costa, e milhares de pessoas da região da Puntlândia começaram a queixar-se de perturbações graves e sem precedentes: hemorragias abdominais, úlceras cutâneas e vários sintomas semelhantes ao cancro.
É tempo de o mundo dar aos somalis garantias de que estas actividades ocidentais ilegais cessarão quando os nossos piratas puserem termo às suas operações. Não queremos que a UE e a NATO protejam os bandidos que se desembaraçam dos desperdícios nucleares para cima de nós. Esta crise é uma questão de justiça. Os piratas de uns são a guarda-costeira de outros.
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Neste mundo nada é simples, nem a verdade é transparente. Isto digo eu.

domingo, 31 de maio de 2009

ENQUANTO RAZÃO, A PÁTRIA É UMA ENTIDADE ESPIRITUAL.

Já por aqui referismo a revista «57». Uma excelente aventura de António Quadros, e não só. O seu "Manifesto" sobre a A Pátria deve ser analisado com muita atenção. Mas vejam aqui o post "Pátria, nação e mátria" sobre esse manifesto no blog «Cadernos de Poesia Extravagante»

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A PENSAR PORTUGAL

Pensar Portugal a partir da sua tradição. É o lema do excelente blog «O Lugar da Alma», com link ao lado, que recomendo aos meus leitores e a todos os que estudam e reflectem Portugal e a cultura, que dizem, Lusa. Nunca é demais o estudo. Se não acrescenta sabedoria, acrescenta maturidade à reflexão.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O NOSSO QUERER


E porque hoje, nas complicações extenuantes da velhice, com o cérebro avassalado por tradições de muitos séculos, com o sangue envenenado por drogas de várias origens, com as lembranças do providencialismo absolutista, com as basófias da grandeza antiga, com o bafio das sacristias a perverter-nos o olfacto e o vício do milagre a entorpecer-nos a acção, desmoralizados pelos desenganos, vergando sob o peso esmagador de um passado que nos deixou nos carunchosos guarda-roupas históricos velhos mantos gloriosos roídos já pela traça: porque hoje falta-nos aquele viço da pujança antiga desabrochando nos actos dessa energia simples com que as nações afirmam a vontade irredutível de existirem.
O nosso querer é apenas platónico, incapaz de nenhuma espécie de sacrifício. Não somos tão simples que o não sintamos: o português é inteligente. O que nos falta é a mola íntima, rija de aço, que se partiu. Por isso buscamos iludir-nos como os doentes desenganados. Deitamo-nos aos anestésicos. Com o éter da finança esquecemos a anemia económica e com o clorofórmio da jogatina suprimos a fraqueza do trabalho; a morfina dos melhoramentos vai-nos ando horas regaladas, e o láudano do orçamento o pão nosso de cada dia. O cloral da emigração afasta a necessidade cruel dos tratamentos antiflogísticos; e a cocaína do trânsito, pretendendo em vão tornar esta faixa litoral da Península uma terra de passagem, estalagem brunida e sécia para uso do mundo que se diverte, procurar pôr o sol em acções - e quem sabe se a própria lua das nossas noites encantadoras, ela que desenrola o seu meigo velário de prata para também nos iludir com perspectivas fantásticas sobre a nudez da terra que habitámos!
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Oliveira Martins, in "PORTUGAL NOS MARES"

quinta-feira, 21 de maio de 2009

PORTUGAL ESTÁ À BEIRA DO SEU FIM?

Vejam o programa PRÓS E CONTRAS de 18.05.2009, aqui e aqui.

Mas façam-no com atenção. E observem as entrelinhas.

Sobretudo atentem bem o Prof. Adriano Moreira e o Gen. Garcia Leandro

segunda-feira, 18 de maio de 2009

VOTAR NA NOSSA EUROPA?

