Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir o estado presente da mentalidade, portuguesa, a palavra seria «provincianismo». Como todas as definições simples esta, que, é muito simples, precisa, depois de feita, de uma explicação complexa.
Darei essa explicação em dois tempos: direi, primeiro, a que se aplica, isto é, o que deveras se entende por mentalidade de qualquer país, e portanto de Portugal; direi, depois, em que modo se aplica a essa mentalidade.
Por mentalidade de qualquer país entende-se, sem dúvida, a mentalidade das três camadas, organicamente distintas, que constituem a sua vi da mental - a camada baixa, a que é uso chamar povo; a camada média, a que não é uso chamar nada, excepto, neste caso, por engano, burguesia, e a camada alta, que vulgarmente se designa por escol, ou, traduzindo para estrangeiro, para melhor' compreensão, por élite.
O que caracteriza a primeira camada mental é, aqui ia em toda a parte, a incapacidade de reflectir. O povo, saiba ou não saiba ler, é incapaz de criticar o que lê ou lhe dizem. As suas ideias não são actos críticos, mas actos de fé ou de descrença, o que não implica, aliás, que sejam sempre erradas. Por natureza, forma Q povo um bloco, onde não há mentalmente indivíduos; ia o pensamento é individual.
O que caracteriza a segunda camada que não é a burguesia, é a capacidade de reflectir, porém sem ideias próprias; de criticar, porém com ideias de outrem. Na classe média mental, o indivíduo, que mentalmente já existe, sabe já escolher - por ideias e não por instinto - entre duas ideias ou doutrinas que lhe apresentem; não sabe, porém, contrapor a ambas uma terceira, que seja própria. Quando, aqui e ali, neste ou naquele, fica uma opinião média entre duas doutrinas, isso não representa um cuidado crítico, mas uma hesitação mental.
O que caracteriza a terceira camada, o escol, é, como é de ver por contraste com as outras duas, a capacidade de criticar com ideias próprias. Importa, porém, notar que essas ideias próprias podem não ser fundamentais. O indivíduo do escol pode, por exemplo, aceitar inteiramente uma doutrina alheia; aceita-a, porém, criticamente, e, quando a defende, defende-a com argumentos seus - os que o levaram a aceitá-la - e não, como fará o mental da classe média, com os argumentos originais dos criadores ou expositores dessas doutrinas.
Esta divisão em camadas mentais, embora coincida em parte com a divisão em camadas sociais - económicas ou outras - não se ajusta exactamente a essa. Muita gente das aristocracias de história e de dinheiro pertence mentalmente ao povo. Bastantes operários, sobretudo das cidades, pertencem à classe média mental. Um homem de génio ou de talento, ainda que nascido de camponeses, pertence de nascença ao escol.
Quando, portanto, digo que a palavra: «provincianismo» define, sem outra que a condicione, o estado mental presente no povo português, digo que essa palavra «provincianismo», que mais adiante definirei, define a mentalidade do povo português em todas as três camadas que a compõem. Como, porém, a primeira e a segunda camadas mentais não podem por natureza ser superiores ao escol, basta que eu prove o provincianismo do nosso escol presente, para que fique provado o provincianismo mental da generalidade danação.
Os homens, desde que entre eles se levantou a ilusão ou realidade chamada civilização, passaram a viver, em relação a ela, de uma de três maneiras, que definirei por símbolos, dizendo que vivem ou como os campónios, ou como provincianos, ou como citadinos. Não se esqueça que trato de estados mentais e não geográficos, e que portanto o campónio ou o provinciano pode ter vivido sempre em cidade, e o citadino sempre no que lhe é natural desterro.
Ora a civilização consiste simplesmente na substituição do artificial ao natural no uso e correnteza da vida. Tudo quanto constitui a civilização, por mais natural que nos hoje pareça, são escrito, renegam a naturalidade original dos pés e da prosa falada.
A artificialidade, porém, é de dois tipos. Há aquela acumulada através das eras, e que, tendo-a já encontrado quando nascemos, achamos natural; e há aquela que todos os dias se vai acrescentando à primeira. A esta segunda é uso chamar "progresso» e dizer que é "moderno» o que vem dela. Ora o campónio, o provinciano e o citadino diferençam-se entre si pelas suas diferentes reacções a esta segunda artificia1idade.
O que chamei campónio sente violentamente a artificialidade do progresso; por isso se sente mal nele e com ele, e intimamente o detesta. Até das conveniências e das comodidades do progres¬so se serve constrangido, a ponto de, por vezes, e em desproveito próprio, se esquivar a servir-se delas. E o homem dos «bons tempos», entendendo-se por isso os da sua mocidade, se é já idoso, ou os da mocidade dos bisavós, se é simplesmente párvuo.
No pólo oposto, ó citadino não sente a artificialidade do progresso. Para ele é como se fosse natural. Serve-se do que é dele, portanto, sem constrangimento nem apreço. Por isso o não ama nem desama: é-lhe indiferente. Viveu sempre (física ou mentalmente) em grandes cidades; viu nascer, mudar e passar (real ou idealmente) as modas e a novidade das invenções; são pois para ele aspectos correntes, e por isso incolores, de uma coisa continuamente já sabida, como as pessoas com quem convivemos, ainda que de dia para dia sejam realmente diversas, são todavia para nós idealmente sempre as mesmas.
Situado mentalmente entre os dois, o provinciano sente, sim, a artificialidade do progresso, mas por isso mesmo o ama. Para o seu espírito deserto, mas incompletamente desperto, o artificial novo, que é o progresso, é atraente como novidade, mas ainda contido como artificial. E, porque é sentido simultaneamente como artificial é sentido como atraente, e é por artificial que é amado. O amor às grandes cidades, às novas modas, às «últimas novidades», é o característico distintivo do provinciano.
Se de aqui se concluir que a grande maioria da humanidade civilizada é composta de provincianos, ter-se-á concluído bem, porque assim é. Nas nações deveras civilizadas, o escol escapa, porém, em grande parte, e por sua mesma natureza, ao provincianismo. A tragédia mental de Portugal presente é que, como veremos, o nosso escol é estruturalmente provinciano.
Não se estabeleça, pois seria erro, analogia, por justaposição, entre as duas classificações, que se fizeram, de camadas e tipos mentais. A primeira, de sociologia estática, define estados mentais em si mesmos; a segunda, de sociologia dinâmica, define estados de adaptação mental ao ambiente. Há gente do povo mental que é citadina em suas relações com a civilização. Há gente do escol, e do melhor escol - homens de génio e de talento - , que é campónio nessas relações.
Pelas características indicadas como as do provinciano, imediatamente se verifica que a mentalidade dele tem uma semelhança perfeita com a da criança. A reacção do provinciano, às suas artificialidades, que são as novidades sociais, é igual à da criança às suas artificialidades, que são os brinquedos. Ambos as amam espontaneamente, e porque são artificiais.
Ora o que distingue a mentalidade da criança é, na inteligência, o espírito de imitação; na emoção, a vivacidade pobre; na vontade, a impulsividade incoordenada. São estes, portanto, os característicos que iremos achar no provinciano; fruto, na criança, da falta de desenvolvimento civilizacional, e assim ambos efeitos da mesma causa - a falta de desenvolvimento. A criança é, como o provinciano, um espírito desperto, mas incompletamente desperto.
