segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
sábado, 24 de fevereiro de 2007
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
LEITOR DE BOM SENSO
Leitor de bom senso. É assim que Eça, em Maio de 1871, se dirige aos seus leitores para lhes dizer o seguinte:
«O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder a burguesia proprietária de casas explora o aluguel. A agiotagem explora o juro.
De resto a ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro.
(…)
Não é verdade, leitor de bom senso, que neste momento histórico só há lugar para o humorismo? Esta decadência tornou-se um hábito, quase um bem-estar, para muitos uma indústria. Parlamentos, ministérios, eclesiásticos, políticos, exploradores, estão de pedra e cal na corrupção.»
De resto a ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro.
(…)
Não é verdade, leitor de bom senso, que neste momento histórico só há lugar para o humorismo? Esta decadência tornou-se um hábito, quase um bem-estar, para muitos uma indústria. Parlamentos, ministérios, eclesiásticos, políticos, exploradores, estão de pedra e cal na corrupção.»
Eça de Queiróz, in "Uma Campanha Alegre"
Sempre assim se constatou. Este texto é muito actual. Não é Portugal que está na mesma. Os portugueses é que são os mesmos e não têm emenda. Ou melhor, nunca se querem emendar. Acham que sobrevivem no limiar no desenrascanço. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Lembram-se dos alunos do 12º ano de Guimarães? Lembram-se dos que elegem autarcas cuja prática ...? Pois é. O Eça já tinha visto isto tudo. Por isso também podem saber, e bem, como é que que vai acabar, ciclicamente, o país.
terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
COOPERATIVAS E FUNCIONAIS
«Usando a sua criatividade, o secretário- -geral criou uma expressão, que merece fazer carreira, para designar os eventos que se transformam em causas, chamando-lhes problemas sem passaporte. A mensagem mais importante que a fórmula transmite é precisamente a da ultrapassagem do modelo dos soberanismos arquipelágicos, de facto a ignorância das fronteiras, e a pressão sobre poderes políticos para que remodelem a própria definição, assumindo as soberanias como cooperativas e funcionais.»
Adriano Moreira, no DN de hoje.
E FOI DITO
«Como toda e gente sabe, o PSD voa, voa e voa e é de quem o apanhar. O que é não conta e nunca contou. »
VPV, no Público de 18.02.2007
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
E DAQUI DO LADO ...
«Sin embargo, en el discurso político-económico portugués, España es quizá un modelo de referencia más que un socio estratégico de primer orden. Los portugueses miran con una cierta envidia sana los índices de crecimiento de España. Realmente los fondos europeos han contribuido al nuevo milagro económico español, mientras que en Portugal se tiene la sensación de no haber aprovechado lo suficiente el tiempo y el dinero otorgados por Bruselas, algo que España sí supo hacer desde el primer momento de su adhesión. Con todo, las inversiones españolas en Portugal siguen suscitando suspicacias en medios políticos y financieros, lo que no sucede en el caso de los capitales franceses, británicos o americanos, por citar algunos ejemplos.»
Antonio R. Rubio Pio, ARI nº10/2006, R.I.E.
AINDA PARA A SOFIA
A Sofia, há uns dias atrás, picou-me. E bem. Dei depois resposta. Ela nada me disse sobre a resposta. Mas digo-lhe mais, hoje. Os post’s que venho aqui colocando, há quase um ano, com abordagens sérias a problemas complicados não têm, geralmente qualquer comentário. O que me satisfaz. E me dá razão. As pessoas, em geral, não se interessam por assuntos complicados. Temas complicados não despertam interesse. Só o falso mundanismo capta a atenção dos portugueses. Por isso, Sofia, o lema deste blog está muito certeiro.
domingo, 18 de fevereiro de 2007
SEM JUSTIÇA
« O problema é que a justiça não consegue dar conta do recado. Os atrasos, a incúria na investigação e as chicanas processuais são tais que o recurso à justiça é um acto de desespero, não um gesto de defesa de direitos ou de mera arbitragem de conflitos.Recorrer à justiça, hoje, é sinal de impotência. Recorre--se à justiça porque a legislação, os mecanismos de poder, os processos de decisão e os circuitos de informação são deficientes e medíocres. Pede-se justiça porque há cada vez mais a consciência da fraude e da corrupção de que os poderosos se gabam impunemente. Mas recorrer à justiça é também, cada vez mais, inútil. É essa percepção que torna o crime fácil. É essa sensação que faz com que gestores, autarcas, políticos e empresários sintam que têm o caminho livre à sua frente, que tudo lhes é permitido. Antigamente, só as classes altas pensavam assim. Hoje, o sentimento de impunidade democratizou-se. Ao sangue e ao dinheiro, juntaram-se os votos e os cargos públicos. E, sem justiça, não há volta a dar. »
António Barreto, no Público de hoje.