Independentemente da variedade de conceitos de Europa, parece impróprio afirmar que finalmente o país se encontrou com a Europa, porque aquilo que aconteceu foi ter de escolher entre um dos novos conceitos. Nesta escolha, que se concretizou na CEE como primeira prioridade, acontece que o projecto não tem qualquer contribuição portuguesa na origem. Não se encontra presença nacional entre os que, aceitando hoje Jean Monnet como o pai da ideia e da realidade, desenvolveram o projecto ao qual finalmente aderimos.
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Adriano Moreira

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A GEOESTRATÉGIA É TRATADA DA MESMA FORMA COMO LIDAM COM OS PNEUS


Os pneus são a parte da viatura que a conectam com a sua utilidade. São um factor importantíssimo na viatura. Mas não lhes ligam muito. O que é importante são os comandos dos aparelhos musicais no volante, o espelho na pala, o sítio para colocar a lata da bebida, etc. Enfim, os pormenores do confortozinho. A geoestratégia está na mesma situação. Trata da conexão, mas ninguém liga. Iludem-se com tretas do imediato e não acautelam os tempos do depois dos amanhãs. A factura está aí.

sábado, 9 de maio de 2009

A DEMOGRAFIA SERÁ O RESULTADO DA DERROTA DAS POLITICAS DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

E muito bem explicado, aqui. Há muito que se avisa. A cegueira de se manter a todo o custo um conforto luxuoso, tem um custo fatal no futuro. O engraçado da questão, nos dias actuais, é que são os pais que limitam o futuro dos filhos, mas sastifeitissimos em poder auxiliá-los com o excedente proporcionado por limitações que põe ao desenvolvimento dos filhos. Um grupo etário egoísta que, desde a década de 60 do século passado, impõe a falência da sociedade ocidental. As políticas económicas e demográficas são interdependentes e reflectem-se em todas as outras políticas sectoriais. E os resultados, as facturas, estão a surgir.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

TEM TUDO A VER

Com o como chegámos até aqui, e neste estado.

Trinta e cinco anos depois de Abril, a democracia continua a viver à custa de Salazar e da sua queda. Parece que o regime democrático e a liberdade nada têm a oferecer ao povo para além do derrube do ditador. Que, aliás, não foi do próprio mas do sucessor. Aqueles partidos e aquela instituição vivem obcecados. Sentir-se-ão culpados? De quê? De não terem sabido governar o país com mais êxito e menos demagogia? De perceberem que a população está cada vez mais cansada da política e indiferente aos políticos? Preocupante é haver alguém que pense que aquelas imagens produzem algum efeito! A política contemporânea é de tal modo medíocre que o derrube do anterior regime é ainda mais importante do que o novo regime democrático. Essa é a mágoa! Trinta e cinco anos depois, a liberdade e tudo quanto se vive não são já mais importantes do que aquele dia de derrube.
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António Barreto, no Público de 3.05.09
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Os meninos sem rosto da nossa terra são a sombra dos nossos dias. Vivem nas casas mais pobres dos bairros degradados, onde a violência faz lei e onde não têm voz. Deambulam pelas ruas em bandos onde os mais velhos ditam a sua força e os arrastam para o crime. Frequentam a escola porque os obrigam, mas depressa a abandonam ou a contestam. Muito novos caminham para a delinquência, na esperança de poder conseguir assim um caminho mais fácil.
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Daniel Sampaio, no Público de 3.05.09
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Os resultados, como se costuma dizer, valem o que valem. Mas sempre dão uma ideia da cabeça dos portugueses, que toda a gente invoca e ninguém conhece.
VPV, no Públioco de 3.05.09
Os temas são os mais variados, das grandes questões, como a justiça mundial ou o ambiente, até às questões espúrias e tontas. O factor determinante em todo o processo é, sem dúvida, a comunicação social, e em particular a televisão. É ela que determina o alinhamento dos telejornais e decide as causas que são empoladas ou esquecidas. Não costuma ser a imprensa a criar os temas, pois há sempre na sociedade milhões de interesses, objectivos, sonhos à espera de reconhecimento. Mas são os jornalistas que decidem focar as atenções neste e omitir ou esquecer os demais. A sociedade actual vive em permanente alvoroço. O importante é manter a adrenalina e o nervosismo, que alimentam a procura dos media.
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César da Neves , hoje no DN.
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A distância entre esta programação e o entendimento dos atingidos pela crise da economia real, tem a sua expressão nos milhares de manifestantes e polícias que entraram em violentos confrontos nas ruas de Londres, na ocasião da chegada dos líderes mundiais, os quais não podem, ou não devem, ignorar o facto. Aquilo que os cerca de 35 mil manifestantes tornaram claro, sem grandes apoios teóricos de grandes nomes, foi que a realidade se traduz no alargamento da geografia da fome, nas falências, no desemprego catastrófico em crescimento global.
Que tenha sido enunciada uma política renovadora não se verificou, e não vai ser nem fácil nem rápido conseguir uma formulação que evite a concretização das piores consequências que o FMI previu para a crise. Mas a chamada de atenção para que qualquer solução seja organizada a partir da realidade, e que não parece eficiente pretender dominar a realidade pela imaginada limpeza do sistema que entrou em disfunção, exige uma intervenção, essa limpa das responsabilidades pelos erros e pelas faltas, que conheça as dificuldades de enfrentar uma realidade complexa, que talvez sem exagero se deva considerar caótica.
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Adriano Moreira, no DN de 21.04.09

