terça-feira, 30 de outubro de 2007

DE JOELHOS

No post anterior não houve nenhum comentário. Todos os que por aqui passaram não reagiram ao limpar os sapatos do senhor, de joelhos. Em Portugal acha-se isso natural. Os portugueses são um povo que, hoje, ainda continua de joelhos. Qualquer medíocre os põe de joelhos. Por isso eu falei em texto, e não contexto geoestratégico. Assim se qualquer medíocre põe os portugueses de joelhos, logo Portugal é um país ajoelhado. Aliás, sempre o foi nos últimos quatro séculos.
D. António Ferreira Gomes, que foi bispo do Porto, é que disse de joelhos perante Deus e de pé perante os homens. Falou sózinho. O resto é conhecido.
Quem se ajoelha nunca se revolta. E é sempre cobarde para colaborar com os canalhas na subjugação dos outros. E reparem nos ajoelhados no Salazarismo, que após o 25 de Abril, berraram em comunhão com os canalhas para subjugarem outros, na ilusão de terem migalhas dos despojos. Hoje calados, submissos, e já de joelhos e de rastos. Os portugueses, já sem dignidade. Todos medíocres, subjugados e subjugadores. Mas continuam todos mesquinhos, tentando desgraçar o parceiro na mira de poderem obter algo dos destroços do colapso geral. Ajoelhados e de cabeça baixa, mas sempre prontos a tramar, a trair.

sábado, 27 de outubro de 2007

PARA ENTENDER PORTUGAL E O SEU COMPORTAMENTO GEOESTRATÉGICO

Para se entender Portugal hoje, é preciso entender a vida dos portugueses desde sempre, bem como, não o contexto, mas o texto geoestratégico de Portugal. Quem tem menos de quarenta anos já não faz, hoje, ideia nenhuma do que era viver-se em Portugal antes de ser um país suburbano rural. Quando ainda era rural, até mesmo as cidades. E como se deixou de ler até os mais velhos esqueceram. Os mais novos deixaram, entretanto, de compreender os textos escritos. Mas é preciso ir relembrando O Portugal de sempre para se entender onde se está. Não sei se perceberão, alguma vez, para onde vão.
Deixo aqui um pequeno trecho de Miguel Torga, retirado do romance "As Vindimas":

Embora o negassem à própria consciência, os patrões faziam parte da canícula que os causticava por fora e das sardinhas de espinha amarela que os salgavam por dentro.
- Quem há-de ser o do lenço?
Fizeram-se desentendidos, porque, em boa verdade, nenhuma humilhação agrada a ninguém, mesmo se é imposta pela duta necessidade de viver. E o Seara começou a olhá-los espantado. Era praxe obrigatória, na recepção, um do rancho limpar à chegada as botas do patrão. Adiantava-se dos companheiros de lenço branco na mão e, ajoelhado, procedia ao ritual. O proprie­tário sorria benevolamente àquele gesto de submissão e respeito, e abria a carteira.
- Então?
Depois de alguns segundos de hesitação, o Anastácio, sempre baixo como a terra, de orelha murcha disse que faria ele o serviço. E todos sentiram um alívio na alma. Se por um lado a natural dignidade os mandara resistir, o instinto de conservação temia um desfecho que os prejudicasse. Ora assim, embora o acto degradante se mantivesse e os comprometesse a todos na degradação, individualmente ficavam salvos pela abnegação do Anastácio.
O Seara alisou as guias do bigode, enquanto a testa se lhe
desfranzia.
- Ainda bem que nem sempre a estupidez leva a melhor.
Estamos portanto entendidos!

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

REFERENDAR ?

Um ponto de vista muito interessante, hoje, no Público, de Luís Campos e Cunha.

Aliás, não gosto de referendos nos moldes em que estão previstos no caso português. Os referendos devem ser claros quanto à alternativa. Ou seja, se quiséssemos referendar este tratado e ele fosse recusado, qual era a alternativa: saíamos da UE? Ficaria apenas o tratado chumbado? E porquê? Nada disto seria claro e nada pior que fazer uma pergunta em referendo cujas consequências não são claras no caso de vencer o "não". Os referendos são para escolher entre alternativas e entre caminhos claros, não para dizer sim ou não a uma lei ou a um tratado.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

UMA OPINIÃO. E DE FORA.

A despedida do jornalista espanhol Miguel Angel Belloso, hoje, aqui, no Diário Económico.

Gosto muito de Portugal, e os meus filhos têm uma camisola do Sporting, no entanto, não tenho grande confiança no futuro destas duas instituições. Em relação ao mais importante, isto é, o país, assusta-me a mediocridade da classe política, a sua falta de ambição, o seu tom especulativo. É verdade que as coisas têm melhorado ligeiramente nos últimos tempos, porém, o reformismo posto em prática é tíbio, com horizontes reduzidos e sem grandes objectivos. E assim não é possível chegar a bom porto. Enquanto o mundo roda a uma velocidade vertiginosa, Portugal continua ancorado nas discussões bizantinas, agarrado a uma pequenez estratégica. E é pena, porque em Portugal, à semelhança do que acontece em muitos locais do mundo, existe talento mais do que necessário para recolocar o país no local que merece, historicamente falando. Prova disto é este jornal, um exemplo fascinante de ambição, que exibe uma mistura de inconformismo, de perfeccionismo e de uma ansiedade saudável que é apanágio de todos os que aqui trabalham e que lutam para que o produto de cada dia seja o melhor possível. Como seria Portugal se o país funcionasse com o mesmo grau de exigência, de responsabilidade e de ilusão que caracteriza os meus colegas do Diário Económico? Sem dúvida que teria um horizonte mas amplo e prometedor. Para que vejam como sou imparcial dir-lhes-ei que tudo o que digo acerca de Portugal se aplica, em boa parte, a Espanha. Neste momento, o meu país atravessa uma situação crítica. E a minha opinião já é mais do que conhecida: os quatros anos de Zapatero foram, pura e simplesmente, nefastos. Apesar de alguns dados económicos concretos que poderiam contradizer esta avaliação tão austera, o principal motivo desta minha antipatia é a filosofia encetada pela legislatura, ou seja, um socialismo do mais genuíno que se possa imaginar. E o socialismo genuíno não quer cidadãos mas sim súbditos, não quer pessoas responsáveis mas sim dependentes, prefere os passivos aos activos ... em suma, mina e acaba por destruir o potencial de criação de riqueza que existe em todas as pessoas. E aqui me detenho.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

E DAS PROMESSAS FEITAS?

- “A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D’ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?

CANTO IV, 97, "OS LUSÍADAS", Luís de Camões.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

ESTUDAR ? E SERVE PARA QUÊ ?

aqui num post intitulado “Estudar ou não estudar”, que remete ainda para outros como o “Não vale a pena estudar em Portugal”, eu abordei a temática da não viabilidade de se estudar, pois em Portugal não gostam lá muito das pessoas que estudam. Dá-se mais importância a méritos mais manhosos para se singrar.
Mas hoje, no Público, Maria Filomena Mónica aborda exactamente este tema no seu artigo “VALE A PENA MANDAR OS FILHOS À ESCOLA?”. E do artigo destaco as seguintes passagens:

A revolução contribuiu para que muitos acreditassem ser a educação o caminho para uma vida melhor. Ao longo das últimas três décadas, os pais fizeram enormes sacrifícios para levar os filhos até à universidade. (...) Vendo-os desempregados, sentem-se, como é óbvio, ludibriados.
[...]
Um momento houve, em 1974, em que tudo pareceu possível. Mas a esperança de que Portugal se pudesse tornar numa sociedade meritocrática está em vias de desaparecer. A maioria dos pais considera, mais uma vez, que não é através da escola que se sobe na vida, mas através de "cunhas". Por outro lado, olha o espectáculo dos licenciados no desemprego com espanto. Muitos, pais e filhos, pensarão duas vezes antes de continuar na escola.
[...]
Quanto ao prolongamento da escolaridade, em nada contribuirá para diminuir a desigualdade social. A massificação do ensino encarregar-se-á de fazer diminuir o valor desse diploma. Do ponto de vista da mobilidade, o 12.º ano valerá menos do que a antiga 4.ª classe: não porque os alunos saibam menos, mas porque, ao distribuir um bem a todos, fica ipso facto desvalorizado. Os factos mais importantes são a evolução do mercado de trabalho e a melhoria dos curricula. Sem isto, o prolongamento da escolaridade apenas serve para esconder o desemprego juvenil.
[...]
A existência de expectativas profissionais quanto ao futuro só nasce em sociedades dinâmicas. Infelizmente, não é isso que acontece em Portugal.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

EXCELENTE DEFINIÇÃO

Entre outras definições possíveis, esta é muito interessante:
Democracia é um sistema em que as autoridades não se importam com que o você diz, desde que tenham os meios de impedir que você o faça.
Millôr Fernandes, in "Pif-Paf".

