segunda-feira, 3 de julho de 2006

ESTOU FARTO DE EXPLICAR

Mas explico outra vez.
Amanhã, na RTP1, vai passar uma reportagem sobre a diminuição de candidaturas à universidade.
Eu já expliquei por aqui várias vezes, mas repito, o problema das licenciaturas. Há um discurso oficial que clama por causa do número de licenciados ser reduzido. Já ouvi citado 15 por cento. Na prática é um número que comporta um excedente de licenciados. Ninguém quer empregar licenciados. Só a Função Pública absorve alguns. O sector privado absorve alguns engenheiros e economistas, mas em número muito reduzido proporcionalmente ao número de trabalhadores existentes. Os nossos licenciados já começam a aparecer nos circuitos da emigração para os “trabalhos manuais”. Com este cenário, e como já tenho dito, é natural que os jovens não se interessem pela universidade. Consideram pura perda de tempo. E têm razão. Até porque os outros trabalhadores não toleram os licenciados muito bem. E o país não tem condições para gerar emprego para os seus naturais. Lembro-me que, a seguir ao 25 de Abril, apareceram inscrições nas paredes a apelar ao regresso dos emigrantes, e “já”. Os asnos que escreviam isso não percebiam, e ainda não percebem, que os emigrantes não eram perseguidos políticos. Eram, simplesmente, expulsos pela fome. Fugiam de um país que não tinha condições para que tivessem uma vida condigna. E por isso fugiam. Como continuaram a fugir depois do 25 de Abril pela mesma razão. E ainda hoje se emigra bastante, porque o país, como sempre, é incapaz de gerar condições de sobrevivência para os seus cidadãos. Por isso, ala a buscar essas condições no estrangeiro. E hoje com muitos licenciados na emigração.
É certo que a nossa educação é má, e o nível dos licenciados tem vindo a cair ano após ano. Mas mesmo que fossem muito bons, não tinham espaço. O compadrio, de várias espécies, impede que a competência vingue. “O Princípio de Peter” tem o seu melhor laboratório científico em Portugal. Pode haver uma vaga (na área do estado) com 100 candidatos. 99 são licenciados. Se o que não é tiver a bênção certa, entra de certeza. Para alívio dos outros funcionários, que assim se sentem seguros ao verem tudo a nivelar por baixo. Claro que o resultado está à vista, pois o país afunda-se. Uma licenciatura não é a chave do sucesso. Todavia pressupõe uma melhor agilidade mental. Mas agilidade mental é, em Portugal, uma praga a ser combatida. Por isso é que as várias variantes de governos são a mediocridade que exibem alarvemente. Os resultados não são obra do acaso. São obra da realidade em que existimos e que reproduzimos. Se só há incompetentes a gerir, o resultado da gestão só pode ser uma catástrofe.
E o pessoal vai deixar de ir à universidade, sim senhor, porque precisa de se despachar cedo para ir à vida. Para emigrar. Continuaremos sempre, mas sempre a emigrar.
Vocês ainda se lembram que o Primeiro-ministro falou em criar não sei quantos mil empregos nesta legislatura? A realidade observada é de milhares de desempregos. Não só não se cria emprego, como se incrementou o desemprego. Há que fugir. Eu já por aqui disse, e repito hoje, que quem tiver menos de 30 anos, que fuja, emigre e tente ter uma vida. Em Portugal resta a decadência. Todos (quase todos, pois alguns não emigraram mas fizeram o seu dinheiro, ganho ilegalmente, emigrar) vamos ficar mais pobres e decadentes. Tenham um bom Verão. Quem sabe se não é o último com algum descanso, antes da catástrofe que paira no horizonte.

Sem comentários: