O que parece ser a nova política externa da Espanha não é compatível com o que mais conviria a um Portugal que, para afirmar a sua individualidade e a sua liberdade de acção na Península, tem de continuar a assumir-se muito mais como país euro-atlântico que ibérico. Por isso é mais do seu interesse, não só a integração estratégica da defesa dos EUA e da Europa, como a preservação das relações históricas de segurança com a «Potência Marítima». É que tal política atlantista (não confundir com americanista) facilita a coesão vital dum Portugal quase arquipelágico, fragmentário, com parcelas situadas em áreas tidas de interesse estratégico, dos EUA e da Espanha, conforme a divisão «operacional» que estes aliados têm feito do espaço geoestratégico português. A coesão interterritorial de Portugal é a essência da sua individualidade e da sua personalidade, com a qual tem obrigação de concorrer para a construção duma Europa que tem de ser das pátrias para poder ser ela mesma, e não um rebanho de satélites dos que pretendem fazê-la mais à sua própria imagem. Daí que nacionalismo não seja necessariamente anti-Europa, como o regionalismo não é antipaís.
Virgílio de Carvalho, in "O MUNDO, A EUROPA E PORTUGAL".
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