terça-feira, 19 de dezembro de 2006

EX-COMBATENTES SÃO HOJE A CONSCIÊNCIA DA INSTITUIÇÃO MILITAR

Excluindo-se os ex-combatentes, ou seja, a integração nacional, resta, então, um clube privado, os militares, vulgo instituição militar.
Esta instituição, em qualquer país normal e democrático, tem como missão garantir a existência do país e respectivas instituições, bem como velar pela segurança e bem estar das suas populações. E tudo isto em consonância com os ditames do respectivo poder político. E sempre como corolário do esforço integrado de todos os nacionais, pois a responsabilidade dessa missão é de todos os cidadãos, embora a sua execução não seja efectuada por todos.

Posto isto, a exclusão da defesa dos direitos, da consideração devida, do bem estar e da gratidão (nunca reconhecida) aos ex-combatentes, derruba por terra qualquer justificação da existência da instituição militar em Portugal. Que é, aliás, o único país da Europa Ocidental que desconsidera os seus ex-combatentes.
Quando, acima disse que é “sempre como corolário do esforço integrado de todos os nacionais, pois a responsabilidade dessa missão é de todos os cidadãos”, vê-se pela forma como todas as instituições, incluindo especialmente a militar, que em Portugal tal corolário já não se verifica.

Assim, os militares, ao fazerem a defesa de se não pagar os míseros euros aos ex-combatentes, assumiram-se como um clube privado. Em Portugal, tudo o que eu enunciei como missão da instituição militar para um país normal e democrático, não é cumprido. Como tal a instituição militar não tem razão de existir. Transformou-se num clube privado a exigir que os cidadãos contribuintes, simplesmente, os sustentem, mais as suas mordomias, não se preocupando, nem lhe interessando, os cidadãos contribuintes que combateram pelo país , eles que eram verdadeiramente a Instituição Militar na sua génese, o povo na defesa dos interesses do país. Hoje, aos actuais militares, já só lhe interessam os seus vencimentos e mordomias. Só que eu fui criado, e servi, num tempo em que o comandante só comia depois de estar garantido que todos os seus homens tinham comida, e que só dormiam depois de saber garantida a acomodação para todos os seus homens. E que combatiam lado a lado. Infelizmente isso foi-se perdendo. Nos últimos tempos da chamada “guerra colonial”, no mato, em campanha, já só o sargento, quase sempre, é que era do quadro permanente. Os oficiais foram assim perdendo a ligação ao país real e aburguesaram-se demasiado. E depois restaram a falar do 25 de Abril. Que não passou de um levantamento de rancho. Não passou de uma reivindicação profissional por causa de uns que, como eles diziam, não tinham a 4ª classe militar. Foi esse o problema. Uns não tinham, e os outros só tinham a tal 4ª classe militar. Como o tempo foi demonstrando de imediato, isso era muito pouco, e desde então tem faltado muita classe, sobretudo na forma de tratar os ex-combatentes. E ao país falta compensar os ex-combatentes. Por muito que alguma vez venha a fazer, e eu não acredito, nunca compensará devidamente. Mas ao menos, de alguma forma, compensava e ficava o reconhecimento do país.
Temo que isso, infelizmente, venha a acontecer quando só restarem 2 ou 3 vivos, pelo que lhes vão dar, então, tudo e mais alguma coisa a esses 3, porque será, então, baratinho, e haverá a esperança de que morram dias depois.
Quer se goste ou não de Salazar, e eu não sou admirador, tem de se reconhecer o alcance da sua célebre frase: Choraremos os mortos se os vivos os não merecerem. E os vivos não os merecem. Choremos, então, pelos mortos, pelo país agonizante, pela indigência, a vários níveis, dos políticos, e por todos nós que fomos incapazes de impor o respeito que é devido a Portugal e à memória dos portugueses que, ao longo dos séculos, com mais ou menos esforço, com mais ou menos sucesso, nos legaram um país que agora, ao que parece, alguns se esforçam por esbanjar com a apatia de, quase, todos nós.

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