segunda-feira, 3 de abril de 2006

A ausência de estratégia nacional visível no comportamento civíco


Ainda antes de começar a divagar sobre o exposto no título, retomo a questão da demografia a partir de ontem. A taxa de natalidade em Portugal está na dependência de mães adolescentes; de mulheres de sucesso, que se apressam desmesuradamente quando se apercebem de que vai acabar a corda ao relógio biológico delas; e às restantes que já nem sabem se têm de trabalhar, se têm de ser mães, guias da família, suportes de uma sociedade perturbada ou umas desesperadas a caminho de Badajoz (isto com duplo sentido). As mulheres portuguesas são umas heroínas anónimas. De pequena estatura mas com uma enorme grandeza de determinação e de resistência no sofrimento.

Quanto ao tema em título, divaguemos. O civismo em Portugal, na minha modesta opinião, anda pelas ruas da amargura. Há umas dezenas de anos atrás havia melhor atitude cívica e mais urbanidade. A desresponsabilização do cidadão, e consequente imbecilização, levou à situação actual de desregramento de valores e ausência de noção de deveres. O cidadão actual clama e exige direitos sem que já entenda que há uma relação directa, proporcional, com os deveres. Mas o Estado apresenta-se como cuidador do rebanho. O paternalista que de tudo trata. Porque os cidadãos incapazes de serem independentes, porque não foram educados nem motivados para isso, assim o esperam e já exigem. Até com violência. O Estado dá casas; dá ordenados; dá assistência psicológica (já repararam que agora não há nada que não meta psicólogo do Estado para evitar traumas); e o Estado dá e dá. E tudo isto porque faltou uma estratégia nacional de actuação para cultivar o civismo. Cospe-se no chão? E daí? São umas bestas perfeitas a conduzir? Matam-se uns aos outros na estrada fazendo tudo errado e andando em excesso de velocidade? Qual é o problema? A culpa nunca é do cidadão. É da chuva; é da curva; é do piso da estrada; é da garrafa de vinho que se esvaziou sozinha, a grande traiçoeira; se se é apanhado sem carta de condução a culpa é da polícia que persegue cidadãos inocentes que só querem trabalhar sossegados; quando não é do sistema, essa coisa esquiva que persigo há anos e nunca consegui visualizar. É por causa do sistema que se atropelam pessoas na passadeira de peões. É por causa do sistema que não se têm seguro automóvel, se bate e se foge, etc. Tudo o mais cívico possível.
Hoje já estou cansado. Amanhã continuo a saga.

Por hoje sugiro que leiam jornais diários. Não precisam de ler todos. (Deus sabe que não vale a pena)

1 comentário:

blue kite disse...

Descobri hoje este blog. Comecei pelo príncipio e vim fazer um comentário no fim (cronologicamente falando). E parei aqui... li, reli, voltei a ler e, de facto, está aqui tudo:

«Os pequenos povos, que não são ricos, sabem mais geografia e sentem melhor o universo do que os grandes; mas, em geral, grandeza é, para eles, apenas uma sensação. Sonham muito alto, mas só sabem realizar mediocremente. Às vezes dá-se, porém como que uma explosão de todas as ansiedades recalcadas e, então, eles superam, em isolados feitos, não só o próprio meio físico em que vivem, mas, até, os actos dos grandes povos.»
Ferreira de Castro, A Volta ao Mundo, I Volume.


Vou continuar a leitura ... e espero, desde já, que as divagações sejam para continuar.