São estes característicos que distinguirão o provinciano do campónio e do citadino. No campónio, semelhante ao animal, a imitação existe, mas à superfície, e não, como na criança e no provinciano, vinda do fundo da alma; a emoção é pobre, porém não é vivaz, pois é concentrada e não dispersa; a vontade, se de facto é impulsiva, tem contudo a coordenação fechada do instinto, que substitui na prática, salvo em matéria complexa, a coordenação aberta da razão. No citadino, semelhante ao homem adulto, não há imitação, mas aproveitamento dos exemplos alheios, e a isso se chama, quando prático, experiência, quando teórico, cultura; a emoção, ainda quando não seja vivaz, é contudo rica, porque complexa, e é complexa por ser complexo quem a terá; a vontade, filha da inteligência e não do impulso, é coordenada, tanto que, ainda quando faleça, falece coordenadamente, em propósitos frustes mas idealmente sistematizados.
Percorramos, olhando sem óculos de qualquer grau ou cor, a paisagem que nos apresentam as produções e improduções do nosso escol. Nelas verificaremos, pormenor a pormenor, aqueles característicos que vimos serem distintivos do provinciano.
Comecemos por não deixar de ver que o escol se compõe de duas camadas - os homens de inteligência, que formam a sua maioria, e os homens de génio e de talento, que formam a sua minoria, o escol do escol, por assim dizer. Aos primeiros exigimos espírito crítico; aos segundos exigimos originalidade, que é, em certo modo, um espírito crítico involuntário. Façamos pois incidir a análise que nos propusemos fazer, primeiro sobre o pequeno escol, que são os homens de génio e de talento, depois sobre grande escol.
Temos, é certo, alguns escritores e artistas que são homens de talento; se algum deles o é de génio, não sabemos, nem para o caso importa. Nesses, evidentemente, não se pode revelar em luto o espírito de imitação, pois isso importaria a ausência de originalidade, e esta a ausência de talento. Esses nossos escritores e artistas são, porém, originais uma só vez, que é a inevitável. Depois disso, não evoluem, não crescem; fixado esse primeiro momento, vivem parasitas de si mesmo, plagiando-se indefinidamente. A tal ponto isto é assim, que não há, por exemplo, poeta nosso presente - dos célebres, pelo menos - que não fique completamente lido quando incompletamente lido, em que a parte não seja igual ao todo. E se em um ou outro se nota, em certa altura, o que parece ser uma modificação da sua «maneira», a análise revelará que a modificação foi regressiva: o poeta ou perdeu a originalidade e assim ficou diferente pelo processo simples de ficar inferior, ou decidiu começar a imitar outros por impotência de progredir de dentro, ou resolveu, por cansaço, atrelar a carroça do seu estro ao burro de uma doutrina externa, como o catolicismo ou o internacionalismo. Descrevo abstractamente, mas os casos que descrevo são concretos; não preciso de explicar, porque não junto a cada exemplo o nome do indivíduo que mo fornece.
O mesmo provincianismo se nota na esfera da emoção. A pobreza, a monotonia da emoção nos nossos homens de talento literário e artístico, salta ao coração e confrange a inteligência. Emoção viva, sim, como aliás era de esperar, mas sempre a mesma, sempre simples, sempre simples emoção, sem auxílio crítico da inteligência ou da cultura, A ironia emotiva, a subtileza passional, a contradição no sentimento - não as encontrareis em nenhum dos nossos poetas emotivos, e são quase todos emotivos. Escrevem, em matéria do que sentem, como escreveria o pai Adão, se tivesse dado à humanidade, além do mau exemplo já sabido, o, ainda pior, de escrever.
A demonstração fica completa quando conduzimos a análise à região da vontade. Os nossos escritores e artistas são incapazes do meditar uma obra antes de a fazer, desconhecem o que seja a coordenação, pela vontade intelectual, dos elementos fornecidos emoção, não sabem o que é a disposição das matérias, ignoram que um poema, por exemplo, não é mais que uma carne de emoção cobrindo um esqueleto de raciocínio. Nenhuma capaci¬dade de atenção e concentração, nenhuma potência de esforço meditado, nenhuma faculdade de inibição, Escrevem ou artistam ao sabor da chamada «inspiração», que não é mais que um impulso complexo do subconsciente que cumpre sempre submeter, por uma aplicação centrípeta da vontade, à transmutação alquímica da consciência. Produzem como Deus é servido, e Deus fica mal servido. Não sei de poeta português de hoje que, construtivamente, seja de confiança para além do soneto.
Ora feitos estes reparos analíticos quanto ao estado mental nossos homens de talento, é inútil alongar este breve estudo, tratando com igual pormenor a maioria do escol. Se o escol do escol é assim, como não será o não escol do escol? Há, porém, um característico comum a ambos esses elementos da nossa camada mental superior, que aos dois irmana, e, irmanados, define: é a ausência de ideias gerais e, portanto, do espírito crítico e filosófico que provém de as ter. O nosso escol político não tem ideias excepto sobre política, e as que tem sobre politica são servilmente plagiadas do estrangeiro - aceites, não porque sejam boas, mas porque são francesas ou italianas, ou russas, ou o quer que seja. O nosso escol literário é ainda pior: nem sobre literatura tem ideias. Seria trágico, à força de deixar de ser cómico, o resultado de uma investigação sobre, por exemplo, as ideias dos nossos poetas célebres. Já não quero que se submetesse qualquer deles ao enxovalho de lhe perguntar o que é a filosofia de Kant ou a teoria da evolução. Bastaria submetê-lo ao enxovalho maior de lhe perguntar o que é o ritmo.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
PROVINCIANISMO
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
PÓSTUMOS NATAIS
em que o Nada retome a cor do Infinito
In “OBRA POÉTICA” de David Mourão-Ferreira
Todo o poema aqui
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
O QUE É SIMPLES É INFINITAMENTE SUBTIL
Jiddu Krishnamurti, Ojai, California, 10ª Palestra - 29 de Junho de 1934
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
QUAL A DISTÂNCIA QUE NOS SEPARA DA GRÉCIA?
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
INSATISFAÇÃO
Nesta procura do oposto, estão a ser destruídos sentimentos profundos. Estão a tornar-se cada vez mais superficiais, cada vez mais vazios, porque todo o vosso conceito de satisfação, de felicidade, é um conceito de substituição. O anseio, o desejo ardente da maior parte das pessoas é pelo oposto. No vosso desejo ardente de consecução perseguem ideais espirituais, ou procuram ter títulos mundanos conferidos, e ambos significam exactamente a mesma coisa. (…)
Jiddu Krishnamurti, A Arte de escutar, palestra a 1 de Janeiro de 1934 em Adyar
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
POR AQUI E POR ALI
(…)
O pessimismo nacional, a renúncia de viver e de lutar, é assim uma doença que alastra na sociedade portuguesa, e que se vai tornando endémica, tanto nos grandes centros como nos campos e nas aldeias. Num passado recente, com uma abastança maior, embora artificial, porque veio de fora e dos fundos europeus, deu-se um amplo alargamento das classes médias - hoje a caminho, em muitos casos, da pauperização - que explica, em boa parte, este fenómeno.
