quarta-feira, 6 de junho de 2007

RECORDANDO PERSPECTIVAS

«Dizê-lo não significa que idealize a classe operá­ria. Na luta prolongada que se seguiu à Revolução Russa, foram os trabalhadores manuais que se viram derrotados, sendo impossível não sentirmos que foi por sua própria culpa. Repetidas vezes, em diversos países, os movimentos organizados da classe operária viram-se aniquilados pela violência declarada e ilegal, tendo-se os seus camaradas estrangeiros, a eles associados por uma solidarie­dade teórica, limitado a observar o que se passava, sem fazerem nada; e na base de tudo isto, causa secreta de muitas traições, tem-se encontrado o fac­to de entre os trabalhadores brancos e os das outras raças não haver sequer um simulacro de solidarie­dade. Quem poderá acreditar na consciência de classe do proletariado internacional depois dos acontecimentos dos últimos dez anos? Para a classe operária britânica, o massacre dos seus camaradas de Viena, Berlim, Madrid ou seja de onde for, foi coisa que pareceu menos interessante e menos importante que o desafio de futebol do domingo anterior. E no entanto isto não modifica em nada o facto de a classe operária continuar a lutar contra o fascismo depois de as outras se terem submetido. Uma característica importante da conquista da França pelos nazis viu-se nas espantosas deserções ocorridas no seio da intelectualidade, incluindo parte da intelectualidade política de esquerda. A intelectualidade é constituída pelas pessoas que gritam com maior estridência contra o fascismo, e no entanto uma proporção respeitável cai no derro­tismo mal o aperto surge. São bastante perspicazes para verem aquilo que joga contra eles, e além disso podem ser subornados - porque obviamente os nazis julgam ser vantajoso subornar os intelectuais. Com a classe operária não se passa a mesma coisa. Ignorantes demais para perceberem a tramóia que lhes estão a armar, facilmente engolem as promes­sas do fascismo, embora mais cedo ou mais tarde acabem por se decidir de novo pela luta. Vêem-se obrigados a isso, quando descobrem, à custa do próprio corpo, que as promessas do fascismo não podem ser cumpridas. Para vencerem a classe ope­rária em permanência, os fascistas deveriam ver-se forçados a elevar o padrão de vida, coisa que são incapazes de fazer e que provavelmente não que­rem fazer. »
George Orwell, in " Recordando a Guerra Espanhola"

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