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

AQUELE PORTUGUÊS, DANTES, JÁ NÃO EXISTE

Desde há mais de uma semana que ando a matutar no homem, e mulher, português. No post de 7 de Outubro, onde coloquei um trecho de um texto de António Quadros, havia algo que me estava a escapar. E ontem lembrei-me de Joaquim de Carvalho, de uma passagem sua muito interessante:
A grande maioria dos portugueses vive o amor pátrio intuitivo e imediato, identificando-se normalmente com o amor à terra em que nasceram e onde lhes decorreu a primeira educação. (…) Se não erro, é o amor pátrio assim entendido, ou melhor assim sentido, que explica em grande parte a constituição da nossa vida civil com base no agregado familiar, o desinteresse pela vida pública como actividade de primeira plana, e a instabilidade de todas as organizações de significação estritamente política.
Ora este português já não existe. Ou tende a não existir. Era o português rural. Mas hoje as aldeias já estão desertas, o interior esvaído, a dinâmica esfarrapada e a confiança desfeita. Os portugueses de hoje não são os urbanos, mas sim os aldeões suburbanos. O país não passa de um subúrbio, tosco e mal alinhavado. São esses os portugueses que Quadros classifica como as pessoas que se auto-satisfazem e auto-iludem com os lugares-comuns ideológicos, com os discursos demagógicos e com as ideias convencionais de gerações que, para repudiarem um certo tipo histórico de nacionalismo, perderam a própria identidade e já não sabem quem são ou para que são, como portugueses. Empobreceram em tudo. Preocupam-se hoje com a pobreza material, preocupação que é elementar para a sobrevivência, mas sem terem em conta que foi por se terem empobrecido noutros domínios que hoje são pobres na algibeira.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

2 MILHÕES DE POBRES EM PORTUGAL. (1/5). MAIS 2/5 A ESCORREGAR PARA A POBREZA.

Em Portugal há a pobreza que, hoje, e porque é um dia referenciado, e só por isso, os jornais anunciam. E, pelo andar da carruagem, até 2010 mais 4 milhões irão engrossar esse número (mesmo os empregados a ganharem abaixo de 600 € são pobres). É a insustentabilidade de Portugal. Há um vórtice que nos está a sugar para a pobreza. Claro que há responsáveis directos deste estado de coisas. Que nunca são responsabilizados. Mas todos nós somos responsáveis, mais que não seja por omissão. E porque continuamos a votar nestes políticos que há 30 anos andam a tramar o país.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A DEMOCRACIA DE OPINIÃO

A democracia de opinião alimenta imensas ilusões. Além da tentação natural de fazer crer que ela representa a quinta­-essência da democracia pois joga no velho ressalto do apelo directo ao povo, alia-se à ideia de que torna a sociedade trans­parente, legível, fácil de compreender. Dado que, graças às sondagens e a um corpo-a-corpo com os cidadãos, ela pretende ter penetrado o segredo dos ,nossos humores colectivos e dos nossos impulsos, a sociedade parece-lhe límpida. Erro fatal: quanto mais os ritos e os códigos desta democracia bizarra parecetn omnipresentes, tanto mais a sociedade se torna pelo contrário opaca. Nada é mais natural: o descrédito dos modos de representação tradicional pesa sobre os dois quadros. Ele é consubstancial, sabemo-lo, à irrupção da nova santíssima trindade, a opinião, os média, o juiz; mas vai a par com uma sociedade cada vez mais repartida, percorrida por ramais e estruturas escondidas no mais profundo dela própria, a ponto de, ao lado do nosso mundo visível, se desenvolver um outro universo invisível, ilegal e que vê convergir todas as formas de marginalidade, de clandestinidade, de tráficos, mesmo de mafias. Por um estranho paradoxo, quanto mais o sistema parece demo­crático e transparente, tanto mais a sociedade simultaneamente se desmascara.
Alain Minc, in "A Embriaguez Democrática"