Mário Soares, in DN 15.12.2009
Os regimes políticos, com variações específicas, estão sempre num processo de tensão entre as promessas e os problemas suscitados pelo incumprimento, sendo que o valor da confiança, entre a população e as instâncias do poder, responde com variações que vão da sustentação do esforço ao total abandono do apoio. Os regimes democráticos vivem esse processo de uma maneira mais visível talvez porque a liberdade de expressão não consente a limitação das manifestações de discordância.
(...)
O FMI, descuidado de ter maneiras, desembaraçou-se a dar conselhos políticos, sem indicar o método. É tempo de o Conselho de Estado ser chamado a acompanhar o Presidente da República na avaliação da inquietante circunstância que envolve o Estado e a sociedade civil, e na definição da acção presidencial mais eficaz no sentido de evitar o progresso da erosão da harmonia e bom funcionamento dos órgãos de soberania, do bom desempenho dos aparelhos de intervenção, e da visível quebra da confiança pública.
Adriano Moreira, in DN 15.12.2009
As notícias sobre o crescente entendimento de que o único remédio para eliminar a ameaça das armas de destruição maciça é eliminar essas armas, admitindo com lucidez que nenhum poder é confiável no sentido de que as manterá apenas com intenção preventiva, são notícias animadoras. Designadamente porque a alegada função preventiva significa que serão eventualmente usadas logo que a prevenção se demonstre ineficaz, uma inquietação sempre presente nesta época de incerteza na qual nenhuma perspectiva é tranquilizante.
A dúvida mais presente em relação ao processo é a traduzida no comentário de Frederico da Prússia sobre os projectos de paz perpétua, ao lembrar que faltava apenas o acordo das potências. A dúvida prussiana continua nesta data agravada, não apenas pela falta de certeza da adesão dos Estados, mas também pela eventual intervenção dos cisnes negros, desafiadores de todas as racionalidades, agora na figura de poderes atípicos no exercício do terrorismo global, com a companhia de soberanias enlouquecidas pela indiferença entre conseguir impor os seus objectivos ou promover o desastre geral. A permanência da reserva prussiana, é tanto mais inquietante quanto é visível que, não obstante a já habitual insistência sobre as interdependências, a versão da capacidade de exercer o unilateralismo, com a inerente proeminência, anda recordada por todas as latitudes.
Adriano Moreira, in DN 01.12.2009
O PALHAÇO
Para ler na íntegra.
Mário Crespo, no JN de 14.12.2009
Nunca tirei uma foto com o Pai Natal
Aquiles, hoje.
Também não acredito que estes políticos que por aí pululam levem o país por bom caminho.
Aquiles, hoje.
sábado, 12 de dezembro de 2009
VAMPIROS. É PARA LÁ QUE ME REMETE A ACTUAL SITUAÇÃO
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
QUE O SALÁRIO MÍNIMO SEJA INFERIOR À PRESTAÇÃO DO RENDIMENTO DE INSERÇÃO SOCIAL É UM DESASTRE
Pergunto eu: temos de pagar impostos para os políticos esbanjarem, entre outras coisas, no RIS, fazendo-se passar por bonzinhos à custa do suor de quem, efectivamente, trabalha?
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
A IMPRENSA TAMBÉM CONTRIBUI PARA O MAL
Peço desculpa aos que aqui me lêem, e à autora, pela minha tradução do castelhano para português, embora julgue que está uma tradução fiel, apesar de livre.
A FURIA
Às vezes penso que temos entendido que a liberdade é esse direito que nos permite vociferar, assinalar um culpado e linchá-lo. Foi isso que ocorreu com o pobre homem que, por levar a sua enteada à escola, passou a entrar algemado numa esquadra.
Graças a uma falta de discrição em cadeia, dos médicos, da polícia, da justiça e dos média, reconhecemos nessa imagem o rosto do assassino, e a turba mais primitiva correu às portas do carro celular a desfrutar da execução moral. Como já não nos alimentamos para além das legendas de fotos e dos títulos, como já estamos a deixar de ler essa letra pequena em que se apreciam os matizes e as verdades, olhamos para o indivíduo e sentenciamo-lo: assassino, apodrece na prisão.
Falo no plural, sim, quero falar-lhes no plural, porque hoje mais do que nunca os periódicos constroem também os leitores, que podem participar activamente no fundo de uma notícia, e se até há dois dias os média digitais se inundavam de explosões implacáveis contra esse rapaz, ontem a culpabilidade era arremessada com a mesma intensa raiva contra a classe médica, a justiça, os média e o feminismo, ou «el hembrismo», como se lia ontem em várias dessas mensagens; uma expressão que me inquieta pelo que tem de fúria submersa. Não sei qual é o filtro que têm as opiniões dos leitores, sendo que às vezes me dá a impressão que nenhum. Sei, isso sim, que o filtro que tenho quando escrevo se chama educação.
Desejaria que o imperdoável erro cometido contra um inocente venha a servir para conter a ira, porque escrever uma mensagem num média digital deveria ser algo importante. Em alguns países a publicação de uma carta pode incluir um currículo profissional, e é prestigioso para um periódico que as cartas tenham elevação. Ontem, as únicas cartas memoráveis foram as que se limitaram a pedir perdão.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
PORTUGAL VAI FALIR?
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
O MAIOR POLUIDOR É A GANÂNCIA.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
POLÍTICAS FURTIVAS
COMO EU BEM DIZIA
sábado, 10 de outubro de 2009
SÓ SE PEDE EMPREGO?
terça-feira, 6 de outubro de 2009
A SOMBRA DO PRAZER
domingo, 4 de outubro de 2009
O RESPEITO PELO OUTRO É A PAZ
sábado, 26 de setembro de 2009
ANTES DE VOTAREM VEJAM BEM ISTO
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
ESPERANÇA NO FUTURO. A LUTA TENAZ DOS JOVENS.
Os jovens têm de lutar contra as gerações mais velhas que lhes degradaram o caminho. Têm de se entender com valores que os mais velhos já não respeitam. Têm de buscar a razão de se adquirir esperança. Têm de ser a integridade na política e consubstanciar os novos paradigmas. Indigo. Um dia tem-se de responder ao que se fez com os dons. Comecem desde já a responder com eles. Dar de beber a quem tem sede, de comer a quem tem fome, agasalhar quem tem frio. Isto é o básico. Mas há muito mais para dar e partilhar. Amor, compreensão, tolerância e tempo. Mas, sobretudo, não tirem. A água aos rios, a terra aos campos e a subsistência. E se não tiram, também não ponham lá sujidade nem outra destruição ambiental. Lutem pela harmonia geral com a natureza. Que fizeste com os teus dons? Responde diariamente a esta questão. Não copies a “civilização” dos mais velhos. Está nua de valores e, infelizmente, só respeitam o egoísmo. Luta pela esperança num mundo melhor. Repararás que muitos dos mais velhos baixaram os braços. Cansados de lutar. Ainda têm valores, mas não têm forças para os impor. Acantonaram-se. Têm medo. Do seu escasso futuro. E andam envergonhados por terem perdido os ideais. Algures embrulharam-se nas ilusões do egoísmo e deixaram de lutar. Quem não luta, morre. Se não fisicamente, morre animicamente. E vegetam por aí com medos, muitos medos, sem nunca terem perguntado a si próprios o que fizeram com os dons. Simples pergunta, da qual ainda têm mais medo.
Jovem, luta. Por ti e por todos. A esperança no futuro está na tua luta.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
MEDINA CARREIRA - O LIVRO
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
DEPOIS DOS DEBATES DIGA NÃO À ABSTENÇÃO. VOTE EM BRANCO.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
SOLIDARIEDADE SEM FRATERNIDADE É UMA TRETA
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
INUTILIDADES
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
LIDERANÇAS CONFIÁVEIS
O que fazer? Corrê-los do cenário. Como? Ousem não ser invejosos nem permissivos ao dinheiro que eles ganham com a corrupção. Ousem ser cidadãos íntegros. Se o não quiserem ser também não se queixem. Mantenham-se coniventes com esta deterioração. Mas tomem boa nota que o país não vai aguentar eternamente. Está velho e pode ir-se com uma crise aguda.
domingo, 16 de agosto de 2009
OS PORTUGUESES SÃO TENDENCIALMENTE CORRUPTOS
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
OIÇAM BEM O DR. MEDINA CARREIRA
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
IMPUNIDADE
A ACTIVIDADE DA PROSTITUIÇÃO NÃO PODE SER RECONHECIDA COMO UMA MAIS VALIA PARA EQUIPARAÇÃO COM O 12º ANO?
domingo, 2 de agosto de 2009
POBREZA, RIQUEZA, BEM-ME-QUER, MAL-ME-QUER
sexta-feira, 31 de julho de 2009
quarta-feira, 29 de julho de 2009
AMADORISMO
segunda-feira, 27 de julho de 2009
DIGA NÃO À ABSTENÇÃO. VOTE EM BRANCO
Faça campanha pelo voto em branco.
sábado, 18 de julho de 2009
AS ANGÚSTIAS DO MUNDO ISLÂMICO
Eu penso que o mundo islâmico tem as suas razões para reagir contra o mundo ocidental. Sente-se ameaçado. Não belicamente. Não é isso que temem. O que temem é a ausência de valores que inunda hoje o mundo ocidental. Os comportamentos das sociedades no ocidente. As juventudes desnorteadas e à deriva. O âmago da família atingido. E a divulgação disto tudo, de forma agressiva, pelos meios de comunicação. É o que os ameaça, a falta de valores, e que temem que os atinja no seu seio. Por isso reagem. Mal. Mas reagem. Nada obriga a que uma reacção seja obrigatoriamente boa. Mas temem, e muito, que a falta de valores os conspurque. As sociedades, na esteia do post anterior, teriam de saber lidar com estes problemas. As sociedades, mas sem deixar intervir os políticos, pois, actualmente, são gente despida de valores, logo não confiável. Analisem bem a decadência de Roma. Está lá tudo. O politicamente correcto, e de forma snob aceite, não é um padrão que o mundo islâmico acate de ânimo leve. E voltaremos aqui, ao tema, pela demografia.
terça-feira, 7 de julho de 2009
APENAS INCREMENTARÃO A LUTA
Aquilo a que chamamos problemas são meramente sintomas, que aumentam e se multiplicam porque não agarramos a vida toda como uma coisa só, mas dividimo-la em problemas económicos, sociais ou religiosos. Se olharem para todas as variadas soluções que são oferecidas para os vários padecimentos, verão que lidam com os problemas em separado, em compartimentos estanques, e não tomam os problemas religiosos, sociais e económicos compreensivamente como um todo. Ora é minha intenção mostrar que enquanto lidarmos com estes problemas em separado apenas aumentamos o desentendimento, e portanto o conflito, e desse modo o sofrimento e a dor; até que lidemos com o problema social e com os problemas religiosos e económicos como um todo compreensivo, não dividido, mas de preferência vendo a ligação delicada e subtil entre aquilo que chamamos problemas religiosos, sociais ou económicos – até que vejam esta ligação real, esta ligação íntima e subtil entre os três, seja qual for o problema que possam ter, não o vão resolver. Apenas incrementarão a luta. Embora possamos pensar que resolvemos um problema, esse problema surge novamente de uma forma diferente, e assim vamos através da vida resolvendo problema após problema, luta após luta, sem compreender totalmente o pleno significado do nosso viver.
Auckland, Nova Zelândia - 1ª palestra 28 de Março, 1934. Do site que já citei anteriormente.
sexta-feira, 3 de julho de 2009
TENHO VISTO MAIS MISÉRIA DO QUE NUNCA
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É no que ando metida este ano.
Tenho visto mais miséria do que nunca, mas vejo também uma enorme vontade de vida. Continuo a achar o mesmo, que a pobreza e desgraça não são tudo o que devemos ver, apesar de ás vezes ser tão chocante que quase nos cega. Mas nestas mesmas realidades existe a enorme esperança e vontade de viver daqueles que não têm quase nada, isso também deve ser visto e, do meu ponto de vista, esse deverá ser o grande ensinamento que devemos levar para o nosso quotidiano.
Este ano tenho visto muita coisa horrível. Poderia levar daqui uma revolta contra a forma como vivemos, a forma como se faz e discute politica sem se falar daqueles que continuam sem ter onde morar, das crianças que continuam sem ir a escola, das famílias que nem sempre têm o que comer.
Mas esta organização mostra-me mais que isso, mais que o esquecimento da sociedade, mais do que a desgraça destas pessoas. Mostra que jovens por toda a América latina acreditam num futuro melhor, mostram as famílias que não desistem.
Construir uma casa de raiz foi algo incrível: cavar, por estacas no chão, levantar paredes e fazer um tecto. Trabalhar com as mãos e saber o peso das coisas. Mas foi mais que tudo isto.
Ao ser recebida no seio de uma família, e juntos construir a sua casa, pude falar sobre as diferentes realidades em que vivemos. O estado em que vivem é triste. São imigrantes, moram entre dois bairros sociais, uma estação de tratamento de gás e um campo de tiro. Ele é cantoneiro, trabalha noites inteiras para receber dois euros, ela toma conta de uma senhora idosa e ganha pouco mais que isto ao dia. Têm filhos.
Apesar de nem sempre terem o que comer e de, durante as obras, levarmos a nossa própria comida, fizeram pratos típicos dos seus países, ofereceram tudo o que tinham em casa. Depois do segundo dia com eles, criou-se um enorme carinho, que ganhamos entre todos, e abateu-se uma tristeza sobre os voluntários. Como é possível que se viva assim? Como é que é termos tanto e eles tão pouco? E foi a própria família que nos animou, mostrou a felicidade de estarem juntos, de apesar de que tudo nas suas vidas ser difícil, que conseguem sempre alimentar os seus filhos, que quando tudo parece pior aparecem pessoas como nós que os ajudam. Não nos olhavam com despeito, apontavam para nós como exemplos que os seus filhos deveriam seguir.
A Esther e o Helder continuam a sorrir, cantar e a contar aquele momento em que os conhecemos como uma coisa positiva.
