domingo, 18 de fevereiro de 2007

SEM JUSTIÇA

« O problema é que a justiça não consegue dar conta do recado. Os atrasos, a incúria na investigação e as chicanas processuais são tais que o recurso à justiça é um acto de desespero, não um gesto de defesa de direitos ou de mera arbitragem de conflitos.Recorrer à justiça, hoje, é sinal de impotência. Recorre--se à justiça porque a legislação, os mecanismos de poder, os processos de decisão e os circuitos de informação são deficientes e medíocres. Pede-se justiça porque há cada vez mais a consciência da fraude e da corrupção de que os poderosos se gabam impunemente. Mas recorrer à justiça é também, cada vez mais, inútil. É essa percepção que torna o crime fácil. É essa sensação que faz com que gestores, autarcas, políticos e empresários sintam que têm o caminho livre à sua frente, que tudo lhes é permitido. Antigamente, só as classes altas pensavam assim. Hoje, o sentimento de impunidade democratizou-se. Ao sangue e ao dinheiro, juntaram-se os votos e os cargos públicos. E, sem justiça, não há volta a dar. »
António Barreto, no Público de hoje.

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