quinta-feira, 30 de abril de 2009

FACTURA MUY CRUEL


Pero hay que tener cuidado com presumir de algunas cosas porque la realidad se cobra una factura muy cruel.

José Maria Aznar em entrevista ao EL PAÍS de 26.04.2009-04-30

La emigratión china reduce la pression demográfica en su país al tiempo que le permite jugar un papel global.

No El PAÍS de 26.04.2009 no artigo "África, el Far West chino"

sábado, 25 de abril de 2009

HOJE AINDA SE COMEMORA O QUÊ?

??? Que país resultou? Que cidadãos somos? Que esperança resiste?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A REALIDADE

A distância entre esta programação e o entendimento dos atingidos pela crise da economia real, tem a sua expressão nos milhares de manifestantes e polícias que entraram em violentos confrontos nas ruas de Londres, na ocasião da chegada dos líderes mundiais, os quais não podem, ou não devem, ignorar o facto. Aquilo que os cerca de 35 mil manifestantes tornaram claro, sem grandes apoios teóricos de grandes nomes, foi que a realidade se traduz no alargamento da geografia da fome, nas falências, no desemprego catastrófico em crescimento global.
Que tenha sido enunciada uma política renovadora não se verificou, e não vai ser nem fácil nem rápido conseguir uma formulação que evite a concretização das piores consequências que o FMI previu para a crise. Mas a chamada de atenção para que qualquer solução seja organizada a partir da realidade, e que não parece eficiente pretender dominar a realidade pela imaginada limpeza do sistema que entrou em disfunção, exige uma intervenção, essa limpa das responsabilidades pelos erros e pelas faltas, que conheça as dificuldades de enfrentar uma realidade complexa, que talvez sem exagero se deva considerar caótica.
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Adriano Moreira, no DN.
E já agora vale a pena reler este post aqui

segunda-feira, 20 de abril de 2009

ENDOGAMIA E ÉTICA

Ontem, no Público, um excelente artigo de Mário Vieira de Carvalho com o titulo «Mudar a universidade: endogamia e ética». Destaco duas passagens:
A endogamia das universidades portuguesas - isto é, o princípio da reprodução interna do seu corpo docente - tem-se mantido inabalável. E tem sobrevivido a todas as reformas. Se há excepções, é porque confirmam a regra.A instituição da endogamia é o maior travão à inovação, o factor que mais tem contribuído para a estagnação do ensino superior, para a sua incapacidade de responder com criatividade aos desafios que a realidade lhe coloca.
(...)
Mas há ainda a dimensão mais patológica do corporativismo - uma espécie de degenerescência do sistema causada pela endogamia: as lutas internas de grupo, pelo favorecimento de uns, à custa de outros, sem olhar a critérios de mérito relativo. Exemplos não faltam.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

AFINAL QUEM SÃO?


