«Este livro tem de ser egotista. Trata de certos assuntos para mim importantes e trata de mim mesmo, pois só posso tratar desses assuntos tal como me afectaram. Mas não trata dos meus actos. Não desejo abrir o meu coração, e ponho limites à intimidade que desejo se estabeleça entre mim e o leitor. Há assuntos que me é grato conservar privados. Ninguém pode dizer toda a verdade a respeito de si mesmo. Não foi unicamente a vaidade que evitou que aqueles que pretenderam revelar-se ao Mundo dissessem toda a verdade; foi a direcção de seu interesse; o desapontamento de si mesmos, a surpresa de que pudessem fazer coisas que lhes pareciam tão anormais, levaram-nos a dar maior evidência a coisas que são mais comuns do que supõem. Rousseau, nas suas Confissões, narra incidentes que chocaram profundamente a sensibilidade dos homens. Descrevendo-os tão francamente, falsificou-lhes o valor e portanto deu-lhes no seu livro maior importância do que tiveram na sua vida. Casos havia entre uma multidão de outros, virtuosos ou pelo menos neutros, que omitiu, porque eram demasiado vulgares para parecerem dignos de menção. Há uma espécie de homens que não dão importância às suas boas acções por estarem atormentados com as más. Esse é o tipo que geralmente escreve sobre si mesmo. Passa por alto as qualidades que o redimem, aparecendo-nos apenas fraco, sem princípios e vícioso.»
W. Somerset Maugham, in "Exame de consciência".
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