sábado, 17 de fevereiro de 2007
ATRÁS DO PODER
«Para conquistar o poder, é simultaneamente necessário desejá-lo e necessário que os outros o saibam. O povo vai atrás daqueles que tentam seduzi-lo e não atrás dos que fingem resignar-se a ser desejados. O poder raramente é conquistado por acaso ou por abandono dos concorrentes.
Porquê correr atrás do poder? Para se afirmar face aos outros? Pelo prazer de ser poderoso? Pelo desejo de domínio? Pela necessidade de se sentir temido e admirado, de se ver no centro dos acontecimentos, de ter peso na vida dos outros, de ter uma vida que dê a sensação de plenitude, de poder imprimir a sua marca na História? Será por isso ou será para concretizar em actos as suas ideias, ao serviço do seu país?
- Não é a mesma coisa. Ou bem que o poder é um fim em si mesmo, ou bem que é apenas um meio para alcançar um fim que lhe é superior. Os povos querem sentir as duas coisas em quem lhes pede os votos.»
Porquê correr atrás do poder? Para se afirmar face aos outros? Pelo prazer de ser poderoso? Pelo desejo de domínio? Pela necessidade de se sentir temido e admirado, de se ver no centro dos acontecimentos, de ter peso na vida dos outros, de ter uma vida que dê a sensação de plenitude, de poder imprimir a sua marca na História? Será por isso ou será para concretizar em actos as suas ideias, ao serviço do seu país?
- Não é a mesma coisa. Ou bem que o poder é um fim em si mesmo, ou bem que é apenas um meio para alcançar um fim que lhe é superior. Os povos querem sentir as duas coisas em quem lhes pede os votos.»
Edouard Balladur, in "MAQUIAVEL em Democracia"
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
O TEMPO URGE
«São necessários resultados a breve prazo, sob pena de não haver tempo para cumprir os objectivos do défice para 2007.
(...)
(...)
Está também em causa a imagem internacional do país, seja junto dos mercados, dos investidores ou das agências internacionais de rating, seja ainda junto da União Europeia que, apesar de tudo, nos deu o benefício da dúvida por três anos. E com a França, a Alemanha, a Itália e a Grécia oficialmente "bem- comportadas" ninguém pode esperar mais benevolência.»
Luís Campos e Cunha, hoje no Público.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
OA AMERICANO NÃO ENTENDEM A HISTÓRIA
Os americanos dos E.U.A. sabem muito de história, mas não a entendem. Por isso desatam a agir sem cautelas pelo que, muitas vezes, redundam em disparates as suas intervenções pelo planeta. Agora deparam-se com um problema. Como resolver a questão internacional à volta do médio oriente, de forma a que ninguém perca a face, incluindo eles próprios, porque eles têm de compreender que o não perder a face é a chave do problema. Depois também não sabem perguntar. Porque têm a arrogância de que sabem tudo. E, ainda pior, quando perguntam nunca sabem bem a quem o fazem. E às vezes também falta paciência para ensinar a quem é renitente em querer aprender. Depois, como é lógico, vão-se estampando com custos pesados para eles, e para muitos mais.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
A CRISE MORAL DOS PORTUGUESES
«Para além de tudo, paira o problema mais grave. Assume maior seriedade, como se procurou sublinhar nas páginas que ficam para trás, a crise moral que os Portugueses atravessam. Como se manifesta? Por mil modos: pela recusa de ver os múltiplos perigos que os ameaçam; pela aceitação e procura constante da opção mais fácil; pela indiferença perante valores nacionais, sejam a língua ou as fronteiras, sejam a cultura ou a história, sejam a própria soberania e a independência; pela convicção generalizada de que é irreversível e inevitável (como se em história houvesse o que quer que fosse de irreversível ou de inevitável, salvo o que depender de uma vontade firme) fazer o que os outros pretendem, ou legislam, ou recomendam; pela aplicação de conceitos que os grandes países imaginam ou propõem (mas que não aceitam para si mesmos); pela submissão passiva e inconsciente, e até alegre e eufórica, aos interesses de terceiros (como se já fossem também os dos Portugueses); pela insensibilidade