sexta-feira, 29 de junho de 2007

ELES NÃO SABEM, E NEM SEQUER SE INFORMAM, E DEPOIS FAZEM ASNEIRA.

«O grande projecto nacional é Portugal.

A aproximação de Portugal à Europa terá sido decidida com a esperança, entre outras, de desenvolvimento por aplicação de um tratamento de choque às desactualizadas estruturas produtivas portuguesas. Terá assim sido iniciada sem uma perspectiva de muito longo prazo, amadurecida, discutida e coerente com a essência histórica e geoestratégica do País, como seria próprio das grandes opções nacionais, e até talvez sem ter em conta que a Europa, tal Líbano dividido, indefeso e perplexo entre as fortes solicitações do Leste e do Ocidente, é passível do destino de uma mera península geográfica, tecnológica e anímica, a que apenas a Aliança Atlântica poderá garantir a suficiente inde­pendência. Também não terá sido julgado importante que os principais trunfos de Portugal - o geofactor, e o relacionamento especial com os países de lín­gua portuguesa - que lhe valem a individualidade na Península e um papel im­portante no Atlântico e no Ocidente, tendem a diluir-se numa Europa para a qual o Mediterrâneo importa mais que o Atlântico, e onde o País valerá ape­nas o muito pouco que pesa económica e demograficamente. Por outro lado, acontece ainda que o apoio financeiro e tecnológico necessário ao desenvolvi­mento do País se pode encontrar em boa parte também do outro lado do Atlân­tico, onde afinal o têm ido buscar outros países peninsulares e insulares - os asiáticos - que hoje são fortes competidores da CEE. No entanto, poderão não advir graves problemas de segurança para o País, se a meta for a «Europa das Pátrias», e não a integração, onde se possa ir colhendo frutos de cooperação económica com outros afinal no mesmo interessados, sem pressas e sem sa­crifícios do valioso património geoestratégico, marítimo e cultural que custou séculos de inteligência, coerência e sacrifício, e sem se correr o «risco» de os Portuguesas das Ilhas - naturalmente ciosos do esperançoso mar que não gostarão de entregar em troca de um salto no escuro à grega - se recusarem a acompanhar o Continente, assumindo uma vez mais o papel de reserva de na­cionalidade.»
Virgílio de Carvalho, in "O Mundo, A Europa e Portugal"

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