sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

A LER

«Os que queimam os livros, que proscrevem e matam os poetas, sa­bem rigorosamente o que fazem. O poder indeterminado dos livros é incalculável. É indeterminado precisamente porque o mesmo livro, a mesma página pode ter efeitos inteiramente díspares sobre os seus lei­tores. Pode exaltar ou aviltar; seduzir ou repelir; intimar à virtude ou à barbárie; expandir a sensibilidade ou banalizá-la. Em termos extre­mamente desconcertantes, pode fazer uma e outra coisa, quase no mesmo momento, num impulso de resposta tão complexo, tão rápido na sua alternância e tão híbrido que nenhuma hermenêutica, nenhuma psicologia poderá predizer ou calcular a sua força. Em diferentes mo­mentos da vida do leitor, um livro despertará reflexos inteiramente di­ferentes. Não há na experiência humana fenomenologia mais com­plexa do que a dos encontros entre texto e percepção, ou, como Dante notou, entre as formas da linguagem que excedem o nosso entendi­mento e as ordens de compreensão frente às quais a nossa linguagem se revela insuficiente: la debilitate de lo'nielleto e la cortezzadel nos­tro parlare
George Steiner, in "Os Logocratas".

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