perante quanto destrói ou pode destruir a raiz portuguesa e põe em causa o próprio cerne da nacionalidade; e enfim pela euforia, tão pueril quanto oportunista, tão crédula quanto materialista, com que se deixa arrastar na onda do internacionalismo, do integracionismo, na suposição de que os outros também o fazem, e sobretudo na crença de uma vida fácil e rica, que o será sempre e sem esforço, e seja qual for a origem da riqueza, seja qual for a subordinação criada. E neste transe os Portugueses parecem esquecer três aspectos fundamentais: Portugal não tem tipicidade suficiente para enfrentar sem defesa forças que atingem o seu cerne, e resistir-lhes, e sobreviver, continuando a ser Portugal; tem uma vulnerabilidade de interesses vitais (5) que lhe consente apenas muito reduzido espaço de manobra, pelo que o seu comportamento perante terceiros tem de ser cauteloso e não pode sofrer desvios de monta; e não pode por isso cometer erros históricos, sob pena de ser esmagado e absorvido pelo turbilhão de forças exteriores. Tudo quanto Portugal perder, ou alienar, ou lhe for tomado, é irrecuperável: em termos territoriais, políticos ou económicos. Por outro lado, tanto que se prolonga esta viragem, de que se ocupam os Portugueses – na sua vida colectiva e na sua intervenção política? Afigura-se exacta esta síntese: empenhando-se em tudo que é secundário e discutindo tudo o que é processual; preocupando-se com o que é imediato ou pessoal, ou de grupo, ou de partido; e transformando em problemas nacionais o que não passa de subtileza adjectiva. E deste modo parece de dizer que ou retomamos às raízes e retomamos a linha segura do nosso destino – ou seguimos pelo caminho de Bizâncio – substituindo os factos nossos pelos mitos dos outros.
(5) Os Estados Unidos da América podem perder uma guerra do Vietname: sofrem um trauma nacional; mas os seus interesses vitais não foram atingidos. A França pode perder uma guerra, e ser ocupada, e sofrer graves prejuízos; mas continua a ser a França, porque não foram afectados os seus interesses vitais. O mesmo sucede com uma Alemanha, ou um Japão, ou com aqueles países cuja independência está ligada a necessidades de equilíbrio entre os grandes. Nenhum daqueles é o caso de Portugal.»
(5) Os Estados Unidos da América podem perder uma guerra do Vietname: sofrem um trauma nacional; mas os seus interesses vitais não foram atingidos. A França pode perder uma guerra, e ser ocupada, e sofrer graves prejuízos; mas continua a ser a França, porque não foram afectados os seus interesses vitais. O mesmo sucede com uma Alemanha, ou um Japão, ou com aqueles países cuja independência está ligada a necessidades de equilíbrio entre os grandes. Nenhum daqueles é o caso de Portugal.»
Franco Nogueira, in "Juízo Final".
UM TIPO DE COMPORTAMENTO
«Estou pronto para generalizar a partir da minha experiência pessoal e para admitir que os valores postulados pela teoria económica são, de facto, relevantes para as actividades económicas em geral e para o comportamento dos participantes do mercado em particular. A generalização justifica-se porque os participantes do mercado que não se regem por estes valores sujeitam-se a ser eliminados e reduzidos à sua insignificância pelas pressões da concorrência.
Pela mesma razão, a actividade económica representa apenas uma faceta da existência humana. Muito importante, sem dúvida, mas há outros aspectos que não podem ser ignorados. Para fins imediatos, distingo as esferas económica, política, social e individual, mas não pretendo atribuir grande importância a estas categorias. Facilmente se introduziriam outras. Podia, por exemplo, mencionar a pressão dos rivais, a influência da família ou a opinião pública; mas também podia distinguir entre o sagrado e o profano. O ponto aonde pretendo chegar é que o comportamento económico é apenas um tipo de comportamento e que os valores que a teoria económica toma como dados adquiridos não são os únicos que predominam na sociedade. É difícil ver como poderiam os valores pertencentes a essas diferentes esferas ser sujeitos a cálculo diferencial como curvas de indiferença.»
