Um pequeno destaque do mesmo:
«Em todos os sectores, na política, na economia, nas universidades, na cultura, incluindo a comunicação social, há gente que se instalou e não quer sair dos lugares que ocupa há longos anos. As nomeações para os diversos cargos não beneficiam os melhores, mas os amigos daqueles que adquiriram algum poder. A entrada a estranhos e independentes, com capacidade de crítica do actual sistema, não é permitida. Não existe por isso um debate de ideias, mas exibição de títulos e mordomias, como se isso bastasse para provar o quer que fosse.
(...)
E aqui entronca a questão europeia e as relações com Espanha, a quem estivemos sempre ligados como irmãos siameses, mas que ainda hoje não sabemos equacionar correctamente, tentando sempre amesquinhar aquela que foi, num determinado período da História, uma das nações mais poderosas da Europa e do mundo. Nesse sentido, a Espanha conseguiu ao fim de alguns anos, depois da sua adesão à Comunidade Europeia e da entrada na democracia, encontrar a sua verdadeira identidade (pese embora a questão basca, ainda por resolver) e aproveitar a expansão da sua língua, que só na América Latina é falada por cerca 200 milhões de pessoas, um pouco mais que o português no Brasil. De cada vez que me chegam dados sobre ela, fico espantado. A Espanha ultrapassou o PIB do Canadá e devia fazer parte do G8 ou G9 - jornal Le Monde de 30 de Dezembro de 2005. Ou a lista publicada recentemente pelo El País das empresas adquiridas em 2006 por grupos espanhóis no estrangeiro. Que vão desde a gestão de aeroportos no Reino Unido a diversas empresas francesas, italianas, alemãs e norte-americanas, incluindo bancos na China e na Rússia. Por isso, quando há meses atrás os nacionalistas do costume clamavam "Aqui del-Rei!" que os espanhóis nos estão a invadir e vamos passar todos a falar espanhol daqui a uns anos, por que não estudar antes os assuntos com alguma serenidade e racionalidade antes de fazer afirmações que demonstram uma perfeita ignorância do que se passa no mundo. Porque é isso que essencialmente falta aos portugueses. Estudar e trabalhar bem. Todos os dias se toma conhecimento de actos que vão no sentido inverso e, nos jornais, de afirmações perfeitamente delirantes.»
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