Aquela miséria pode-me marcar, mas a marca dos sorrisos daquela gente por ter um tecto marcou-me mais!
Depois disto voltamos ao mesmo bairro para construir mais casas, pintar as que já construímos, começar actividades de apoio à comunidade, e em tudo isto tivemos a colaboração de todos os que ajudamos da primeira vez.
Continuo a achar que a miséria não é um fim. É um início.
Sei que é importante que alguém discuta economia e politica. Que alguns de nós têm de governar países e que isto é mais abrangente que o individuo que parece esquecido. A mim continua a interessar-me mais a vida de uma ou duas famílias que conheço, pois o que me mostram continua a ser mais relevante. Todos têm um papel igualmente importante na sociedade em que vivemos.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
UNE NOUVELLE FAÇON DE PENSER LE MONDE
(Tradução minha, e muito livre.)
Do Editorial de «LA NOUVELLE REVUE D’HISTOIRE», Nº 42 DE 2009, por Dominique Venner.
Que nos remete para Hervé Juvin, «Produire le Monde. Pour une croissance écologique, Le Débat.» 2008.
O editorial termina assim:
Perspectives [do ensaio de Juvin] qui impliquent le primat du collectif sur líndividuel et la soumission de l´économie au politique, autant dire une revolution intellectuelle majeure. Le but n’ étant plus de percer les secrets de la Nature pour l’ asservir, mais pour la sauver. Et nous avec.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
TEMPOS NEBULOSOS
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
Santarém, 10 de Junho de 2009
António Barreto
Senhor Presidente da República,
Senhor Presidente da Assembleia da República, Senhor Primeiro-ministro,
Senhores Embaixadores,
Senhor Presidente da Câmara de Santarém,
Senhoras e Senhores,
Dia de Portugal... É dia de congratulação. Pode ser dia de lustro e lugares comuns. Mas também pode ser dia de simplicidade plebeia e de lucidez.
Várias vezes este dia mudou de nome. Já foi de Camões, por onde começou. Já foi de Portugal, da Raça ou das Comunidades. Agora, é de Portugal, de Camões e das Comunidades. Com ou sem tolerância, com ou sem intenção política específica, é sempre o mesmo que se festeja: os Portugueses. Onde quer que vivam.
Há mais de cem anos que se celebra Camões e Portugal. Com tonalidades diferentes, com ideias diversas de acordo com o espírito do tempo. O que se comemora é sempre o país e o seu povo. Por isso o Dia de Portugal é também sempre objecto de críticas. Iguais, no essencial, às expressas por Eça de Queirós, aquando do primeiro dia de Camões. Ele afirmava que os portugueses, mais do que colchas às varandas, precisavam de cultura.
Estranho dia este! Já foi uma "manobra republicana", como lhe chamou Jorge de Sena. Já foi "exaltação da raça", como o designaram no passado. Já foi de Camões, utilizado para louvar imperialismos que não eram os dele. Já foi das Comunidades, para seduzir os nossos emigrantes, cujas remessas nos faziam falta. E apenas de Portugal.
Os Estados gostam de comemorar e de se comemorar. Nem sempre sabem associar os povos a tal gesto. Por vezes, quando o fazem, é de modo desajeitado. "As festas decretadas, impostas por lei, nunca se tornam populares", disse também Eça de Queirós. Tinha razão. Mas devo dizer que temos a felicidade única de aliar a festa nacional a Camões. Um poeta, em vez de uma data bélica. Um poeta que nos deu a voz. Que é a nossa voz. Ou, como disse Eduardo Lourenço, um povo que se julga Camões. Que é Camões. Verdade é que os povos também prezam a comemoração, se nela não virem armadilha ou manipulação.
Comemora-se para criar ou reforçar a unidade. Para afirmar a continuidade. Para reinterpretar o passado. Para utilizar a História a favor do presente. Para invocar um herói que nos dê coesão. Para renovar a legitimidade histórica. São, podem ser, objectivos decentes. Se soubermos resistir à tentação de nos apropriarmos do passado e dos heróis, a fim de desculpar as deficiências contemporâneas.
Não é possível passar este dia sem olharmos para nós. Mas podemos fazê-lo com consciência. E simplicidade.
Garantimos com altivez que Camões é o grande escritor da língua portuguesa e um dos maiores poetas do mundo, mas talvez fosse preferível estudá-lo, dá-lo a conhecer e garantir a sua perenidade.
Afirmamos, com brio, que os portugueses navegadores descobriram os caminhos do mundo nos séculos XV e XVI e que os portugueses emigrantes os percorreram desde então. Mais vale afirmá-lo com o sentido do dever de contribuir para a solidez desta comunidade.
Dizemos, com orgulho, que o Português é uma das seis grandes línguas do mundo. Mas deveríamos talvez dizê-lo com a responsabilidade que tal facto nos confere.
Quando se escolhe um português que nos representa, que nos resume, escolhe-se um herói. Ele é Camões. Podemos festejá-lo com narcisismo. Mas também com a decência de quem nele procura o melhor.
Os nossos maiores heróis, com Camões à cabeça, ilustraram-se pela liberdade e pelo espírito insubmisso. Pela aventura e pelo esforço empreendedor. Pela sua humanidade e, algumas vezes, pela tolerância. Infelizmente, foram tantas vezes utilizados com o exacto sentido oposto: obedientes ou símbolos de uma superioridade obscena.
Ainda hoje soubemos prestar homenagem a Salgueiro Maia. Nele, festejámos a liberdade, mas também aquele homem. Que esta homenagem não se substitua, ritualmente, ao nosso dever de cuidar da democracia.
As comemorações nacionais têm a frequente tentação de sublinhar ou inventar o excepcional. O carácter único de um povo. A sua glória. Mas todos sentimos, hoje, os limites dessa receita nacionalista. Na verdade, comemorar Portugal e festejar os Portugueses pode ser acto de lucidez e consciência. No nosso passado, personificado em Camões, o que mais impressiona é a desproporção entre o povo e os feitos, entre a dimensão e a obra. Assim como esta extraordinária capacidade de resistir, base da "persistência da nacionalidade", como disse Orlando Ribeiro. Mas que isso não apague ou esbata o resto. Festejar Camões não é partilhar o sentido épico que ele soube dar à sua obra maior, mas é perceber o homem, a sua liberdade e a sua criatividade. Como também é perceber o que fizemos de bem e o que fizemos de mal. Descobrimos mundos, mas fizemos a guerra, por vezes injusta. Civilizámos, mas também colonizámos sem humanidade. Soubemos encontrar a liberdade, mas perdemos anos com guerras e ditaduras.
Fizemos a democracia, mas não somos capazes de organizar a justiça. Alargámos a educação, mas ainda não soubemos dar uma boa instrução. Fizemos bem e mal. Soubemos abandonar a mitologia absurda do país excepcional, único, a fim de nos transformarmos num país como os outros. Mas que é o nosso. Por isso, temos de nos ocupar dele. Para que não sejam outros a fazê-lo.
Há mais de trinta anos, neste dia, Jorge de Sena deixou palavras que ecoam. Trouxe-nos um Camões humano, sabedor, contraditório, irreverente, subversivo mesmo.