Pela mesma razão, a actividade económica representa apenas uma faceta da existência humana. Muito importante, sem dúvida, mas há outros aspectos que não podem ser ignorados. Para fins imediatos, distingo as esferas económica, política, social e individual, mas não pretendo atribuir grande importância a estas categorias. Facilmente se introduziriam outras. Podia, por exemplo, mencionar a pressão dos rivais, a influência da família ou a opinião pública; mas também podia distinguir entre o sagrado e o profano. O ponto aonde pretendo chegar é que o comportamento económico é apenas um tipo de comportamento e que os valores que a teoria económica toma como dados adquiridos não são os únicos que predominam na sociedade. É difícil ver como poderiam os valores pertencentes a essas diferentes esferas ser sujeitos a cálculo diferencial como curvas de indiferença.»
George Soros, in " A CRISE DO CAPITALISMO GLOBAL - A Sociedade Aberta Ameaçada"
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
A FRASE
«A paixão foi inabitual e a linguagem, frequentemente, extrema. Tanto entre os partidários do "sim" como entre os partidários do "não". O que serviu para nos lembrar, e avisar, que pela nossa como por qualquer democracia se passeiam sempre milhares de pequenos ditadores.»
VPV, ontem no Público
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
A LER
«Os que queimam os livros, que proscrevem e matam os poetas, sabem rigorosamente o que fazem. O poder indeterminado dos livros é incalculável. É indeterminado precisamente porque o mesmo livro, a mesma página pode ter efeitos inteiramente díspares sobre os seus leitores. Pode exaltar ou aviltar; seduzir ou repelir; intimar à virtude ou à barbárie; expandir a sensibilidade ou banalizá-la. Em termos extremamente desconcertantes, pode fazer uma e outra coisa, quase no mesmo momento, num impulso de resposta tão complexo, tão rápido na sua alternância e tão híbrido que nenhuma hermenêutica, nenhuma psicologia poderá predizer ou calcular a sua força. Em diferentes momentos da vida do leitor, um livro despertará reflexos inteiramente diferentes. Não há na experiência humana fenomenologia mais complexa do que a dos encontros entre texto e percepção, ou, como Dante notou, entre as formas da linguagem que excedem o nosso entendimento e as ordens de compreensão frente às quais a nossa linguagem se revela insuficiente: la debilitate de lo'nielleto e la cortezzadel nostro parlare.»
George Steiner, in "Os Logocratas".
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
MISÉRIA, EXISTE. MUITA E DE VARIADA ESPÉCIE.
Ouvi hoje uma notícia, que não me surpreendeu, porque simplesmente acrescentou mais um elemento ao suporte das minhas divagações.
Uma mulher, esposa e mãe, julgo que de três filhos, terá inventado uma doença do foro oncológico com o fim de, pela comiseração geral, poder angariar, sobretudo, alimentos para dar aos filhos, que informou passarem fome. A generosidade acabou por dar muito mais coisas. Entretanto foi descoberto o logro.
Este caso, entre muitos outros similares, demonstra a miséria em que o povo português vive, quer seja em Portugal ou explorado em quase escravatura na Holanda. E depois socorre-se de qualquer esquema para tentar sobreviver, já nem sequer dignamente, mas só sobreviver, poder acordar no dia seguinte porque comeu qualquer coisinha no dia anterior. A súmula da miséria económica com as outras misérias, a miséria moral e a miséria de espírito acabam por fazer o enquadramento do português hodierno.
Eu não consigo criticar aquela mulher. Eu sei que na sobrevivência vale tudo, mesmo tudo. Critico os hipócritas que nunca tomaram medidas para evitar a miséria onde atolaram os portugueses, porque muitos dos que por aí andam a querer penalizar a miséria de muitas mães foram, eles mesmo, detentores de cargos políticos e grandes responsáveis pelas políticas desastrosas que fragilizaram a vidas dos portugueses. A hipocrisia em Portugal anda muito descarada.
Uma mulher, esposa e mãe, julgo que de três filhos, terá inventado uma doença do foro oncológico com o fim de, pela comiseração geral, poder angariar, sobretudo, alimentos para dar aos filhos, que informou passarem fome. A generosidade acabou por dar muito mais coisas. Entretanto foi descoberto o logro.
Este caso, entre muitos outros similares, demonstra a miséria em que o povo português vive, quer seja em Portugal ou explorado em quase escravatura na Holanda. E depois socorre-se de qualquer esquema para tentar sobreviver, já nem sequer dignamente, mas só sobreviver, poder acordar no dia seguinte porque comeu qualquer coisinha no dia anterior. A súmula da miséria económica com as outras misérias, a miséria moral e a miséria de espírito acabam por fazer o enquadramento do português hodierno.
Eu não consigo criticar aquela mulher. Eu sei que na sobrevivência vale tudo, mesmo tudo. Critico os hipócritas que nunca tomaram medidas para evitar a miséria onde atolaram os portugueses, porque muitos dos que por aí andam a querer penalizar a miséria de muitas mães foram, eles mesmo, detentores de cargos políticos e grandes responsáveis pelas políticas desastrosas que fragilizaram a vidas dos portugueses. A hipocrisia em Portugal anda muito descarada.
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
PARA A SOFIA
A Sofia pôs um comentário, num post de há dias, onde me colocou um desafio. O seu comentário foi, e é, muito interessante. Apresentar soluções em vez de só apontar os defeitos.
Ora isto seria uma tarefa complicada se a solução não fosse fácil. E é fácil por isto: basta os portugueses tornarem-se cidadãos conscientes e lúcidos dos seus deveres e direitos, e cumprirem a sua cidadania em acordo com isso. Bastava e seria suficiente. Se os cidadãos não pactuassem, e não fossem coniventes, com as patifarias diárias, extinguiam-se imensos problemas. É estranho que em Portugal haja apreço por pessoas que são manifesta e declaradamente escroques, vigaristas, corruptos, ladrões, e etc. Até os elegem. As pessoas que fogem ao fisco, e disso se gabam à boca cheia, são admiradas e invejadas. As pessoas que enriquecem sem terem forma de alguma vez o terem podido fazer legalmente, são apreciadas, são aduladas e apontadas como exemplo de sucesso.
Costumo citar muito o caso dos alunos do 12º ano de Guimarães que apresentaram atestados médicos para não irem a exame. Foram os pais que os conduziram a isso, foram os pais que os educaram nessa vigarice, foram os pais que lhes servem de exemplo. E os médicos, que nunca são responsáveis por esses pequenos gestos com que facilitam as vigarices, e claro, com recompensa monetária, como é notório pelo país fora.
Também aquelas pessoas, normalmente trabalhadores por conta própria, advogados, médicos, engenheiros, e etc. que quase não pagam IRS, mas que têm bens e modos de vida 50 vezes superior aos que pagam 5 vezes mais IRS do que eles, são um "bom" exemplo de cidadania.
Por tudo isto, Sofia, a solução é fácil. Se todos os cidadãos de Portugal forem cumpridores dos seus deveres e direitos de cidadania, os problemas terão solução imediata. Agora se também eles tentarem tirar vantagem das vigarices que por aí pululam, na óptica do que cada um que se safe o melhor que puder, e que quem não tentar é tolo, não há soluções técnicas que possam resolver a “desbunda” onde isto caiu.
Eu podia apresentar soluções para cada caso, diria para a área de cada ministério, mas sem cidadania consciente e efectiva não vale a pena. Só se nos conseguíssemos educar uns aos outros. No que não creio.
Permito chamar a atenção para o lema deste blog, a mistura explosiva de ignorância e de poder, que também poderá ler aqui, ou no próprio livro.
Espero ter sido claro da minha posição.
Ora isto seria uma tarefa complicada se a solução não fosse fácil. E é fácil por isto: basta os portugueses tornarem-se cidadãos conscientes e lúcidos dos seus deveres e direitos, e cumprirem a sua cidadania em acordo com isso. Bastava e seria suficiente. Se os cidadãos não pactuassem, e não fossem coniventes, com as patifarias diárias, extinguiam-se imensos problemas. É estranho que em Portugal haja apreço por pessoas que são manifesta e declaradamente escroques, vigaristas, corruptos, ladrões, e etc. Até os elegem. As pessoas que fogem ao fisco, e disso se gabam à boca cheia, são admiradas e invejadas. As pessoas que enriquecem sem terem forma de alguma vez o terem podido fazer legalmente, são apreciadas, são aduladas e apontadas como exemplo de sucesso.
Costumo citar muito o caso dos alunos do 12º ano de Guimarães que apresentaram atestados médicos para não irem a exame. Foram os pais que os conduziram a isso, foram os pais que os educaram nessa vigarice, foram os pais que lhes servem de exemplo. E os médicos, que nunca são responsáveis por esses pequenos gestos com que facilitam as vigarices, e claro, com recompensa monetária, como é notório pelo país fora.
Também aquelas pessoas, normalmente trabalhadores por conta própria, advogados, médicos, engenheiros, e etc. que quase não pagam IRS, mas que têm bens e modos de vida 50 vezes superior aos que pagam 5 vezes mais IRS do que eles, são um "bom" exemplo de cidadania.
Por tudo isto, Sofia, a solução é fácil. Se todos os cidadãos de Portugal forem cumpridores dos seus deveres e direitos de cidadania, os problemas terão solução imediata. Agora se também eles tentarem tirar vantagem das vigarices que por aí pululam, na óptica do que cada um que se safe o melhor que puder, e que quem não tentar é tolo, não há soluções técnicas que possam resolver a “desbunda” onde isto caiu.
Eu podia apresentar soluções para cada caso, diria para a área de cada ministério, mas sem cidadania consciente e efectiva não vale a pena. Só se nos conseguíssemos educar uns aos outros. No que não creio.
Permito chamar a atenção para o lema deste blog, a mistura explosiva de ignorância e de poder, que também poderá ler aqui, ou no próprio livro.
Espero ter sido claro da minha posição.
terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
KIMBÓIOS
Transcrevo, com a devida vénia, do blog "The Braganzzzzza Mothers" o post seguinte:
«Hoje também não vamos escrever sobre o aborto.
Bem, não é verdade, vamos escrever sobre um aborto mas não é de nenhuma criança que uma futura ex-mãe tenha preferido não ter depois de fazer aquilo que normalmente leva aquela situação.
O aborto chama-se Linha do Norte.
Os números vêm no semanário Sol deste fim-de-semana.
A história, que não deve ser contada ás criancinhas, é assim.
Quando o senhor Professor Aníbal ainda só era o primeiro-ministro deste quintal, ou seja em 1991 iniciaram-se as obras de modernização da Linha do Norte com conclusão prevista, reparem bem p-r-e-v-i-s-ta, para 1993 com um valor de 76 milhões de euros e que deveria levar o comboio a ligar Lisboa ao Porto em 2 horas e quinze minutos.
E como havia muito dinheiro e estava tudo a correr bem, compraram logo os Alfas pendulares que iriam aproveitar a magnífica linha em estonteantes velocidades.
E o que é que aconteceu ò crentes?
Pois hoje em 2007 os senhores que mandam nisto tudo já gastaram 1863 milhões, uma singela derrapagem de 2000 %, o tempo de viagem é de 2 horas e cinquenta e cinco minutos, cerca de quarenta minutos melhor do que faziam nos anos sessenta, e as obras estão suspensas, para dar lugar às Novas Obras Para o TGV.
Duas notas finais:
As Novas Obras têm um valor previsto de 4700 milhões de euros e vão terminar (é apenas um prognóstico) em 2015 e isto é publicidade não é para levar a sério.
Sim, nenhum dos gestores que derraparam daquele maneira, foi acusado, nem foi preso e aposto que a maioria foi transferida para As Novas Obras.
As boas mãos devem ser mantidas.
O governo agradece que discutam apaixonadamente outros temas, que este ferve.»
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007
SENSATEZ
http://www.youtube.com/watch?v=oMYzdf4t8IY
Vejam aqui o que eu considero uma opinião sensata e serena sobre o próximo referendo.
Vejam aqui o que eu considero uma opinião sensata e serena sobre o próximo referendo.
CRITICAR E APROVEITAR
Ontem, no quadro de revista do programa “Quase Magazine”, dos Gatos Fedorentos, sobre a suposta corrupção na Câmara de Lisboa, houve mais um elemento para o enquadramento do português comum. A personagem do Zé-povinho, sempre crítico, acaba por entrar no esquema do político, porque “mora” na Amadora, pelo que lhe passa ao lado, podendo, assim, aderir à “modalidade, recolhendo, então, uns trocos.
Como venho dizendo, os portugueses tentam sobreviver por esquemas manhosos, despidos e desguarnecidos de valores e de padrões de integridade. E a falta de vergonha e o descaramento começam a imperar.