Quem os viu e quem os vê. Ando mesmo fascinado com a lata com que muitos políticos se apresentam à frente de um microfone. Como se não fosse nada com eles. Como se eles fossem o exemplo de honestidade, seriedade e etc.. Como é que este povo atura isto e não se revolta? Como? Só porque lhe dão futebol às toneladas? Só porque fabricam programas sobre futebol onde lhe vende a ilusão de que os clubes deles são os melhores do mundo? Só porque fabricam programas para onde o povo pode telefonar e iludir-se que tem opinião? Ou porque votam por SMS (pagando valor acrescentado, é claro) e se iludem que decidem? Como eu gosto de ouvir as vedetas cá do bairro dizerem "os portugueses decidiram". Mas afinal quem são os portugueses? Estou com uma enorme dificuldade em saber.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A FALTA DE EMPENHO NA DEFESA TEM CUSTOS

Todavia, a deriva para a privatização da acção militar parece ter levado a uma espécie de aristocratização da actividade, transformando em objecto social, avalizado pelo mercado, a variedade de intervenções, e por isso também as ofertas do mercenarismo inspirador. A mensagem destas sociedades tem relação com um facto que atinge todas as actividades públicas e privadas, cuja actividade seja tributária do avanço técnico e científico: a necessidade crescente de pouca gente, mas altamente qualificada, torna dispensável o antigo modelo do contingente, de serviço militar obrigatório, que abrigava muita gente sem qualificação exigente. E, também, a formação multidisciplinar dos quadros permanentes, e a sua concentração nas tarefas da tecnologia avançada, orientaram no sentido de contratar no exterior, com firmas especializadas, serviços sem os quais a máquina militar não funciona. O formalismo jurídico é observado, as obrigações de publicidade são cumpridas, o mecanismo bolsista está presente.
Adriano Moreira, "A legalização dos cães de Guerra", in DN de 14.04.2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

ESTRANGEIRADO

Do excelente blog dedicado a António Quadros, e do próprio, com link aí ao lado.

O pensador estrangeirado é afinal aquele que saiu de si para ser um outro que nunca poderá ser, a menos que por completo se desintegre do organismo cultural que é o seu de origem.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