Desde então, muito mudou. O regime democrático consolidou-se. Recheado de defeitos, é certo.
Ainda a viver com muita crispação, com certeza. Mas com regras de vida em liberdade.
Evoluiu a situação das mulheres, a sua presença na sociedade. Invisíveis durante tanto tempo,
submissas ainda há pouco, as mulheres já fizeram um país diferente.
Mudou até a constituição do povo. A sociedade plural em que vivemos hoje, com vários deuses e credos, com dois sexos iguais, com diversas línguas e muitos costumes, com os partidos e as associações que se queira, seria irreconhecível aos nossos próximos antepassados.
A sociedade e o país abriram-se ao mundo. No emprego, no comércio, no estudo, nas viagens, nas relações individuais e até no casamento, a sociedade aberta é uma novidade recente.
A pertença à União Europeia, timidamente desejada há três décadas, nem sequer por todos, é um facto consumado.
A estes trinta anos pertence também o Estado de protecção social, com especial relevo para o Serviço Nacional de Saúde, a segurança social universal e a escolarização da população jovem. É certamente uma das realizações maiores.
Estas transformações são motivo de regozijo. Mas este não deve iludir o que ainda precisa de mudança. O que não foi possível fazer progredir. E a mudança que correu mal.
A Sociedade e o Estado são ainda excessivamente centralizados. As desigualdades sociais persistem para além do aceitável. A injustiça é perene. A falta de justiça também. 0 favor ainda vence vezes de mais o mérito. O endividamento de todos, país, Estado, empresas e famílias é excessivo e hipoteca a próxima geração. A nossa pertença à União Europeia não é claramente discutida e não provoca um pensamento sério sobre o nosso futuro como nacionalidade independente.
Há poucos dias, a eleição europeia confirmou situações e diagnósticos conhecidos. A elevadíssima abstenção mostrou uma vez mais a permanente crise de legitimidade e de representatividade das instituições europeias. A cidadania europeia é uma noção vaga e incerta. É um conceito inventado por políticos e juristas, não é uma realidade vivida e percebida pelos povos. É um pretexto de Estado, não um sentimento dos povos. A pertença à Europa é, para os cidadãos, uma metafísica sem tradição cultural, espiritual ou política. Os Estados e os povos europeus deveriam pensar de novo, uma, duas, três vezes, antes de prosseguir caminhos sem saída ou falsos percursos que terminam mal. E nós fazemos parte desse número de Estados e povos que têm a obrigação de pensar melhor o seu futuro, o futuro dos Portugueses que vêm a seguir.
É a pensar nessas gerações que devemos aproveitar uma comemoração e um herói para melhor ligar o passado com o futuro.
Não usemos os nossos heróis para nos desculpar. Usemo-los como exemplos. Porque o exemplo tem efeitos mais duráveis do que qualquer ensino voluntarista.
Pela justiça e pela tolerância, os portugueses precisam mais de exemplo do que de lições morais.
Pela honestidade e contra a corrupção, os portugueses necessitam de exemplo, bem mais do que de sermões.
Pela eficácia, pela pontualidade, pelo atendimento público e pela civilidade dos costumes, os portugueses serão mais sensíveis ao exemplo do que à ameaça ou ao desprezo.
Pela liberdade e pelo respeito devido aos outros, os portugueses aprenderão mais com o exemplo do que com declarações solenes.
Contra a decadência moral e cívica, os portugueses terão mais a ganhar com o exemplo do que com discursos pomposos.
Pela recompensa ao mérito e a punição do favoritismo, os portugueses seguirão o exemplo com mais elevado sentido de justiça.
Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo "ethos" deveria ser o de servir.
Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar "sinais de esperança" ou "mensagens de confiança". Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.
Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.
Em momentos de crise económica, de abaixamento dos critérios morais no exercício de funções empresariais ou políticas, o bom exemplo pode ser a chave, não para as soluções milagrosas, mas para o esforço de recuperação do país.
terça-feira, 16 de junho de 2009
ESTAVA A DEMOCRACIA EM FUROR PLENO DE BANDITISMO
Leiam com atenção. Cliquem na imagem para ampliar a foto e poderem ler bem. E digam lá se o titulo do post, retirado do texto, não se aplica bem hoje.
sábado, 13 de junho de 2009
A CRISE É DE COMPETÊNCIAS
Vivemos positivamente aos encontrões. A crise é de competencias, Ninguem se prepára para a lucta da vida, mas todos se dispõem a vencer . A diffusão do ensino egualou as ambições mas como foi, e é ministrado incompetentemente, desgraçadamente, longe de preparar homens, impulsionou arrivistas, e repercutindo os seus effeitos na grande massa, tem funestas consequencias. O ensino não educou, confundiu. Foi ao campo, à officina e arrancou lhe braços, desviou vocações, torceu destinos. A instrucção ficou á superficie, como uma nodoa, alastrando ambições. A burocracia foi tomada d'assalto e relegado para o canto inutíl, a industria e o trabalho profissional.
O homem do campo já remediado empurrou o filho para longe da sua esphera d' acção, desligou-o da tradição, que foi durante seculos a força propulsora da nossa industria rural. Desligou-o da terra, apartou-o do seu meio e do seu destino e em vez de o educar para o amanho da terra onde poderia prosperar, enriquecer, cultivando intelligentemente, dominando a rotina, atirou-o para o Iyceu, Arrastou sete annos de cabulagem e á custa d'empenhos. de suplicas, de subserviencias, lá foi até Coimbra onde reeditou a mesma calamitosa illustração d' empenhoca e fez-se Bacharel. Um dia encontrou-se com o tradicional canudo cheio de cartas e com o espírito vazio d'ideas, muito cheio de palavra pomposas mas inteiramente despido d'aptidôes. E como não podia advogar, ingressar na magistratura, concorrer a qualquer emprego, o que necessitava, estudo, conhecimentos, illustração, lançou-se abertamente na politica e começou a sua vida aos encontrões. Como não podia selientar-se pelo talento impoz-se pela população. Foi o instrumento cego do cacique, perseguiu, tripudiou, e quando não pode ser intelligente foi cruel, quando era preciso ter criterio mostrou simplesmente ferocidade, Podendo ser um homem foi um capacho.
Mas prosperou, subiu. Aos encontrões a tudo e a todos, minando intrigas, odiento, servil, correu a hierarchia politica e um dia o acaso, os seus serviços, as suas tranquibernias, fizeram-o notar dos chefes - foi Ministro. Sem um plano, sem uma idêa, cortou largo nas reformas nacionaes, legislou á toa, governou ao acaso, não teve escrupulos, não teve receios e ... , venceu.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
UM BOM AVISO
domingo, 7 de junho de 2009
O QUE SOMOS NA EUROPA?
Uma, o artigo de José Eduardo Franco «O MITO DA EUROPA EM PORTUGAL», Publicado na revista NOVA ÁGUIA, nº1, 1º semestre, 2008.
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A Europa tornou-se, desde o Marquês de Pombal, um tema omnipresente e recorrente política e ideológica. A Europa tornou-se para nós menos um continente com um território geograficamente delimitado e mais uma ideia e acima de tudo um mito.