Como venho dizendo, os portugueses tentam sobreviver por esquemas manhosos, despidos e desguarnecidos de valores e de padrões de integridade. E a falta de vergonha e o descaramento começam a imperar.
domingo, 4 de fevereiro de 2007
VAGA IMAGEM
«De qualquer maneira, o caso não se agravou e os patriotas não se devem afligir com a "imagem de Portugal no mundo", se o mundo tem a mais vaga imagem de Portugal, o que nada indica. Apesar dos milhões que se gastam em propaganda turística e em viajatas várias, para a maior parte da humanidade Portugal, coitado, não existe.»
VPV, hoje, aqui, no Público
DISSONÂNCIA COGNITIVA
«O ex-ministro das Finanças de José Sócrates quebrou um silêncio de 18 meses e, ao comentar referência de Manuel Pinho, na China, aos salários baixos, falou de "dissonância cognitiva"
"Se calhar o mal não está naquela frase, está em ter-se andado a propagandear o choque tecnológico. A evolução tecnológica dos países é por definição lenta, logo é o contrário de um choque. Do meu ponto de vista há nesta ideia uma contradição nos seus próprios termos."»
Aqui, no Público de hoje. Ou para ver no Canal 2 da RTP no programa 'Diga Lá Excelência', que repete amanhã à tarde, e também não sei quando na RTPN.
O PORTUGUÊS VERDADEIRO
« Em Portugal há só um homem – que é sempre o mesmo ou sob a forma de dândi, ou de padre, ou de amanuense, ou de capitão: é um homem indeciso, débil, sentimental, bondoso, palrador, deixa-te ir: sem mola de carácter ou de inteligência, que resista contra as circunstâncias. É o homem que eu pinto – sob os seus costumes diversos, casaca ou batina. E é o português verdadeiro. É o português que tem feito este Portugal que vemos »
Eça em carta a Fialho de Almeida.
Eça em carta a Fialho de Almeida.
sábado, 3 de fevereiro de 2007
A ESCURIDÃO ENVOLVENTE
«A consciência do valor da liberdade de expressão e das outras liberdades consignadas na Declaração de Direitos, do que acontece quando não as temos, e de como as devemos exercer e proteger, deveria constituir um pré-requisito essencial para se ser cidadão americano – ou, em boa verdade, um cidadão de qualquer país, e tanto mais quanto menos protegidos estiverem estes direitos. Se não formos capazes de pensar por nós próprios, se não estivermos dispostos a questionar a autoridade, ficamos nas mãos dos que detêm o poder. Mas se os cidadãos tiverem um bom nível educacional e souberem formar as suas próprias opiniões, os detentores do poder trabalham para nós. Em todos os países devíamos ensinar às crianças o método científico e o interesse de uma Declaração de Direitos. Isto trará alguma decência, alguma humildade e algum espírito comunitário. No mundo infestado de demónios em que vivemos pelo facto de sermos humanos, isto pode ser tudo o que nos separa da escuridão envolvente.»
Carl Sagan, do livro de onde foi extraido o lema deste blog.
SOBRE A NOSSA IDENTIDADE
Um bom artigo de hoje para ler na integra, aqui.
Um pequeno destaque do mesmo:
Um pequeno destaque do mesmo:
«Em todos os sectores, na política, na economia, nas universidades, na cultura, incluindo a comunicação social, há gente que se instalou e não quer sair dos lugares que ocupa há longos anos. As nomeações para os diversos cargos não beneficiam os melhores, mas os amigos daqueles que adquiriram algum poder. A entrada a estranhos e independentes, com capacidade de crítica do actual sistema, não é permitida. Não existe por isso um debate de ideias, mas exibição de títulos e mordomias, como se isso bastasse para provar o quer que fosse.
(...)