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

domingo, 7 de outubro de 2007

O HOMEM PORTUGUÊS

O homem português, ou melhor, o arquétipo do homem português é o que emerge e se revela em determinados períodos históricos favoráveis, mas é também o que se oculta ou é ocultado, o que se reduz a uma vida estagnada e recalcada, nos períodos em que se desfaz a sua «paideia». Uma «paideia», ao modo grego, é a solidariedade e a univocidade entre a estrutura cultural e o sistema educativo de um povo, ambos se ordenando a um «telos» ou a um fim superior, que todos então sentem como seu, pelo qual vivem, lutam e sacrificam se necessário for. Sem a restauração de uma «paideia» essencialmente portuguesa, não deixando de ser universal, será difícil, se não impossível, que o homem português se reencontre, numa reinvenção que ou começa pelas elites, pelas classes letradas, ou nunca mais será possível. Sem uma «paideia» portuguesa renovada jamais poderemos ter uma pátria portuguesa dinâmica, criadora de valores, voltada para o futuro a partir das suas raízes e das suas linhas genéticas fundamentais, sem as quais a nossa identidade se perderia num progressismo vazio e superficial.Recorrendo à metáfora camoniana, assistimos nos últimos anos à vitória do Velho do Restelo sobre o Gama, o mesmo é dizer, da terra sobre a água e sobre os elementos aéreo e ígneo. (…) O que parece dominar hoje em Portugal é a face negativa, nocturna, decaída do arquétipo, do modelo ou da imagem sublimatória que o português já teve de si próprio e o levou a ousar rasgar os seus trilhos na superfície do mundo ou da vida. (…) Vivemos hoje um período de menoridade e de adolescência regressiva em que, predominando o intelecto passivo, as pessoas se auto-satisfazem e auto-iludem com os lugares-comuns ideológicos, com os discursos demagógicos e com as ideias convencionais de gerações que, para repudiarem um certo tipo histórico de nacionalismo, perderam a própria identidade e já não sabem quem são ou para que são, como portugueses.
António Quadros In, «Portugal, Razão e Mistério»
Retirado do excelente blog que é dedicado à obra e ao pensamento de António Quadros.

sábado, 6 de outubro de 2007

APARENTE DEMOCRACIA

Os governos e os grandes partidos europeus substituíram a democracia por decisões iluminadas, tomadas in cameraNuma altura em que se perde de vez a possibilidade de os portugueses se pronunciarem sobre o novo tratado europeu, com o abandono do compromisso pela actual liderança do PSD de fazer um referendo, dá-se mais um passo num triste caminho de criar uma entidade internacional que é cada vez menos democrática e a quem entregamos cada vez mais a nossa soberania nacional. É uma decisão, por parte do PSD e do PS, inqualificável de falta de respeito pelos compromissos assumidos, tornada ainda mais grave quando é claramente manchada pelo facto de ter como principal razão o medo dos resultados do referendo. Ou seja, não se faz o referendo porque os eleitores europeus e portugueses não podem, por diktat, dizer "não". Os Governos e os grandes partidos europeus substituíram a democracia na legitimação do processo europeu por decisões iluminadas, tomadas in camera pelos Governos, sobre matérias decisivas para o futuro de todos nós.
José Pacheco Pereira dixit, hoje no Público, no seu artigo "Uma UE semidemocrática, semieuropeia, semiunião"

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A CRISE ESTÁ SEMPRE EM EVIDÊNCIA

É hoje óbvio que Sócrates falhou. O equilíbrio financeiro foi feito à custa do aumento da receita, que começa a pesar insuportavelmente sobre os portugueses de qualquer idade e rendimento, e não pela prometida, anunciada e glorificada reforma do Estado, que ninguém viu ou verá. A economia não cresce. O desemprego aumenta. E não se vê saída para este buraco a que nos levaram.
(...)
Se o regime se mostrar impotente, como se tem mostrado, para resolver a crise geral do país, não resiste ao primeiro "chefe" populista que lhe aparecer pela frente.

VPV, hoje no Público.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O NOSSO SISTEMA POLÍTICO É UMA GRANADA PRESTES A EXPLODIR?

Entrevistado pela revista Visão em Londres, onde agora trabalha, João Cravinho diz ainda que Cavaco Silva e José Sócrates funcionam como uma “cavilha de segurança” da “granada” em que está a tornar-se o sistema político português. (aqui)
Segundo João Cravinho, um dos grandes problemas é a “corrupção de Estado, a apropriação de órgãos vitais de decisão ou da preparação da decisão por parte de lóbis”.
No entender do ex-deputado, a corrupção, “antes de ser um fenómeno do domínio policial, é um problema de risco, de sistema a ser gerido e não reprimido como se fosse um conjunto de factos isolados”. (aqui)
João Cravinho dixit. Entrevista a ler com muita acuidade na VISÃO.
Presumo que ele é uma pessoa muito habilitada para o afirmar, e que está na posse de informação que o habilitem a ajuizar tal. Aguardemos as reacções à sua entrevista. Assunto a acompanhar munido de filtro.

