terça-feira, 5 de dezembro de 2006

POIS ENTÃO, QUE SE EXTINGAM AS FORÇAS ARMADAS

No Domingo, Marcelo Rebelo de Sousa, lá no seu programa, disse que se devia abrir o debate sobre a manutenção ou não das forças armadas em Portugal.
Está aberto. Eu sou pela extinção pura. E passo a explicar.
Disse, aqui, Diogo Vaz Guedes, o seguinte: «Quando lhe falo em Portugal, falo em Ibéria. Portugal já não existe. O mercado é Ibérico e quem não vê isso está enganado.» E ele é um dos homens do Compromisso com Portugal, lembram-se? O Dr. João Salgueiro, aqui há tempos, disse que Portugal é ingovernável.
Mas agora para mim o mais dramático foi o que se disse sobre os ex-combatentes. A mim ofendeu-me. Afirmar que Portugal "não tem recursos para resolver os problemas do futuro e do passado" para justificar o fim de um complemento de pensão, de valor ridículo, aos ex-combatentes foi uma manifestação de desconsideração por eles. Apesar de serem combatentes no passado, não estão mortos. E o futuro de Portugal não passa pelas forças armadas, antes pelo contrário.
Os ex-combatentes da chamada “Guerra do Ultramar” foram obrigados a ir. E as praças ganhavam um pré de miséria. Nada comparado com os chorudos vencimentos que agora ganham para irem para lugares paradisíacos, e não sendo obrigados, pois se estão nas forças armadas, estão-no de forma voluntária. Os ex-combatentes, que combatiam mesmo, se ganhavam alguma medalha, era em cima do caixão, e nunca enchiam o peito de medalhas. Combateram sem condições nenhumas. Eles que contem as histórias reais do que por lá passaram. Eles que tinham de ir 3 ou mais dias pelo mato para fazerem uma envolvente a uma operação, só com rações de combate e a dormir no mato, a que se acrescentava outros tantos dias de regresso. E quando chegavam ainda tinham de ir em coluna buscar água para se lavarem e em condições precárias. E comiam mal, em cozinhas precárias, de prato na mão. Eles que contem. E dormiam em cabanas tipo bairro da lata. Eles que contem. E no regresso, se não iam para funcionários públicos, nem o tempo lhe contavam para a reforma. Agora já foi corrigido, mas parece-me que ainda não a contagem a dobrar nas comissões a 100%. E o que é que o país lhes reconhece? Nada. Deram cabo da saúde, e muitos ficaram com as vidas arruinadas, e o país não lhes reconhece nada. Um deputado que ande a passear-se na Assembleia da República, pode reformar-se com 12 anos de passeio, e já foi com 8. Mas um ex-combatente não tem nenhum direito reconhecido. Os militares do quadro permanente têm hospitais de que se servem e as famílias. Os ex-combatentes não. E as companhias que estavam no mato, com excepção do 1º sargento, já só tinham pessoal do serviço militar obrigatório, do capitão até às praças. E alguns capitães foram obrigados a fazer duas comissões. OBRIGADOS. Eles que contem as histórias do que por lá passaram. E o que é que os ex-combatentes têm hoje. Porque é que os militares do Quadro Permanente nunca disseram nada a favor dos ex-combatentes? E a Liga dos Antigos Combatentes porque se silencia? Porque é dominada por militares? Será? Não há civis na sua estrutura? Ninguém se revolta?
Pois então se o país não tem dinheiro para grandes coisas, que cuide melhor das pessoas e extinga as forças armadas que logo resolve os problemas todos. Também já ninguém percebe qual a sua utilidade actualmente.
Se Portugal fosse um país a sério e estivéssemos a falar de condicionantes geostratégicas do país, então aí eu discorreria de outra maneira. Mas, como diz Diogo Vaz Guedes, Portugal já não existe, então é um desperdício estar a forçar os cidadãos à miséria para sustentar um sector e um estilo de vida ofensivo para quem só recebe 150 euros por ano como complemento de reforma, ou dividindo por 12 meses, 12,5 euros por mês. E estão contra os ex-combatentes por 12,5 euros por mês? O país devia dar-lhes, no mínimo, 500 euros por mês a cada um e dar como idade de reforma os 60 anos, que bem mereciam e não era nada de mais.
Pois então que se extingam as forças armadas. É mais pacífico para todos.

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