E aqui entronca a questão europeia e as relações com Espanha, a quem estivemos sempre ligados como irmãos siameses, mas que ainda hoje não sabemos equacionar correctamente, tentando sempre amesquinhar aquela que foi, num determinado período da História, uma das nações mais poderosas da Europa e do mundo. Nesse sentido, a Espanha conseguiu ao fim de alguns anos, depois da sua adesão à Comunidade Europeia e da entrada na democracia, encontrar a sua verdadeira identidade (pese embora a questão basca, ainda por resolver) e aproveitar a expansão da sua língua, que só na América Latina é falada por cerca 200 milhões de pessoas, um pouco mais que o português no Brasil. De cada vez que me chegam dados sobre ela, fico espantado. A Espanha ultrapassou o PIB do Canadá e devia fazer parte do G8 ou G9 - jornal Le Monde de 30 de Dezembro de 2005. Ou a lista publicada recentemente pelo El País das empresas adquiridas em 2006 por grupos espanhóis no estrangeiro. Que vão desde a gestão de aeroportos no Reino Unido a diversas empresas francesas, italianas, alemãs e norte-americanas, incluindo bancos na China e na Rússia. Por isso, quando há meses atrás os nacionalistas do costume clamavam "Aqui del-Rei!" que os espanhóis nos estão a invadir e vamos passar todos a falar espanhol daqui a uns anos, por que não estudar antes os assuntos com alguma serenidade e racionalidade antes de fazer afirmações que demonstram uma perfeita ignorância do que se passa no mundo. Porque é isso que essencialmente falta aos portugueses. Estudar e trabalhar bem. Todos os dias se toma conhecimento de actos que vão no sentido inverso e, nos jornais, de afirmações perfeitamente delirantes.»
A JUSTIÇA NAS RUAS DA AMARGURA
Nem de propósito. Após o post de ontem, hoje um dos temas do dia é o indulto presidencial a um foragido. Vejam aqui ou em qualquer outro jornal.
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
A JUSTIÇA FAZ-SE NA TV. PORTUGAL É UM PAÍS ANEDÓTICO.
Agora os juízes e bastonários vão justificar tudo na televisão. Já se sabe que, hoje em dia, tudo se faz para manipular os sentimentos da opinião pública, através da televisão, para se condicionar as decisões judiciais. Os tribunais ficaram, doravante, cativos dos noticiários televisivos. Isto é Portugal no seu melhor. É o fim da justiça e do estado de direito.
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007
O ABORTO E A HIPOCRISIA
Já aqui expus a minha posição sobre o aborto. Esta também será a minha última intervenção sobre este tema até ao referendo.
Estive seis dias sem colocar qualquer post, porque entendi que o post que tinha colocado era susceptível de ser bem digerido. As resposta da entrevista continham muito da concepção do mundo actual, dos temores, das desesperanças, das hipocrisias, das falácias, enfim, da angústia de povos que caminham numa convivência para o caos. Nenhum comentário objectivo ao post. Assuntos sérios não são atractivos.
Voltemos ao aborto. A sociedade portuguesa sobrevive desde há anos na hipocrisia. São cidadãos sem memória, que tentam viver de oportunismos. Todo este cenário em volta do aborto, do referendo, reflecte isso. A problemática do aborto em Portugal é, basicamente, sócio-económica. A falta de empregos, de salários miseráveis, de educação/instrução débil, de segurança social frustrada, de existência de uma administração pública ineficaz quando não corrupta, de uma educação para a cidadania nula e de uma ausência de estratégia para o futuro do país estão na base da taxa do aborto em Portugal. Devo também lembrar que a taxa de desemprego não está encorpada por funcionários públicos, que estão blindados nos seus privilégios, mas sim só por trabalhadores.
Quando um casal é despedido de uma fábrica e a mulher está grávida, a única opção é/foi abortar. E a hipocrisia está em que ninguém dos acomodados, os quais agora barafustam pelo sim ou pelo não, se preocuparam, minimamente, com essas pessoas. Vê-se agora toda a gente a visitar os centros de acolhimento de mães jovens solteiras, a tentarem arranjar ajudas, etc, etc. Mas só até ao dia 11 de Fevereiro. Depois, como é costume, e de acordo com a má qualidade dos portugueses, volta tudo para o esquecimento. Tem-se visto que os portugueses não têm bom carácter. E a hipocrisia que têm manifestado neste assunto do aborto, prova-o. Há muito que perderam os valores da integridade.
Depois de 11 de Fevereiro, seja qual seja o resultado, o panorama da miséria será mantido. O ministro Pinho até clarificou isso, lá na China. Os acomodados é que tentarão continuar a espremer o mais possível da teta, farão os impossíveis para que nada sobre para os miseráveis. Entretanto jorram palavras caras para iludirem os miseráveis. Os portugueses estão condenados a sofrerem pelas suas faltas de carácter.
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