A obsessão pela Europa, por uma Europa culta, por uma Europa do progresso que precisamos de imitar, seguir e copiar se, por um lado nos tem mobilizado, por outro tem-nos gravemente paralizado e abatido a auto-estima colectiva. A Europa tornou-se para nós modelo e limite.
O século XIX desmascarou, pela voz dos intelectuais dominantes, a nossa decadência extrema e lamentou o nosso grave afastamento da Europa, lançando-nos para a última carruagem do comboio do progresso europeu.
O Portugal do século XX andou boa parte do tempo preocupado com a Europa, ora para a tentar imitar, ora para a evitar com o Estado Novo e com a sua censura aos ventos do pensamento avançados que sopravam da lado de lá dos Pirinéus.
A nossa Democracia recuperou a velha obsessão pela Europa, a velha obsessão pombalina, acreditando que resolverá todos os nossos problemas se nos entregar ao sedutor projecto de um continente unido.
Mas a distância entre nós e a Europa parece não querer esbater-se tão rapidamente como se esperava. Quase todos os dias vemos indicadores, estatísticas nos jornais que acusam a nossa triste lonjura da Europa na Educação, nos salários, na saúde, etc. Europa, a Europa, a Europa, quando seremos como tu! E o sentimento de crise toma conta de nós. Ou melhor, nunca mais nos largou! Somos o país-sempre-em-crise, o país-caudada-Europa. Porquê? Porque não somos iguais aos nossos pares europeus, não somos iguais à Europa?! Dessa ideia de Europa que nem sempre somos capazes de concretizar nem definir, uma ideia mais abstracta do que concreta, mas que condiciona e fere de depressão a nossa autoestima nacional.
Urge exorcizar o mito da Europa-sempre-melhor-do-que-nós que nos possui e nos atormenta desde o tempo do iluminismo, quando através da propaganda de Pombal ganhámos o complexo terrível de país-cauda-da-Europa. Se é evidente que a ideia de Europa, carregada de imaginário (como carregada de imaginário é a ideia de que no tempo dos Descobrimentos fomos a vanguarda da Europa), tem a virtualidade de nos inquietar e de procurarmos mais e melhor, tem também inoculado a perigosa doença real de lançar-nos numa insatisfação permanente, de nos minar a auto-estima, de nos criar uma consciência de crise que nos tolhe a capacidade de empreendedorismo que também precisamos de estimular.
Precisamos de exorcizar esse mito platónico de uma Europa ideal impossível de alcançar e voltarmos a acreditar em nós próprios, de valorizar aquilo que temos e fazemos de bom, e em alguns casos até melhor do que essa Europa que idealizamos, para ousarmos ir mais longe e vencer a batalha do futuro, à nossa maneira e com as nossas possibilidades, sem desejos doentios de imitações. De facto as imitações nem sempre são o melhor remédio. Melhor que imitar a Europa importa recriar as nossas potencialidades empreendedoras como país europeu virado para o Atlântico, recuperando a nossa herança histórica de povo ecuménico capaz de criar universalidade e de potenciar riqueza nas relações entre povos e culturas diferentes.
Ainda em António José Saraiva: «É confrangedor assistir entre os intelectuais portugueses à falta de confiança nas próprias raízes, ao complexo que os faz humilharem-se perante qualquer mirabolância insignificante vinda lá de fora» (A. J. S., Vida Mundial, 7-V-71). Em seguida, os Portugueses são excessivamente impressionáveis e crédulos, e sempre prontos a aceitar, a acreditar, a tomar como ponto de fé e como verdades o que os outros lançam no mundo, tendo em conta os seus interesses e não os de Portugal, e os ideais que os outros inventam e propagam tendo em mente os seus interesses e não os de Portugal. É assim, para citar apenas alguns exemplos mais recentes historicamente, que muitos portugueses acreditaram sucessivamente que o futuro de Portugal estava com Napoleão, e depois com a Santa Aliança, e depois com a Sociedade das Naçõess, e depois com as Nações Unidas, e depois com a paz e a solidariedade universais, e assim até ao infinito. Aderem por isso aos modelos estrangeiros, e seguem-nos, julgando que são modernos e avançados, jogando os interesses nacionais num só «cesto», como se este fosse eterno. Por outro lado, não atentam suficientemente na sua história, e não parecem capazes de identificar os interesses nacionais permanentes e vitais, e por isso não descobrem no que os outros propõem aquilo que pode prejudicar tais interesses. Nem tão-pouco vêem por detrás do que os outros dizem ou fazem, aquilo que os outros escondem; e dir-se-ia que tomam tudo como novo e definitivo, porque os tempos lhes aparecem novos e outros. Finalmente, os Portugueses querem sempre beneficiar de tudo, e estão prontos a apoiar uma política, para retirar os seus benefícios, e a política contrária a essa, para retirar outros benefícios, mas sem querer fazer sacrifício por qualquer das duas.
Erros históricos são aqueles de que um povo apenas toma consciência ao cabo de duas ou três gerações. Todas as elites portuguesas, em todas as épocas, os têm cometido. E mais tarde, outras elites, ainda que do mesmo tipo, procuram corrigi-los.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
OS PIRATAS DE UNS SÃO A GUARDA-COSTEIRA DE OUTROS
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Nessa época, os pescadores locais denunciavam já as embarcações que entravam ilegalmente nas águas somalis e roubavam todo o peixe. Ao mesmo momento, foi encetada uma prática mais sinistra e desprezível. A empresa suíça XXXX e a italiana XXXXX fizeram um acordo com Ali Mahdi que as autorizava a depositar contentores de resíduos nas águas somalis. Estas firmas pagavam aos senhores da guerra três dólares [pouco mais de 2 Euros] por tonelada, quando, na Europa, desembaraçar-se de uma tonelada de desperdícios custa à volta de mil dólares [758 Euros].
O «tsunami» de 2004 rebentou vários contentores, cujo conteúdo se espalhou pela costa, e milhares de pessoas da região da Puntlândia começaram a queixar-se de perturbações graves e sem precedentes: hemorragias abdominais, úlceras cutâneas e vários sintomas semelhantes ao cancro.
É tempo de o mundo dar aos somalis garantias de que estas actividades ocidentais ilegais cessarão quando os nossos piratas puserem termo às suas operações. Não queremos que a UE e a NATO protejam os bandidos que se desembaraçam dos desperdícios nucleares para cima de nós. Esta crise é uma questão de justiça. Os piratas de uns são a guarda-costeira de outros.
domingo, 31 de maio de 2009
ENQUANTO RAZÃO, A PÁTRIA É UMA ENTIDADE ESPIRITUAL.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
A PENSAR PORTUGAL
segunda-feira, 25 de maio de 2009
O NOSSO QUERER
E porque hoje, nas complicações extenuantes da velhice, com o cérebro avassalado por tradições de muitos séculos, com o sangue envenenado por drogas de várias origens, com as lembranças do providencialismo absolutista, com as basófias da grandeza antiga, com o bafio das sacristias a perverter-nos o olfacto e o vício do milagre a entorpecer-nos a acção, desmoralizados pelos desenganos, vergando sob o peso esmagador de um passado que nos deixou nos carunchosos guarda-roupas históricos velhos mantos gloriosos roídos já pela traça: porque hoje falta-nos aquele viço da pujança antiga desabrochando nos actos dessa energia simples com que as nações afirmam a vontade irredutível de existirem.
