A mediocridade é o mal português. O dar-se mérito à mediocridade é o que nos tolhe as pernas. No sector estado, mas não só, há um domínio dos medíocres. Não permitem evolução, porque tal ultrapassa as suas capacidades. Para isso blindam os acessos, promovendo só outros medíocres que não lhes façam sombra. Isto implica que o cenário dirigente seja cada vez mais pobre, porque incrementa a mediocridade. Escolhendo-se sempre um que seja pior, mais medíocre vai ficando a capacidade dirigente, e assim sucessivamente. O país não chegou ao estado em que se encontra por um simples estalar de dedos. Chegou porque a mediocridade foi aumentando e sendo premiada. É a incompetência dessa mediocridade que levou, e leva, o país para esta situação de sufoco. E neste país os medíocres tornaram-se arrogantes, mauzinhos, persecutórios, sem nunca deixarem de ser pelintras ignorantes, por muito que apareçam nas revistas de jetezinho 0,75. E vão durando … Até quando portugueses, até quando?
E retomando o fio à meada de ontem, a desertificação humana do território e o grave problema da demografia, gostaria de focar como a administração da coisa pública olha para o interior. Como ontem disse, já pouca gente por lá está e, por isso, a questão dos encerramentos. Mas os ministérios continuam a prometer mundos e fundos para lá. Andam ministros a dizer que vão fazer isto e aquilo. A dizer. Estradas? Não as fizeram em devido tempo quando lá havia pessoas e eram essenciais para o desenvolvimento. Investimentos. Não os fizeram quando lá havia população bastante e que necessitava, para a viabilidade do seu futuro, desses investimentos. Também querem dinamizar culturalmente. Os actores queixam-se de que as pessoas não compram um bilhete, no interior, porque os acham caros. As pessoas que por lá restaram vivem da capacidade da horta anexa não os deixar morrer à fome. Estarei a exagerar? Já alguém fez um estudo sobre o que comem os portugueses com fracos recursos? De que se socorrem para se alimentarem? A única dinamização cultural que lhes cabe é serem museu vivo, para regalo dos que por lá vão ao fim de semana, paternalistas, conviverem no seio do Portugal típico. Será que ainda ninguém reparou que o Alentejo, as Beiras, Trás-os-Montes, etc., são zonas de lazer dos citadinos que empregam os habitantes locais como serviçais para lhes cuidarem das casas de campo, limparem a piscina e colherem os primores das hortas, com que depois se deliciam na cidade? E ninguém reparou como as piscinas se propagaram? Já se estudou, por acaso, a propriedade dessas piscinas? Num país pobre, a fingir que é do primeiro mundo, a dar-se ares disso, faz todo o sentido perceber-se como é que há capacidade para tanta piscina. Se são de assalariados, que discrepância há nos salários? Este é um país do terceiro mundo e, como tal, cheio de contrastes.
Também é um grande contraste o que se diz sobre a demografia e os comportamentos que se exercem sobre a sociedade. Portugal está com graves problemas na natalidade. De vez em quando parece que se apela a tomar-se medidas que incrementem o aumento da taxa de natalidade. Mas depois lá vem a realidade. Todos os pais gostam muito dos seus filhos. E por isso pensam muito antes de aumentar a prole. Hoje, no casal, ambos têm de trabalhar, e sabe Deus que nem sempre é suficiente. E depois os filhos? As creches, as escolas, os tempos livres, os desencaminhamentos, a assistência na saúde, os acessos das habitações ao trabalho e às escolas, as próprias habitações e a banca, são pormenores que inibem o aumento da taxa de natalidade. Mas os gestores da coisa pública não o percebem. Somos o país das leis inúteis. Têm belos textos, mas são impraticáveis, há uma incapacidade de se fazer com que sejam acatadas, são ostensivamente ignoradas e, muitas vezes, boicotadas.
Um filho, hoje, é um investimento para além de um bem precioso. Se não se tem capacidade de investir ou possibilidade de o fazer, um filho não poderá ser bem vindo num país onde os putativos pais não vêm esperança nem futuro.
Amanhã continuarei por estas bandas. Os problemas das mulheres e da maternidade são mais vastos do que algumas linhas. Mas não deixemos de fora a paternidade.
“Ensaios sobre a Cultura Portuguesa e Brasileira”, de Agostinho da Silva, são uma boa companhia de fim de semana que sempre permite trilhar outros caminhos sobre a compreensão do português.
1 comentário:
Leio estes teus textos sempre com enorme prazer. Pões exactamente o dedo na ferida.
E estou em sintonia contigo em quase tudo, como sabes.
Abraço.:)
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