«Para ensinar há uma formalidade a cumprir – Saber.» Eça de Queiroz
Ele há tanta gente por aí sem cumprir esta formalidade.
Hoje, se fosse vivo, faria anos Carl Sagan, autor da frase que serve de mote a este blog. Ele era um homem de SABER. A sua sabedoria ainda nos permite, e permitirá, tomar conhecimento do saber ou de como o alcançar. Ainda de “Um Mundo Infestado de Demónios” transcrevo mais um trecho.
«Os antigos Jónios foram os primeiros de que temos conhecimento a afirmarem sistematicamente que são as leis e as forças da natureza, e não os deuses, as responsáveis, pela ordem e mesmo pela existência do mundo. Nas palavras de Lucrécio, «A natureza, liberta do jugo dos seus senhores altivos, faz todas as coisas espontaneamente, por si só, sem a interferência dos deuses». Porém, excepto na primeira semana dos cursos de Introdução à Filosofia, os nomes e as ideias dos primeiros jónios quase nunca são mencionados na nossa sociedade. Aqueles que põem de parte os deuses tendem a ser esquecidos. Não ansiamos por preservar a memória desses cépticos, e muito menos as suas ideias. Os heróis que tentam explicar o mundo em termos de matéria e de energia podem ter surgido muitas vezes em muitas civilizações, só para serem esquecidos pelos sacerdotes e filósofos que tinham a seu cargo a sabedoria convencional, tal como a abordagem jónica se perdeu quase por completo depois da época de Platão e Aristóteles. Com muitas civilizações e tentativas deste tipo, é possível que só em raras ocasiões a ideia ganhe raízes.
As plantas e os animais foram postos ao serviço do homem e a civilização só teve início há 10000 ou 12000 anos. A abordagem jónica tem 2500 anos. E foi quase eliminada por completo. Podemos ver passos em direcção à ciência na China e na Índia antigas, bem como noutros lugares, embora vacilantes, incompletos e produzindo menos frutos. Mas imagine-se que os Jónios nunca tinham existido e que a ciência e a matemática gregas não se tinham desenvolvido. Seria possível que a ciência não tivesse aparecido na história da espécie humana? Ou, dada a grande quantidade de civilizações e o emaranhado de alternativas históricas, não é provável que a combinação exacta de factores se tivesse verificado noutro sítio qualquer, mais cedo ou mais tarde – nas ilhas da Indonésia, por exemplo, ou nas Caraíbas, nas imediações de uma civilização meso-americana não alcançada pelos conquistadores, ou em colónias escandinavas nas margens do mar Negro?Julgo que o impedimento ao pensamento científico não é a dificuldade do tema. Até nas civilizações oprimidas se verificam proezas intelectuais complexas. Os xamãs, os mágicos e os teólogos são altamente dotados nas suas artes imbricadas e secretas. Não, o impedimento é político e hierárquico. Nas civilizações onde não existem desafios desconhecidos, externos nem internos, onde não é necessária uma alteração fundamental, as ideias novas não precisam de ser encorajadas. Na realidade, as heresias podem ser declaradas perigosas, o pensamento pode tomar-se rígido; e podem ser aplicadas sanções contra as ideias proibidas – tudo isto sem provocar grandes danos, Mas, em circunstâncias ambientais, biológicas ou políticas que sofreram, alterações e que se encontram em mutação, a simples cópia dos antigos usos já não funciona. Nessa altura há um prémio à espera daqueles que, em vez de se limitarem a seguir a tradição, ou de tentarem impor as suas preferências sobre o universo físico ou social, estão abertos ao que o universo ensina. Cada sociedade tem de decidir onde se encontra a segurança no continuum entre abertura e rigidez.»
Ele há tanta gente por aí sem cumprir esta formalidade.
Hoje, se fosse vivo, faria anos Carl Sagan, autor da frase que serve de mote a este blog. Ele era um homem de SABER. A sua sabedoria ainda nos permite, e permitirá, tomar conhecimento do saber ou de como o alcançar. Ainda de “Um Mundo Infestado de Demónios” transcrevo mais um trecho.
«Os antigos Jónios foram os primeiros de que temos conhecimento a afirmarem sistematicamente que são as leis e as forças da natureza, e não os deuses, as responsáveis, pela ordem e mesmo pela existência do mundo. Nas palavras de Lucrécio, «A natureza, liberta do jugo dos seus senhores altivos, faz todas as coisas espontaneamente, por si só, sem a interferência dos deuses». Porém, excepto na primeira semana dos cursos de Introdução à Filosofia, os nomes e as ideias dos primeiros jónios quase nunca são mencionados na nossa sociedade. Aqueles que põem de parte os deuses tendem a ser esquecidos. Não ansiamos por preservar a memória desses cépticos, e muito menos as suas ideias. Os heróis que tentam explicar o mundo em termos de matéria e de energia podem ter surgido muitas vezes em muitas civilizações, só para serem esquecidos pelos sacerdotes e filósofos que tinham a seu cargo a sabedoria convencional, tal como a abordagem jónica se perdeu quase por completo depois da época de Platão e Aristóteles. Com muitas civilizações e tentativas deste tipo, é possível que só em raras ocasiões a ideia ganhe raízes.
As plantas e os animais foram postos ao serviço do homem e a civilização só teve início há 10000 ou 12000 anos. A abordagem jónica tem 2500 anos. E foi quase eliminada por completo. Podemos ver passos em direcção à ciência na China e na Índia antigas, bem como noutros lugares, embora vacilantes, incompletos e produzindo menos frutos. Mas imagine-se que os Jónios nunca tinham existido e que a ciência e a matemática gregas não se tinham desenvolvido. Seria possível que a ciência não tivesse aparecido na história da espécie humana? Ou, dada a grande quantidade de civilizações e o emaranhado de alternativas históricas, não é provável que a combinação exacta de factores se tivesse verificado noutro sítio qualquer, mais cedo ou mais tarde – nas ilhas da Indonésia, por exemplo, ou nas Caraíbas, nas imediações de uma civilização meso-americana não alcançada pelos conquistadores, ou em colónias escandinavas nas margens do mar Negro?Julgo que o impedimento ao pensamento científico não é a dificuldade do tema. Até nas civilizações oprimidas se verificam proezas intelectuais complexas. Os xamãs, os mágicos e os teólogos são altamente dotados nas suas artes imbricadas e secretas. Não, o impedimento é político e hierárquico. Nas civilizações onde não existem desafios desconhecidos, externos nem internos, onde não é necessária uma alteração fundamental, as ideias novas não precisam de ser encorajadas. Na realidade, as heresias podem ser declaradas perigosas, o pensamento pode tomar-se rígido; e podem ser aplicadas sanções contra as ideias proibidas – tudo isto sem provocar grandes danos, Mas, em circunstâncias ambientais, biológicas ou políticas que sofreram, alterações e que se encontram em mutação, a simples cópia dos antigos usos já não funciona. Nessa altura há um prémio à espera daqueles que, em vez de se limitarem a seguir a tradição, ou de tentarem impor as suas preferências sobre o universo físico ou social, estão abertos ao que o universo ensina. Cada sociedade tem de decidir onde se encontra a segurança no continuum entre abertura e rigidez.»
2 comentários:
Bom teres recordado um dos grandes espíritos do século XX. Um abraço.
"O MESTRE", forma carinhosa que utilizo sempre que falo desse grande "sonhador"...
«Para ensinar há uma formalidade a cumprir – Saber.»
Penso que Eça se terá esquecido de uma outra "formalidade": sonhar...
Porque não fazer sentir e sonhar, aqueles que nos entregam para ensinar o "saber"?
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