INTERESSES DIVERGENTES DE PORTUGAL E ESPANHA

O que parece ser a nova política externa da Espanha não é compatível com o que mais conviria a um Portugal que, para afirmar a sua individualidade e a sua liberdade de acção na Península, tem de continuar a assumir-se muito mais como país euro-atlântico que ibérico. Por isso é mais do seu interesse, não só a integração estratégica da defesa dos EUA e da Europa, como a preservação das relações históricas de segurança com a «Potência Marítima». É que tal política atlantista (não confundir com americanista) facilita a coesão vital dum Portugal quase arquipelágico, fragmentário, com parcelas situadas em áreas tidas de interesse estratégico, dos EUA e da Espanha, conforme a divisão «operacional» que estes aliados têm feito do espaço geoestratégico português. A coesão interterritorial de Portugal é a essência da sua individualidade e da sua personalidade, com a qual tem obrigação de concorrer para a construção duma Europa que tem de ser das pátrias para poder ser ela mesma, e não um rebanho de satélites dos que pretendem fazê-la mais à sua própria imagem. Daí que nacionalismo não seja necessariamente anti-Europa, como o regiona­lismo não é antipaís.
Virgílio de Carvalho, in "O MUNDO, A EUROPA E PORTUGAL".

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

OU HÁ UMA OBRA MEGALÓMANA DO REGIME, MESMO QUE INÚTIL OU INEFICAZ, OU A CRISE VAI ACELERAR.

Gostaria de estar redondamente enganado. Mas julgo que o país ainda vai adensar mais a crise. Para 2008 o desemprego vai aumentar exponencialmente. Os não sei quantos mil novos empregos, se apareceram, e eu não os vi, não chegam de forma alguma para travar o aumento da taxa de desemprego. Que está muito light. É uma taxa que não tem em conta os portugueses que emigram. E de reparar que até os imigrantes já estão a fugir de Portugal. As empresas, médias e pequenas estão em grande dificuldade, mas não têm peso nem influência junto do poder. Só as grandes empresas, ou os grande empresários, têm poder de ditar ordens ou decretos de acordo com os seus interesses e com investimento dos desgraçados dos contribuintes. Falta a obra megalómana. Não vai resolver nada. Irá somente atenuar a crise e adiar o desastre para dois anos mais tarde.
E já agora a nossa taxa de desemprego ultrapassou agora a da Espanha em 20 anos. A coisa promete. A Espanha com a pujança com que está, e Portugal mais miserável do que é habitual, é prenúncio do que por aí vem.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

AS FRASES DO DIA

Em geral, as elites portuguesas não se distinguem por nada que tenham feito. Não têm o hábito de se elevar e, em consequência, resta-lhes empurrar o povo para baixo quando ele se chega muito perto. (...) .Em geral, as elites portuguesas não se distinguem por nada que tenham feito. Não têm o hábito de se elevar e, em consequência, resta-lhes empurrar o povo para baixo quando ele se chega muito perto.
Rui Tavares, hoje, no Público.

A ESTUPIDEZ É O MAIOR FLAGELO DA HUMANIDADE

A frase não é minha, mas está em consonância com o que penso dos males deste mundo. O Einstein disse algo parecido com isto, e que já tinha colocado aqui.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A TER EM ATENÇÃO

A globalização não é uma simples questão de liberdade de movimentos de mercadorias e de capitais. É necessário geri-la e isso implica novas abordagens nas políticas nacionais e novas responsabilidades para os organismos internacionais. A grande interrogação de momento incide sobre a capacidade das grandes potências económicas para aceitarem essa evidência. Em especial no caso dos EUA, ainda o indiscutível ‘leader’ do processo, parece mais provável, na actual conjuntura política, assistirmos a uma nova tentativa do Fed para salvar os mercados. Os pequenos devedores incautos pagarão a factura da sua imprudência, mas é improvável que vejamos pôr termo às grandes “alavancagens” e a “corrida às armas de destruição financeira maciça”.
Teodora Cardoso, in Diário Económico, do artigo "Os mercados e a economia".
Agora que a crise chegou, centrada nos Estados Unidos e não podendo, por isso, ser atribuída à irresponsabilidade latino-americana nem ao ‘cronyism’ asiático, há dois riscos que já se tornaram claros no que respeita ao debate sobre a arquitetura e regulação do sistema financeiro.
(...)
Nesses casos, porém, não são as reformas internacionais que podem por si sós resolver o problema, se a qualidade das instituições e o valor atribuído por esses países à autoridade moral – e não à simples força bruta – que lhes cabe exercer não estiverem à altura das suas responsabilidades globais.
Teodora Cardoso, in Diário Económico, do artigo " Conhecimento imperfeito"
... diploma na "ciência" que, por esse mundo fora, tem liquidado as escolas.
Maria Filomena Mónica, ontem, no Público. Artigo a ler com muita atenção.