O nosso querer é apenas platónico, incapaz de nenhuma espécie de sacrifício. Não somos tão simples que o não sintamos: o português é inteligente. O que nos falta é a mola íntima, rija de aço, que se partiu. Por isso buscamos iludir-nos como os doentes desenganados. Deitamo-nos aos anestésicos. Com o éter da finança esquecemos a anemia económica e com o clorofórmio da jogatina suprimos a fraqueza do trabalho; a morfina dos melhoramentos vai-nos ando horas regaladas, e o láudano do orçamento o pão nosso de cada dia. O cloral da emigração afasta a necessidade cruel dos tratamentos antiflogísticos; e a cocaína do trânsito, pretendendo em vão tornar esta faixa litoral da Península uma terra de passagem, estalagem brunida e sécia para uso do mundo que se diverte, procurar pôr o sol em acções - e quem sabe se a própria lua das nossas noites encantadoras, ela que desenrola o seu meigo velário de prata para também nos iludir com perspectivas fantásticas sobre a nudez da terra que habitámos!
quinta-feira, 21 de maio de 2009
PORTUGAL ESTÁ À BEIRA DO SEU FIM?
Mas façam-no com atenção. E observem as entrelinhas.
Sobretudo atentem bem o Prof. Adriano Moreira e o Gen. Garcia Leandro
segunda-feira, 18 de maio de 2009
VOTAR NA NOSSA EUROPA?
Adriano Moreira
sexta-feira, 15 de maio de 2009
A GEOESTRATÉGIA É TRATADA DA MESMA FORMA COMO LIDAM COM OS PNEUS
Os pneus são a parte da viatura que a conectam com a sua utilidade. São um factor importantíssimo na viatura. Mas não lhes ligam muito. O que é importante são os comandos dos aparelhos musicais no volante, o espelho na pala, o sítio para colocar a lata da bebida, etc. Enfim, os pormenores do confortozinho. A geoestratégia está na mesma situação. Trata da conexão, mas ninguém liga. Iludem-se com tretas do imediato e não acautelam os tempos do depois dos amanhãs. A factura está aí.
sábado, 9 de maio de 2009
A DEMOGRAFIA SERÁ O RESULTADO DA DERROTA DAS POLITICAS DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL
segunda-feira, 4 de maio de 2009
TEM TUDO A VER
Que tenha sido enunciada uma política renovadora não se verificou, e não vai ser nem fácil nem rápido conseguir uma formulação que evite a concretização das piores consequências que o FMI previu para a crise. Mas a chamada de atenção para que qualquer solução seja organizada a partir da realidade, e que não parece eficiente pretender dominar a realidade pela imaginada limpeza do sistema que entrou em disfunção, exige uma intervenção, essa limpa das responsabilidades pelos erros e pelas faltas, que conheça as dificuldades de enfrentar uma realidade complexa, que talvez sem exagero se deva considerar caótica.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
FACTURA MUY CRUEL
Pero hay que tener cuidado com presumir de algunas cosas porque la realidad se cobra una factura muy cruel.
José Maria Aznar em entrevista ao EL PAÍS de 26.04.2009-04-30
La emigratión china reduce la pression demográfica en su país al tiempo que le permite jugar un papel global.
No El PAÍS de 26.04.2009 no artigo "África, el Far West chino"
sábado, 25 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
A REALIDADE
Que tenha sido enunciada uma política renovadora não se verificou, e não vai ser nem fácil nem rápido conseguir uma formulação que evite a concretização das piores consequências que o FMI previu para a crise. Mas a chamada de atenção para que qualquer solução seja organizada a partir da realidade, e que não parece eficiente pretender dominar a realidade pela imaginada limpeza do sistema que entrou em disfunção, exige uma intervenção, essa limpa das responsabilidades pelos erros e pelas faltas, que conheça as dificuldades de enfrentar uma realidade complexa, que talvez sem exagero se deva considerar caótica.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
ENDOGAMIA E ÉTICA
quinta-feira, 16 de abril de 2009
AFINAL QUEM SÃO?
Quem os viu e quem os vê. Ando mesmo fascinado com a lata com que muitos políticos se apresentam à frente de um microfone. Como se não fosse nada com eles. Como se eles fossem o exemplo de honestidade, seriedade e etc.. Como é que este povo atura isto e não se revolta? Como? Só porque lhe dão futebol às toneladas? Só porque fabricam programas sobre futebol onde lhe vende a ilusão de que os clubes deles são os melhores do mundo? Só porque fabricam programas para onde o povo pode telefonar e iludir-se que tem opinião? Ou porque votam por SMS (pagando valor acrescentado, é claro) e se iludem que decidem? Como eu gosto de ouvir as vedetas cá do bairro dizerem "os portugueses decidiram". Mas afinal quem são os portugueses? Estou com uma enorme dificuldade em saber.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
A FALTA DE EMPENHO NA DEFESA TEM CUSTOS
terça-feira, 14 de abril de 2009
ESTRANGEIRADO
O pensador estrangeirado é afinal aquele que saiu de si para ser um outro que nunca poderá ser, a menos que por completo se desintegre do organismo cultural que é o seu de origem.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
SE
domingo, 12 de abril de 2009
UM LUGAR À MESA
sábado, 11 de abril de 2009
A PRIMEIRA MISSÃO
Tendo vestido o alheio, cumpre despi-lo na praça. A primeira vestidura será a do cesarismo centralista que fez do povo com mais possibilidades democratas e maior vocação municipalista que jamais houve no mundo o seguidor apagado e triste de quanta renovação de paganismo e de romanismo a Europa inventou para, primeiro, dominar uma totalidade em proveito de parte, e, depois, em seu próprio proveito, dominar todo o resto da Terra. O que nos pertence, o que nos caracteriza, o que é verdadeiramente nosso, é o achado de uma fórmula política como a dos forais da Idade Média que permitia a um Rei livremente consentido por seu Povo, e não a ele se impondo por força ou manha, governar uma federação de repúblicas. A nossa coragem de recomeçar, porque todo o edifício de ruins alicerces por si mesmo tombará como tombou o primeiro edifício português por não ter havido a coragem de recomeçar Ceuta, tem de se haver com a obra de descentralizar e democratizar a administração e a organização política: Portugal e Brasil têm de restabelecer o poder municipal em toda a sua plenitude, entregando-lhe o fundamental da máquina administrativa, da economia e da educação; nenhum território pode estar sujeito a qualquer espécie de metrópole, nenhum traço de colonialismo pode subsistir, por mais tênue que seja, quer se trate dos territórios ultramarinos portugueses, quer, por exemplo, do Nordeste brasileiro em relação aos Estados do Sul; e a primeira missão que tem de ser confiada à grande língua comum é a de livremente poder dizer a todos os governantes a opinião de quem a fala. Neste ponto, e para além do conceito vulgar, temos todos que crer, e que crer sinceramente, em que é voz de Deus a voz do povo; a qual, como a outra, pode ser brusca e incómoda: mas é realmente salutar.