SE

Para se delinear um programa, deveríamos pensar no que não podemos fazer. Porque eu só vejo políticos convertidos em keynesianos e que não têm uma ideia do que ele disse, quando o disse e porque o disse. Para eles, keynesianismo é gastar primeiro e pagar depois. O problema é que quem paga somos todos nós quando eles fizerem parte da história como maus exemplos.Segundo, deveríamos pensar como nos queremos apresentar aos investidores internacionais quando a crise estiver a passar. Se, daqui a um ano, a economia internacional estiver a recuperar, como queremos atrair investidores, que indicadores lhes queremos mostrar para os convencer a confiar na nossa economia, que desequilíbrios serão aceitáveis? Para além dos subsídios e das isenções de impostos que são custosos e de duvidosa eficácia, que País queremos apresentar? Certamente, que vamos ter um País endividado como nunca esteve; um Pais que será visto (já é visto) como um País de alto risco. Basta ver a pressa com que se lançam concursos e se fecham contratos de grandes projectos, cujos custos sofrerão grandes derrapagens porque os estudos técnicos foram feitos sob pressão eleitoral.
O que dói é que, para Portugal, esta crise tem aspectos que nos são particularmente favoráveis. A queda dos preços do petróleo e dos bens alimentares, que justificaram os nossos problemas há um ano, beneficiam-nos, agora, mais do que a outros países. Do ponto de vista orçamental, em 2007, de facto Portugal era apresentável, o que também nos poderia ter favorecido. O mesmo não direi dos resultados orçamentais de 2008 que provaram que a casa ainda não estava arrumada, apenas apresentável: podíamos receber amigos mas não podíamos convidar visitas de cerimónia.
Além disso, não tínhamos tido uma bolha imobiliária como a Espanha ou a Irlanda, nem sequer algo parecido. E, muito importante, não tínhamos activos tóxicos, nem comprados aos Estados Unidos, nem de produção nacional. O nosso sistema bancário tinha concedido muito crédito, nomeadamente à habitação, mas tinha feito uma notável avaliação de risco, pelo que não produziu activos tóxicos em montantes relevantes. O Banco de Portugal tem aqui um quinhão dos louros, pese embora estar na moda ser bater no supervisor.Por tudo isto, daqui a um ano, quando a crise - esperemos - estiver passada, Portugal poderia estar numa posição relativa melhor do que aquela que tinha à partida. Mais uma vez, não estou a dizer que a crifi [crise financeira] poderia ter efeitos de pequena monta, apenas que fariam menores estranhos na nossa economia do que em outras congéneres se outra política tivesse sido seguida.Lamentavelmente, os factores que minorariam os efeitos da crise, em Portugal, foram esmagados por políticas incorrectas e atabalhoadas. Foi pena, mas já é tarde.
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Luís Campos e Cunha, no Público em 03.04.2009

domingo, 12 de abril de 2009

UM LUGAR À MESA

Esta definição do VPV é, notoriamente, correcta
O português parte do princípio que os políticos se "enchem" (os que são espertos, pelo menos). Não acredita na honestidade do Estado ou na eficácia da lei. Acredita no que recebe e no que lhe tiram; e não se importava de arranjar um lugar à mesa.
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Vasco Pulido Valente, in Publico de 5.04.2009.

sábado, 11 de abril de 2009

A PRIMEIRA MISSÃO


Tendo vestido o alheio, cumpre despi-lo na praça. A primeira vestidura será a do cesarismo centralista que fez do povo com mais possibilidades democratas e maior vocação municipalista que jamais houve no mundo o seguidor apagado e triste de quanta renovação de paganismo e de romanismo a Europa inventou para, primeiro, dominar uma totalidade em proveito de parte, e, depois, em seu próprio proveito, dominar todo o resto da Terra. O que nos pertence, o que nos caracteriza, o que é verdadeiramente nosso, é o achado de uma fórmula política como a dos forais da Idade Média que permitia a um Rei livremente consentido por seu Povo, e não a ele se impondo por força ou manha, governar uma federação de repúblicas. A nossa coragem de recomeçar, porque todo o edifício de ruins alicerces por si mesmo tombará como tombou o primeiro edifício português por não ter havido a coragem de recomeçar Ceuta, tem de se haver com a obra de descentralizar e democratizar a administração e a organização política: Portugal e Brasil têm de restabelecer o poder municipal em toda a sua plenitude, entregando-lhe o fundamental da máquina administrativa, da economia e da educação; nenhum território pode estar sujeito a qualquer espécie de metrópole, nenhum traço de colonialismo pode subsistir, por mais tênue que seja, quer se trate dos territórios ultramarinos portugueses, quer, por exemplo, do Nordeste brasileiro em relação aos Estados do Sul; e a primeira missão que tem de ser confiada à grande língua comum é a de livremente poder dizer a todos os governantes a opinião de quem a fala. Neste ponto, e para além do conceito vulgar, temos todos que crer, e que crer sinceramente, em que é voz de Deus a voz do povo; a qual, como a outra, pode ser brusca e incómoda: mas é realmente salutar.
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Agostinho da Silva, «Condições e Missão da Comunidade Luso Brasileira», in "NOVA ÁGUIA" , Nº3, 1º semestre 2009.